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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

23
Abr25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

A Teoria Gyocêntrica


Pedro Azevedo

Ontem, a equipa de futebol do Sporting deslocou-se ao Parque Eólico dos Arcos, sito em Vila do Conde, para completar mais uma eliminatória da Taça de Portugal, esta afluente ao Jamor. A margem de erro era grande, mas havia ainda alguma expectativa quanto a saber como uma equipa a meio gás poderia lidar com outra ansiosa de utilizar uma energia alternativa. Porém, as dúvidas ficaram desfeitas mal o Gyokeres desatou a correr como se Vila do Conde fosse Munique e o cenário a final da Champions. O sueco ia moendo o juízo aos vilacondenses, mas estes apostaram que o resultado não seria trigo limpo farinha Amparo e começaram a bater-lhe sem piedade perante a passividade de um árbitro a precisar de um patrocínio urgente da Multiopticas. Até que houve um canto a nosso favor. Como o Debast não tem na sua natureza envolver-se em confusões na área, uma coisa estranha num central e que talvez explique a razão porque se adaptou razoavelmente bem a médio, logo avançou na direcção da bandeirola para bater a "bola parada". Com a sua reconhecida capacidade de passe, a bola foi direita a Gyokeres para este a pentear na direcção de Inácio que se limitou a desviá-la de Miszta, marcando assim o primeiro golo. Entretanto, o Pote lá ia pedindo ao corpo que transportasse a sua cabeça, mas as pernas nem sempre obedeciam aos impulsos das sinapses do seu cérebro. Ainda assim, a ligação com Gyokeres esteve sempre presente, assim como a intencionalidade de todas as acções do homem nascido em Vidago. 

Se a eliminatória estava mais do que bem encaminhada, a auto-estrada para o Jamor ficou definitivamente aberta quando Gyokeres cheirou o sangue e apareceu no sítio certo para ampliar a vantagem, o seu quadragésimo oitavo golo da época. Seguiu-se um plano de poupança de energia que foi garantindo serviços mínimos. Até que se produziu um apagão e durante 15 minutos o Rio Ave mais pareceu um River Bird em destaque na Premier League. Foi assim quando Olinho bailou entre 3 jogadores nossos e enviou um míssil que ricocheteou entre barra e linha de golo por duas vezes. E assim continuou quando, ia a noite já alta, o St Juste teve um ataque de sono e o Clayton aproveitou para oferecer o golo ao seu compatriota André Luiz. Entretanto, muito contrariado, o Gyokeres lá foi descansar, o que mostrou uma vez mais o Rui Borges como aquele pai que pela insistência por fim consegue que o filho vá dormir, que amanhã há escola e ele tem de estar fresco. Sem Gyokeres, e apesar da vontade de Harder de mostrar alguma coisa, o resto do tempo foi aproveitado pela equipa do Sporting para procrastinar. É que no Domingo há Bessa e convém ter os (cam)peões preparados para avançarem no xadrez boavisteiro. A caminho do xeque-mate final, na Luz. Desde que haja Gyokeres a um nível normal, o astro que tem todo o mundo leonino a rodar à sua volta. 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik "Thor" (não foi certamente o seu melhor jogo, mas marcou 1 golo e deu uma assistência).

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04
Abr25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O dia em que o mundo acabou e estranhamente ninguém notou


Pedro Azevedo

Poder sem autoridade e ar de luto sem razão são coisas muito difíceis de suportar para uma pessoa normal como eu. Passo a explicar: numa histeria colectiva só possível de entender em quem vê no lobbying internacional uma forma de disfarçar a falta de trabalho de casa, a comunidade futebolística nacional entrou em profunda consternação face à não eleição de Pedro Proença para o Comité Executivo da UEFA. Pelo que li, o revés foi o equivalente em comité caviar a termos perdido as Berlengas para uma conspiração universal de gaivotas e com isso o acesso aos melhores percebes, grandes e grossos. Eu é que não percebi nada, desde logo  porque a ideia de eleger um não-executor para um cargo executivo sempre me pareceu uma contradição nos termos. Ademais, é preciso ter noção, não estamos a falar de um infante D. Pedro, de um Vasco da Gama ou Pedro Álvares Cabral como representantes lusos nas melhores cortes europeias. O Proença é quanto muito um português assim-assim, num período quanto muito assim-assim da nossa história que pouco mais valerá do que uma nota de rodapé na grandiosa História de Portugal que os nossos netos irão ler. Vá lá, admitamos, tem uma cabeça (não uma mente, mas uma cabeça) brilhante. Portanto, há que contextualizar estas coisas. Nada porém que inibisse Proença, que logo escrevinhou um comunicado em que pelo que pude entender só a bola se salvou deste verdadeiro terramoto nacional que fez o de 1755 parecer uma coisa de meninos. É caso para pedir o colinho urgente do professor Marcelo. 


Estranhamente, em dia de luto nacional, a Federação não alterou a sua programação e em Alvalade houve jogo para a Taça. Proença havia dito que os jogadores iriam perder com a sua não-nomeação para a UEFA, mas o Gyokeres, talvez por ser sueco, não alinhou nesta alegria dos cemitérios e logo começou a trabalhar no duro, que é coisa que caracteriza quem vê o sucesso como uma consequência e não um direito. Quem sabe, SAAB: perdido por um, perdido por mil, as suas iniciativas foram desestabilizando a defesa do Rio Ave. Mas veio de um canto o canto do cisne dos vilacondenses, com Geny a desferir um pontapé de ressaca  que não deu hipóteses a Miszta. De seguida, o Maxi fugiu pela esquerda, deu na área no Geny e este foi à procura de deslizar a sua perna num adversário. O árbitro deu um penalty à portuguesa e o Gyokeres bateu à checa (Panenka). Czech-mate! 

 

Se a primeira parte valeu mais pelos golos do que pelo futebol jogado, na segunda jogámos à bola como gente grande mas não marcámos. Ou melhor, metemos a bola no Gyokeres e ele semeou classe pelo campo todo. Estranhamente, não colheu, o que prova que o futebol não é uma ciência mas sim um jogo em forma de arte em que há um objecto (bola) que por vezes ganha vida própria e se recusa a ser adestrado. Como aliás ainda alguns portugueses, aqueles que percebem a diferença entre estar com o Tomás ou contumaz, que é como quem diz que uma coisa é a obra-prima do Mestre, outra a prima do mestre-de-obras. Uma lição para o nosso candidato seven-up à UEFA.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeres

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18
Jan25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Sandes Miszta


Pedro Azevedo

Caro Leitor, enquanto em Alcochete, desde que chegou Rui Borges, voltou a reinar a tranquilidade, nos nossos vizinhos há sinais de que o sonho hegemónico, quiçá até imperialista, foi retomado a todo o vapor. Tanto é assim que descobri pela Comunicação Social que o Barreiro está no Seixal (e no Seixal, e em toda a CS, só se fala no Barreiro), e não por acção de um terramoto (ou mesmo da Transtejo Soflusa). O facto de o Barreiro não estar mais no seu lugar natural (o Barreiro) foi um coelho que só podia ter saído da cartola (hat-trick) benfiquista, sempre desejosa de puxar para as suas hostes todos aqueles que lhe puderem dar uma mãozinha, seja por via das desventuras do Boaventura. de funcionários dos tribunais e agora também através da anexação do Barreiro. Não sei se isto vai dar uma Guerra Penínsular (de Setúbal), mas espera-se a solidariedade da comunidade para com o Barreiro. É que surpreende ainda mais a ideia que nos vendem de que o Barreiro assim está em alta, principalmente porque toda a gente sabe que quem diz Barreiro, diz Baixa (da Banheira)...

 

Bom, mas isso são contas de outro rosário, que o que nos trouxe hoje aqui foi a visita do Sporting ao Rio Ave. Sir Francis Bacon, que foi um ilustre político, filósofo e cientista inglês, dizia que um homem esperto cria mais oportunidades do que aquelas que encontra. Lembrei-me disso ao pensar em Rui Borges, sem dúvida um treinador astuto e camaleónico tacticamente, virtudes que aliadas ao seu optimismo e atitude positiva (face a lesões e falhanço em contratações) vão conduzindo a nossa equipa num sentido tão ascendente que hoje nos proporcionou um final de tarde inesperadamente descansado no tão renovadamente difícil e rico eolicamente Estádio dos Arcos, em Vila do Conde. 

Com Debast no meio campo, mas a recuar e juntar-se a Diomande e ao regressado Inácio para o início de construção a 3, Rui Borges começou logo a surpreender. Petit pareceu baralhado e os seus jogadores idem, que não esperariam ver Maxi tão balanceado para a frente e na ajuda a Quenda no ataque. Sempre em superioridade numérica na esquerda, Rui Borges conseguiu assim libertar o joker Quenda para este espalhar magia. E espalhou, pelo que só um dia desgracado de Harder na finalização impediu uma goleada histórica. Ainda assim, deu para uma bela sandes Miszta: o Aderlan, em luta com o Fresneda, descobriu o queijinho (Manchego), o Hjulmand adicionou-lhe o Nobre fiambre dinamarquês e o Gyokeres, que esteve a maior parte do tempo no banco a serrar presunto, assim que entrou juntou o ingrediente final. E se foi Miszta, deveu-se também ao guarda-redes do Rio Ave, senão teria sido uma enorme club-sandwich. Assim mesmo, à inglesa, como o nosso Sporting. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Quenda

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07
Ago24

Eles que paguem as favas


Pedro Azevedo

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Após uma derrota traumatizante, mais até pela forma como ocorreu, nada melhor do que jogar logo a seguir. Jogar é terapêutico, o melhor remédio contra a dúvida, a ansiedade e a depressão. Do outro lado vai estar o Rio Ave, uma boa equipa mas a anos-luz do potencial do Sporting. Por isso, não podemos passar da euforia incontida para a depressão mais profunda, da vertigem de, qual Hummer, passarmos todos os adversários a ferro para o pânico de sermos atropelados pela carrinha de gelados da Olá (para refrescante já chegou o balde de agua fria que levámos em Aveiro). Pelo que então joguemos, joguemos e façamos recair sobre os vilacondenses a frustração do nosso desaire anterior, que é como quem diz, eles que paguem as favas. Que são verdes, uma das cores históricas do nosso equipamento (a outra é o branco), agora tricolor por imposição dos marketeers. E o Rio Ave nada? Não, dos rioavistas devemos esperar luta, ousadia e intrepidez próprias de quem se lança ao mar todos os dias sem saber se regressa. Assim é a sua natureza, e a natureza não mente nem se desmente. Então, não duvidemos nós da nossa natureza, do nosso ADN de leão, de um clube que nasceu para ganhar, e mostremos aos vilacondenses e ao mundo a raça de que somos feitos e a qualidade do nosso futebol. E, já agora, a qualidade também dos nossos jogadores, que só precisam de voltar a acreditar em si próprios, não se deixarem corroer pelo pessimismo e sentir o apoio e estímulo da melhor massa associativa do mundo. Marquemos então o reencontro com a nossa história para Sexta-feira, que o fim de semana passado foi apenas uma triste nota de rodapé numa história gloriosa e que se pretende que continue viva mais nos relvados do que no museu. 

26
Fev24

Tudo ao molho e fé em Deus

E dois pontos o vento levou...


Pedro Azevedo

Para um clube de fidalgos, visitar a vila de um conde enquadrar-se-ia perfeitamente dentro da normalidade do protocolo habitual nessas circunstâncias. Mas o conde de que falamos não deveria frequentar muito as cortes, nem servir-se do cofre real, e o resultado foi que a sua gente teve de fazer pela vida e para sobreviver educou-se mais no conteúdo do que na forma, no pragmatismo ou realismo, o que no futebol se traduz correntemente em meia bola e força, bola para o mato que é jogo de campeonato: não é fácil jogar em Vila do Conde. Exige conhecimento amplo sobre ventos e por vezes marés, navegabilidades, a Arte da Guerra e quais as melhores caneleiras. Nem todas as equipas sabem bolinar por entre os ventos, nem todos os jogadores compreendem as trajectórias de um bom biqueiro na bola ou no lombo, só a frieza de leitura do jogo de um treinador faz perceber qual a pontão que sustenta a estrutura do adversário que é preciso abordar, se tiver a sorte de ter armas para isso ou dinheiro para gastar em Janeiro.  

 

Com o Geny à deriva e o Diomande a não responder à chamada de socorro ao náufrago, cenas da vida marítima, cedo o Umaro Embaló(u) a tempestade. Fazendo jus à lenda, logo o Narciso meteu água (lance precedido de falta sobre Pote) ao validar o golo, dando razão a quem acha que ele não é flor que se cheire (sabe-se que depois do Narciso se ter afogado, Afrodite transfomou-o numa flor). Na baliza, o Jhonatan mostrava-se na hora H, agá que para ele é antecipado desde que os seus pais registaram (mal) o seu nome. Devido a essa emergência, cedo começou a defender, negando o golo ao Gyokeres (duas vezes) e ao Trincão. Mas o Morita soltou-se e quando o Morita solta o seu perfume, os adversários ficam de olhos em bico e aparece o melhor Sporting. Na ressaca, o Hjulmand marcou um bonito golo. Quem também soltou, mas a bola, foi o Adán. Por sorte ou azelhice de um jogador do Rio Ave, não deu golo. Sorte, desta vez do Rio Ave, e azelhice (do árbitro) que se repetiram mais tarde, quando o Nóbrega, com os pitões em riste, aplicou um golpe de ninja em cima do Trincão e escapou sem a grande penalidade. Bola cá, bola lá, mais uma desatenção do nosso lado direito e bola no poste. Até que o Amine teve um atraso (mental) que correu mal e o Gyokeres explodiu com as redes do Rio Ave - foi o 30º golo do sueco e o 100º do Sporting na temporada. Estávamos finalmente em vantagem, ainda por cima com o intervalo a chegar. Só que o Nuno Santos ensarilhou os seus pés entre as pernas de um Costinha de frente para ele, oxímoro que melhor explica o absurdo do sarilho de um penálti e nova igualdade no marcador. 

 

Como o Diomande estava a meter água à direita, para o segundo tempo o Rúben decidiu que ele passaria a meter água pela esquerda a fim de equilibrar as contas (entrou Quaresma para central pela direita). Com isso saiu o Inácio, e com ele os passes rasos entre-linhas que são tão penalizadores para quem nos quer pressionar em cima. Pressão que o Rio Ave idealizou e realizou, desde o reatamento, impedindo que o Sporting partisse confortável para a frente. Desconforto que aumentou quando Quaresma se deixou sobrevoar e Adán hesitou como sempre em sair da baliza e acabou por colidir calamitosamente com o isolado avançado rioavista (Aziz). Do penálti consequente resultou a segunda vantagem do Rio Ave no marcador. Lá apareceu de novo o Morita, de surpresa. E o Coates, ainda sem a lança, empatou, mostrando que um simples central também pode marcar golos. Depois, o Amorim lá o investiu de Central de Lança, um provável resquício futeboleiro (quando não um tique) de um pós-25 de Abril em que os capitães eram graduados em generais. Até ao fim, o Gyokeres continuou a levar pancada. Curiosamente, à medida que o jogo se encerrava, o árbitro foi-se mostrando mais compreensivo com as perdas de tempo dos rioavistas, beneficiando-os com cartões amarelos e até um encarnado, tudo o que no fundo fizesse o relógio avançar e a falta de senso não compensar. Nesse transe, chegou a enviar para casa o Renato, que Pantalon (calças) não é farda que se apresente ao trabalho de um jogador de futebol. [Sim, o Pantalon não pode ter sido expulso à beira do fim por mais uma de muitas outras pauladas que o Gyokeres apanhou e passaram sem admoestação, quando não sem falta, durante todo o jogo.]

 

Pela primeira vez, senti a equipa pressionada. Como se, após o Carnaval, lhe tivesse caído a máscara da tranquilidade. Também não ajudou à festa que em tempo de Quaresma este tivesse ficado de fora, mas pode ter sido devido a uma qualquer penitência mais própria da quadra que vivemos a que Rúben se tenha sujeitado. O que é certo é que se queremos amêndoas docinhas na Páscoa, melhor será recuperarmos o foco. Porque alguma coisa teremos de recuperar, já que mais um interior ou ponta de lança serão irrecuperáveis até ao final da época. Até lá, seguimos crónica a crónica (que com a pressão também têm os seus dias).

 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres. Hjulmand (se fosse só pela primeira parte, em que marcou 1 golo e recuperou ou antecipou inúmeras bolas, teria sido o melhor), Morita (esteve em 2 golos e no que poderia ter sido outro) e Coates bem. Pote, Edwards, Adán e Diomande: zero. Os outros: neutro.

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23
Fev24

Antevisão a Vila do Conde


Pedro Azevedo

Esta malta que vai ao mar e enfrenta tempestades, enrijece de cada vez que chora o não regresso dos seus entes queridos. Gente assim pode vacilar, mas não quebra. Luta até ao fim, porque a vida como lhes foi ensinada é de luta constante. Vive para lutar e luta para viver. Por isso, não podemos encarar o jogo de Vila do Conde com tibiezas ou hesitações. Se o fizermos, eles lançam-nos as redes e vencem-nos pelo arrasto. Não se pode pensar em ir fazer uma peladinha, sob pena de no fim acabarmos nós pelados. De pêlos nas canelas. De pontos. Venha então o Sportingão que não faz gestão. O de Moreira ou de Vizela, o da Casa Pia, que não faz concessões. Caso contrário, estaremos a brincar com o fogo. Que por vezes arde sem se ver. Como o metanol, que queima. Também como o amor que esta gente nutre pela (sua) terra, apego que se explica por ser o único porto seguro de quem joga a vida diariamente no mar. 

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26
Set23

Tudo ao molho e fé em Deus

O Tsubasa a tabelar com o Kierkegaard


Pedro Azevedo

Caro Leitor, o Morita é bom demais! Tão, tão bom que justifica o epíteto de Tsubasa, ou não parecesse ele saído dos desenhos animados. À técnica soberba, notória em recepções imaculadas e numa qualidade de passe que o faz com um coice na bola descobrir um colega a 10 metros por entre uma floresta de pernas, ele alia a dinâmica que torna tão pequeno um campo de futebol que até parece caber num quadradinho de uma manga japonesa. E se BD é anime, eu não podia ter maior animação ao ver um jogador assim. Ontem deu uma assistência a Paulinho que este não podia falhar.

 

Outro craque em evidência foi o Edwards. A quem só falta consistência. O inglês tem dias em que me faz lembrar o Philosophy Football, o brilhante sketch dos seus compatriotas Monty Python que nos propõe um jogo de futebol entre pensadores alemães e gregos onde o alheamento da bola é total e a letargia só é interrompida quando Arquimedes exclama "Eureka!" ou Karl Marx aquece junto à linha lateral envergando um apertado fato de treino vermelho a contrastar com uma larga barba grisalha. Eu olho para o Edwards e vejo um existencialista, um ser a maior parte do tempo angustiado e à procura de respostas sobre o significado, propósito e valor da existência humana. Uma espécie de Soren Kierkegaard (terá escapado ao nosso Scouting?) do Sporting, mas com menos nome de jogador que este "ponta de lança" nascido no mesmo reino de Hjulmand. Mas quando se liberta dessa carga e só pensa em jogar futebol, o Edwards é um conto de fadas, a resposta sobre o significado, propósito e valor da existência de um jogo de futebol. Como provou ontem com um golo do outro mundo. Não deixa de ser um caso curioso. 

 

O jogo? Uma primeira parte a todo o gás e uma segunda cheia de "conservativos", que houve Europa a meio da semana e isso no gíria dos treinadores significa controlo mal a casa do vizinho é arrombada. (Uma pergunta: será preciso a nossa ser arrombada para o Trincão ficar à porta?)  

 

Estamos em primeiro!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Hidemasa Morita

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