Tudo ao molho e fé em Gyokeres
Um Pinheiro a empatar a acção no campo
Pedro Azevedo
Uma visita ao campo do FC Porto é uma experiência que muitas vezes (demasiadas?) deve ser enquadrada no conjunto de fenómenos ditos paranormais. Lá, o Sporting já viveu no inferno de (Alder) Dante, não sofrendo o único golo na história do futebol mundial marcado com a mão mas sim o único golo marcado com a mão por um apanha-bolas (e, ainda assim, vencemos por 3-2), ou jogou boa parte do tempo com 8 jogadores contra 11 (e, ainda assim, empatámos por 3-3). Nas antigas Antas vi, por exemplo, um santo de altar polaco, incapaz de fazer mal a uma mosca (Juskowiak), ser expulso após uma entrada assassina de um "cara" que dentro do campo gozava connosco e não era pouco. Também aí acabámos com 8 e Peixe e Juskowiak impedidos de defrontar o Benfica no jogo dos 6 a 3. De uma outra vez, observei um golo limpo ser invalidado ao Manuel Fernandes e um penálti fictício ser atribuído ao Biffe, mais tarde falhado e repetido ad- nauseam até finalmente a bola entrar na baliza do nosso Vaz. Paralelamente, os "caldinhos" foram e continuam a ser o paradigma dessas visitas, com o Matheus Reis como alvo principal recente. As tácticas, as dinâmicas do jogo, as qualidades individuais e colectivas das nossas equipas nunca foram determinantes nas visitas do Sporting ao FC Porto. As circunstâncias, sim. Logicamente, na ausência de nevoeiro, um apanha-bolas não pode ser goleador. Mas um Pinheiro manso, plantado no relvado, pode dar jeito. "Bravo!" - dirão os portistas sobre a actuação do mesmo. O Pinheiro de que Vos falo insere-se em algo muito superior a ele próprio. Surge aqui parabolicamente para nos explicar a diferença entre a realidade e a percepção que dela temos. A percepção que temos da realidade é a de que Pinto da Costa era o Lobo Mau e que, comparados com ele, André Villas-Boas, Jorge Costa e Zubizarreta são os 3 Porquinhos, sendo o André, o Prático, que em alvenaria reconstruiu um edifício que fez com que o Lobo Mau não soprasse mais (velas na presidência do Porto). Porém, a realidade presente na mente dos árbitros assemelha-se mais à Alegoria da Caverna, de Platão, onde, apesar de na Liga do senhor Proença nos quererem fazer crer que o mundo mudou, a ideia de mudança é errónea (mesmo sem guarda Abel) e há quem continue a viver acorrentado a falsas crenças, preconceitos e ideias enganosas que no final determinam resultados.
O Sporting perdeu nos últimos instantes a possibilidade de vencer no Dragão e eliminar definitivamente o Porto da corrida pelo título. E teve as melhores oportunidades de golo, mesmo num segundo tempo em que o Porto foi melhor e chegou mesmo a asfixiar pela pressão constante. Claro que para isso também ajudou o Pinheiro ter feito disciplinarmente vista grossa a uma entrada de Eustáquio que tirou Simões do campo ou o Djaló ter executado um mata-leão sobre o Harder dentro da área portista com a complacência do árbitro e o encobrimento tácito da SportTV, que nesse lance decidiu editar umas imagens filmadas a partir da Lua para assim testar a acuidade visual dos telespectadores. Evidentemente, houve também 2 penáltis, um quando o mesmo Djaló agarrou e imobilizou o Gyokeres na área, outro quando Quenda foi atropelado. ao abrir uma passadeira para golo, por Zé Pedro. Mas como este fez a bola mexer - "E pur si muove" (e no entanto ela mexe-se), diria Galileu, que também ele receava as arbitragens (da Santa Inquisição) - , após uma pantufada dois-em-um no joelho e pé direito de Quenda, o árbitro sentenciou que era "business as usual" e com o silêncio cúmplice do VAR Tiago Martins massajou o ego portista com um final feliz que consistiu em eliminar dois jogadores do Sporting antes da marcação de um canto que poderia ser perigoso, tornando assim a nossa vida mais difícil no futuro, que no presente já pouco mais prejuízo poderia haver.
Obviamente, não foi só por acção do árbitro que o Sporting não ganhou. Este novo Porto promete e jogou muito quando Anselmi juntou a criatividade de Fábio Vieira à de Mora, mais tarde reforçada com a adição de Gonçalo Borges. E aproveitou bem o único erro de Diomande em todo o jogo, que afundou a linha de fora de jogo, para empatar a partida nos seus últimos instantes. Fez-se justiça em termos de caudal de jogo, mas as melhores oportunidades foram do Sporting, com Harder (duas vezes) e Quenda a desperdiçarem bolas de golo. No fim, houve empate. Um empate que empata mais o Porto que nós, que continuamos na frente, ainda que com uma vantagem para o Benfica que presumivelmente será encurtada para 4 pontos. O futuro dirá se ganhámos 1 ponto ou se perdemos 2. Dependerá das culturas que tivermos pela frente. [Um dia, no rugby da Agronomia, contaram-me uma história relacionada com um professor do Instituto (ISA) que teria desafiado os seus alunos a plantarem uma árvore em pleno campo de rugby. Lembrei-me deste episódio surreal ao observar que ontem houve um Pinheiro a obstaculizar a acção no Dragão. O que se lhe seguira? Um(a) Oliveira em Aves? O tempo o dirá.]
Tenor "Tudo ao molho...": Quenda, pelo lance mágico do golo do Sporting, que meteu túnel e ultrapassagem em excesso de velocidade. Hjulmand foi imponente até aos 75 minutos e Diomande teria sido o melhor em campo não fora o deslize final (e fatal). Maxi muito bem no primeiro tempo e até ceder ao cansaço e o Fresnove voltou a mostrar os seus dotes de segundo avançado.