Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

01
Dez24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Momentâneo lapso de razão?


Pedro Azevedo

O Einstein, que aparentemente não era burro nenhum, dizia que insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes. Ora, eu espero que o João Pereira não seja louco, por ele e por nós. Talvez só queira contrastar com quem o precedeu, o que é humano mas pouco inteligente e recomendável quando se tem nas mãos um F3 que Amorim evoluiu para um F1 e já tem muita rodagem. Mas quando o João lança de novo de início o Edwards em modo morto de sono eu fico logo a imaginar a alegria dos cemitérios que os Sportinguistas no fim vão sentir...

Uma das coisas que me davam gozo no tempo de Ruben Amorim era o nosso jogo de triângulos. Pois bem, isso ontem esteve ausente. Ou melhor, se houve algum triângulo, ele foi obtuso. Pelo que de geometria euclidiana estamos conversados, deve ser coisa da antiguidade clássica. Sem jogo interior que desbloqueasse a contenda, regressámos ao chuveirinho para a área. Ora, para chuveirinho, logo meter água quando não se tem um avançado cabeceador, também podia eu dirigir do banco o futebol do clube. E se é para criar uma oportunidade flagrante de golo durante todo o jogo, então o José Pereira e a ANTF que esqueçam os treinadores encartados, porque, se o nível III é isto, 3 milhões de Sportinguistas estão habilitados para treinarem a equipa: 

 

Depois, o João ainda agora começou e no arranque para o campeonato já conseguiu vários recordes: perdemos em Alvalade após 31 jogos invictos e não marcámos um golo pela primeira vez em 53 jogos. É obra de Academia!!!

 

Também gostava de saber onde anda o Diomande de antes da CAN. Dão-se alivíssaras a quem souber do seu paradeiro. Ver dois contra um e os nossos dois irem para o vazio e o um deles ir para o lado da bola é coisa para matar do coração qualquer treinador, e disso o João Pereira não tem culpa. Mas foi assim que o Santa Clara ganhou o jogo, contando também com a inação do guardião Kovacevic que confundiu o remate com uma fotografia e ficou a posar. A posar a a pousar... os braços e as pernas. Será modelo fotográfico? Lá altura tem para isso...

Já se sabia que este campeonato tinha de ser para o Benfica. Mas, apre, ao menos que eles façam por o ganhar, ou então que apareça um ou mais árbitros do jeito daquele que os apitou no Mónaco a fim de que vençam. Agora, sermos nós a oferecer-lhes o campeonato de bandeja deixa-me doente. Bem sei, o Natal está aí à porta, mas o Pai Natal desde o tempo da Coca-Cola que não é verde. 

Bom, vamos lá a ver se isto ainda se compõe. Para vos ser franco, não estou muito optimista. Mas, enfim, a esperança é verde, não é verdade? Porém, não faria mal ao João Pereira ler o William Blake quando ele escreve "como saberes o que é suficiente, se não souberes o que é demais?" João, o Edwards é demais, ok? E se o João não entende, vai acabar por perceber tarde e a más horas que está a mais. Para mal dos nossos pecados, embora o pecado original tenha sido do Amorim ao aceitar dar uma dentada na maçã do United que pelo andar da carruagem se traduzirá no Sporting, e não o microfone, ir ao chão. Como a sucessão preparada há meses pressupunha um patamar superior, não sei se há alguma solução externa para fazer com que isto seja levantado do chão, até porque o especialista que tinha o enredo na ponta da língua (Saramago) já não mora aqui. 


P.S. Há alguma lei da República, regra, procedimento, código de conduta ou manual de boas práticas que impeça o Quenda de procurar o 1x1? É que parece que o Amorim levou o seu drible para Manchester... 

 

Tenor "Tudo ao molho...": { }

IMG_3526.jpeg

 

 

 

27
Nov24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Saka, saca rolhas


Pedro Azevedo

IMG_3524.jpeg

Lembram-se do desespero do Macaulay Culkin em "Sozinho em Casa" ao aperceber-se de que se esqueceram dele? Terá sido a sensação que Maxi Araújo experenciou durante toda a primeira parte ao ver-se sem apoio perante Bukayo Saka. 

A sorte e o azar são factores a não desprezar em qualquer jogo, não sendo o jogo de futebol uma excepção à regra. Ao intervalo, contra o Manchester City, o Sporting poderia ter estado a perder por dois ou três golos de diferença, mas quis a roda da fortuna que tal não acontecesse. Depois, no segundo tempo, os leões justificaram plenamente a vitória. Ontem, novamente, o Sporting não entrou bem no jogo, só que desta vez chegou mesmo ao intervalo a perder por 3 golos. Dir-se-ia assim que teve azar. Todavia, nem só de sorte ou azar se faz um jogo de futebol: quando, num jogo internacional, contra uma equipa de primeiro plano europeu, se admite uma inferioridade numérica num sector nevrálgico como o meio campo, então está-se a dar trunfos a uma eventual má sorte. Foi isso que aconteceu quando João Pereira, na impossibilidade de contar com Pote, escalou Edwards como interior esquerdo, sabendo à partida que o inglês pouco ou nada defende e que por esse flanco o Arsenal geralmente cria mais perigo, não sendo expectável que os médios pudessem ser de grande ajuda, concentrados que presumivelmente estariam em se posicionarem correctamente face ao excesso de adversários no miolo do campo. Ademais, das poucas vezes que Amorim havia começado com Edwards e Trincão em simultâneo, tinha havido a preocupação de dar a Trincão a posição de interior esquerdo, jogando Edwards a partir da direita. Tal talvez pudesse ter esbatido a diferença que o melhor jogador do Arsenal, Saka, produziu no lado direito do ataque do Arsenal, na medida em que Trincão é muito mais competente sem bola, a fechar espaços e a lutar pela posse, do que Edwards. Mas não foi essa a opção de João Pereira, e com relativa facilidade Saka sacou dois lances de inspiração individual que conduziram aos dois primeiros golos, abrindo assim a rolha do futebol champanhe com que os londrinos presentearam o Sporting durante o primeiro tempo. Para piorar o cenário, de um canto, uma bola parada, de um "set pieces" como os ingleses gostam de lhe chamar, viria o terceiro golo, com toda a equipa do Sporting concentrada na marcação na pequena área e Gabriel a surgir de trás sem oposição. 

A ganhar por três, o Arsenal surgiu mais expectante no segundo tempo. E o Sporting aproveitou para igualar a contenda no que respeita à concretização de jogadas de laboratório, quando Inácio desviou ao primeiro poste um canto executado por Trincão. Cresceu o Sporting e atemorizou-se o Arsenal. Por momentos o milagre pareceu possível. Morita e Hjulmand tiveram remates brilhantemente defendidos por esse grande guarda-redes que dá pelo nome de Raya, Gyokeres começou gradualmente a libertar-se do jugo imposto por Gabriel. Mas quem não marca arrisca-se a sofrer e, em novo lance iniciado na direita do ataque do Arsenal, a bola circulou rapidamente para o centro e Inácio e Diomande não foram suficientemente incisivos, cedendo o Sporting um penalty e ficando ainda a agradecer ao árbitro a não expulsão (segundo amarelo) do costa-marfinense. O jogo praticamente terminou aí. João Pereira finalmente lançou Bragança por Edwards e o Sporting pareceu ainda ganhar um suplemento de alma. Durante 15 minutos o jogo instalou-se no meio campo dos "Gunners". Gyokeres rebentou primeiro fisicamente com Gabriel e depois desenhou uma jogada brilhante em que correu maio campo, tirou dois defesas do seu caminho e ainda teve força para enviar um míssil que esbarrou no poste de Raya. Mas faltou a pontinha de sorte que sobejou no jogo contra o City e o Arsenal viria a marcar um outro golo. 

Na sua despedida, Ruben Amorim garantiu a competência de João Pereira mas não deixou de alertar para a importância da estrelinha da sorte que sempre o acompanhou e poderia não transitar para o nóvel treinador. Vis-a-vis o ocorrido com o City e confrontando com ontem, dir-se-ia que Amorim estava cheio de razão. Convém porém não atribuir tudo à sorte e ao azar. A sorte procura-se e encontra-se mais facilmente quando a preparação interliga-se com a oportunidade. João Pereira teve a oportunidade de uma vida e não a quererá desperdiçar. O plantel é bom e está lá para o ajudar. Caberá então ao jovem treinador de futuro tomar melhores opções, escolhas que não facilitem tanto a acção dos adversários como as que infelizmente tomou ontem. A ser assim, as nuvens agoirentas de ontem serão tomadas por um céu limpo e um sol radioso. Os Sportinguistas estão com ele, mas convém que João Pereira não ressuscite o discurso estafado, que aliás se julgava erradicado por Ruben Amorim, de que é preciso "levantar a cabeça" . É que o símbolo do Sporting é um leão rampante, o que significa que fica sempre de pé. Mesmo quando cai...

Tenor "tudo ao molho...": Hjulmand

23
Nov24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Encontros imediatos do terceiro grau


Pedro Azevedo

IMG_3522.jpeg

Com um treinador certificado do quarto nível, o Amarante vinha a Alvalade defrontar um adversário cujo treinador ainda aguarda a chegada do diploma do terceiro grau, pelo que, seguindo a cartilha da ANTF e seu presidente, os amarantinos seriam à partida os grandes favoritos. Mas Taça é Taça, e a história da Taça de Portugal tem sido feita de Davides que batem o pé a Golias e às vezes até lhes acertam com uma boa fisgada. Pelo que havia a esperança de que a diferença de habilitações literárias entre os comandantes se pudesse esbater e que em Alvalade emergisse o Sporting como um dos tomba-gigantes que ancestralmemte animam a competição. Ao contrário do senhor José Pereira, o João Pereira ainda não é suficientemente conhecedor. Mas começa a dar provas de que é muito mais sábio do que o homónimo José, na medida em que, já dizia o velho Sócrates, sábio é  aquele que conhece os limites da sua própria ignorância. Nada porém que abale as convicções do senhor José Pereira, que assentam no seguinte silogismo aristotélico: "Não há conhecimento sem certificação" - primeira proposição; "João Pereira não tem certificação" - segunda proposição; "logo, João Pereira não tem conhecimento" - conclusão. E assim, entre um discípulo de Aristóteles, que foi discípulo de Platão que por sua vez foi discípulo de Sócrates, e um discípulo directo de Sócrates, estabeleceu-se a dicotomia entre conhecimento e sabedoria, que conhecimento é saber que o tomate é um fruto, sabedoria é não misturá-lo numa salada de frutas. Depois, há também a questão de saber-se se ao menor conhecimento se devem aplicar restrições de mobilidade: sem conhecimento, o João Pereira pode estar no banco. Todavia, não se pode levantar ou dar instruções. José Pereira revela aqui uma visão do mundo tipo colégio interno "brutânico", onde coabitam o ponteiro na cabeça, a reguada na mão e o isolamento do aluno não certificado numa cadeira junto ao quadro, imóvel, em silêncio e se possível ostentando umas orelhas de burro. Ora, isto denota um grande desconhecimento da complexidade do ser humano.  Se, para José Pereira, o não conhecimento obriga ao imobilismo, a psicologia clínica doutrina que há pessoas, e não só seres hiperactivos ou dislexicos, que se expressam melhor pelo movimento, que necessitam do movimento para melhor compreenderem o mundo e o que as rodeia. São os casos dos bailarinos, actores de teatro e cinema ou... jogadores e treinadores de futebol. Ou seja, para eles menor movimento significa menor conhecimento (e não o seu contrário). 

Seja porque o plantel quis marcar uma posição pós-Ruben Amorim ou porque os jogadores sentiram a necessidade de mostrar a sua solidariedade com João Pereira neste diferendo com a ANTF, a verdade é que o Sporting surgiu muito motivado em campo. A revolta tem dessas coisas, e muitas vezes acontece-nos estarmos sozinhos contra o mundo e isso ainda dar-nos mais força. Foi o que aconteceu com o Edwards, que vinha jogando menos e viu aqui uma oportunidade. E lá foi sozinho, contra o mundo, fintando para a esquerda e para a direita, naquele seu jeito de quem mói o sentimento (obrigado, Carlos Tê), de quem questiona o que faz aqui e para onde vai, muitas vezes perdendo-se no caminho, absorto nos seus próprios pensamentos e desligado de tudo o resto. Não desta vez, porque não só encontrou o caminho como escolheu o mais difícil, não recorrendo ao atalho de procurar o seu melhor pé na altura da conclusão. E saiu bomba, abrindo o marcador. Logo de seguida veio uma jogada de laboratório, uma daquelas que para qualquer espírito atento seria motivo de doutoramento de um treinador: aproveitando a actual lei do fora de jogo, Harder expôs-se à profundidade. A defesa do Amarante ficou imóvel, feliz pelo dinamarquês ter caído na armadilha. Só que atrás dele veio o Bragança, que recebeu o passe do Matheus Reis e cruzou para a entrada da pequena área onde Esgaio apareceu a desviar subtilmente para golo. Simples e eficaz. E ao quarto de hora o Sporting fazia surpresa na Taça, ganhando por 2-0 ao treinador licenciado do Amarante. Entretanto, o Trincão estava num turbilhão, rodopiava entre os adversários como se não houvesse amanhã e ia causando os estragos habituais da presença de um furacão. De um desses lances resultou o estrondo de um poste a abanar, o que até fez o Harder trocar os pés. Lívido, o dinamarquês não esperou pela demora: nova bola de Trincão e o Harder a colocá-la fora do alcance do guarda-redes do Amarante. E antes que chegasse ao fim da primeira parte, o Bragança desviou do guardião o suficiente para que o Edwards aparecesse a bisar. 

O Amarante perdia 4-0 ao intervalo e pior terá ficado quando os seus jogadores viram o Gyokeres a aquecer. Antes que entrasse, o Trincão combinou com o Harder pelo centro e rematou para o 5-0. Depois, o sueco entrou naquele seu jeito de que ou vai ou racha. E começou por rachar... no poste, duas bombas executadas de livre directo, para logo facturar na sequência de um penalty. Em cima do minuto 90, o Sporting continuava a pressionar o Amarante e a não deixá-lo respirar, a tónica de todo o jogo. No fim foram 6, mas podiam ter sido muito mais. Não sei se Jose Pereira terá ficado incrédulo ao ver um treinador sem nível golear um encartado, mas nestas coisas talvez seja melhor citar o William Blake: "Há o conhecido, o desconhecido, e no meio estão as portas da percepção". Trocando por miúdos, na antecâmara do jogo era conhecimento de todos que o João Pereira não tinha nível. Adicionalmente, desconhecia-se o que poderia mostrar quando tivesse a oportunidade. Acabado o jogo, a percepção geral é a de que João Pereira poderá ter unhas para tocar esta guitarra. O que nos leva a Einstein e este seu pensamento: "É mais fácil desintegrar um átomo do que destruir um preconceito". O futuro dirá se Jose Pereira, à semelhança de idêntica polémica criada com Ruben Amorim, não começou ontem a engolir o preconceito. Preconceito que é um pré-conceito das coisas, e como tal não valoriza a experiência. Não deixa por isso de ser intrigante que quem quer fazer do futebol uma ciência não valorize a experiência, sujeitando-se assim a encontros imediatos do terceiro grau. Imagine-se quando for do quarto...

 
Tenor "Tudo ao molho...": Trincão

20
Nov24

Póqueres, lobos e cordeiros


Pedro Azevedo

Suspeito que se Vik "Thor" Gyokeres (ou será Póqueres?) fosse português, Roberto Martinez inundá-lo-ia de elogios e no final do dia poria o Fábio Silva como titular. Porque afinal há uma afinidade clara entre o Fábio Silva e o Sr Martinez: são ambos lobos (o Fábio é do Wolves, mas está emprestado ao Las Palmas). Porém, há uma não tão pouco subtil diferença: só o Roberto veste a pele de cordeiro (o símbolo do Las Palmas é um castelo e... um leão rampante). 

19
Nov24

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

Remar, REMAX (aos Chutos&Pontapés)


Pedro Azevedo

IMG_3511.jpeg

Sabemos que o mundo é um lugar estranho quando, em pleno "Century 21",  Portugal vai a Split jogar contra a equipa da REMAX (Hrvatska, em croata). É a força da globalização e suas tendências, ainda que paradoxalmente as pessoas andem bastante mais separadas ("Split", na língua global) umas das outras, entretidas a brincar às casinhas. 

Portugal entrou com tudo, com João Neves a marcar o ritmo, Vitinha a esconder a bola, Tomás Araújo imperial com e sem bola e Nuno Mendes omnipresente como central pela esquerda, lateral ofensivo e extremo canhoto. Só o Rafael não apareceu no seu melhor,  no caso em versão emplastro Leão, o que rima com trapalhão (só na definição). O céu parecia ser o limite, o que até é, curiosamente, um slogan caro aos da REMAX, mas muita parra produziu pouca uva e ao intervalo vencíamos por apenas 1 golo de diferença, cortesia de João Félix e de um daqueles seus detalhes de génio da lâmpada que um dia (sebastianismo puro luso) lhe valeram uma transferência de 120 milhões. O problema do João é que o seu perfume requintado coabita num frasco de 25ml, esgota-se em pouco tempo. (Para quem vê o futebol como arte, o delicado entrelaçar de jogo que nasce no seu cognito e logo floresce nos seus pés capta a atenção como se de uma bela e complexa peça de filigrana se tratasse. Não é só o que se vê, é muito também o que se sente: o som perfeito que a bola emite quando por ele impelida, o perfume requintado derramado no acto, a intenção que quase conseguimos tocar latente em cada sua acção, a água que nos cresce na boca como que a pedir sempre mais. Tudo isto nos acontece porque Félix é um dos raros futebolistas que nos despertam os cinco sentidos. Porém, e apesar de todos os predicados, a carreira de Félix tem ficado aquém. Porque não só de talento se faz um caminho, é preciso trabalho, consistência e atitude mental. E é especialmente nesta última que as coisas falham.)


Depois de uma muito boa primeira parte, na segunda perdemos a objectividade: escondermos a bola passou a ser a meta, ao invés de continuarmos a procurar o golo. Foi assim um tempo de espera: esperámos pela REMAX e esperámos por Godot. É normal em Portugal se esperar por Godot, os portugueses estão habituados a esperar e suspirar até por aquilo que nunca vem. Talvez por isso não reajam bem a quem entrega o que promete, gente como o Cristiano Ronaldo e assim, que como tal nem sempre é bem-vista ou bem-quista. No dia, o nosso Godot chamava-se Quenda, Geovany Quenda, e não havia noticiário prévio ao jogo que não anunciasse a sua estreia oficial pela Selecção, estreia essa que bateria o recorde de precocidade pertencente a Paulo Futre. O problema é que, tal como na peça de Beckett, o Quenda nunca chegou. Na antecâmara do jogo haviam 4 potenciais estreias lusas. Dessas quatro, a do Tomás Araújo logo se confirmou (foi titular). Depois entraram o Tiago Djaló, recém-titular de uma defesa do Porto que mete mais buracos que uma balsa a remos de dissidentes cubanos prestes a naufragar ao largo da Flórida, e o Fábio Silva, que anda de clube em clube a ver se alguém lhe dá a mão (ou, pelo menos, lhe mostrem as palmas das mãos, "Las Palmas"). Já foi "Ranger" e até vestiu a pele de Lobo (Wolves), mas quem lhe deu verdadeiramente a mão veste a pele de cordeiro (Martinez). Pelo que o Quenda foi o único que não saiu do banco, dali ficando a ver todas as expectativas criadas pelo próprio Seleccionador gorarem-se, frustrarem-se, o que já não é a primeira vez. Ainda que vendo o Semedo facilitar no golo da REMAX, um golo muito antecipado como outros no passado que resultam da inação face aos acontecimentos tão comum ao nosso Seleccionador, o homem que desperdiçou a melhor geração belga desde a ínclita dos anos 80 e se prepara para fazer o mesmo, se lhe derem tempo, com Portugal. Como também já é um hábito, o Trincão não saiu do banco, passou de afluente no último jogo a não influente neste, o que ilustra bem a (in)coerência de consistência das decisões do treinador. Tudo isto, porém, obedece a um plano estratégico genial por parte de Roberto Martinez, o melhor aliado do Sporting no presente campeonato: é que os nossos jogadores saem da Selecção com tanta fome de bola que depois comem a relva nos compromissos domésticos. Creio que assim deveremos estar muito agradecidos ao Sr Martinez, rezando para que ele não saia para uma REMAX, que até seria um fato à sua medida visto que exige exclusividade no seu portefólio de activos.

 

"Mares convulsos, ressacas estranhas
Cruzam-te a alma de verde escuro
As ondas que te empurram
As vagas que te esmagam
Contra tudo lutas
Contra tudo falhas

Todas as tuas explosões
Todas as tuas explosões
Redundam em silêncio
Redundam em silêncio
(2x)
Nada me diz

Berras às bestas
Que te sufocam
Em abraços viscosos
Cheios de pavor
Esse frio surdo
O frio que te envolve
Nasce na fonte
Na fonte da dor

Remar remar
Forçar a corrente
Ao mar, ao mar
Que mata a gente
(2x)

Nada me diz"

 

Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Mendes 

18
Nov24

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

A Eficácia


Pedro Azevedo

IMG_3509.jpeg

Este mundo prometido da internet e das redes sociais, que supostamente iria aproximar mais as pessoas, tem o condão de criar e dar palco a "haters" todos os dias. Estes crescem como cogumelos venenosos, sempre à espera do alvo certo para intoxicarem. Como não convém que o alvo seja desconhecido, porque assim ser "hater" não teria qualquer visibilidade, logo nenhuma utilidade, esta forma subtil de parasitismo geralmente ataca indivíduos famosos por terem obra feita, o que é um tipo de fama diferente daquela de se tornar conhecido só porque se apareceu na televisão pelos piores motivos. Um desses famosos com obra, por direito, chama-se Cristiano Ronaldo. Cada jogo de Portugal é uma oportunidade para os "haters" de Ronaldo provarem que o madeirense já está fora de prazo e devia arrumar as botas. Mas, se é uma oportunidade, não deixa também de ser uma ameaça, especialmente quando a Selecção ganha e o craque português passa mais um recibo verde de um ou dois golos, a caminho do Santo Graal de todos os goleadores: o milésimo golo. Ora, como os portugueses têm mais apreço pela sua razão individual do que simpatia por que esta assista a um colectivo, quando o Ronaldo marca a azia desses "haters" é incontornável. Porém, a coisa até esteve prometedora, não fora um segundo tempo que contrariou uma anémica primeira parte em que só por manifesta sorte Portugal chegou ao intervalo com um lisonjeiro empate. Embora para os tais "haters" a culpa quando Portugal não joga nada seja do Ronaldo, a verdade é que durante o primeiro tempo foi difícil ver um jogador português em destaque. Talvez Nuno Mendes. Ou Diogo Costa. Mais ninguém. Do outro lado, os polacos criaram 3 ou 4 claras oportunidades de golo. Nós, nem uma para amostra. Após o reatamento, o Rafael Leão pegou na bola à entrada da sua área a foi por ali fora como uma gazela à solta na savana. até passar o meio campo sem que ninguém tivesse pernas para o parar. Tocou então para o Nuno Mendes, outro puro sangue, e prosseguiu em frente à espera da retribuição do passe. O Nuno fixou bem o defesa, contemporizou o suficiente e decidiu-se por chutar a bola para um espaço a que só o Leão teria acesso. Respondendo à chamada, este aplicou uma cabeçada na bola que não deu hipótese de defesa ao guarda-redes polaco. Estava inaugurado o marcador. Os polacos pareceram surpreendidos por terem sofrido um golo de uma equipa que até aí nem mostrara as unhas, quanto mais dar a ideia de que essas unhas poderiam transformar-se em garras e arranhar. Enquanto digeriam essa incredulidade, levaram com o segundo golo: Ronaldo, num penálti clássico, mandou o guarda-redes para o vazio e a bola para a rede. Aturdidos, sem perceberem o que lhes estava a acontecer, pouco depois os polacos viram o bombardeiro Bruno Fernandes levantar vôo por entre a sua defesa anti-aerea. A bomba acertou no ninho da águia (símbolo polaco) e a resistência polaca acabou aí. Pedro Neto ainda voltaria a marcar, mas o melhor ficou reservado para o fim: o velhinho Ronaldo renasceu mais uma vez como a fénix e numa acrobacia de bicicleta pôs os polacos em órbita (órbita, como o Leitor sabe, tem tudo a ver com bicicletas). Mesmo no finzinho, os polacos reduziram, apenas para nos lembrar que uma coisa é a função trabalho, outra a função rendimento, e que a eficácia está directamente relacionada com o sucesso de uma qualquer empreitada. A eficácia com que, por exemplo, Alex Ferguson esculpiu Cristiano Ronaldo, despojando-o de toda a eficiência assente em esquivas e rodriguinhos bonitos para os olhos do espectador, mas supérfluos porque não objectivos, transformando-o assim num ser que contrasta com o que é ser português e nos confronta permanentemente com as razões dos nossos inêxitos, por isso gerando tantos ódios.  

Tenor "Tudo ao molho...": Rafael Leão 

11
Nov24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

A Última Ceia


Pedro Azevedo

Desde há duas semanas que sabíamos que o nosso futuro próximo não passaria por Rúben Amorim, mas de alguma maneira a administração do clube conseguiu estender o presente umas semanas, pelo que o Rúben continuou por aqui mais algum tempo e a sensação de orfandade ficou suspensa num tempo entretanto congelado para que o alimento de que todos os Sportinguistas precisam (as vitórias) não ficasse estragado e o novo treinador a anunciar não tivesse prematuramente de meter-se em refogados. Mas tudo tem o seu fim, embora esse fim só seja conhecido quando vem acompanhado de um prazo de validade pré-anunciado. A data escolhida para a cisão teve o seu quê de auto-explicativa, na medida em que foi coincidir com o dia de São Martinho, efeméride religiosa que celebra um soldado romano conhecido pela sua personalidade filantrópica: para nós, que sonhávamos com o título nacional há 19 anos, o Rúben será sempre o homem que nos veio matar a fome. E que, posteriormente, nos reparou o estatuto, nos ensinou a comer de novo e reiteradamente à mesa dos reis, que é algo assim a jeito de na sala do Gambrinus podermos degustar o empadão de perdiz com um bom vinho, enquanto arranjamos espaço para acamar um Crêpe Suzette ("pièce de la résistance"), em vez de nos quedarmos por uns croquetes e uma imperial na barra como um fidalgo falido. Como não há forma de indeterminadamente parar o tempo, ele teve de avançar. Inexoravelmente. De forma que Braga marcaria o fim de uma era. Os últimos dias haviam sido brilhantes, com vitórias sucessivas, a última face ao "mighty" Manchester City. Mas a cauda é sempre o pior de se esfolar, e havia um jogo final em Braga para ser disputado. Um jogo de emoções fortes para adeptos e jogadores, que uma coisa é saber-se que o treinador está de partida, outra é chegar a noite de véspera da data em que ele vai apanhar o avião (e nós bem traumatizados já estávamos com escapadas precárias de avião). Como iríamos todos nós lidar com a nostalgia do momento? 

O primeiro tempo ficou marcado pela saudade de alguém ainda presente, um sentimento de perda que causou angústia e nervosismo à equipa e gerou alguma atrapalhação na definição dos lances. Eficaz, o Braga defensivamente nada nos concedeu e ofensivamente tudo aproveitou: se, lá atrás, os minhotos montaram a barraquinha do tiro ao Gyokeres e foram-se revezando com notável solidariedade nessa especialidade simultaneamente tão promotora quão idiossincrática da cultura de futebol existente em Portugal, mais à frente, o Bruma combinou com o Horta, numa espécie de Horta do Bruma, para nos dar cabo do apetite vegetariano. Resultado: ao intervalo perdíamos por 2-0. 

Com o segundo tempo veio a revolta do pasodoble sobre o fado e "pegámos o touro pelos cornos": a nostalgia ficou no balneário e passámos a "dar ao pedal" em dobro. As substituições também ajudaram a dar maior agressividade e vivacidade ao nosso futebol. Cedo, um dos que entrou (Morita) reduziu a desvantagem no marcador e com isso reentrámos no jogo. Com menos dois dias de descanso, o Braga procurou recorrer a todo o tipo de truques que escondessem o cansaço acumulado dos seus jogadores: cada pontapé de baliza a seu favor era usado pelo Matheus para reflectir sobre a sua própria existência, ao passo que uma queda no relvado do Moutinho exigia a presença simultânea do INEM, de um padre, de um médico legista e de um profissional de seguros com qualificação em avaliação de sinistros, antes do politraumatizado corpo poder ser removido do terreno de jogo para logo reaparecer todo viçoso por artes de magia negra. Tantas perdas de tempo iam quebrando o ritmo de jogo ao Sporting. Mas a vingança serve-se fria, ou não viesse da Dinamarca. E se Hjulmand com um foguete anunciou a revolução, o princípe Harder logo exibiu aquele par de huevos com que se fazem Hamlets.

 

A passagem de Amorim foi uma epopeia que só careceu de um Homero para que fosse fielmente retratada.  Como todas as epopeias poderia ter terminado em tragédia (Aquiles) ou glória (Ulisses), mas reza a lenda que Lisboa foi fundada por Ulisses e isso terá tido uma influência marcante no desempenho do alfacinha Amorim. Sendo para sempre, na mitologia leonina, o profeta e filho de deus que trouxe a boa nova, Amorim por fim reuniu 11 apóstolos naquela que foi a sua Última Ceia. E saiu em merecida glória, deixando para trás uma legião de crentes. 

 

"Sic transit gloria mundi!!!", que a luz ilumine João Pereira!!!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Conrad Harder. Hjulmand seria uma óptima opção.

deus.jpg

06
Nov24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Um argumento caído do Céu


Pedro Azevedo

Antes do jogo era sabido o seguinte: o Manchester City não perdia há 26 jogos para a Liga dos Campeões, um recorde da competição. E ainda não havia sofrido qualquer golo na Champions da presente temporada. Adicionalmente, vencera a exigentíssima Premier League na época passada, chegando assim ao tetra-campeonato, totalizando 6 títulos de campeão inglês nas últimas 7 edições. Perante estes factos, escusado será dizer que o City era super favorito. Mas um jogo de futebol não se joga no computador, nas estatísticas, nas previsões das cassandras apressadas nos jornais e teievisoes. Não, um jogo de futebol joga-se no campo, no relvado. E é presente, e não passado, pelo que tudo o que aconteceu lá atrás não é garantido que se repita. Além de que se trata de um jogo, logo inclui variáveis aleatórias como a sorte e o azar que tantas vezes são desprezadas na sua análise posterior. Serve este último arrazoado para introduzir não de supetão o resultado do jogo. Para quem não viu ou não sabe ainda, recomendo que se acomode, que se sente bem - o resultado foi quatro-a-um para o Sporting!!! 

"Como é que tal foi possível?", perguntará, legitimamente, o Leitor.  Foi possível porque é futebol. E também na medida em que os pontos fortes do Sporting colidiram com os poucos pontos fracos do City e daí resultou a hecatombe inglesa. Pode agora parecer paradoxal, tendo-vos dito primeiramente que o passado não garante o presente, mas a história está cheia de exemplos de superação do mais fraco face ao mais forte. Desde David e Golias, passando por Aljubarrota ou pela Armada outrora julgada Invencível. E ontem fez-se história em Alvalade, na despedida do nosso treinador desse palco sagrado para todos os Sportinguistas. Um enredo que desafiaria o guionista mais out-of-the-box de Hollywood, porque alinhavado no Céu, que Amorim é um daqueles que Deus mais ama e assim transporta com ele uma estrelinha que reluz quando dela mais precisa. Como todo o bom argumento, os sinais iniciais foram contraditórios com o resultado final, como se o Dramaturgo desta história quisesse apanhar o espectador de surpresa. Assim, cedo (3 minutos) o City se apanhou em vantagem no marcador. E para que não houvesse dúvidas de que a noite não seria auspiciosa, pouco depois Gyokeres, o nosso Vik Thor, o Viking e filho de Odin que em boa hora aportou a Alvalade, falhou um golo cantado, mostrando assim uma faceta menos própria de um deus e mais próxima de uma condição humana que se lhe desconhecia. Se o nosso deus está num dia mau, e nós, mortais, nem sabíamos que os deuses poderiam ter dias menos bons, então a nossa glória ou ambição acabará na vala (e não em Vahala) - pensou-se. Mas os guiões mais criativos dão muitas voltas e reviravoltas ("remontadas" é no Bernabéu e este enredo vai mais no caminho de re-béu-béu, pardais ao ninho, conforme adiante se verá) e este centrou-se durante largos minutos num actor secundário que roubou o palco aos designados protagonistas. Falo-vos de Franco Israel, que foi adiando o julgado inevitável, e assim mantendo o Sporting no jogo e dando tempo para que um qualquer milagre se operasse. Eram vagas e vagas constantes de ataque do City, calafrios a seguir a calafrios, mas Israel foi mantendo o sonho da "terra prometida". Até que o menino Quenda agigantou-se e serviu Gyokeres no espaço com maestria. Na profundidade, o Vik Thor ganha artes de Neptuno e nada nem ninguém o pode parar. Resultado: 1-1.

 

O intervalo chegou e com ele a sensação de que o resultado era muito melhor do que a exibição. Mas estávamos dentro do jogo, e assim tudo ainda era possível, o sonho continuava presente e à espera de ser vivido. A verdade é que o jogo reatou-se e o nosso Aladino logo soltou o Pote Mágico, libertando o primeiro de 3 desejos que viriam a ser concretizados na íntegra, deixando Kovacic nas covas e isolando Maxi - não um perna-de-pau qualquer, mas um Super Max(i) - na cara de Ederson. O uruguaio, que no primeiro tempo já havia liderado pelo exemplo, nunca se deixando intimidar e mostrando ganas de ser o primeiro a libertar-se do jugo inglês, não perdoou e pôs o Sporting na frente. Ainda não refeitos da pancada, logo os ingleses viram Trincão a isolar-se na direita. Em pânico, sem perceber o que, o como e o porquê do que estava a acontecer, Gvardiol atropelou-o na área. Subitamente, o City via-se em banho-maria no caldeirão do Panoramix Amorim, mais um exemplo de como um "pequeno" pode fincar o pé a um "grande" ou uma "aldeia gaulesa" se manter invicta face ao todo-poderoso "Império Romano".  Chamado a converter a penalidade, o Gyokeres recorreu à antiguidade clássica do engodo do penalty: guarda-redes para um lado, bola para o outro. De engodo se faz um bom argumento e este ainda estava longe de estar terminado. Eis então, no nosso melhor período, que do inferno do VAR cai um penalty desta vez a favor do City. Para marcá-lo o Haaland, o deus deies, aquele que na antecâmara do jogo suscitara nas TVs e redes sociais um condescendente "pois, o Gyokeres e tal, mas o Haaland é outra loiça...". Se o era, partiu-se, desintegrou-se naquela bola que saiu da marca dos 11 metros para malhar no ferro. Nesse momento, o Sporting ganhou o jogo, até São Tomé deixou de acreditar num qualquer outro cenário que não fosse a vitória leonina. Restava porém perceber por quantos. O City estava reduzido a cacos e nesse transe até um dos seus melhores jogadores no dia (Matheus Nunes) perdeu a compostura e não cedeu à tentação de cometer mais um penalty. Era o descalabro, o desgoverno de uma equipa que não entendia o que acontecia no campo, como se tivesse sido atropelada pelo autocarro que em tempos Amorim dispusera no relvado, antes de lhe ligar a ignição e de inerte ganhar vida. Desta vez o Gyokeres quis que o Ederson adivinhasse o lado e conhecesse os limites da sua própria elasticidade, colocando a bola com a força e pontaria necessárias a que os esforços do brasileiro fossem vãos e inglórios - uma maldade. Estava feito o resultado final de um jogo que foi como uma Marioshka, ou seja, teve vários jogos dentro de si. Como o jogo entre o futuro treinador do United e o actual do City. Ou o duelo particular entre Gyokeres e Haaland, que também terminou com 3 golos de diferença. 

O Homem sonha, a obra acontece. Venha o Braga! Depois, se "o rei está morto", "longa vida ao novo rei". Muito obrigado por tudo, mister Amorim, boa sorte, mister João Pereira!!! Deixem-me sonhar...

 

"Aquele que já não consegue sentir espanto nem surpresa está, por assim dizer, morto; os seus olhos estão apagados." - Albert Einstein

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeres. Menções honrosas: Israel, Maxi, Pote (para Martinez ver), Trincão, Quenda e todo o sector defensivo (como entrou bem o Quaresma!)  

c3333333333333ity2.jpg

02
Nov24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Do Póquer ao Black Jack (21)


Pedro Azevedo

IMG_3506.jpeg

Bem sei que houve um Tratado de Windsor que nos uniu, mas estou cansado de alianças com ingleses que inevitavelmente terminam com eles a levarem o nosso ouro. Foi assim nas invasões francesas, com o Ronaldo, Nani, Viana, Bruno ou Matheus, assim será também com o Ruben Amorim. Apesar de tudo, o acordo não foi mau: o Ruben viajará no dia de São Martinho, mas as castanhas e a jeropiga ficarão cá, escondidas que foram da curiosidade inglesa. E o Gyokeres, também, para já. Mais do que de castanhas e jeropiga, ele agarra-se à chicha, uma notícia que no passado fez manchete do Correio da Manhã. À chicha bola, bem entendido. Resultado: ao intervalo já tinha marcado 3 golos. E, se, na antecâmara do jogo, o treinador do Estreia havia-se gabado de o Gyokeres nunca ter marcado ao seu clube, no fim caiu de quatro. É que para quem se propunha parar a locomotiva Gyokeres, o Estreia mostrou alguma falta de ferro (ou Ferro). Assim, na sequência de uma cava de roleta que fez um dia Varandas trazer o Amorim para Alvalade, o Gyokeres começou no póquer e acabou no Black Jack (21). É isso, com os 4 de ontem, são já 21 os golos que o sueco marcou esta época pelo Sporting !!! [Em abono do Estrela e do seu treinador (José Faria), diga-se que a equipa dividiu o jogo com o Sporting durante a primeira parte, tendo-se equivalido em remates à baliza.] 

 

O jogo serviu de aperitivo, de "amouse-bouche", para o prato-forte da noite: a conferência de imprensa onde Ruben Amorim iria explicar as razões para a sua saída para Manchester. Nao se tratou sequer de substituir o jogo jogado pelo jogo falado, foi mais trocar o jogo jogado pela rescisão falada. Ora, não é normal que um jogo fique em segundo plano e que os adeptos o queiram ansiosamente despachar em função de uma conferência de imprensa. Seja como for, se os adeptos o queriam, o Gyokeres tratou de lhes fazer a vontade rapidamente, e então abriram-se alas para Amorim entrar no auditório Artur Agostinho. Soube-se então que o treinador já havia anunciado ao presidente que o seu ciclo no Sporting terminaria no final desta época desportiva e que o interesse do Man Utd apenas antecipou esse fim, que ainda tentou que o contrato em Inglaterra só entrasse em vigor na próxima temporada, mas o United não aceitou. Uma alma mais cinica poderia ver aqui alguma falta de convicção do clube inglês, porque se o interesse é de longo prazo não seriam 7 meses que poderiam ser preenchidos por um interino a fazerem uma grande diferença. Seja como for, o que parece certo é que o United se quis antecipar a um eventual interesse do rival City, agora que se sabe que Viana ingressará no clube de Maine Road e Guardiola ainda não decidiu renovar. Com isso, repetiu o folhetim Ronaldo, cobiçado pelo City e contratado pelo United. Um folhetim que não acabou bem. Bom, mas isso já são contas de um outro rosário. Nós por cá só queremos que o ciclo de Amorim no Sporting termine em grande, fazendo assim jus a um trabalho excepcional desenvolvido em 5 anos que mudaram a sorte do nosso clube. Depois, venha o João Pereira e o bicampeonato.

 

Se no fim da época passada o tema era a aeronave, esta semana foi essencialmente boa para a promoção da CP, tantas foram as vezes em que se falou em comboios. De apanhar o comboio e também de comboios que não passam duas vezes. Infelizmente para os adeptos Sportinguistas, o Amorim trocou a gare de origem por um apeadeiro. Agora só se espera que não vá de carrinho (de Manchester)... 

 

Tenor "Tudo ao molho.": Vik Thor Gyokeres. Menção honrosa: Franco Israel.  

30
Out24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O Aníbal Amorim


Pedro Azevedo

Aníbal ficou conhecido tanto pelos seus brilhantes dotes de estratega quanto pelos seus elefantes. Todavia, com o caminho aberto para o triunfo (entrada em Roma), optou por mudar de ares, decisão que ainda hoje é considerada como controversa. Em consequência, acabou derrotado. Aquilo que Amorim se propõe fazer agora é semelhante, não deixando de ser figurativamente paradigmático da sua acção que tenha afirmado o seu desejo de retirar o elefante da sala. O problema é que o elefante foi para as bancadas, e agora os Sportinguistas estão de trombas. O ambiente sombrio que se viveu ontem em Alvalade assim o demonstra. A vida de um Sportinguista é do car(t)ago !!!...

A primeira parte do jogo evidenciou um conjunto de hesitações e de desligamentos de ficha que há muito não se viam numa equipa do Sporting. O choque está a ser grande e isso reflectiu-se em menores alegria e concentração. Foi então necessário recorrer a Gyokeres. O sueco não tem estados de alma. Na sua essência, ele é um elefante que, espera-se, não venha a ser retirado das salas de espectáculo onde actue o Sporting. E logo começou a causar estragos na porcelana nacionalista. Primeiro sacando um penalty, depois destruindo "à bomba" a última resistência insular, de forma livre e directa.

 

Os próximos dias dirão se Amorim vai apanhar o avião. A fazê-lo, talvez mais tarde (Janeiro) chegue um outro avião, esse de carga, para a viagem do elefante para o mesmo destino do seu treinador/adestrador, um enredo saramaguiano que permanecerá no sub-consciente de cada Sportinguista até ao início do novo ano. 

E nós? A gente vai continuar. Que remédio !...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeresexit.jpg

Mais sobre mim

Facebook

Apoesiadodrible

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub