Tudo ao molho e fé em Gyokeres
O Limão-Mecânico
Pedro Azevedo
Após o interregno necessário para o senhor Martinez (e todos os outros "senhores Martinez" das diversas selecções, ainda que na sua grande maioria muito menos bem renunerados) amortizar em trabalho de campo, e, no caso particular, na recuperação de salvados, uma pequena parte da bagatela dos 4 milhões de euros brutos anuais que a imprensa dá conta de ser o seu salário, regressou a Primeira Liga. O Sporting, líder do campeonato, visitava Arouca, pelo que o tema da semana andou à volta de como se poderia parar Gyokeres e, por conseguinte, o Sporting. O assunto logo à partida não mereceria o ruído que se fez à sua volta, pelo simples facto de que a única forma de evitar que Gyokeres faça estragos ser assegurar que ele fique em casa (e, ainda assim, acorrentado, pelo sim, pelo não...). Além de que levantava um problema: se todos os recursos tivessem de ser alocados ao sueco, que estragos poderiam fazer Pote ou Trincão? No fundo, a velha história da manta curta que ao cobrir os pés destapa a cabeça. E foi exactamente da cabeça de Pote que nasceu o primeiro golo dos leões, em lance principiado por Gyokeres e continuado por Trincão. Confúcio um dia disse-nos que se um problema tem solução, então devemos concentrarmo-nos na solução, mas, se o problema não tiver solução, nesse caso não haverá razão para nos preocuparmos. Como o problema não tinha solução, os arouquenses iam trocando a bola desde trás, à espera que depois um milagre colocasse a bola num local promissor para um dos seus avançados facturar, mas Cristo foi ser profeta para outra freguesia (Arábia Saudita) e sem ele não houve o milagre da multiplicação dos lances ofensivos arouquenses. Nesse transe, o Sporting foi pressionando cada vez mais o Arouca, asfixiando o seu adversário: um auto-golo a nosso favor foi anulado pelo VAR por uma margem que seria desprezível para o John Holmes. Mas o que o VAR tirou com uma mão deu com a outra, mais uma vez na sequência de uma cabeçada de Pote que embateu num dos membros superiores do japonês Fukui. Chamado a converter, o Vik Thor Gyokeres mandou o guarda-redes para o vazio e a bola na direcção dos 3 pontos. Para o trabalho dos 3 Mosqueteiros ficar completo, só faltava Trincão molhar o bico: eis então que Gyokeres serviu um apoio frontal a Bragança e este logo meteu a bola em Trincão. O que aconteceu a seguir foi um momento de pura magia, em que dois arouquenses procuraram fechar o espaço e o ex-culé não lhes deu tempo, concluindo de forma indefensável.
A mecanização do futebol do Sporting tem sido insustentável para os nossos adversários. Qual Limão-Mecânico, as rotinas de jogo do leão são altamente aromatizadas e vêm--se revelando amargas para os nossos sucessivos opositores, que têm sentido que a nova pele do leão tem casca dura e é bem difícil de roer. Segue-se o Lille, e com ele a possibilidade de internacionalizar este limão português que em boa hora Amorim desenvolveu num limoeiro mágico sito em Alcochete, local onde não se anda (ainda) propriamente a ver passar os aviões.
Tenor "Tudo ao molho...": Francisco Trincão