Quaresma e Rui Jorge
Pedro Azevedo
Estalou a polémica sobre a "auto-exclusão" de Eduardo Quaresma do Euro de sub-21, após umas declarações de Rui Jorge que foram particularmente arrasadoras para o jogador, em modo crucificação, o que no caso de um jogador com nome de Quaresma até nem será de estranhar.
Se eu fosse jogador de futebol, não tenho dúvidas de que seria para mim um privilégio representar a "Equipa de Todos Nós". Mas, vamos a factos: Eduardo Quaresma tem 23 anos, não é propriamente um sub-21, embora os possa representar em face das regras vigentes. E fez um campeonato excelente, que o recomendaria para o patamar acima, a equipa A de Portugal. É por isso natural que a sua motivação intrínseca para representar o país neste escalão não seja a melhor, ainda mais após uma época para ele particularmente exigente do ponto de vista físico. Está esgotado o jogador, do ponto de vista físico e também mental, e terá sido isso que comunicou a Rui Jorge como resposta à prévia inquirição do Seleccionador (pormenor que vejo ser desvalorizado nas análises). Este não reagiu bem, o que também se aceita. Mas a partir do momento em que optou por o verbalizar, sujeitou-se ao contraditório que agora venho exercer.
Começo por dizer que não é a acéfala clubite que me norteia, apenas os factos e só os factos. Facto 1: Eduardo Quaresma nunca foi um titular indiscutível para Rui Jorge desde que é elegível para os sub-21 (mesmo que tendo mais idade e experiência que os demais). Suspeita-se assim que não seria imprescindível para o treinador. Facto 2: existe o precedente de alguns clubes pedirem a exclusão de alguns dos seus jogadores elegíveis para as selecções nacionais com base na prevenção de problemas físicos. O facto de o Sporting não o ter feito não significa que o jogador não sinta não estar nas melhores condições, ele que foi acometido de várias maleitas durante a época. Facto 3: tendo já 23 anos e na sequência de brilhantes prestações durante a época, é natural que o jogador ambicione a Selecção princípal. Facto 4: se é verdade que o treinador é soberano nas suas opções, estas, ao longo do tempo, não deixam de ser escrutináveis. Nesse sentido, causou espanto na época que Pote, na altura (2020/21) melhor jogador e marcador do campeonato, fosse nos sub-21 suplente de Jota, um ex-junior promissor do Benfica cuja careira profissional ainda não confirmou o imenso potencial precocemente detectado. Ou que Gonçalo Inácio tenha chegado à Selecção A antes de ser notado pelos sub-21, numa época em que o Sporting foi campeão e ele um titular indiscutível.
Espero que esta polémica fique por aqui porque na verdade não me parece que a atitude do Eduardo Quaresma tenha sido tão lesa-pátria como agora se quer fazer crer. Creio no entanto que é importante prevenir que situações análogas não voltem a acontecer, o que na minha opinião passará também por critérios mais justos, coerentes e transparentes dos selecionadores envolvidos nestes processos de decisão.






