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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

01
Dez23

Tudo ao molho e fé em Deus

Dar uma parte de avanço e ainda assim ficar à beira da vitória


Pedro Azevedo

Haverá certamente uma razão muito ponderosa para que, volta após volta, o Trincão esteja dentro de campo. Entenda-se a "volta" aqui como literal, na medida em que corresponde ao ciclo comportamental de cada adepto perante as suas exibições. Senão vejamos: no início, o adepto acredita. Ou melhor, quer acreditar, tem a ilusão de ver finalmente o jogador tirar um coelho da cartola. Mas, depois, com o tempo a correr, vai aceitando que é o Trincão, e não o Luis de Matos, e já se contenta com um ovo de codorniz, que um daqueles de Colombo será pedir demais. No fim, espreme-se tudo e o sumo é o equivalente ao de uma laranja seca. Desilusão. Termina o ciclo. E começa um novo, com o coelho, o ovo de codorniz e a laranja seca como parábola da legitimação da razão ponderosa através da ilusão do adepto. O que não acontece, por exemplo, com o Esgaio, sobre o qual não há ilusão, logo ciclo, embora haja uma razão ponderosa qualquer que nenhum cientista da bola ainda conseguiu descortinar para ir constantemente a jogo. Ou com o Adán, de cuja cartola só se espera que não saia um frango. Por que razão então o Trincão suscitará tanta ilusão? Só pode ter a ver com o preço que custou. E com um baixo nível de exigência. (No Sporting, o preço de aquisição de um jogador é proporcional à ilusão que cria, e esta é igualmente proporcional ao tempo de espera que o adepto está disposto a conceder para que a ilusão se concretize, pelo que, em boa verdade, um jogador caro pode andar a prometer sem concretizar desde o momento em que chega até ao momento em que parte, que haverá sempre esperança nele.)

 

O Sporting optou por entrar em campo com 2 laterais sem balanço ofensivo e um jogador (Trincão) sem sentido colectivo do jogo, lento de processos e que esconde lacunas técnicas graves - incapaz de orientar uma recepção, prefere sempre dar uma volta à rotunda mesmo que o trânsito esteja todo aí concentrado - em função de uma muito sobrevalorizada habilidade com a bola. E assim foi amassado na primeira parte, vítima do pressing alto da Atalanta. Novo jogo com os italianos, nova primeira parte perdida, como se nada de essencial tivesse sido aprendido desde o jogo em Alvalade. No meio de tanta inconsequência, Morita e Hjulmand viram-se e desejaram-se para encontrar linhas de passe que não fossem para trás. Contra a asfixia, valeu então Gyokeres como referência, que não só nos permitiu respirar aqui e ali como ainda protagonizou as duas únicas oportunidades de golo que tivemos nesse período do jogo, uma em espectacular jogada a solo, outra após ganhar um choque de titãs com um defensor italiano e isolar Pote. O golo bergamasco resultou de uma má leitura de St Juste, que pôs em jogo o avançado que Diomande quis colocar fora dele (Matheus também não reagiu bem, preferindo esbracejar e pedir fora de jogo). Adán não ficou isento de culpas.

 

O segundo tempo foi diferente, como também já havia ocorrido aquando da recepção aos italianos. Com um lateral direito ofensivo, o Sporting finalmente encontrou espaço nessa ala por onde fazer circular a bola. Acresce que Edwards rendeu Trincão e posicionou-se de uma forma mais central, a fim de servir de referência para o passe dos médios. Logo a Atalanta começou a abrir brechas, mostrando muita dificuldade em impedir as combinações que Edwards ia criando com Geny (na ala) ou Gyokeres (em apoio central ao ponta de lança). E as oportunidades foram surgindo. À segunda, Edwards marcou. E depois Pote teve duas boas oportunidades de adiantar o Sporting no marcador, a última das quais isolado e com tempo para tudo, após brilhante combinação entre Gyokeres e Morita. O japonês, à medida que os italianos iam mostrando sinais de fadiga, pôde então mostrar todo o seu compêndio de passes de primeira de grande qualidade.

 

Muitas pessoas interrogam-se sobre o que sucederá com Pote, que parece ter trocado os passes à baliza (logo, golo) pelos passes ao guarda-redes (logo, dolo), aos dois postes ("pasodoble") ou para fora, um tipo de passe social que não lhe era nada habitual. Se calhar a solução está numas bujardas à baliza. Só para criar a dúvida nos guarda-redes. Para que mais tarde regresse a souplesse, assim a modos como a bonança que vem após a tempestade. 

 

Perdida a oportunidade de ganhar o jogo em Itália, a vitória do Rakow sobre o Sturm Graz qualificou-nos directamente para a fase a eliminar. Só que teremos de cumprir uma eliminatória suplementar (dezasseis-avos-de-final) contra uma equipa proveniente da Champions, o que causará mais erosão na equipa numa altura crucial do nosso campeonato e dificultará a nossa permanência na competição.  

 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres. Edwards seria igualmente uma boa opção, mas o sueco trabalhou incansavelmente e esteve na origem de 4 das 6 oportunidades que os leões tiveram no jogo.

 

P.S. A saída de Matheus Nunes nunca foi devidamente colmatada. Ontem, uma vez mais, foi notada a ausência de um médio capaz de quebrar linhas em posse sob pressão. 

edwards atalanta.jpeg

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