Tudo ao molho e fé em Gyokeres
A Leste nada de novo
Pedro Azevedo
Ainda sou do tempo em que em Leipzig havia um clube com o nome de Lokomotiv. Mas depois o Muro caiu, os grandes clubes da RDA (Lokomotiv, Carl Zeiss Jena e o Magdeburgo do nosso descontentamento, que nos eliminou com muita sorte à mistura naquela meia final da Taça das Taças que terminou na véspera da Revolução de Abril) empalideceram com a migração de jogadores para o "el-dorado" Oeste (também há quem diga que o laboratório da Alemanha de Leste que fabricou atletas fabulosos como a Marita Koch abusava de aditivos hormonais, que o importante era promover a qualquer preço um regime que ia já remendado ou mesmo nu) e mais tarde apareceu o Red Bull, que como se sabe "dá-te asas" e portanto não é compatível com locomotivas que não voam, ou só voam se o observador estiver sob influência daqueles cogumelos que não são venenosos mas alucinam um bocadinho. Red Bull que logo estabeleceu uma linha de produção em Salzburgo para depois montar o produto final em Leipzig, produto esse que agora exporta na Europa. Foi nesse contexto que o Sporting visitou hoje a Alemanha.
O Sporting entrou assim-assim, embora o Harder cedo tenha demonstrado estar com raivinha nos dentes. Só que, após uma bola perdida a meio campo, os centrais recuaram porque a bola estava descoberta mas o Fresneda foi de arranca-e-pára até ao estampanço final: 1-0 para o Red Bull. (Os Monty Python diziam que ninguém pára a Inquisição Esoanhola, mas o Leitor aguarde que pior ainda viria a ser o Canhão da Nazaré.)
O Fresneda voltou a falhar, mas desta vez o Sporting foi salvo pelo VAR que detectou um fora de jogo posicional de um jogador que depois acabou por ter interferência no lance. O Sporting começou a atacar mais e Harder, Fresneda e Debast viram bolas que iam a caminho da baliza dos alemães serem deflectidas. O intervalo chegou.
O início do segundo tempo foi de pesadelo. Mas era preciso resistir o suficiente até que o Gyokeres pudesse entrar. A hora a que o Gyokeres pode entrar é uma coisa que tem a ver com a Unidade de Performance, uma entente criada do cruzamento feliz entre a Alcina Lameiras, o Detective Correia, o Instituto de Socorro a Náufragos e o Borda d'Água, também capaz de planear a sementeira para Janeiro e de prever as colheitas de Maio, prognosticar ventos e marés e resgatar moribundos. além de realizar investigações ao domicílio (Alcochete). O certo é que o Gyokeres lá entrou e cedo marcou, como seria de esperar de um jogador que, se faz a diferença para os adversários, está uma milha à frente de qualquer outro jogador do Sporting (exceptuando talvez o Pote). Com o golo, a qualificação estava encaminhada. Mas havia ainda a possibilidade de ficarmos nos 8 primeiros da Liga dos Campeões, desiderato para o qual seria imperioso vencer já hoje e posteriormente contra o Bolonha. Só que o Inácio encheu-se de salamaleques e não despachou uma bola que andou a ressaltar de cabeça em cabeça, de pé em pé, até que encontrou a canela do Esgaio, que é da Nazaré mas não é de todo O Nazareno, nosso salvador. Se bem que com ele o nosso caminho se tenha tornado uma Via Crúcis. Nada porém que desencoraje um Sportinguista, habituados que estamos a resistir a cataclismos que não estão descritos na Bíblia.
A Leste nada de novo: o Gyokeres é o Gyokeres, assim como o Fresneda é o Fresneda e o Esgaio é o Esgaio, embora à laia de Prozac gostemos de pensar que os últimos 2 são o Cafu.
Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeres (Who else?)