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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

12
Abr25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O dia em que a realidade superou a ficção


Pedro Azevedo

Quando, em "Once upon a time in Hollywood", Tarantino mudou o destino de Sharon Tate, na verdade uma vítima mortal do clã de Charles Manson, estava de facto a piscar o olho ao espectador, mostrando-lhe que a ficção podia alterar a realidade dos factos sem que daí resultasse necessariamente qualquer desconforto a quem esperaria um final diferente. Foi surpreendente. Hoje aconteceu o contrário, o Godot (Pote) finalmente apareceu, o que fez com que a realidade tivesse contrariado a ficção de Beckett. Também não houve qualquer desconforto, pelo menos entre os Sportinguistas, o que mostra que a ficção e a realidade podem distorcer-se entre si sem que ninguém se incomode, desde que tal agrade a quem assiste. Algo que os políticos já aprenderam há muitos anos...  

 

Para quem durante 4 décadas teve de conformar-se com ver o seu clube como um underdog, a "Táctica do Cachorrinho", que consiste em ficar em vantagem no marcador e depois desistir do ataque continuado, recuar linhas e lançar a bola na direcção do Gyokeres como se esta fosse um osso e ele um vira-lata, até pode parecer uma promoção. Mas a verdade é que no campeonato tal resultou numa despromoção, com o Sporting a descer de primeiro para segundo na tabela classificativa.  Talvez para evitar mais do mesmo, hoje Rui Borges pareceu querer evitar ficar cedo em vantagem. Por isso, Quenda ficou no banco e entrou Fresneda, o que num jogo onde o m2 estava caríssimo significou abdicar de criar quaisquer desequilíbrios. Assim, a primeira parte foi paupérrima, com Borges a querer personificar aquele lema do Bukowski de que "um gosto precoce de morte não é necessariamente uma coisa má". E de morte de facto se tratava, na medida em que, se o Sporting não vencesse, o campeonato estaria irremediavelmente perdido. O Santa Clara pressionava em cima, o espaço era pouco ou nenhum, mas é nesses momentos em que se solta o geny(o) da lâmpada daqueles jogadores acima da média. E foi o que aconteceu quando, já no segundo tempo, o Trincão meteu um passe nas costas da defesa açoriana e daí resultou um golo do Catamo. A diferença é que desta vez não recuámos linhas, continuámos a atacar e Fresneda até conseguiu finalmente ganhar a linha e centrar para Gyokeres estrelar uma bola na trave.  Ou Diomande marcar um golo que desta vez foi anulado por 13 cm. Pelo que o Santa Clara a partir daí só incomodou através de livres directos saídos do arco da velha apitagem à portuguesa que marca faltas por tudo ou por nada, a não ser que a vítima seja alta e espadaúda como o Gyokeres, o que nesse caso significa que vale tudo menos tirar olhos. 

O Sporting ganhou e o Pedro Gonçalves voltou. Não é só contrariar o Beckett, há qualquer coisa de sebastiânico no regresso do martir Pote de Alcochete-Quibir, no sentido em que a partir deste facto a nossa história pode ser recriada. Agora só temos que disfarçar isto, fingir que nada mudou e tirar a máscara (por enquanto o Gyokeres pode emprestar a dele) na altura certa, na Luz. Assim a jeito de Almeida Garrett, em Frei Luís de Sousa: 

-"Romeiro, quem és tu?"

-"Ninguém!"

 

 

"Quando faltar a inspiração, que não falte a atitude". Hoje batemo-nos como leões, contra ventos (fortes) e marés (enxurrada de Cláudio Pereira em jogos com o Santa Clara).

 

Tenor "Tudo ao molho...": Geny Catamo 

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10
Abr25

Factos sobre Aurélio Pereira (1)


Pedro Azevedo

Durante o seu percurso como prospector de talentos, Aurélio Pereira identificou e recrutou para os escalões jovens do Sporting mais de 60 jogadores que viriam a ser internacionais A por Portugal, 10 deles aliás presentes no Europeu de 2016 da nossa glória (8 titulares e 2 suplentes utilizados na final contra o país anfitrião), o que valeu a essa Selecção o justo epíteto de "Aurélios". 

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08
Abr25

RIP, Senhor Aurélio


Pedro Azevedo

Se Salazar Carreira, Reis Pinto e Mário Moniz Pereira serão sempre recordados como símbolos do ecletismo leonino, Aurélio Pereira será sempre lembrado como o Senhor-Formação, o scouter dos scouters a sério, num tempo sem Football Manager, Transfermarket e outras aplicações criadas com o intento de atirar números â cara como se isso substituísse aquilo que só um par de olhos experimentados consegue ver e o instinto pressentir. Morreu o Aurélio, que é como quem diz ganhou a imortalidade. Porque enquanto houver um Sportinguista por cá, nunca será esquecido. Transferiu-se para a equipa de Deus, também Ele à procura de quem o oriente na escolha e manutenção do melhor plantel de anjos da guarda ao seu redor. Até sempre! 

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08
Abr25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Três Górgonas


Pedro Azevedo

À entrada de Old Trafford avista-se uma estátua erigida em honra de Best, Charlton e Law, a United Trinity. No novo Sporting, de Rui Borges, a trindade é composta por Gyokeres, Gyokeres e ainda Gyokeres, pelo que uma escultura que a representasse seria algo assim a jeito de três cabeças de Górgonas num corpo de Medusa. Recorrendo à mitologia viking, nesse tudo ao molho e fé em Gyokeres, o nórdico personifica simultaneamente o deus Odin, o filho (Vik)Thor e o espírito de Valhalla (o equivalente ao Olimpo, apenas reservado aos guerreiros mais bravos): ele primeiro transporta a bola, depois assiste para si próprio e finalmente imortaliza-se pelo golo. De uma forma tão óbvia que só lhe falta mesmo marcar um canto e aparecer a finalizar ao primeiro poste. Isto é tudo muito bonito enquanto permite disfarçar as nossas insuficiências como equipa e a falta de ousadia do nosso treinador, mas na realidade nenhuma dependência é boa e a nossa Gyodependência não foge à regra. Como aliás se viu ontem: enquanto Gyokeres batalhava como um leão, Rui Borges fechava-se sobre si próprio como um ouriço-cacheiro, hibernando durante o jogo como em tantos outros (Dragão, Aves...), activando a(s) defesa(s) e daí partindo só para contra-ataques como aquele que se pôde observar em conferência de imprensa quando o tema foi Harder (momento francamente embaraçoso). 

 

Se a primeira parte foi essencialmente um duelo entre Gyokeres e Hornicek que o guarda-redes do Braga venceu por 3cm (dois golos encaixados, um deles anulado por fora de jogo, e duas excelentes defesas), na etapa complementar os minhotos foram tomando o controlo do jogo perante a inércia do banco dos leões, que mexeu tarde e já claramente em marcha-atrás com a entrada de Maxi para o lugar de Geny (e não de Matheus Reis). Curiosamente, com o Braga sempre a explorar a superioridade numérica sobre o nosso lado esquerdo - os seus avançados arrastavam Matheus para dentro e na ala surgiam prometedoras possibilidades de cruzamento - , seria de uma precipitação de Maxi (com muito menos rotinas de interior do que de ala, foi atraído à toa para o eixo em vez de manter a posição de meio-termo) que se abriria a auto-estrada por onde os braguistas lançariam o centro que lhes deu o golo do empate. Para certamente enfado de Varandas e contentamento do Yves Saint Laurent da Pedreira, que o ladeava. Antes, porém, em duas ocasiôes, o Gyokeres pensou que sozinho estaria melhor que mal-acompanhado e tudo perdeu, consequência inevitável da tal dependência exagerada que surge da ausência de trabalho específico de combinações e faz com que o ego apareça e o objectivo colectivo se perca em função do individual. O Trincão não lhe quis ficar atrás e embora com menos estatuto ou moral fez o mesmo, assim se perdendo outras óptimas oportunidades de matarmos o jogo, tudo perante a passividade de Rui Borges. Enfim, "é o que é". E, "nesse sentido" (descendente), passámos para segundo. Com o Braga, a vermos o campeonato por um canudo, o que na verdade é o mesmo que observarmos o Pote pelo telescópio Hubble (parece sempre que está muito mais perto do que a realidade nos diz). Sim, porque esperou-se por Pote como quem espera por Godot, e o Beckett nem mora aqui (embora a Unidade de Performance seja uma "bela peça").

 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres

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04
Abr25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O dia em que o mundo acabou e estranhamente ninguém notou


Pedro Azevedo

Poder sem autoridade e ar de luto sem razão são coisas muito difíceis de suportar para uma pessoa normal como eu. Passo a explicar: numa histeria colectiva só possível de entender em quem vê no lobbying internacional uma forma de disfarçar a falta de trabalho de casa, a comunidade futebolística nacional entrou em profunda consternação face à não eleição de Pedro Proença para o Comité Executivo da UEFA. Pelo que li, o revés foi o equivalente em comité caviar a termos perdido as Berlengas para uma conspiração universal de gaivotas e com isso o acesso aos melhores percebes, grandes e grossos. Eu é que não percebi nada, desde logo  porque a ideia de eleger um não-executor para um cargo executivo sempre me pareceu uma contradição nos termos. Ademais, é preciso ter noção, não estamos a falar de um infante D. Pedro, de um Vasco da Gama ou Pedro Álvares Cabral como representantes lusos nas melhores cortes europeias. O Proença é quanto muito um português assim-assim, num período quanto muito assim-assim da nossa história que pouco mais valerá do que uma nota de rodapé na grandiosa História de Portugal que os nossos netos irão ler. Vá lá, admitamos, tem uma cabeça (não uma mente, mas uma cabeça) brilhante. Portanto, há que contextualizar estas coisas. Nada porém que inibisse Proença, que logo escrevinhou um comunicado em que pelo que pude entender só a bola se salvou deste verdadeiro terramoto nacional que fez o de 1755 parecer uma coisa de meninos. É caso para pedir o colinho urgente do professor Marcelo. 


Estranhamente, em dia de luto nacional, a Federação não alterou a sua programação e em Alvalade houve jogo para a Taça. Proença havia dito que os jogadores iriam perder com a sua não-nomeação para a UEFA, mas o Gyokeres, talvez por ser sueco, não alinhou nesta alegria dos cemitérios e logo começou a trabalhar no duro, que é coisa que caracteriza quem vê o sucesso como uma consequência e não um direito. Quem sabe, SAAB: perdido por um, perdido por mil, as suas iniciativas foram desestabilizando a defesa do Rio Ave. Mas veio de um canto o canto do cisne dos vilacondenses, com Geny a desferir um pontapé de ressaca  que não deu hipóteses a Miszta. De seguida, o Maxi fugiu pela esquerda, deu na área no Geny e este foi à procura de deslizar a sua perna num adversário. O árbitro deu um penalty à portuguesa e o Gyokeres bateu à checa (Panenka). Czech-mate! 

 

Se a primeira parte valeu mais pelos golos do que pelo futebol jogado, na segunda jogámos à bola como gente grande mas não marcámos. Ou melhor, metemos a bola no Gyokeres e ele semeou classe pelo campo todo. Estranhamente, não colheu, o que prova que o futebol não é uma ciência mas sim um jogo em forma de arte em que há um objecto (bola) que por vezes ganha vida própria e se recusa a ser adestrado. Como aliás ainda alguns portugueses, aqueles que percebem a diferença entre estar com o Tomás ou contumaz, que é como quem diz que uma coisa é a obra-prima do Mestre, outra a prima do mestre-de-obras. Uma lição para o nosso candidato seven-up à UEFA.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeres

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29
Mar25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Não há Estrela(s) no Céu


Pedro Azevedo

Rúben Amorim trouxe o sistema de 3-4-3 para Alvalade. Os laterais (Porro e Nuno Mendes) tornaram-se alas, ofensivamente incorporando-se no meio campo. Pontualmente, recordo-me da recepção ao Gil Vicente, era necessário ainda mais balanço atacante nos minutos finais dos jogos e a equipa chegou mesmo a jogar em 3-2-5, ressuscitando o WM que Herbert Chapman criou para o seu Arsenal, o sistema dos Cinco Violinos que com Cândido de Oliveira ganhou nuances de 4-2-4 com o recuo de Travassos para organizar o jogo (e a descida de um médio para o sector defensivo), a forma aliás como a Hungria, de Puskas, Kocsis e Hidegkuti, surpreendeu a Inglaterra, em Wembley, naquele que foi considerado o Jogo do Século (3-6). Na sua última época, Amorim evoluiu o seu sistema, usando alas que eram no fundo extremos, aproximando a equipa ofensivamente do tal 3-2-5 (WM). Mas o Rúben saiu, a tentativa de João Pereira de introduzir um losango no meio campo revelou-se um paradoxo trágico-geométrico e Rui Borges chegou com o seu 4-3-3, que tinha Trincão como terceiro médio e até entusiasmou quando o Sporting deslocou-se a Vila do Conde. Só que se o plantel já era curto para dois médios, com três mais curto ficou. Com a erosão causada pela falta de rotatividade, um a um, os médios foram caindo em combate, pelo que foi necessário criar um novo sistema. E é aqui que as opiniões divergem: enquanto para uns regressámos ao 3-4-3, para o Carlos Freitas jogamos em VG (as iniciais de Viktor Gyokeres). Eu estou mais com a segunda opinião. A razão é simples: o Gyokeres, sozinho, resolve uma série de problemas que o colectivo não consegue quando não há Hjulmand e Morita. Pontualmente tendo a companhia de um ou outro jogador (hoje foi o Quenda, amanhã será o Trincão, num sebastiânico dia envolto em névoa pela Unidade de Underperformance poderá ser o Pote). Esta ideia é também acompanhada por inúmeros benfiquistas e portistas. Mas aqui tenho uma divergência com eles, na medida em que para os nossos adversários é como se o Sporting cometesse alguma ilegalidade ao utilizar o sueco. Tipo "assim não vale", como nos jogos de rua em que um miúdo desequilibrava tanto a balança que era obrigado a ir à baliza ao fim de um certo tempo. Só que o Gyokeres tem contrato com o Sporting, logo o Sporting utiliza-o. Tudo normal, como quando Eusébio jogou no Benfica ou Madjer e Futre formavam o par de ases com que o Porto de Artur Jorge especulava com os adversários antes de os esmagar com um póquer. Hoje, o Gyokeres voltou a ser providencial num dos piores jogos do Sporting de que tenho memória. Uma partida que fez jus ao título desta crónica, que aquilo andava tudo ao molho na fezada que o sueco resolvesse. Ainda assim, o nosso primeiro golo teve a acção decisiva de uma vítima que costuma ser réu. Ver um leão como Diomande vestir a pele de cordeiro não deixa de ser irónico, e não pude deixar de sorrir quando o árbitro assinalou penalty. Lembrei-me logo do jogo das Aves. Depois, o Gyokeres levou dois defesas para longe da área e deu no Quenda. O que este fez a seguir, o primeiro toque (finta) que deu na bola, não deve ter sido visto por Roberto Martinez porque não aconteceu num dos estágios da Selecção. Seguiu-se a simulação de passe para Geny, engodo que criou o espaço para o remate fatal. O Quenda é ouro, embora o Roberto ache que ouro é pô-lo no banco a conviver com as estrelas Bernardo e Ronaldo. Não a servi-las numa bandeja de ouro, como seria admissível, mas a vê-las do banco. Realmente, a ser traumatizado nas minhas expectativas de cada vez que fosse à Selecção , um ser humano normal como eu até ficaria a "ver estrelas", mas o Quenda é um fenómeno tambem de resiliência mental e hoje voltou a mostrá-lo. É craque!!! O Estrela ainda reduziu, mas o VAR também reduziu as suas expectativas ao anular-lhe o golo. Estas linhas do nosso VAR estão para as linhas com que se cose o VAR da Champions (ou Premier) como o esoterismo está para a ciência. São linhas Maginot, como aquelas que os franceses achavam que nunca seriam violadas pelos nazis. Tem-se fé naquilo com o mesmo estado de espírito que se vai vendo o desfilar do baralho de cartas do tarot após uma noite de copos: parece-nos tudo enviesado. Enfim, a verdade é que o Sporting continuou a ser banal até ao momento em que a bola chegava aos pés de Gyokeres, que a partir daí a música passava a ser outra, no caso requiem para os estrelistas. E assim, logo o sueco tratou de encomendar a missa fúnebre aos da Amadora, ganhando e finalizando um penalty que pôs fim a um jogo de triste memória que contudo teve o condão de nos manter na liderança. (Este foi o jogo que eu vi, se perguntarem ao Rui Borges ele dir-vos-á que o Geny fez uma grande exibição, uma realidade tão alternativa como a de sonhar ver um muito bom ala puro a brilhar como mediocre interior.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeres

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(Foto: A Bola)

27
Mar25

Longa se torna a espera


Pedro Azevedo

A 10 de Novembro, em Braga, Pote teve uma recidiva de uma lesão muscular e abandonou o terreno de jogo. Ninguém imaginou na altura este tempo de ausência. Pensou-se que 1 mês seria suficiente para o recuperar, mas estamos a chegar a Abril e longa se torna a espera. Tenho muitas saudades da sua classe, inteligência e influência estatística na produção de golos da equipa. Por muito que Gyokeres permita disfarçar muita coisa, haver um jogador como Pote ausente dos relvados é um crime de lesa-futebol. Porque o Pote é arte, filigrana, uma extravagância fina para o boçal campeonato português, um oxímoro apropriado a quem usa como pseudónimo o nome de um objecto incapaz de reter o seu talento transbordante. O William Blake dizia: "Como saberes o que é suficiente, se não souberes o que é demais?" Pote está há demasiado tempo fora dos relvados. Faz falta ao Sporting e a quem gosta verdadeiramente de futebol. Um dia regressará, aos chutos e pontapés. Até lá, resta-nos o lamento à Xutos&Pontapés.

 

"Longa se torna a espera (oh-oh-oh-oh)Na névoa que cobre o rio (oh-oh)Lenta vem a galera (oh-oh)Na noite quieta de frio (oh-oh)"

16
Mar25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Fama...lição


Pedro Azevedo

Se o Benfica é indiscutivelmente o clube de bairro mais português de Portugal e o Porto quis vender durante muitos anos a ideia de ser uma "aldeia de irredutíveis gauleses" cujo poder residia nas "poções mágicas" engendradas pelo seu druida Pintocostix (e enterrando machado e práticas antigas, sente a natural dificuldade de impôr um novo discurso e posicionamento), o Sporting é muito "british" desde a sua fundação. No nome e no trato, na fleuma mas também nos princípios e nas regras que quer trazer para o faroeste lusitano que se estende até ao Cabo da Roca e onde o que se poupa na prevenção consome-se depois em excesso de ruído de tribunais e comissões de inquérito com conclusões nas calendas gregas (ou não fosse tudo isto uma tragédia). Evidentemente, um clube assim está em contra-ciclo com o seu próprio país, pelo que não será de admirar que tantas vezes Portugal tenha sido pequenino para o Sporting, nessa pequenez diluindo a grandeza do próprio clube. Faz-me lembrar a história do Infante D. Pedro, seguramente o mais brilhante da já de si insigne Ínclita Geração e autor da famosa Carta de Bruges (destinada ao irmão, o rei D. Duarte). O Pedro das 7 Partidas, aquele sobre o qual escreveu Sophia: "Nunca choraremos bastante, nem com pranto amargo e forte, aquele que fundou glória e grandeza e recebeu em paga insulto e morte". Do gozo insultuoso, ou falta de compreensão e consideração, podemos não nos livrar, mas a morte vamos enganando época após época. Sem perdermos o nosso brilhantismo que tanto incomoda, aquele que Oscar Wilde sintetizava da seguinte forma: "A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para se ser popular é indispensável ser-se medíocre" (uma fama...lição). 

 

Tendo Amorim ou não, com ou sem aquele que mais 3 anos e estará num colosso europeu, a verdade é que o Sporting chega ao último quarto do campeonato na liderança. Um quarto que se está a antever como crescente nas exibições, na directa proporção da recuperação de influentes jogadores outrora utentes do abundante hospital de campanha sito em Alcoitão, perdão, Alcochete. Quem já voltou sem limitações foi o Gyokeres. A anunciar a depressão Laurence... nos seus adversários, que se dividem entre consultar o IPMA ou... um psicanalista. O sueco em campo é anúncio de tempestade, um vendaval a soprar de corredor em corredor. Da esquerda congeminou o primeiro golo, da direita ofereceu o terceiro, ao centro bateu o penalty do segundo. No resto do tempo arreliou, desgastou e devastou física e psicologicamente todos os que lhe tentaram fazer frente. E o que dizer do Quenda? Que craque! Muita qualidade naquele pé esquerdo... E um pormenor: aquando da recepção de bola, enquanto outros a fazem chorar convulsamente, não há ninguém em Portugal que a faça adormecer automaticamente aos seus pés como ele (se não fosse futebolista, teria uma carreira de babysitter pela frente). Depois, o Morita não pode passar ao lado desta crónica. O que é que foi aquilo que ele fez à bola no lance do penalty a nosso favor? Que sortilégio, que toque de magia! Bem também, aliás, muito bem, o Rui Silva, com duas belíssimas "paradas". O Fresneda, por outro lado, mostra a riqueza do nosso vocabulário (não é para todas as línguas) ao distinguir a diferença ontológica existente entre o "ser" e o "estar": ele é um lateral direito, mas está muito bem como um segundo avançado. Além de que como segundo avançado tem a vantagem de a única coisa de que se tem de desembaraçar ser a bola (e não um adversário), o que ele faz particularmente bem. Por fim, o Diomande: testosterona a mais, serotonina a menos? Alguém por favor lhe transmita que para "mau tempo" já bastam estes tristes dias de Março. 

 

Estamos em primeiro!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik "Thor" Gyokeres

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09
Mar25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O Paizão Borges


Pedro Azevedo

Após a saída de Rúben Amorim, os jogadores do Sporting sentiram orfandade. Para resolver o problema, Frederico Varandas lembrou-se de chamar um irmão mais velho. O problema dos irmãos mais velhos é que são muitas vezes contestados pelos mais novos, especialmente se estes tiverem "pêlo na venta" e sentirem que o mais velho está a introduzir alterações ao anteriormente estipulado por uma figura de maior autoridade, Assim, o João Pereira foi num instante da A a Z, recuperando posteriormente até à B em tirocínio para um gigante europeu (uma letra que ainda não foi inventada pelo presidente), e Varandas não teve outro remédio se não arranjar um pai de adopção para o plantel. Veio o Rui Borges. No início, o Rui Borges quis impor o seu sistema. Mas, com poucos ovos (médios) para a omelete (sistema), cedo estropiou os poucos jogadores existentes. Por isso, o lema "onde vai um, vão todos", de Amorim, virou um "onde vai um, vão todos... para a enfermaria". Até que não sobrou um médio para amostra. Ora, a realidade pode ser mascarada em percepções da mesma até ao momento em que choca de frente connosco. "É o que é", diz o Rui (assim como quem está "feito ao "bife", com "nesse sentido" como o ovo a cavalo), pelo que voltou atrás e adoptou o sistema de Amorim. Mas com uma nuance: como pai de fortes raizes transmontanas, Rui Borges é um conservador. Logo, em vez de 3-4-3, Borges joga num 5-2-3, que uma coisa é ter Quenda e Maxi (ou Geny) nas alas, outra é jogar com Fresneda e Matheus Reis (para Amorim já só contava como central pela esquerda). E, nessas condições, lá fomos nós a Rio Maior jogar com um Casa Pia que, paradoxalmente, anda com a casa às costas, o que deve pesar ainda mais um bocadinho por ser um Duplex (Tchamba). 

O jogo começou bem para nós e logo o Trincão falhou um golo cantado após o vendaval que Gyokeres soltou na esquerda. Não tardou até que o Gonçalo Inácio inaugurasse o marcador pelo segundo jogo consecutivo, novamente de cabeça, na sequência de um belo cruzamento da direita do Quenda. A partir daí, e durante largos minutos, o Sporting só conheceu uma táctica: bola para o mato e o Gyokeres que nos ganhe o campeonato. Ainda assim, o sueco recolheu uma bola despejada por Hjulmand para a entrada do meio campo do Casa Pia, junto à linha lateral do lado esquerdo, flectiu para dentro e disparou para o segundo. Com o golo, a equipa desacelerou ainda mais. Mas o jogo estava controlado, assim como controlados estavam os avançados casapianos. Acontece que nos escapou o Esgaio, um ponta de lança especialmente letal com a canela. E o Casa Pia reduziu, em cima do intervalo. No segundo tempo, a toada manteve-se. Valeram-nos uma enorme defesa de Rui Silva (52 minutos) e um falhanço incrível de Esgaio, em nova canelada que rasou o poste (o Esgaio é o pessimista típico de que falava o Oscar Wilde, aquele que, podendo escolher entre dois males, opta pelos dois). Em termos atacantes nada fazíamos, a não ser chutões na direcção de Gyokeres. como quem lança um osso a um perdigueiro e espera que de volta ele traga um lingote de ouro. Até que o Rui Borges decidiu-se e lançou o Morita, passando o meio campo a ter um jogador de penetração e não só de passe. A melhoria foi quase automática. Seguiu-se um novo golpe de asa do Rui,  ajudando a dar a manchada final no jogo, colocando em campo o Maxi por troca com o Matheus. Tendo que se preocupar também com a esquerda, o Casa Pia foi abrindo buracos. E assim se arranjou um penalty que o Gyokeres logo encarregou-se de converter. 

Com uma reprimenda aqui e um colinho acoli aos seus "filhos", a verdade é que o Rui Borges lá vai levando a água ao seu moinho. Bom homem, o Rui parece estar na sua cadeira de sonho mesmo quando a famosa Unidade de Performance acidentalmente a puxa para ele cair. Mas ele resiste, como todo o pai que quer ser um (bom) exemplo para os seus filhos. 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik "Thor" Gyokeres. Menções honrosas: Rui Silva e Gonçalo Inacio. 

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04
Mar25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Felicíssimo, para nosso contentamento


Pedro Azevedo

Nascido na Galiza e com origens lusas por parte da mãe, Filomeno Freijomil não gostava do seu nome, achava-o até ridículo. Por isso, evitava pronunciá-lo. "Filomeno, para meu pesar" é um romance de Gonzalo Torrente Ballester, autor de obras-primas como "Crónica do Rei Pasmado" ou "Don Juan", cuja acção inclui também algumas passagens em Portugal. Lembrei-me desse livro a propósito dos nomes de alguns jogadores de futebol. Uns associamos a objectos ou matéria existente na natureza, tanto que, se os conjugássemos com o que nos vem imediatamente à cabeça, dariam interessantes trava-línguas ou aliterações. São os casos de Diomande, que soa a diamante, assim como de Esgaio, que se assemelha a esgalho, ou de Biel, que evoca a biela. Outros há porém que revelam sentimentos, como Sorriso, do Famalicão, ou Felicíssimo, do Sporting, ambos transmitindo alegria, a do famalicense quando marca golos e a do leão por se estrear a titular, ontem, em Alvalade. Pelo que se Ballester ainda fosse vivo e manifestasse interesse no personagem a ponto de sobre ele elaborar uma narrativa, o título desse hipotético livro bem que podia ser qualquer coisa como "Felicíssimo, para meu contentamento". Meu (dele) e nosso, porque o menino jogou como gente grande e revelou maturidade suficiente para não cair no engodo de um segundo amarelo que nos deixaria pela quarta vez consecutiva(!) em inferioridade numérica em jogos do campeonato. Em sentido oposto, Rui Borges, em conferência de imprensa, referiu que o jogo não estava para o Biel. Compreende-se, não era jogo de Futsal ou de Capoeira...

 

Se Felicíssimo estreou-se como titular e Gyokeres regressou a um nível próximo do seu melhor, o destaque para mim foi o Debast. O belga transbordou de classe, primeiro num cruzamento milimétrico para Inácio inaugurar o marcador, depois num passe a solicitar a profundidade com que o nosso Vik Thor apanhou a defesa do Estoril em contra-mão (e contra-pé), mais tarde num remate ao poste, todo o tempo ainda servindo de mentor ao jovem amanuense formado em Alcochete. Como disse, e bem, o Rui Borges, o Debast encheu o campo. E encheu-me as medidas, também, porque, se não havia dúvidas quanto à sua qualidade com bola, sem ela soube fechar bem os espaços. Surpreendente porém foi a exibição de Esgaio, que mostrou detalhes para mim desconhecidos, como quando fechou ao centro e evitou um golo certo após um desatino de Fresneda que viu sobre ele ser cavado um túnel maior do que o do Marquês ou num vigoroso e intrépido sprint como nunca lhe havíamos visto que terminou numa assistência açucarada para Gyokeres falhar perante o guarda-redes. Bem também esteve o Matheus Reis, que não permitiu ao Guitane pôr o pé em ramo verde.

 

Para que a noite tivesse sido perfeita, o Quenda e o Trincão precisariam de ter jogado melhor. O jovem da nossa Formação tem porém a atenuante de ter trabalhado muito. Já Trincão falhou um golo cantado, depois de ter ficado a poucos centímetros de marcar um golo de fazer levantar o estádio. No resto do tempo perdeu-se em rotundas, revelando a sua principal lacuna: falta de timing de passe. Harder, que o substituiu, foi bem mais eficiente, ganhando na raça uma bola que isolou Gyokeres no lance de que resultou o penalty que nos daria o terceiro golo. Outro miúdo lançado ontem, o José Silva, resistiu a um abalroamento em excesso de velocidade, dentro da área do Estoril. Como não caiu no local para registo do sinistro, o árbitro deixou andar, penalizando a vítima e beneficiando o infractor. Conclusão: ser bom e bem-intencionado é sinónimo de ingenuidade num país onde só a matreirice ou xico-espertice compensa.


Por uma vez, o conformismo de Rui Borges expresso no "é o que é", habitualmente associado à onda de lesões que lhe vem impedindo desde o início de apresentar a melhor equipa, soou a algo de bom: o Gyokeres "é o que é" quando pode estar, e estando bem o Sporting continuará na frente. É o que é, ou seja, uma máquina, um exterminador implacável. Ainda que massacrado pelo adversário directo, um tal de Pedro Álvaro que repetiu em Alvalade a proeza já vista na Amoreira de sobre ele cometer inúmeras infrações e ainda assim continuar em campo, desta vez sem sequer uma admoestação. 

Tenor "Tudo ao molho...": Zeno Debast

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