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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

04
Jan25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Ser ou não ser


Pedro Azevedo

De Mirandela não vêm só alheiras, há em Rui Borges alguém que não está aqui para encher chouriços e se afirma desde o primeiro dia como um René Descartes cuja dúvida metódica lhe faz desconfiar do 3-4-3 e começar a construir do zero um novo sistema de crenças que pode ser sintetizado no 4-1-4-1 com que a equipa do Sporting (des)organiza-se ofensivamente. Pelo que passámos da tentativa mal-sucedida de clonação de Rúben Amorim por parte de João Pereira, o nosso momento Dolly, para a ruptura com o sistema de crenças anterior, por enquanto ainda mais dependente da atitude que da inspiração, a modos de um "lutem e continuem lutando até que os cordeiros se tornem leões" (ou desfaleçam de cansaço ou por lesão durante o processo). 

 

O Sporting vive presentemente em transição ontológica. Quer-se agora que alguém que dirige a equipa seja igual a si próprio, da mesma forma que no passado recente não se quis que outro alguém fosse esse alguém. É confuso para quem queira aprofundar a questão, o que felizmente não é o caso dos nórdicos, tradicionalmente concentrados na tarefa e pouco dados a dúvidas existenciais. Por isso, o Gyokeres foi o Gyokeres e começou logo a marcar, que para ele metafísica é mais "mete a física" a caminho da profundidade. O Sporting ataca em 4-1-4-1, o que exige que Hjulmand se dê constantemente ao jogo para procurar a bola e a colocar de seguida nos dois médios-centro ofensivos. No primeiro golo do Vitória, o Hjulmand estava marcado em cima. Diomande podia ter passado à queima para Quaresma ou optado por atrasar tranquilamente para Israel. Mas não, tentou queimar linhas e colocar longo na frente, permitindo assim uma transição muito perigosa que só foi parada por Quaresma em falta. Do livre subsequente, o Vitória empatou, com Israel a fazer-se tarde à bola. Quando os médios contrários condicionam Hjulmand, os centrais são obrigados a fazer passes longos. Aqui surge um dilema, porque nem Diomande nem St Juste são particularmente bons neste item, ao contrário de Debast que por outro lado é quem defende pior, o que sem os 3 centrais é ainda mais notório. Nesse transe, Quaresma destacou-se no primeiro tempo da mediocridade geral, servindo bastas vezes de pronto-socorro e levando o sector defensivo a reboque. Em suma, esta táctica presente não deixa confortável nenhum central. Sem conseguir jogar entrelinhas pelo meio, o Sporting circulou por fora, em "U": Quenda voltou a solicitar Gyokeres na profundidade e o nosso Vik Thor não perdoou. O Sporting foi para o intervalo em vantagem.

 

De uma brilhante tabelinha entre Morita e Gyokeres, o Sporting marcou o terceiro golo. Pensou-se que o jogo estava ganho. Só que Morita "deu o berro", o meio-campo tornou-se muito levezinho e Matheus Reis adormeceu à sombra da bananeira e abriu uma auto-estrada com via-verde para o segundo golo do Vitória. Pouco depois, veio o terceiro: St Juste afastou uma bola para a zona central do campo, desequilibrando toda a equipa. E o quarto: Matheus Reis ficou a ver o avançado vimaranense cabecear à vontade, ao mesmo tempo que Israel ficava pregado na linha de golo, como um prisioneiro em solitária que faz de postes e barra a sua própria cela. Sobre o gongo, Trincão ainda empatou, em lance brilhante que esteve nos antípodas da sua acção no jogo, salvando-nos 1 ponto. 

 

Voltando à questão ontológica, o Sporting ontem não foi Sporting. A boa notícia é que hoje o Benfica ainda foi menos Benfica (se o Manchester United amanhã não for Manchester United, a notícia poderá não ser tão boa porque se Lage continuar a ser Lage então Amorim até poderá vir a ser novamente Amorim e estar a caminho). O problema é que o Porto começa a ser Porto, ainda que a coberto do nevoeiro, o disfarce ideal para quem não quer ainda dar nas vistas. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeres

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22
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Todos à Praça da Figueira


Pedro Azevedo

No dia seguinte ao do Benfica ter sido eliminado da Liga Europa pelo Marselha, o jornal A Bola, na sua edição on-line, fazia manchete com a notícia de que os encarnados haviam sido o clube português que mais pontos obtivera na Europa nos últimos 5 anos (não se pode deixar cair o Benfica, nem que para tal seja preciso recorrer ao jogo da malha ou ao chinquilho). Ou seja, quem ingenuamente pensou que o Benfica havia perdido, afinal veio a deparar-se com mais um retumbante êxito das águias (ou como um êxito pela porta pequena das competições europeias pode ser também um grande êxito em si mesmo). Pensei nisso na antecâmara do jogo contra o Vitória e de como um potencial triunfo nosso seria sempre infrutífero porque certamente o Marquês já estará reservado para a comemoração do quinquénio europeu benfiquista. [Acho que a isto se chama A Bola passar o lustro (meia-década) ao Benfica.]

 

Ainda que ofuscado pela gloriosa gesta europeia lampiónica, o Sporting recebia o Vitória, em Alvalade, a fim de consolidar a sua pretensão ao título (menor, quando comparado com o quinquénio europeu escarlate, mas ainda assim um título). Com o seguinte dilema prévio: se, por um lado, ganhar ao Vitória era fundamental para mantermos a cadência, por outro, uma vitória em cima de Vitória parecia uma contradição nos termos. Pensei maduramente nisso e no que Amorim diria no balneário à sua equipa e cheguei à conclusão de que para saírmos vitoriosos contra o Vitória teríamos de nos disfarçar de vitorianos. O Amorim pensou o mesmo e fomos a jogo equipados de branco. O Álvaro Pacheco é que não foi na conversa de assumir o jogo à Sporting e começou por pôr as barbas de molho, definindo uma estratégia que passava por cautela e caldos de galinha. A quente, como o caldo era deles, esses primeiros 20 minutos não foram canja para nós, mas depois, mais a frio, o Bragança teve uma boa jogada e a equipa acertou o ritmo. Até que novo desequilíbrio causado pelo Bragança na área deu a oportunidade ao Pote de visar a baliza: o Pedro peyroteou com categoria e adiantámo-nos no marcador. E sobre o intervalo, o Gyokeres dilatou a vantagem após uma triangulação que envolveu também Bragança e Pote e fez lembrar o Sócrates, o Falcão, o Careca e o Escrete dos anos 80. Em sequência, o Álvaro foi pensativo para o balneário. Quer dizer, a boina, de griffe Yves Saint-Laurent, já de si lhe dá um certo ar de parisiense, intelectual, criando a imagem de um ser introspectivo, alternativo, um artista do Quartier Latin quiçá com influências de Rimbaud e Baudelaire, mas agora era a pressão dos números (e não da baguete esmagada debaixo do braço) que o fazia reflectir. Serviu de pouco, porque logo aos 4 minutos do reatamento o Gyokeres bisou. O sueco não voltaria porém a marcar, algo que já não faz há precisamente 41 minutos ou 2460 segundos, mais até se considerarmos o tempo que mediou desde que acabou o jogo e a hora a que entrego esta crónica. Pelo que, à falta de um saudoso Albarran que lhe dê o devido acento, se espera pelo menos que os jornais de mais logo continuem a pegar no tema desta imperdoável abstinência goleadora. [Na retina porém ficou um inacreditável slalom (gigante) do sueco, digno de um Stenmark ou Girardelli, que infelizmente acabou em derrapagem e queda (tipo Tomba) na hora da conclusão. Brutal! E a mostrar que, se cá nevasse, o Gyokeres faria por cá ski,]

 

E assim estamos cada vez mais perto do título. Com o Marquês tomado por um Benfica a reboque de uma imprensa amiga que seca tudo à volta, o melhor será mesmo o Sporting ir comemorar para a Praça da Figueira, assim a modos de recuperação de uma parábola célebre de Jesus Cristo (Mateus 21:18-21). Recordando-nos de que ao mesmo tempo que secou uma figueira, Jesus alertou os seus discípulos de que a fé pode mover montes até ao mar. Como a fé de um Sportinguista, que não só move montanhas como será sempre recompensada em milagres. [Só mesmo um milagre explica termos sobrevivido a ASD, Pinheiro, Godinho, Veríssimo e, pior(!), ao impacto negativo no PIB nacional produzido por a "instituição" não vencer.]

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote. Bragança, em versão Telé Sant'Amorim, seria a minha segunda opção e os centrais estiveram muito bem. Gyokeres voltou aos golos e Trincão produziu uma assistência pelo segundo jogo consecutivo.

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