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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

08
Jun25

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

Mais uma noite na “Padaria da Brites”


Pedro Azevedo

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Quando, no longínquo ano de 1385, corria o tempo de El Rei D. João I, as tropas portuguesas enfrentaram o exército de João de Castela, em Aljubarrota, a bola do jogo estava então longe da forma redonda que hoje lhe conhecemos, antes possuía a geometria rectangular de uma pá, aliás tecnicamente manejada com brilhantismo pela padeira Brites, o nosso Cristiano Ronaldo da época. [A presença da dita Padeira no contexto da batalha é uma questão do for(n)o interno português, que ainda hoje permanece envolta em algum mistério.] Todavia, a comandar as tropas, já havia um treinador (D. Nuno Álvares Pereira), por sinal bem português, ou não tivesse sido essa batalha uma resposta às pretensões castelhanas de influenciar as decisões estratégicas lusas através do Conde de Andeiro. O Conde acabou defenestrado no Paço e o Condestável avançou para Aljubarrota com um esboço da Táctica do Quadrado a faiscar nas sinapses do seu cérebro. O resultado foi o que se viu. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (como escreveu o Camões e cantou o Zé Mário Branco): não só o nosso herói dos tempos modernos alinha agora pelos árabes (Al Nassr) como quis o destino que, 640 anos depois, Portugal viesse a defrontar a Espanha na final da Liga das Nações de futebol com um espanhol no banco a entoar tão efusivamente o nosso hino que nem um patriota tuga nascido e criado no bairro de Xabregas, freguesia do Beato. Creio que é a isto que os mais cinicos denominam de Globalização. 

A qualidade dos nossos jogadores foi sempre tão grande que Portugal chegou até a dar-se bem no tempo em que em vez do Santo Condestável havíamos sido dirigidos pelo (Fernando) "Santos Contestável", pelo que a realidade de o Roberto ser tão contestado nas vésperas de defrontarmos a Espanha não poderia ser um dado determinante no desfecho do encontro. Muda-se o ser, muda-se a confiança e a bem da verdade havia que pesar também nos pratos da balança o grande conhecimento que os nossos internacionais tinham de "Nuestros Hermanos" e da sua forma de jogar inspirada em Cruijff e nos seus discípulos: Nelson Semedo e Trincão foram jogadores do Barcelona, Ruben Dias e Bernardo Silva são treinados por Guardiola já há alguns anos, Nuno Mendes, João Neves, Vitinha e Gonçalo Ramos haviam acabado de atingir o pináculo da consagração europeia com Luís Enrique e Cristiano Ronaldo foi o grande ícone do Real Madrid e o areal inteiro na engrenagem que impediu que a hegemonia catalã nessa fase tivesse sido total. Havia também o facto de o nosso Seleccionador ser espanhol, embora a sua predilecção pela flexibilidade táctica, também conhecida por experimentalismo, o aproximasse mais da linha de pensamento de alguns cineastas portugueses do que da escola de futebol do país vizinho, não constituindo assim  uma vantagem tão evidente para nós. 

Todo o mundo é composto de mudança. Enquanto Martinez contava a táctica aos seus jogadores, na impossibilidade física de D. João I estar presente, a dupla de M&Ms da República, Marcelo e Montenegro, de megafone ao punho e postura de cheerleading no Beergarden de Munique, arregimentava os foliões lusos que previamente ao jogo aí se concentravam. Marcelo avançou logo com um prognóstico de 3-0, arrancando alguns sorrisos e mostrando-se assim particularmente identificado com a Funzone onde se encontrava. Não se sabe se igualmente foi transmitir a mensagem ao balneário, mas o doping emocional aos adeptos ficou logo ali dado. [Não são só os jogadores, os adeptos também têm direito ao seu aquecimento, e se umas cervejas ajudam a inflamar o corpo e a alma, depois o presidente faz o resto.] 

Tomando sempre novas qualidades, Portugal foi sempre melhorando ao longo do jogo. Após um início sobre o fraco, penalizado com o primeiro golo da Espanha, a Selecção chegou ao empate numa grande arrancada de Nuno Mendes. Antes do jogo, os media espanhóis haviam projectado o jogo como um duelo geracional entre Lamine Yamal e Cristiano Ronaldo, mas esqueceram-se daquela assoalhada sita na algibeira do calção de Nuno Mendes onde Yamal morou durante todo o tempo em que esteve em jogo. Em cima do intervalo, a Espanha voltou a adiantar-se no marcador. Portugal entrou a perder no segundo tempo, mas Nuno Mendes não se conformou e cedo voltou a promover um desequilíbrio pela esquerda. A bola enroscou na perna de um adversário e aos 40 anos Cristiano Ronaldo compreendeu melhor o ponto de queda da bola que Cucurella e empatou o jogo. Com a entrada de Leão, sempre muito apoiado por Nuno Mendes, Portugal então superiorizou-se, efeito que se estendeu à primeira parte do prolongamento. Mas o que parece tão fácil nos pés de Ronaldo, e por isso é desvalorizado, foi difícil para Nelson Semedo e os demais, que não aproveitaram novas solicitações de Nuno Mendes, ontem em modo Bola de Ouro da France Football. Mas a justiça não foi feita ali, a segunda parte do prolongamento foi inconclusiva e tivemos de ir a penáltis. Aí Portugal não falhou nenhuma penalidade e Diogo Costa defendeu a de Morata. Seis anos depois, Portugal voltava a vencer a Liga das Nações, com o balzaquiano Ronaldo ainda e sempre parte do elenco. Um dia de festa portanto para uma grande maioria de portugueses mas também para os farmacêuticos do nosso país: o stock de Rennie e Kompensan esgotou, um facto nada insólito numa nação onde as poucas soluções são muitas vezes vistas como os grandes problemas. 

Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Mendes

05
Jun25

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

O jogo do gato e do rato


Pedro Azevedo

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Imaginem os jogadores alemães como uns carvalhos: altos, largos, duros e resistentes. Frondosos, também, pelo menos a avaliar pela "juba" de Woltemade. Dir-se-ia então, antes do jogo, que no plano físico eles estariam em vantagem. Todavia, nem tudo seriam más notícias: uma das características conhecidas da madeira (Madeira?) que se extrai deste tipo de árvore é a sua maleabilidade, o que para variar traduzir-se-ia numa vantagem para os portugueses, se porventura conseguissem levar o jogo para o plano dos duelos individuais onde poderiam manobrar uns adversários muito duros (de rins), mas ainda assim gigantes com pés de barro. Mas Portugal passou cerca de 1 hora a jogar um outro jogo, a tentar apanhar os alemães desprevenidos nas costas, com Nuno Mendes como o artífice preferencial do passe de ruptura em contra-ataque. Uma opção estratégica de Roberto Martinez pela entrega da posse que a pouca inspiração de Pedro Neto na hora da definição fez fracassar. Até que sofremos um golo à conta da brincadeira e teve de entrar o Vitinha, que logo começou a querer a bola para a esconder dos teutónicos, organizando o jogo e desenhando suaves traços de geometria que não tardaram a unir toda a equipa num carrossel que pôs à roda a cabeça dos pupilos de Nagelsmann. Por outro lado, com Conceição, Portugal ganhou o Speedy Gonzalez ideal para complementar esse jogo do gato e do rato. Sem um Sylvester do lado de lá que lhe desse luta, a Alemanha ainda tentou com o "gato" Félix (também têm um), mas, ainda que "na mecha" (Nmecha), este entrou só no fim e já não foi a tempo de evitar o sorriso na boca dos portugueses. Pelo que, sem oposição, o Conceição foi por ali fora até que se decidiu por um corte na bola para o qual Ter Stegen não teve remendo. E se o Nuno Mendes já havia sido importante na transição ofensiva, voltou a brilhar em ataque organizado: primeiro dando uma bola de golo a Ronaldo numa bandeja de prata que este deixou cair no chão, depois recebendo de costas e tabelando com Bruno Fernandes para ir buscar à frente e entregar novamente um presente a Ronaldo, que, à falta de um madeireiro que abatesse os carvalhos, foi na ocasião o madeirense que não se fez rogado. Uma vitória que poderia ainda assim ter sido mais ampla, se Conceição e Diogo Jota (outro rato atómico, entretanto entrado em jogo) tivessem aproveitado as várias oportunidades que existiram.  Valeu a classe de Ter Stegen aos alemães. 

Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Mendes 

27
Mai25

Os 7 Mandamentos


Pedro Azevedo

Não é que o Benfica não tenha razão de queixa naquele lance disputado entre Matheus Reis e Belotti, mas tomar a árvore pela floresta e reagir com um enunciado tipo "Os Sete Mandamentos" (no Benfica destas últimas épocas é natural que 3 pontos fiquem pelo caminho quando o oponente é o Sporting, razão pela qual o "Moisés" de Carnide há muito que anda a dividir o Mar Vermelho) não só é excessivo como visa essencialmente tapar hoje o sol com a peneira para mais tarde ver cumprido o direito peneirento, de quem se acha ungido à nascença, de ter o único lugar ao sol disponível só para si. Nesse sentido, não deixa de ser curioso que praticamente ao mesmo tempo que saiu o Comunicado, um conhecido adepto benemérito do Benfica como César Boaventura tenha apresentado uma queixa-crime contra Matheus Reis. Em nome da verdade desportiva referida no tal Comunicado, crê-se. Só falta mesmo outro buliçoso adepto benfiquista, de seu nome Paulo Gonçalves, denunciar o VAR Tiago Martins para o ramalhete ficar completo e todos ficarmos sossegados e de consciência tranquila quanto ao futuro cumprimento de regras e de procedimentos, bem como a comportamentos éticos irrepreensíveis. Se bem que, na verdade, quase todas as pessoas têm memória, excepto Rui Costa que se lembra muito pouco do período em que fez parte da administração de Vieira, embora o presidente do Benfica pense que nós é que fomos todos intervencionados com uma lobotomia. Daí partir para um Comunicado onde objectivamente o Benfica se julga maior do que o país, na circunstância representado pelo Estado, arrogando-se ao direito de unilateralmente suspender negociações que visam o oumprimento do estipulado numa lei portuguesa e auto-determinando a interdição do seu estádio aos jogos do seleccionado português até a "verdade desportiva" ser reposta segundo o julgamento do clube, claro está.  Como diria o William Blake: "Como saberes o que é suficiente, se não souberes o que é demais?". Objectivamente, o Benfica foi longe de mais no tal Comunicado e sabe-o. Não obstante, acha-se impune, o que não constitui novidade. Assim como não é nova a construção de uma narrativa de vitimizaçáo por parte de alguém que sente o chão a fugir-lhe dos pés e necessita de um spin comunicacional para desviar as atenções dos seus apaniguados, procurando assim transformar uma derrota no Jamor numa vitória futura, nesse transe vendo o desvario de Matheus Reis como uma oportunidade caída da céu ou uma boia salva-vidas lançada pelo Instituto de Socorros a Náufragos. 

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26
Mai25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Dobradinha para o jantar


Pedro Azevedo

Em Portugal, o inho e inha não são meros diminutivos, usam-se essencialmente como demonstração de carinho ou válvula escapatória de culpa. Assim, é com o mesmo propósito de tirar o ar a um balão que um português trata uma pratada de cozido, que daria para alimentar uma família inteira durante uma semana, como um cozidinho. Ao mesmo tempo que lhe mostra o seu amor. O mesmo ocorre com a feijoadazinha, as favinhas ou... a dobradinha. Esta leveza que opomos propositadamente ao peso é muito portuguesa de Portugal. No Brasil são usados aumentativos como "ão" para sublimar e vender o peso, em restaurantes do tipo Chimarrão ou Porcão e shows televisivos como o Faustão, mas cá não. Pelo que no Domingo, em Portugal, houve festa rija de Taça nas matas do Jamor. E para o jantar, uma dobradinha, assim mesmo, com sufixo a jeito de um oxímoro, como quem quer a todo o custo evitar uma indigestão após mais de duas horas e meia a enfardar. Também porque, esta época, as coisas boas para o Sporting vieram aos pares: bicampeonato  e campeonato e taça na mesma temporada. O que o Benfica procurou denodadamente evitar, no seu Jamor de Perdição, que bem poderia ser um romance melodramático do Camilo Castelo Branco. 

O Sporting começou bem e durante um quarto de hora conseguiu ligar o seu jogo por dentro. Mas depois veio um penalty contra, revertido pelo VAR por fora de jogo anterior, e com ele a dúvida. Dividido entre continuar a atacar ou melhor guarnecer a sua defesa, o Sporting descompactou-se, alongou-se no campo e abriu brechas no meio campo por onde o Benfica foi sempre encontrando espaços. E assim, durante os restantes 75 minutos, o nosso rival foi sempre superior. Valeu-nos então o Rui Silva, excelente contratação do inverno do nosso contentamento em que também chegou o Rui Borges. Sofremos um golo e poderíamos ter sofrido outro logo de seguida, se não tivesse havido uma falta prévia sobre o Trincão. Sem na altura se perceber, o Trincão começava a deixar o seu nome na Taça: primeiro a evitar que o adversário se destacasse ainda mais no marcador, mais tarde a fazer a diferença a nosso favor. Com o aproximar do fim do jogo, o futebol foi substituído pelo circo, o Benfica montou a tenda e foram mais os números de palhaçadas de quedas no relvado do que de jogadas. O jogo parava constantemente, e por cada interrupção entravam em campo os maqueiros do INEM, voluntários do Instituto de Socorros a Náufragos, avaliadores de sinistros de companhias seguradoras e médicos legistas, em suma, um sem número de não intervenientes directos no jogo. Todos à espera de mais uma palhaçada de Otamendi, sempre expedito a pedir as boas graças do árbitro, qual foca perante a audiência do Zoomarine. Até que durante uns segundos ninguém caiu e o Trincão viu uma nesga de terreno por onde se escapulir até servir o Gyokeres. Arrancou o sueco e logo se pensou que o António Silva faria contenção ou o mandaria para o chão. Mas não, o António não resistiu a ir ao encontro da bola e assim ficou fora dela. Veio então o Renato, qual elefante em loja de porcelana, e partiu a louça toda. Penalty! - assinalou o árbitro. Logo o Gyokeres converteu. Sem fazer o suficiente para isso, o Sporting empatava, mesmo no finzinho, um jogo que merecia perder. Veio o prolongamento. 

O tempo extra trouxe-nos uma equipa destroçada psicologicamente (Benfica). A cara disso mesmo era o Di Maria, que não teria jogado o seu último jogo doméstico pelo Benfica, caso o Sporting não tivesse igualado. Acresce que, quando o argentino entrou, os encarnados já perdiam: foi na sequência de um canto, após Samuel Soares ter evitado novo golo do Gyokeres, que Trincão centrou e Harder cabeceou com força e colocação para a baliza. O jogo aproximava-se do fim e Di Maria era já a única ameaça benfiquista em campo. Era preciso pará-lo e Rui Borges não hesitou em fazer entrar o jovem David Moreira, que passou no teste com distinção. E de um seu roubo de bola se originou uma triangulação entre Gyokeres, Harder e Trincão que permitiu a este último obter o terceiro golo dos leões, não sem antes fazer passar a bola entre as pernas de António Silva, que já que o tempo é para números circenses ao menos que não fiquem atrás de um Cirque Du Soleil. Sol que parece acompanhar este Sporting iluminista e muitíssimo renascentista. Em oposição ao clube curiosamente da Luz, hoje caminhante nas trevas. Como se vítima de um qualquer mau-olhado ou de um pé frio, onde antes até houve uma mão de Vata (ou "vaca" para ultrapassar aquele Marselha).

 

Tenor "Tudo ao molho...": Francisco Trincão. Rui Silva, Harder, Maxi (o primeiro a dar a cara nos duelos individuais) e Inácio (excelente nas dobras) merecem uma menção honrosa. 

 

"Em Abril, águas mil. Em Maio, ganhamos com paio"

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11
Mai25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

A Última Tanga na Luz


Pedro Azevedo

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Desde que o Marlon Brando - é favor não confundir com aquele que numa das originalidades tão típicas do povo brasileiro foi baptizado como Marlon Brandão e jogou por nós, que igualmente tinha queda para a representação, ou melhor, representava bem a queda (na área), mas não necessariamente devido a escorregar na manteiga - contracenou com a Maria Schneider em O Último Tango em Paris que se tornou comum apelidar exibições fora do comum de jogadores argentinos em pré-reforma como "O Último Tango". E, para não se confinar à Argentina e ao tango, a coisa depois generalizou-se à dança, como é exemplo o excelente "The Last Dance", da Netflix, que tem como foco Michael Jordan e os Chicago Bulls (de Pippen e Rodman, também). Mas falava-vos do Último Tango porque, na antecâmara do Benfica-Sporting, a imprensa agitou muito a possibilidade de o Di Maria se poder despedir em glória ou beleza. E, caso não o conseguisse, ainda lá estaria o Otamendi para ser o protagonista. Já sobre o Sporting, a mesma imprensa concentrou os seus prognósticos quanto a herói no Gyokeres. Por cinquenta e duas razões, o que me pareceram razões mais do que suficientes para suportar a visão de tais cassandras. 

Bom, mas uma coisa são previsões, outra, bem diferente, é um jogo em si. Veio então o jogo que podia decidir tudo e para qualquer um dos lados. E a primeira coisa que há que contar é que o Di Maria saiu ao intervalo sem glória e que o Otamendi devia ter saído ainda mais cedo, por volta do quarto de hora, fizesse o inefável João Pinheiro um bom uso do apito. Por outro lado, o Gyokeres também não conseguiu fazer muita diferença, embora o lance do golo madrugador do Sporting tenha sido todo fabricado por si até ter sido entregue a Trincão para ser transformado. Pelo que dos parágrafos supra se conclui que não houve Último Tango, ao mesmo tempo que se deduz ter havido, sim, uma última tanga protagonizada pelo melhor árbitro de Portugal Continental, Madeira e Açores, que mais uma vez se mostrou à altura do cartel que o país inteiro consagrou e a UEFA e FIFA teimosamente insistem em não querer ver. Uma má vontade, certamente, que o apagão arbitral na Luz deveu-se a um pico de tensão motivado pelo excesso de produção de renováveis (é impressionante a forma como o Conselho de Arbitragem renova de derby para derby, de Clássico para Clássico, a aposta num mesmo árbitro).

Se os rivais tentassem a sorte no Totobola, o Benfica jogava para uma aposta simples na vitória e o Sporting apostava numa dupla X2. Poder realizar uma aposta múltipla era uma vantagem para os leões, mas as águias tinham o factor casa do seu lado, pelo que cedo se percebeu que o jogo seria decidido nos detalhes: o Trincão marcou no seu estádio talismã aquilo que tarda em fazer no seu próprio estádio, o Diomande e o Quaresma escorregaram e o Benfica empatou, o João Pinheiro engoliu o apito na lance de Otamendi sobre o Pote no exactíssimo momento em que o VAR precisou de ir à casinha e o Sporting não matou o jogo e o campeonato aos quinze minutos na Luz. Reclama porém o Benfica um daqueles penáltis da tanga, formal e informalmente. Formalmente, porque não seria crível que um jogador expulso pudesse ser ressuscitado para o jogo a tempo de que sobre ele viesse a ser cometido um hipotético penalty. De forma informal, na medida em que a encenação de queda do Otamendi foi mais digna de um canastrão de filme de série B(enfica) sul-americano do que de um com todo o mérito campeão do mundo. 

No final, o jogo que tudo decidiria deixou tudo em aberto para a última jornada. Salvou-se o Benfica de um match-point no seu serviço e safou-se o Sporting de entrar no tie-break em profunda desvantagem. Agora fica tudo adiado para o Vira minhoto, com Braga e Guimarães a irem decidir a sorte dos dois rivais de Lisboa. Apesar de tudo, o Vira sempre tem mais mérito do que o Tango, perdão, a tanga... 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Hjulmand. Menção honrosa para Quaresma 

05
Mai25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

A Barca da Glória aguarda na doca


Pedro Azevedo

O Leitor imagine 2 barcas ancoradas num imaginário cais do Lumiar. Numa vai o agora auto-proclamado diabo vermelho César Peixoto, a caminho do inferno. Na outra, um anjo sueco, timoneiro do trajecto para a glória. A equipa do Sporting já se encontra no cais, mas o argumento que determinará em qual barca entrará será escrito em conjunto com Gil Vicente. Nesse auto da barca do inferno, os Sportinguistas querem ver a sua equipa viajar na barca da glória, ainda que um eventual sucesso hoje não garanta que esta se faça imediatamente ao mar, devendo a embarcação permanecer pelo menos mais uma semana em doca seca, aqui alegoricamente representando o purgatório. Foi com estes cenário presente na mente dos seus atletas que a equipa do Sporting foi a jogo esta noite, não jogando só futebol mas também a vida ou, pelo menos, a possibilidade de continuar de boa saúde. 

Não foi nada fácil. Se o Gil jogasse sempre assim estaria a lutar pela Europa dos milhões. Mas se pela Europa não jogou e daí não virão milhões, causou estranheza que, nos minutos finais do jogo, em vez de ir atrás do resultado, meia equipa do Gil tenha procurado expulsar o Gyokeres, assim a jeito de quem sabe que perdeu a lotaria mas não desiste de tentar a terminação (diz o ditado que "quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem"). De qualquer forma, é de elogiar a organização dos gilistas, com dois centrais sobre o Gyokeres que mais pareciam sósias do Marcel Desailly. Do lado do Sporting houve muita precipitação no passe e um erro básico que consistiu em entregar à volatilidade do elevador de St Juste um papel central nas operações defensivas, equívoco esse que esteve na origem do golo do Gil. Verdade seja dita que Rui Borges redimiu-se com a tripla substituição que asfixiou o Gil e levou à vitória final. Nesse particular, o recém-entrado Hjulmand, sozinho, foi mais influente do que os dois médios (Debast e Morita) que o precederam, Harder esteve na origem do golo de Maxi e Quenda gerou alguns desequilíbrios, como o que resultou num livre que Trincão bateu na trave. Mas foi o patinho-feio Quaresma a sentenciar a partida. Um golo à Deco ou Pote, em folha seca e contra-luz, de refinada arte, uma vitória contra o preconceito, que Einstein dizia ser mais difícil de destruir do que a desintegração de um átomo. Mais do que um passe à baliza, um passe-social com acesso à barca da glória, para já a aguardar no purgatório.  

 

Aliviada a tensão, foi bonita a festa final, com Nuno Santos, Bragança e João Simões vestidos à civil dentro do relvado a mostrarem que o grupo está unido e se cair será de pé.  

No Sábado há derby na Luz. À hora que escrevo esta crónica. desconhecem-se ainda como estarão nesse dia as variações de tensão da eiectricidade comprada a Espanha. Não se sabe se ocorrerão picos de produção de energia alternativa e se o nosso sistema vai estar a importar nesse momento, arriscando um shut-down que leve a um apagão total. Mais do que na táctica do Borges, no Gyokeres ou no lançamento dos búzios, é nisso que devemos investir o tempo que nos resta ate lá a fim de fazermos uma previsão razoável sobre as hipotéticas movimentações à luz da vela no Marquês, que é como quem diz, voltaREN que estás perdoada (e para cúmulo aliviavam-se também as dores de cotovelo do rival). 

Tenor "Tudo ao molho...": Edu Quaresma 

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23
Abr25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

A Teoria Gyocêntrica


Pedro Azevedo

Ontem, a equipa de futebol do Sporting deslocou-se ao Parque Eólico dos Arcos, sito em Vila do Conde, para completar mais uma eliminatória da Taça de Portugal, esta afluente ao Jamor. A margem de erro era grande, mas havia ainda alguma expectativa quanto a saber como uma equipa a meio gás poderia lidar com outra ansiosa de utilizar uma energia alternativa. Porém, as dúvidas ficaram desfeitas mal o Gyokeres desatou a correr como se Vila do Conde fosse Munique e o cenário a final da Champions. O sueco ia moendo o juízo aos vilacondenses, mas estes apostaram que o resultado não seria trigo limpo farinha Amparo e começaram a bater-lhe sem piedade perante a passividade de um árbitro a precisar de um patrocínio urgente da Multiopticas. Até que houve um canto a nosso favor. Como o Debast não tem na sua natureza envolver-se em confusões na área, uma coisa estranha num central e que talvez explique a razão porque se adaptou razoavelmente bem a médio, logo avançou na direcção da bandeirola para bater a "bola parada". Com a sua reconhecida capacidade de passe, a bola foi direita a Gyokeres para este a pentear na direcção de Inácio que se limitou a desviá-la de Miszta, marcando assim o primeiro golo. Entretanto, o Pote lá ia pedindo ao corpo que transportasse a sua cabeça, mas as pernas nem sempre obedeciam aos impulsos das sinapses do seu cérebro. Ainda assim, a ligação com Gyokeres esteve sempre presente, assim como a intencionalidade de todas as acções do homem nascido em Vidago. 

Se a eliminatória estava mais do que bem encaminhada, a auto-estrada para o Jamor ficou definitivamente aberta quando Gyokeres cheirou o sangue e apareceu no sítio certo para ampliar a vantagem, o seu quadragésimo oitavo golo da época. Seguiu-se um plano de poupança de energia que foi garantindo serviços mínimos. Até que se produziu um apagão e durante 15 minutos o Rio Ave mais pareceu um River Bird em destaque na Premier League. Foi assim quando Olinho bailou entre 3 jogadores nossos e enviou um míssil que ricocheteou entre barra e linha de golo por duas vezes. E assim continuou quando, ia a noite já alta, o St Juste teve um ataque de sono e o Clayton aproveitou para oferecer o golo ao seu compatriota André Luiz. Entretanto, muito contrariado, o Gyokeres lá foi descansar, o que mostrou uma vez mais o Rui Borges como aquele pai que pela insistência por fim consegue que o filho vá dormir, que amanhã há escola e ele tem de estar fresco. Sem Gyokeres, e apesar da vontade de Harder de mostrar alguma coisa, o resto do tempo foi aproveitado pela equipa do Sporting para procrastinar. É que no Domingo há Bessa e convém ter os (cam)peões preparados para avançarem no xadrez boavisteiro. A caminho do xeque-mate final, na Luz. Desde que haja Gyokeres a um nível normal, o astro que tem todo o mundo leonino a rodar à sua volta. 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik "Thor" (não foi certamente o seu melhor jogo, mas marcou 1 golo e deu uma assistência).

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21
Abr25

A Clubite


Pedro Azevedo

Entre as moléstias estomacais dos adeptos da bola em Portugal, nenhuma é tão infecciosa, invasiva e transbordante como a azia provocada pela clubite. A clubite consiste numa inflamação nervosa altamente contagiante que tem o epicentro no estômago e rapidamente se propaga para a boca e dedos. Tanto se pode apanhar num estádio de futebol,  como no sofá e transmite-se oralmente ou por via de um teclado com acesso às redes sociais. Pior, não tem cura, ou a sua cura implicaria transladar todos os infectados para uma qualquer clínica de reabilitação de cultura desportiva sita em Inglaterra, um devaneio insular para tratar o que mais parece uma insolação que afecta a moleirinha dos contaminados. O custo seria incomportável para todos os outros contribuintes que desconhecem que a bola é redonda.

 

Não se nasce em Portugal com clubite, mas o meio ambiente e o contexto cedo (na adolescência) criam o caldo cultural para que ela se entranhe no indivíduo e nunca mais o abandone. Ao contrário das borbulhas, não há Clearasil que lhe acuda. O alvo principal da clubite é o árbitro, o que explica a razão porque durante muito tempo este só se vestiu de preto, como se assim fizesse o luto. Na mira estão também os dirigentes dos clubes adversários e às vezes até do próprio clube, especialmente quando a bola, que era suposto entrar, insiste em embater no poste. 

 

O adepto infectado com clubite odeia pelo menos tanto o(s) clube(s) concorrente(s) quanto ama o seu clube. É como se o amor ao clube do seu coração não lhe desse energia eléctrica suficiente para manter acesa a chama da paixão e precisasse do combustível fóssil do ódio para se sentir umas octanazinhas mais aconchegadito, um "yin" e um "yang" que celularmente estão simultaneamente presentes no diagnóstico da clubite. 

 

Ninguém vai à bola em Portugal por gostar de futebol, o que é como quem diz, ninguém em Portugal "vai à bola" com o futebol. Para isso escolhem-se países "bárbaros" como a Inglaterra, que fazem uma festa para nós inexplicável à volta do jogo. Não, em Portugal gosta-se do clube, ponto. Aliás, 3 pontos, jornada a jornada, porque a clubite alimenta-se das vitórias. E das derrotas, dos nossos adversários (esse também é um ponto, ainda que paradoxalmente signifique zero pontos). E de sofrer. O jogo em si pouco importa, os jogadores idém, o importante é o penalty que não foi e o que foi e o malandro do árbitro não marcou. É o ruído que alimenta a paixão, não é a paixão pelo jogo que sustenta o amor ao clube. Assim, uma época de futebol não é uma temporada feliz, antes sim tormentosa. O masoquismo subordinado a uma forma redonda. Felicidade só mesmo no fim, no Marquês ou Aliados, se o nosso clube ganhar o campeonato. Aí, sim, vem a comunhão e sentimo-nos parte de algo muito superior à nossa própria existência. Celebramos com os nossos e por um dia suspendemos a clubite. No dia seguinte, no escritório ou no barbeiro, voltamos à primeira forma, que a hora é de achincalhar o adversário perdedor. Porque a vingança é um prato que se serve frio, e neste nosso futebol não há honra para os vencidos. Por isso, a história do jogo em Portugal é (re)escrita pelos vencedores e só ganhar importa. Além não há nada, muito menos futebol. 

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19
Abr25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O (In)sustentável Peso de Gyokeres


Pedro Azevedo

O peso corporal de cada indivíduo varia consoante a sua altura, género e etnia, mas o peso da alma de um ser humano foi calculado por Duncan MacDougall em 21 gramas. Se, quantitativamente, as almas pesam todas o mesmo, qualitativamente expressam-se de forma diferente. Por exemplo, cada grama de alma até almeida (desconheço o equivalente em sueco) de Gyokeres confere um rendimento desportivo cuja ponta do icebergue traduz-se em 4,29 golos do Sporting. É muito golo, algo com que os nossos adversários não se conformam. Para eles seria melhor termos um ponta de lança que fosse uma alma penada. Em vez disso, saiu-lhes um com uma alma pesada (de golos). O peso de Gyokeres na equipa e no campeonato português é impressionante. Ontem marcou 3 golos e deu outros a marcar a Geny e Trincão para estes os desperdiçarem ingloriamente. A diferença entre ele e os colegas do trio atacante é abissal, o que leva a pensar que com um melhor entorno ele poderia terminar uma temporada em Portugal com perto de 100 golos. Mas se o peso de Gyokeres na produção atacante e classificação do Sporting é grande, o que dizer sobre o seu impacto no futebol português? Basta observar a tabela dos melhores marcadores do campeonato. E o que se vê? Que Gyokeres tem mais do dobro dos golos marcados pelo segundo classificado (Samu) e um número superior à soma dos golos obtidos por Samu e Pavlidis, os pontas de lança titulares de, respectivamente, Porto e Benfica. É justo por isso dizer que Gyokeres tem mais peso do que os pontas de lança de Porto e Benfica juntos.  E isto só em função dos golos, porque se considerarmos também a participação no jogo ofensivo de cada equipa essa diferença ainda é maior. Não admira assim que para os nossos adversários esse peso seja insustentável. Por isso falam em penaltis assinalados a nosso  favor e um dia destes começarão também a perorar sobre o número anormal de livres directos e, quiçá até, de pontapés de baliza. No fundo, tudo aquilo que se possa traduzir na bola chegar aos pés do sueco. Porque para eles é batota haver um jogador assim tão desequilibrador dos pratos da balança. Já para nós, o peso de Gyokeres é sustentável. Que remédio(!), ele é o nosso abono de família, um ponta de lança que na nossa história só encontra comparação em Yazalde (50 golos, em 73/74), Jardel (55 golos, em 2001/02) e Peyroteo (58 golos, em 40/41). Com a vantagem de precisar muito pouco da equipa para fazer golos. Como ontem voltou a provar-se: primeiro e segundo golos aproveitando bolas perdidas na área, terceiro golo, de livre, após falta cometida sobre si próprio. Alguém pode achar que isto não é sustentável para um Sportinguista? Insustentável, sim, será perdê-lo na próxima temporada. 

Entretanto, a alegria voltou a Alvalade com o regresso de Pedro Gonçalves. Se no Gyokeres falamos de alma, no Pote discorremos sobre massa encefálica: o cérebro de Pote é anormalmente pesado para o contexto do futebol português. Um cérebro made-in Portugal, nascido em Vidago, que não andará longe do peso do de Deco, um sobredotado português com o carimbo do SEF e do Ministério da Administração Interna. Ver este tipo raro de inteligência à solta num relvado em Portugal não é comum, por isso demos graças a Deus por estes momentos exclusivos. É que durante 5 meses a inteligência muito acima da média de Pote esteve escondida em Alcochete e não visível aos olhos de todos nós. Aproveitemos, então. 


Se no ataque o Gyokeres resolve tudo e agora até vai ter a companhia de Pote para que nem tudo dependa dele, do meio-campo para trás as coisas estão finalmente a compor-se com o regresso dos lesionados. É certo que Simões já não voltará esta época e Morita ainda não está ok, mas Hjulmand exibe-se agora a um nível muito próximo do seu melhor e Debast desvenda cada vez melhor os mistérios do círculo central. Depois, os alas Maxi e Quenda vão para cima deles e os seus suplentes (Matheus e Fresneda) descrevem diagonais que são uma forma alternativa e complementar de jogar. Finalmente, temos centrais para dar e vender. Com o excesso, "vendemos" o Debast ao sector de meio campo e o Matheus à ala esquerda. Sobraram o Quaresma, o Diomande e o Inácio. E o St Juste, para nos lembrar que a vida é como os elevadores: umas vezes para cima, outras para baixo, com uma ou outra avaria pelo meio. No final, o que espero é que também eie possa uma vez mais subir no elevador da glória (Glória?), com o povo leonino à bica (Bica?) nas ruas que vão dar ao Marquês. 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik "Thor" (Who else?)

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12
Abr25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O dia em que a realidade superou a ficção


Pedro Azevedo

Quando, em "Once upon a time in Hollywood", Tarantino mudou o destino de Sharon Tate, na verdade uma vítima mortal do clã de Charles Manson, estava de facto a piscar o olho ao espectador, mostrando-lhe que a ficção podia alterar a realidade dos factos sem que daí resultasse necessariamente qualquer desconforto a quem esperaria um final diferente. Foi surpreendente. Hoje aconteceu o contrário, o Godot (Pote) finalmente apareceu, o que fez com que a realidade tivesse contrariado a ficção de Beckett. Também não houve qualquer desconforto, pelo menos entre os Sportinguistas, o que mostra que a ficção e a realidade podem distorcer-se entre si sem que ninguém se incomode, desde que tal agrade a quem assiste. Algo que os políticos já aprenderam há muitos anos...  

 

Para quem durante 4 décadas teve de conformar-se com ver o seu clube como um underdog, a "Táctica do Cachorrinho", que consiste em ficar em vantagem no marcador e depois desistir do ataque continuado, recuar linhas e lançar a bola na direcção do Gyokeres como se esta fosse um osso e ele um vira-lata, até pode parecer uma promoção. Mas a verdade é que no campeonato tal resultou numa despromoção, com o Sporting a descer de primeiro para segundo na tabela classificativa.  Talvez para evitar mais do mesmo, hoje Rui Borges pareceu querer evitar ficar cedo em vantagem. Por isso, Quenda ficou no banco e entrou Fresneda, o que num jogo onde o m2 estava caríssimo significou abdicar de criar quaisquer desequilíbrios. Assim, a primeira parte foi paupérrima, com Borges a querer personificar aquele lema do Bukowski de que "um gosto precoce de morte não é necessariamente uma coisa má". E de morte de facto se tratava, na medida em que, se o Sporting não vencesse, o campeonato estaria irremediavelmente perdido. O Santa Clara pressionava em cima, o espaço era pouco ou nenhum, mas é nesses momentos em que se solta o geny(o) da lâmpada daqueles jogadores acima da média. E foi o que aconteceu quando, já no segundo tempo, o Trincão meteu um passe nas costas da defesa açoriana e daí resultou um golo do Catamo. A diferença é que desta vez não recuámos linhas, continuámos a atacar e Fresneda até conseguiu finalmente ganhar a linha e centrar para Gyokeres estrelar uma bola na trave.  Ou Diomande marcar um golo que desta vez foi anulado por 13 cm. Pelo que o Santa Clara a partir daí só incomodou através de livres directos saídos do arco da velha apitagem à portuguesa que marca faltas por tudo ou por nada, a não ser que a vítima seja alta e espadaúda como o Gyokeres, o que nesse caso significa que vale tudo menos tirar olhos. 

O Sporting ganhou e o Pedro Gonçalves voltou. Não é só contrariar o Beckett, há qualquer coisa de sebastiânico no regresso do martir Pote de Alcochete-Quibir, no sentido em que a partir deste facto a nossa história pode ser recriada. Agora só temos que disfarçar isto, fingir que nada mudou e tirar a máscara (por enquanto o Gyokeres pode emprestar a dele) na altura certa, na Luz. Assim a jeito de Almeida Garrett, em Frei Luís de Sousa: 

-"Romeiro, quem és tu?"

-"Ninguém!"

 

 

"Quando faltar a inspiração, que não falte a atitude". Hoje batemo-nos como leões, contra ventos (fortes) e marés (enxurrada de Cláudio Pereira em jogos com o Santa Clara).

 

Tenor "Tudo ao molho...": Geny Catamo 

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