Sagaz, Nuno Borges obrigou Daniil Medvedev - um jogador que consta de um Olimpo onde actualmente só Alcaraz e Djokovic também se sentam - a correr de um lado para o outro e assim desgastar-se à medida que o português ia descobrindo ângulos cada vez mais fechados (face à rede) no court. Jogando com o facto de o russo defender muito atrás, Borges usou também na perfeição a arma do amorti, obrigando Medvedev a constantes sprints, e procurou também o serviço-volley e subir à rede sempre que possível. No geral, fez um jogo assente na inteligência e com momentos de grande virtuosismo técnico. O que lhe faltou? Um ou outro Ás em momentos decisivos do encontro teria sido importante contra um adversário conhecido por ser uma máquina de devolução de bolas. Relembro que Borges só conseguiu 5 Ases, quase todos no 1º set, contra 13 do russo, quando havia conseguido obter 22 no encontro que o opôs a Dimitrov. Com um jogo agressivo, Borges produziu 54 winners contra os 34 de Medvedev. O reverso da medalha foram os seus 66 erros não forçados (34 de Medvedev), muitos após longos rallies em que o russo conseguia sempre fazer a bola passar a rede e aterrar dentro da área defendida por Borges. Ainda assim, chegou a dar a sensação de que Borges poderia vencer Medvedev, o que não deixa de ser surpreendente. O português merece assim todos os encómios dos analistas, ele que no fim foi muítissimo elogiado quer por Medvedev, impresionado com a sua agressividade, quer pela lenda John McEnroe ("He started to drive Medvedev crazy"). Acordado do sonho em Melbourne, Borges verificará que subiu um patamar competitivo no seu ténis. A nós resta a esperança de que esta quarta ronda num Grand Slam tenha sido o desbloqueio psicológico de que o português necessitava a fim de continuar a progredir no ranking mundial, superar a melhor posição de sempre de um luso (João Sousa, 28º) e, quem sabe, entrar no todo exclusivo Top 10 mundial, ele que para já deverá subir à posição nº 47 (2º melhor luso de sempre). Talento, físico e inteligência ele tem de sobra, assim a mente (que lhe permitiu salvar 2 match-points antes de quebrar o serviço ao adversário por 2 vezes e ganhar o 3º set) o acompanhe nessa perseguição do estrelato.
PS: Como curiosidade, enquanto no quadro masculino já não há outsiders nos quartos de final e estão lá os 6 primeiros do ranking mundial (ATP), no quadro feminino metade das jogadores apuradas não eram cabeças de série. Os seus nomes: Noskova (Chéquia, 50ª ranking WTA), Yastremska (Ucrânia, 93ª), Kalinskaya (Rússia, 75ª) e Kostyuk (Ucrânia, 37ª).