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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

03
Fev25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Das circunferências do Trincão saiu o raio do Fresnove


Pedro Azevedo

Os movimentos circulares de Trincão e a estreia de um novo ponta de lança adquirido no Mercado de Inverno marcaram o jogo de ontem em Alvalade. Além de presidentes de Câmara, ninguém acompanha Trincão no gosto por rotundas. É como se nesse movimento, geralmente descrito no sentido dos ponteiros de relógio, como tal em contra-mão pelo código da estrada português, o Trincão alegoricamente nos explicasse a sua existência: muitas voltas de 360 graus para sempre regressar ao ponto de partida. Verdade porém seja dita que esse aparente castigo de Sísifo esconde um propósito evidente: evitar que a equipa se parta e o nosso jogo se resuma a transições, se desorganize. E assim o Trincão (e o jogo) justifica-se, da mesmíssima forma que um interlúdio publicitário cria as condições e prepara para o programa que veremos a seguir. Mas a novidade do dia foi o Fresnove, um ponta de lança ou segundo avançado recém-contratado. Não, não se trata de um lateral direito goleador porque para isso lhe faltariam duas premissas: ser um (bom) lateral e marcar dessa posição. Como o Diogo Travassos, que já foi nosso, fez ontem ao Benfica (já agora, alguém explique ao guardião do Estrela que guarda-redes é título metafórico, que o propósito é mesmo defender o risco de baliza e não encostar às redes como se nesse acto protegesse a virtude). Não, o Fresnove é um avançado centro. Não lhe peçam por isso para defender ou atacar bem pelo flanco, que essa não é de todo a sua especialidade, mas a aparecer solto na área pode ser letal.

 

Caro Leitor, a crónica já vai em andamento, mas preciso voltar atrás para deixar uma palavra de apreço para com o trabalho do nosso técnico. Eu gosto muito do Rui Borges, como admiro todos aqueles que transformam problemas em soluções. No caso particular, conseguindo fazer passar por entre os pingos da chuva uma Unidade de Performance que mantém Pote há 3 meses no estaleiro e um Director Desportivo aparentemente em part-time e que acaba de contratar para o nosso elenco um jogador de um clube do Grupo City por uma verba recorde para esse clube (Bahia), o que convenhamos não abona muito bem sobre a política de prevenção de conflito de interesses existente(?) no Sporting. Mas a tudo isto Rui Borges vai sobrevivendo, levando o barco a bom porto. Ou bom Porto, como se espera na próxima sexta-feira. 

 

De quem eu gostei muito ontem, e avanço já que elegi como "melhor em campo", foi do João Simões. Por uma simples razão: eu não me recordo de um jogador que tenha dado um salto tão quântico de produção após meia-dúzia de jogos como o João. Ainda mais entrando numa fase difícil, com a equipa pouco estabilizada na sequência do trauma da saída de Amorim e concomitante convulsão de lesões (a Torre do tombo onde, sobranceira, habita a Unidade de Performance, que Rui Borges relativiza ao ressuscitar o velho lema de António Oliveira, de "por cada leão que cair, outro se levantará"). Impressionante a forma segura, mas trépida, como leva a bola para a frente em movimento perpendicular, bem como as suas desmarcações na ala esquerda que abrem linhas de passe à equipa e agitam o jogo, dão-lhe uma dinâmica que combate a pastelice procrastinadora do passe para trás e para o lado. E, na ausência de Gyokeres, devo realçar o Harder, que deu o peito às balas, o que aqui deve ser encarado como literal e metaforicamente correcto, ou não tivesse ele amortecido e encaminhado para a baliza com o tronco um tiro de canhão de Matheus Reis que assim adquiriu a bonita semântica de uma assistência. 

 

Seguimos em (na) frente!

 

"O Homem é o Homem e as suas circunstâncias", sentenciou Ortega Y Gasset. Até aparecer Rui Borges, que, em vez de se adaptar às circunstâncias, faz as circunstâncias adaptarem-se a si, naquele jeito transmontano de quem faz das fraquezas forças, agradece ter trabalho ("inherent problems come with the territory") e ainda tem tempo (ou não fosse ele um "Jack of all trades") para ir com toda a naturalidade a Mirandela comer uma alheira e ver jogar o clube da terra. Sem dramas, nem stress. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": João Simões

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30
Jan25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Portugal na CEE


Pedro Azevedo

Estávamos no início dos anos 80 e os GNR cantavam "Portugal na CEE": "Na rádio, na TV, nos jornais, quem não lê..." A CEE mais tarde deu lugar à União Europeia. E alargou-se, dispersando os seus membros, de uma forma diferente da antiga Taça dos clubes Campeões europeus, que se transmutou na Liga dos Campeões que hoje conhecemos, concentrando o poder nas grandes ligas. Por isso, a Champions é hoje uma competição sui-generis, por conter uma maioria de clubes que não foram campeões (dos 24 clubes apurados para a próxima fase, só 9 venceram o campeonato do seu país na época anterior e alguns, como a Atalanta ou o Brest, nunca foram sequer campeões nacionais na sua história). Mas o negócio dita a lei, os patrocinadores querem ver as melhores equipas no momento, pelo que se atropela o conceito básico, mistura-se com uns pózinhos de perlimpimpim do Zadok the Priest (Handel) para dar solenidade à coisa e coroa-se assim o fim de clubes históricos como o Anderlecht, o Ajax, o Estrela Vermelha ou o Steaua de Bucareste, muito periféricos para a alta-roda dos milhões que a UEFA quer explorar até ao tutano, que o osso fica para os orfãos deste modelo de "desenvolvimento". 

 

Calhou o sortilégio do sorteio que o futuro de Sporting e Benfica na competição estivesse dependente do seu desempenho contra equipas italianas: o Benfica ia a Turim tentar trocar três passes seguidos para saltar à próxima fase e assim o Lage poder fazer a sua festa de garagem, o Sporting precisava de ratificar um Tratado de Bolonha que conviesse a ambas as partes. A tarefa dos Leões não era fácil, que recentemente, haviam trocado Alcochete por Alcoitão, que é como quem diz um centro de estágio por outro de medicina de reabilitação. Já se sabe que tirar um curso superior tendo por companhia um par de muletas em vez de manuais pode ser incomodativo, mas a realidade era essa e os Leões teriam de procurar o melhor aproveitamento. Sem três dos seus quatro melhores "estudantes" (Gyokeres, Pote e Morita de fora, só Hjulmand foi a exame) e com um "cábula" como Fresneda a baixar a média geral da turma - aos 2 minutos, num canto, deixou-se antecipar por Sam Beukema e a bola foi à trave; aos 17, Samuel Iling fez o que quis dele e cruzou com muito perigo; aos 20, novo canto, Beukema novamente vence-o nos ares, Hjulmand já não chega a tempo para o compensar, a bola sobra para Pogeba e golo do Bolonha (Israel ficou como habitualmente entre os postes, como se estes para si representassem um cativeiro do qual fosse impossível libertar-se) - , o Sporting precisou de recorrer aos alunos mais jovens (Simões e Quenda) para obter um suficiente na prova. 

 

A entrada do miúdo João Simões permitiu criar um par de combinações pela esquerda com Maxi, conjuntamente com Diomande um dos mais inspirados em campo, que desestabilizaram os italianos. E de uma jogada que deve ter deixado orgulhoso o nosso Jorge Theriaga, decano do bilhar às três tabelas leonino, Simões passou a Harder (outro adolescente) e este fez uma carambola do seu pé esquerdo para o direito que pôs a bola no "saco" e o quezilento Bolonha (29 faltas!!) finalmente no bolso (pocket). O miúdo quase repetiu a proeza momentos depois, optando desta vez por um passe atrasado, mas o lance perder-se-ia por interferência de um bolonhês. 

 

Como o Benfica ganhou à Juventus, os dois clubes portugueses entraram no play-off. Há agora 24 clubes ainda em prova, sendo que apenas 6 pertencem a países periféricos que resistem ao jugo das ligas alemã, inglesa, espanhola, italiana e francesa. Nesse particular, Portugal rivaliza com os Países Baixos (também com 2 clubes, PSV e Feijenoord), os outros são Escócia (Celtic) e Bélgica (Club Brugge, o último apurado). 

 

"E agora que já lá estamos, vamos ter tudo aquilo que desejamos: um PA p'ras vozes e uma Fender. Oh, boy, é tão bom estar na CEE! Quero ver Portugal na CEE, quero ver portuga na CEE." - as vozes ficam para o Lage, a nós compete-nos ter unhas (garras de leão) para tocar esta guitarra. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": João Simões

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26
Jan25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Um Braillinho da Madeira


Pedro Azevedo

Há duas máximas sobre massa que o Leitor precisa de recordar: a primeira, diz-nos que é muito importante ou mesmo determinante no futebol; a segunda, adverte-nos de que o que é Nacional é bom. Ainda assim, há clubes com mais "massa" do que outros, mas essa "massa" pode não ser necessariamente de melhor qualidade do que a de um clube com menos "massa". Por exemplo, o clube dos 6 milhões tem muita "massa", massa dinheiro e massa associativa, pelo que é uma maçada quando perde com um humilde mas valente clube-roulotte que tem tão pouca "massa" que anda com a casa às costas quinzenalmente até finalmente a poder parquear em Rio Maior. Logicamente, os adeptos do clube com muita "massa", que se deslocaram em massa ao local onde o adversário parou a roulotte, ficaram amassados com a atitude da sua equipa e logo pediram justificações ao seu treinador, que por sua vez, já que pedir não custa, devolveu o requisito, pedindo ajuda aos adeptos, de forma a que ele pudesse resolver "esta m€rd@", o que pressupõe, sentindo-se ele parte da solução e não do problema, que a ajuda requerida não implica que os adeptos o substituam no banco e assim consigam tirar o mínimo rendimento de um plantel milionário, inferindo-se assim que a cooperação pretendida será do género "somos todos Benfica" e se todos forem Benfica ninguém os parará, até porque não restará ninguém para o fazer (um velho sonho "vieirista"). 


Ora, na noite passada, um clube com "massa", não tanta como a do clube dos 6 milhões mas ainda assim muita "massa", defrontou o Nacional. Além de alertado para o facto de que o que é Nacional é bom, o Sporting tinha bem presente um exemplo de como a sobranceria pode custar caro, que mesmo com massa para o Benfica não foi "canja de galinha". Assim, com o acompanhamento da "massa", meteu a carne toda no assador, não poupando o Gyokeres, o Morita e o Bragança e procurando assim confecionar uma boa bolonhesa (que se espera dure pelo menos até quarta-feira). Por outro lado, o Nacional, ainda que não sendo um clube-roulotte, trouxe um contentor de frio a Alvalade para não estragar a famigerada qualidade da sua massa. E pousou-o em frente à sua baliza. Com um objecto de dimensões tão consideráveis à sua frente, os jogadores do Sporting tiveram sempre muita dificuldade em ver a baliza, pelo que recorreram ao braille para lerem correctamente o que se estava a passar, ao mesmo tempo que foram desenvolvendo outros sentidos: o olfato de Gyokeres, a audição de Hjulmand, o tacto de Diomande e o paladar de Quenda. Mas ainda assim não foi fácil. Pelo que, se o macaco-hidráulico fez oscilar o contentor mas não o retirou da frente, o engenhoso do Trincão acabou por resolver o problema à lei da bala, ou, mais concretamente, a tiro de canhão (rima com Trincão). Ainda assim, os nacionalistas não desarmaram, pelo que só mesmo massa fresca (18 aninhos, João Simões) resolveu definitivamente o problema.

 

Nos últimos 4 jogos do campeonato, o Sporting fez 10 pontos e o Benfica e o Porto (menos 1 jogo) apenas 3, o que quer dizer que Rui Borges, que arrancou com menos 1 ponto que Lage e os mesmos de Vítor Bruno, ganhou um total de 14 pontos (no mínimo 11, caso o Porto vença hoje) aos seus rivais nessas jornadas, aumentando em 1 ponto a diferença que Amorim havia cavado para cada um dos adversários directos quando faltam menos 8 jogos para o campeonato terminar, tendo pelo meio de gerir as lesões prolongadas de Pote e Nuno Santos, as recorrentes de Quaresma, Inácio, St Juste, Matheus Reis, Morita e Bragança, o cansaço muscular de Gyokeres e a falta de compromisso de Edwards. É obra!!! Bom, mas isso é outra loiça, que hoje foi a massa que nos trouxe aqui... 

 

"Deixem passar esta linda brincadeira, que a gente vamos bailar p'ra gentinha da Madeira..."

 

Tenor "Tudo ao molho...": Morten Hjulmand

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22
Jan25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

A Leste nada de novo


Pedro Azevedo

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Ainda sou do tempo em que em Leipzig havia um clube com o nome de Lokomotiv. Mas depois o Muro caiu, os grandes clubes da RDA (Lokomotiv, Carl Zeiss Jena e o Magdeburgo do nosso descontentamento, que nos eliminou com muita sorte à mistura naquela meia final da Taça das Taças que terminou na véspera da Revolução de Abril) empalideceram com a migração de jogadores para o "el-dorado" Oeste (também há quem diga que o laboratório da Alemanha de Leste que fabricou atletas fabulosos como a Marita Koch abusava de aditivos hormonais, que o importante era promover a qualquer preço um regime que ia já remendado ou mesmo nu) e mais tarde apareceu o Red Bull, que como se sabe "dá-te asas" e portanto não é compatível com locomotivas que não voam, ou só voam se o observador estiver sob influência daqueles cogumelos que não são venenosos mas alucinam um bocadinho. Red Bull que logo estabeleceu uma linha de produção em Salzburgo para depois montar o produto final em Leipzig, produto esse que agora exporta na Europa. Foi nesse contexto que o Sporting visitou hoje a Alemanha. 

O Sporting entrou assim-assim, embora o Harder cedo tenha demonstrado estar com raivinha nos dentes. Só que, após uma bola perdida a meio campo, os centrais recuaram porque a bola estava descoberta mas o Fresneda foi de arranca-e-pára até ao estampanço final: 1-0 para o Red Bull. (Os Monty Python diziam que ninguém pára a Inquisição Esoanhola, mas o Leitor aguarde que pior ainda viria a ser o Canhão da Nazaré.)


O Fresneda voltou a falhar, mas desta vez o Sporting foi salvo pelo VAR que detectou um fora de jogo posicional de um jogador que depois acabou por ter interferência no lance. O Sporting começou a atacar mais e Harder, Fresneda e Debast viram bolas que iam a caminho da baliza dos alemães serem deflectidas. O intervalo chegou. 

O início do segundo tempo foi de pesadelo. Mas era preciso resistir o suficiente até que o Gyokeres pudesse entrar. A hora a que o Gyokeres pode entrar é uma coisa que tem a ver com a Unidade de Performance, uma entente criada do cruzamento feliz entre a Alcina Lameiras, o Detective Correia, o Instituto de Socorro a Náufragos e o Borda d'Água, também capaz de planear a sementeira para Janeiro e de prever as colheitas de Maio, prognosticar ventos e marés e resgatar moribundos. além de realizar investigações ao domicílio (Alcochete). O certo é que o Gyokeres lá entrou e cedo marcou, como seria de esperar de um jogador que, se faz a diferença para os adversários, está uma milha à frente de qualquer outro jogador do Sporting (exceptuando talvez o Pote). Com o golo, a qualificação estava encaminhada. Mas havia ainda a possibilidade de ficarmos nos 8 primeiros da Liga dos Campeões, desiderato para o qual seria imperioso vencer já hoje e posteriormente contra o Bolonha. Só que o Inácio encheu-se de salamaleques e não despachou uma bola que andou a ressaltar de cabeça em cabeça, de pé em pé, até que encontrou a canela do Esgaio, que é da Nazaré mas não é de todo O Nazareno, nosso salvador. Se bem que com ele o nosso caminho se tenha tornado uma Via Crúcis. Nada porém que desencoraje um Sportinguista, habituados que estamos a resistir a cataclismos que não estão descritos na Bíblia. 


A Leste nada de novo: o Gyokeres é o Gyokeres, assim como o Fresneda é o Fresneda e o Esgaio é o Esgaio, embora à laia de Prozac gostemos de pensar que os últimos 2 são o Cafu. 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeres (Who else?) 

18
Jan25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Sandes Miszta


Pedro Azevedo

Caro Leitor, enquanto em Alcochete, desde que chegou Rui Borges, voltou a reinar a tranquilidade, nos nossos vizinhos há sinais de que o sonho hegemónico, quiçá até imperialista, foi retomado a todo o vapor. Tanto é assim que descobri pela Comunicação Social que o Barreiro está no Seixal (e no Seixal, e em toda a CS, só se fala no Barreiro), e não por acção de um terramoto (ou mesmo da Transtejo Soflusa). O facto de o Barreiro não estar mais no seu lugar natural (o Barreiro) foi um coelho que só podia ter saído da cartola (hat-trick) benfiquista, sempre desejosa de puxar para as suas hostes todos aqueles que lhe puderem dar uma mãozinha, seja por via das desventuras do Boaventura. de funcionários dos tribunais e agora também através da anexação do Barreiro. Não sei se isto vai dar uma Guerra Penínsular (de Setúbal), mas espera-se a solidariedade da comunidade para com o Barreiro. É que surpreende ainda mais a ideia que nos vendem de que o Barreiro assim está em alta, principalmente porque toda a gente sabe que quem diz Barreiro, diz Baixa (da Banheira)...

 

Bom, mas isso são contas de outro rosário, que o que nos trouxe hoje aqui foi a visita do Sporting ao Rio Ave. Sir Francis Bacon, que foi um ilustre político, filósofo e cientista inglês, dizia que um homem esperto cria mais oportunidades do que aquelas que encontra. Lembrei-me disso ao pensar em Rui Borges, sem dúvida um treinador astuto e camaleónico tacticamente, virtudes que aliadas ao seu optimismo e atitude positiva (face a lesões e falhanço em contratações) vão conduzindo a nossa equipa num sentido tão ascendente que hoje nos proporcionou um final de tarde inesperadamente descansado no tão renovadamente difícil e rico eolicamente Estádio dos Arcos, em Vila do Conde. 

Com Debast no meio campo, mas a recuar e juntar-se a Diomande e ao regressado Inácio para o início de construção a 3, Rui Borges começou logo a surpreender. Petit pareceu baralhado e os seus jogadores idem, que não esperariam ver Maxi tão balanceado para a frente e na ajuda a Quenda no ataque. Sempre em superioridade numérica na esquerda, Rui Borges conseguiu assim libertar o joker Quenda para este espalhar magia. E espalhou, pelo que só um dia desgracado de Harder na finalização impediu uma goleada histórica. Ainda assim, deu para uma bela sandes Miszta: o Aderlan, em luta com o Fresneda, descobriu o queijinho (Manchego), o Hjulmand adicionou-lhe o Nobre fiambre dinamarquês e o Gyokeres, que esteve a maior parte do tempo no banco a serrar presunto, assim que entrou juntou o ingrediente final. E se foi Miszta, deveu-se também ao guarda-redes do Rio Ave, senão teria sido uma enorme club-sandwich. Assim mesmo, à inglesa, como o nosso Sporting. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Quenda

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12
Jan25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Faca na liga


Pedro Azevedo

Começo por escrever que tenho um desprezo pela Taça da Liga semelhante ao que possuía por aqueles antigos concursos da função pública que ao longo dos anos fomos lendo que eram formatados para favorecerem uma pessoa ou entidade específicas. Nesse sentido, a Taça da Liga é o paradigma da falta de vergonha, uma fraude. Porque de Taça nada tem, na medida em que ao longo dos anos lhe foi sendo subtraída a possibilidade de um imprevisto, sortilégio tipo "tomba gigantes" praticamente só reservado para a bisavó Taça de Portugal . Ou quase, se considerarmos que, nos actuais moldes, a Final 4 poder contemplar qualquer clube além de Sporting, Benfica, Porto e Braga seria o equivalente futebolístico à ocorrência de um terramoto em Portugal semelhante ao de 1755. E como se a extinta fase de grupos não fosse já suficientemente ultrajante, na medida em que beneficiava os acima referidos clubes com o jogo teoricamente mais difícil a ser jogado em casa, esta época optou-se por uma "inovação" - não basta à Liga o Choupana Quibir - que diminuísse ainda mais a ínfima (mas ainda assim possível, como o passado o provou) probabilidade de um Moreirense ou de um Vitória atingirem a fase decisiva: uns quartos de final disputados em casa dos 4 clubes do costume, seguindo-se a Final 4. E assim uma Liga que actualmente contempla 34 clubes (excluídos Porto B e Benfica B) nas suas duas primeiras divisões (mais 18, excluindo Sporting B e Braga B, na Liga 3) tem uma Taça disputada por 8: uma caça à receita ao arrepio das mais elementares regras de equidade e integridade das competições. Ou seja, isto não é uma Taça da Liga, isto é andar no futebol de faca na liga, que os meios hão-de justificar os fins de alimentar os cofres à Liga e de reduzir o número de jogos aos Grandes. Mas os clubes no geral parecem gostar, que depois há um mecanismo que os compensa financeiramente por fecharem os olhos a semelhante atropelo do que deveria ser uma competição, algo impensável em países que o senhor Proença diz querer seguir, como Espanha, Alemanha ou França (que extinguiram o torneio por falta de datas) ou Inglaterra, onde ainda é hoje disputada com jogos a partir dos 64 avos de final e sorteio não condicionado. Enfim, Portugal não seria Portugal sem o truquezinho, esperteza saloia que depois vendemos ao mundo como se de um grande rasgo, de um ovo de Colombo se tratasse (ainda que toda a gente saiba que Proença e Colombo não combinam nada bem)...

 

Bom, mas a competição, ainda que bizarra ou surreal, existe. E, como tal, não pode ser ignorada. Quer dizer, deveria ser ignorada, nem que fosse para que quem dirige pudesse entender que não vale tudo, mas, como não o é, A Poesia do Drible vai ter de escrever o devido sobre o que não devia. Se bem que na seguinte versão resumida: se o Quenda definisse melhor (e, fora isso, ele até jogou bem), o que seria pedir demais ou altamente improvável nas suas imberbes 17 primaveras, teríamos chegado ao fim da primeira parte com mais 3 golos, o que mitigaria o facto de o Trincão não ter jogado durante 90 minutos e só se ter dado, infelizmente, por ele na marcação de pontapés da marca de grande penalidade. Ainda assim, sem Pote nem Morita (nem mesmo o seu substituto natural, Bragança) e com menos 1 em campo desde o apito inicial do árbitro, o Sporting bateu-se meritoriamente, dedo inequívoco do seu treinador e da atitude dos seus jogadores. Pena foi que Geny pouco tenha ajudado Quaresma ou que na hora decisiva não tenhamos tido um guarda-redes perito em defender penáltis, como o Renan ou o Patrício no passado. Porque, de resto, o Benfica nunca nos foi superior. E se nem conseguiu ser melhor a jogar contra uma equipa de remendos e com um treinador que ainda nem teve tempo de treinar o sistema e as suas dinâmicas no relvado, então está finalmente descoberta a utilidade, a razão de ser desta Taça da Liga: mostrar que o "rei", "o Benfica somos todos nós", vai nu. E, como "bom português", vai continuar a invejar e a não poder ver à frente quem vista uma camisolinha lavada, no nosso caso verde-e-branca (e negra, também, que para o nosso marketing o Dia de Finados é quando o homem Sportinguista quiser). 

Tenor "Tudo ao molho...": Hjulmand 

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08
Jan25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Que grande 31!


Pedro Azevedo

Numa Liga ainda(!) presidida por um Pedro Proença que acredita que o anteriormente competitivo futebol português, que já foi capaz de vencer quatro Champions, uma Taça dos Vencedores de Taças e duas Ligas Europa, voltará em todo o seu esplendor de Choupana-Quibir num dia de nevoeiro, enquanto o Porto foi de passeio até à Pérola do Atlântico - um mistério da fé, ou não se tratasse da quadra natalícia -, o Sporting deixou a pele num duelo muito intenso na Cidade Berço. Assim, enquanto os Dragões puderam descansar e focar-se imediatamente na Taça da Liga, os Leões tiveram de ir a jogo e subsequentemente recuperar fisiologicamente os jogadores que actuaram em Guimarães, ao mesmo tempo que com rezas e mezinhas procuravam resgatar da enfermaria de Al Cochete um ou dois dos inúmeros entretanto coxos caídos em combate que por lá se vão acumulando. Dir-se-ia assim que o Sporting chegava com armas desiguais a esta semi-final com o Porto, mas os jogos não se perdem antecipadamente quando se é de uma raça que nunca se verga. E assim apresentámo-nos em Leiria. 

O Porto começou melhor, aproveitando o espaço que a linha recuada dos Leões foi cavando para o seu meio campo. Nessas entrelinhas foi-se destacando o que parece ser o clone perfeito de João Vieira Pinto, um miúdo com pinta de malabarista da bola que dá pelo nome de Rodrigo Mora, que logo se evidenciou com um toque de calcanhar seguido de passe açucarado para um remate perigoso à baliza de Israel. Em contraste de estilo, o Samu abusou da canela do meio campo até à nossa área e chegou a ameaçar rematar, mas o Fresneda interpôs-se e tudo acabou num pastel de nada. Terminadas as aproximações perigosas do Porto à nossa área, que oportunidades de golo são outra coisa, logo equilibrámos a coisa: primeiro, num slalom gigante de Gyokeres que ultrapassou portistas como se fossem bandeiras até rematar rente ao poste, depois num tiro defiectido de Quenda que quase enganava o Cláudio. Chegava o intervalo. 

Se no primeiro tempo os Leões foram ineficientes na saída para o ataque, especialmente na ala direita - numa jogada típica de bowling, o Fresneda chegou a mandar violentamente a bola contra o Geny como se este fosse um pino - , no reatamento o Sporting surgiu a atacar por todo o lado. Mas a mina estava no corredor central, mais concretamente no espaço que já no primeiro tempo se percebia existir nas imediações da meia-lua da área portista. Eis então que Geny pega na bola, tabela com Morita, recebe de volta, finta mais um, toca para Quenda, este desmarca Gyokeres no centro da área e o sueco não vacila: golo a coroar uma jogada de tiki-taka a fazer lembrar o Barcelona de Messi ou os brasileiros de 82. Foi o 31º golo de Gyokeres pelo Sporting nesta época desportiva, ele que também ontem foi um grande 31 para quem o teve de marcar. E poderia ainda ter feito mais estragos, não fora a compaixão do árbitro para com os desfavorecidos que passaram o tempo todo a agarrá-lo e a dar-lhe pontapés como se não houvesse amanhã e assim conseguiram "passar entre os pingos da chuva".

 

Este Rui Borges que pode ser Rui Borges está a sair-nos muito melhor do que o João Pereira que não pôde ser João Pereira, o que não quer dizer que se o Rui Borges não pudesse ser Rui Borges (o Rui Borges é tão camaleónico e ontem usou tantos sistemas que é difícil dizer se foi igual a si próprio ou o que é o seu "eu" próprio) a coisa corresse mal. É que há ali uma aragenzinha de sorte que o acompanha que faz com que o Rui Borges se assemelhe ao Rúben Amorim. Costuma porém dizer-se que a sorte protege os audazes e o discurso de Borges antes do terrível ciclo que está a ter pela frente foi sempre orientado pela positiva e sem desculpas. E ontem há que dizer que mexeu muito bem na equipa ao intervalo, mesmo não fazendo nenhuma substituição. Agora só lhe resta seguir as sábias palavras de Jean Cocteau: "O tacto na audácia é sabermos até onde podemos ir". Ainda que com Pote, o céu possa ser o limite...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik "Thor" Gyokeres

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04
Jan25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Ser ou não ser


Pedro Azevedo

De Mirandela não vêm só alheiras, há em Rui Borges alguém que não está aqui para encher chouriços e se afirma desde o primeiro dia como um René Descartes cuja dúvida metódica lhe faz desconfiar do 3-4-3 e começar a construir do zero um novo sistema de crenças que pode ser sintetizado no 4-1-4-1 com que a equipa do Sporting (des)organiza-se ofensivamente. Pelo que passámos da tentativa mal-sucedida de clonação de Rúben Amorim por parte de João Pereira, o nosso momento Dolly, para a ruptura com o sistema de crenças anterior, por enquanto ainda mais dependente da atitude que da inspiração, a modos de um "lutem e continuem lutando até que os cordeiros se tornem leões" (ou desfaleçam de cansaço ou por lesão durante o processo). 

 

O Sporting vive presentemente em transição ontológica. Quer-se agora que alguém que dirige a equipa seja igual a si próprio, da mesma forma que no passado recente não se quis que outro alguém fosse esse alguém. É confuso para quem queira aprofundar a questão, o que felizmente não é o caso dos nórdicos, tradicionalmente concentrados na tarefa e pouco dados a dúvidas existenciais. Por isso, o Gyokeres foi o Gyokeres e começou logo a marcar, que para ele metafísica é mais "mete a física" a caminho da profundidade. O Sporting ataca em 4-1-4-1, o que exige que Hjulmand se dê constantemente ao jogo para procurar a bola e a colocar de seguida nos dois médios-centro ofensivos. No primeiro golo do Vitória, o Hjulmand estava marcado em cima. Diomande podia ter passado à queima para Quaresma ou optado por atrasar tranquilamente para Israel. Mas não, tentou queimar linhas e colocar longo na frente, permitindo assim uma transição muito perigosa que só foi parada por Quaresma em falta. Do livre subsequente, o Vitória empatou, com Israel a fazer-se tarde à bola. Quando os médios contrários condicionam Hjulmand, os centrais são obrigados a fazer passes longos. Aqui surge um dilema, porque nem Diomande nem St Juste são particularmente bons neste item, ao contrário de Debast que por outro lado é quem defende pior, o que sem os 3 centrais é ainda mais notório. Nesse transe, Quaresma destacou-se no primeiro tempo da mediocridade geral, servindo bastas vezes de pronto-socorro e levando o sector defensivo a reboque. Em suma, esta táctica presente não deixa confortável nenhum central. Sem conseguir jogar entrelinhas pelo meio, o Sporting circulou por fora, em "U": Quenda voltou a solicitar Gyokeres na profundidade e o nosso Vik Thor não perdoou. O Sporting foi para o intervalo em vantagem.

 

De uma brilhante tabelinha entre Morita e Gyokeres, o Sporting marcou o terceiro golo. Pensou-se que o jogo estava ganho. Só que Morita "deu o berro", o meio-campo tornou-se muito levezinho e Matheus Reis adormeceu à sombra da bananeira e abriu uma auto-estrada com via-verde para o segundo golo do Vitória. Pouco depois, veio o terceiro: St Juste afastou uma bola para a zona central do campo, desequilibrando toda a equipa. E o quarto: Matheus Reis ficou a ver o avançado vimaranense cabecear à vontade, ao mesmo tempo que Israel ficava pregado na linha de golo, como um prisioneiro em solitária que faz de postes e barra a sua própria cela. Sobre o gongo, Trincão ainda empatou, em lance brilhante que esteve nos antípodas da sua acção no jogo, salvando-nos 1 ponto. 

 

Voltando à questão ontológica, o Sporting ontem não foi Sporting. A boa notícia é que hoje o Benfica ainda foi menos Benfica (se o Manchester United amanhã não for Manchester United, a notícia poderá não ser tão boa porque se Lage continuar a ser Lage então Amorim até poderá vir a ser novamente Amorim e estar a caminho). O problema é que o Porto começa a ser Porto, ainda que a coberto do nevoeiro, o disfarce ideal para quem não quer ainda dar nas vistas. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeres

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30
Dez24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Borges contra o caos


Pedro Azevedo

João Pereira foi uma espécie de quarto segredo de Fátima revelado em exclusivo a Frederico. Todavia, bem ao contrário de outras aparições, esta nunca teve a benção do Vaticano, tratou-se enfim de uma alucinação comum a presidentes de grandes clubes, que uns anos antes também Luis Filipe Vieira havia visto uma luz no Seixal (inclino-me para um pirilampo). Foi galo! Na subsequente contratação de Rui Borges, Varandas não viu um clarão sobre uma azinheira, nem tampouco consultou o tarot da Maya ou a bola de cristal da Alcina Lameiras, limitou-se a olhar para o currículo do treinador. Também não fez nenhuma previsão sobre aonde estaria o treinador daqui a 4 anos, o que já se sabe implicaria saldos na cláusula de rescisão para os colossos europeis. Ou seja, começámos logo a ganhar. Mas Rui Borges teria apenas 3 dias para preparar o derby, os mesmos que Bruno Lage para jogar os búzios e tentar adivinhar em que sistema jogaria o Sporting. Quem aproveitaria melhor o tempo? 

 

O Sporting apresentou-se ofensivamente em 4-1-4-1 (defensivamente em 4-4-2), com Quaresma a lateral direito, Morita mais perto de Trincão do que de Hjulmand e Geny e Quenda como alas. O desdobramento do 3-4-3 tradicional em Rúben Amorim num outro sistema não foi algo de novo, na medida em que o próprio Amorim já o havia feito na época passada, pelo que a novidade foi mesmo a posição relativa de Morita, que transformou o 4-2-3-1, de 2023/24, num 4-1-4-1, uma aproximação ao 4-3-3 que Borges usava em Guimarães, em que Manu Silva era o "6" e Tiago Silva e João Mendes os "10". A colocação de 2 médios em cima da linha de defesa do Benfica foi intencionado como uma faca apontada à carótida dos encarnados, uma rampa de lançamento de mísseis instalada num quintal em Carnide. mas, com pouco tempo de trabalho e Hjulmand a precisar de treinar passes rasos de maior distância, esse não foi o factor decisivo. Pelo que o maior perigo surgiu dos apoios frontais que Gyokeres deu e das consequentes interacções que se estabeleceram com Morita, Trincão e Geny (principalmente). Quenda falhou um golo cantado numa acção dessas e provavelmente um penalty foi cometido sobre o mesmo jogador, mas seria de uma antecipação mal-sucedida de Tomás Araújo a Gyokeres (à semelhança de uma outra com igual resultado perpetrada por Otamendi na época passada) que nasceria o desequiíbrio que permitiu a Geny marcar o único golo do desafio. 

 

Se no primeiro tempo quase não houve Benfica no relvado e só a má definição de Quenda e Trincão evitou que o jogo ficasse logo aí decidido, no reatamento o Sporting sofreu. Ora, o sofrimento para um Sportinguista é algo natural e uma condição inerente à nossa existência, um ADN que provavelmente terá sido inspirado em Schopenhauer, que teria de bom gosto vivido mais 46 anos para poder dar a sua benção à nossa fundação. Pelo que convivemos bem com o assunto, e o Quaresma cheio de cãibras, o Morita com falta de ar, o St Juste sempre preso por arames (para não falar da ala de inválidos do comércio sita em Alcochete que certamente sofreu por fora) fizeram das tripas coração para estarem à altura do lema de Mr Borges: "Quando faltar a inspiração, que não falte a atitude". E se a inspiração foi alternante (só o Quaresma esteve irrepreensível), atitude foi coisa que não faltou ao Sporting durante os 90 minutos, com Borges a emular o seu homónimo argentino Jorge Luis (o nosso presidente informou-nos que o Rui Borges pode ser... Rui Borges, mas esta noite ele foi Jorge Luis Borges), também ele a ter de perorar sobre o caos que governou o mundo (leonino, durante penosos 44 dias), conseguindo ver no escuro aquilo (a solução) que outro (Veríssimo) em plena claridade fornecida pela iluminação do estádio não conseguiu enxergar (segundo amarelo e consequente expulsão a Otamendi por falta imprudente sobre Geny que interrompeu um ataque promissor do Sporting). 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Eduardo Quaresma (teve de adaptar-se a um novo sistema com grande impacto no seu posicionamento em campo e esteve imperial a atacar e a defender). O Gyokeres também seria uma boa opção, assim como o Geny (4º golo a "grandes" no espaço de 1 ano) caso não tivesse sido egoista e perdido o 2º golo do Sporting.borge.jpg

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Dez24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O Auto da Barca do Inferno


Pedro Azevedo

Não sei em relação a vocês, mas eu não acredito em coincidências: o Big Bang não aconteceu por acaso, o meteoro que caiu na província de Yucatán, dizimou os dinossauros e criou as condições ideais para o desenvolvimento da espécie humana, idém. E se coisas tão complexas como estas que ocorreram no passado e influenciaram o mundo como o conhecemos hoje não foram coincidência, o Sporting ter encontrado ontem no Gil Vicente a barca dos infernos muito menos o foi. 

O Sporting navegava numa barca comandada por um anjo. O mar era calmo e o sol luzia, a embarcação seguia sem sobressaltos. Mas o anjo permitiu que os seus dons de timoneiro lhe subissem à cabeça e, qual Lúcifer, afrontou a vontade de Deus, logo se achou acima de todos e reclamou uma barca mais luxuosa, deixando a do Sporting à deriva em alto-mar, a naufragar num mar que logo se encrespou. Até que foi abordada por outras duas barcas que imediatamente disputaram as almas em presença, uma tripulada por um anjo não corrompido pela ambição desmedida e outra dirigida pelo diabo. Só que para muitos era tarde demais, a desidratação e falta de alimento já haviam produzido o seu efeito e na barca jaziam vários corpos, só escapando com vida os jogadores. 

Em sequência, os mortos começam a ser distribuídos pelas embarcações. O primeiro chama-se Frederico. É condenado ao inferno por soberba, preguiça e avareza. Arrogante, a sua alma reclama o Paraíso, alegando os muitos êxitos obtidos no seu mandato "fácil, fácil". O anjo recusa-o, com o argumento de que os méritos foram essencialmente de Rúben. Segue-se o próprio Rúben, previamente capturado em Manchester by the Sea pelo diabo e já condenado por ganância. Ainda tenta mudar novamente de barca e convencer o anjo a ir para o céu, mas, apesar dos seus méritos evidentes, não o consegue convencer pelos recentes prejuízos causados ao anterior clube e seus apaniguados. Também pede ao diabo que o deixe voltar a onde tudo começou (Sporting), mas é demasiado tarde para a redenção e acaba na barca do inferno. O terceiro a chegar é um ingénuo. Chama-se João. É tentado pelo diabo a entrar na barca do inferno, mas quando descobre que o seu destino é um presente envenenado vai falar com o anjo. Este, embevecido com a sua humildade e a "brilhante defesa" (do seu caso), fá-lo entrar na barca que vai para o céu. Depois, chega o que é já o fantasma de Viana, que tenta mostrar que não é deste filme. Mas o anjo não o leva, apoiado-se em tudo o que (não) fez quando não teve controlo parental. Os nomes de Bolasie, Jesé e Fernando são ecoados e imediatamente o diabo o puxa para a barca que segue para Inferno City, onde árbitros e VAR também têm lugar cativo. Finalmente, avança o Paulinho, o último a deixar a toalha cair ao chão, uma vítima inocente do despautério de outros. O diabo sente que com este não tem qualquer hipótese e logo o anjo o conforta e encaminha este verdadeiro leão para a barca que vai para o céu. 

 

Entretanto, os jogadores ficam num limbo, isto é, ainda sobrevivem, se bem que estourados física e psicologicamente, mas já não sabem se isso é real ou se estão no purgatório. E aquilo que poderia ter sido Um Cântico de Natal sobre os méritos da redenção e metamorfose do nosso Ebenezer Scrooge, virou um Auto da Barca do Inferno...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Hjulmand

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