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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

12
Jun24

Tudo ao molho e fé em Deus

Bob Descartes


Pedro Azevedo

Os jogos de preparação para uma grande competição servem essencialmente para o seleccionador tirar as últimas dúvidas sobre os jogadores e o sistema a utilizar no arranque oficial, assim a jeito de um ensaio geral repetido tantas vezes quantas as necessárias para garantir que a "máquina" fica bem "oleada". Assim acontece um pouco por todo o mundo. Em todo o mundo menos numa "pequena aldeia de irredutíveis gauleses", que por acaso até são portugueses. É verdade, na antecâmara do Euro, por via da sua costumeira originalidade, Portugal tem agora mais dúvidas do que certezas: a outrora garantida linha de 4 defesas está agora ameaçada pelo sistema dos 3 centrais. Assumindo que o meio campo será a 3, Vitinha deixou de ser uma certeza, podendo ser preterido em função de João Neves. Mais, acertar nos 2 laterais (alas?) que serão titulares parece agora um exercício com um coeficiente de dificuldade semelhante a ganhar o Euromilhões. E, na frente, há a incerteza sobre se a táctica será ajustada para poder incluir um vagabundo Félix (há que reabilitar o "Menino de Ouro", nem que para isso tenhamos de entrar em campo com 1 a mais) ou se o Jota se submeterá humildemente ao 4-3-3 tradicional. Pelo que a única certeza que ficou destes jogos a brincar foi que o Ronaldo será titularíssimo, o que deve estar a dar alguma azia aos "haters" do costume que acham que o Cristiano é o grão de areia que atrapalha o bom funcionamento da "máquina". Viu-se...

 

Aos 39 anos, o Cristiano Ronaldo marcou um golo após um trabalho individual soberbo, fez outro através de uma finalização de primeira de alto nível e ainda enviou um livre directo ao ferro e isolou o Dalot com um passe magnífico. Entre outras minudências que, por exemplo, enfolam o ego e a conta bancária ao Félix mas para o Ronaldo são só um "amouse bouche" para o prato principal que vem a seguir. Será titular de caras. Tal como o Diogo Costa e o Bruno Fernandes. E o Rúben Dias. Também o Bernardo, pelo estatuto. E o Pepe, se estiver bem. Daí para a frente é uma incógnita. Quer dizer, o Palhinha seria titular em 99,9% das selecções e clubes do mundo, mas na nossa nunca se sabe. E o Félix suspeito que jogará de início, pois já se percebeu ser um amor (de perdição?) de Martinez. O resto logo se verá. E quanto aos sistemas, tanto quanto se sabe, poderemos jogar em 4-3-3, 4-4-2, 3-4-3 ou 3-5-2, uma flexibilidade táctica que lembra os tempos de Silas no Sporting e faria o Rúben Amorim perder o cabelo todo em apenas 45 minutos. 

 

No fundo, as "convicções" de Roberto Martinez assemelham-se à dúvida metódica de René Descartes: Martinez duvida sistematicamente que cada uma das suas crenças seja verdadeira ("Bob, o Desconstrutor"), a fim de construir ("Bob, o Construtor") a partir do zero um sistema de crenças que consista apenas em crenças certificadamente verdadeiras. Com uma única excepção: Félix. No final se verá se a certificação obedecia aos critérios de qualidade ISO e se muitas opiniões tidas como verdadeiras não se revelarão como falsas. Mas para já é preciso começar. Do zero, que da dúvida metódica virá a luz. Se a dúvida falhar, pode sempre avançar o Ronaldo... (Hoje avançou, ou não fosse o Cristiano também Aveiro.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Cristiano Ronaldo

cr irl.jpg

09
Jun24

Tudo ao molho e fé em Deus

Do mito à realidade


Pedro Azevedo

Não sei se as Ilhas Faroé, Andorra, Gibraltar, Malta, Chipre ou outros colossos do futebol mundial não estavam disponíveis nesta janela de preparação para o Euro, o que sei é que não havia necessidade de trazer uma selecção de veteranos da Croácia para provar de uma vez por todas a eloquência do futebol de Félix, 120 milhões esvanecendo-se no relvado sob a forma de uma total inconsequência. Mas como com o senhor Martinez aprendemos que a Selecção é um espaço de recuperação de inválidos do comércio e de perpetuação de propaganda sobre figuras da mitologia jornalística nacional, o processo decorre conforme o previsto. A única maçada é que vem aí o Euro, e com ele uma desnecessária exposição a objectivos que não são o núcleo central da acção de um seleccionador nacional. Mas isso é o menos, o pior é que de tanto se procurar transformar mitos em realidade, acaba-se por tratar mal as poucas realidades que não são aparentes ou confundíveis com percepções nem sempre condizentes com o que é real. É o caso do Ronaldo. Nesse sentido o dia de ontem foi muito mau para os estatísticos de amostras de uma observação só, aqueles sempre pródigos a elogiar o fluidez do jogo nacional quando o astro português não está em campo. Tal como o jogo com Marrocos já tinha mostrado à evidência, embora eles teimem em não querer ver. No fundo, o mesmo ensaio sobre a cegueira que os fez embandeirar em arco com o pleno de vitórias sobre a fina flor do terceiro mundo do ludopédio mundial. Ensaio do qual se deve excluir o senhor Martinez: enquanto outros põem a cabeça na areia como a avestruz, ele aprende. Ou diz que aprende, elogiando os méritos destas derrotas e qualificando-as como muito importantes. Como já havia acontecido na Eslovénia ou de cada vez que levamos dois golos de adversários menores. Porque o importante é preparar o Mundial de 2026 e aí perder com estilo para melhor acolher o Euro 2028. E assim sucessivamente. Nesse sentido, Martinez não representa uma evolução face a Fernando Santos: Martinez não é a versão 2.0 de Fernando Santos, mas sim a sua versão beta, sempre disposto a elogiar uma "excelente" pergunta de um jornalista ou a compadecer-se com os azares daqueles que nunca convocou. Pelo que se prevê que continuemos a pedir a Palhinha que, sozinho, segure o peso do mundo, qual Atlas das transições defensivas, em vez de o ajudarmos, pondo-lhe à frente um Matheus Nunes. E que o Diogo Jota continue a ser preterido pelo Félix, numa equipa onde só Ronaldo e Bruno têm golo e para quem as balizas não exercem um fascínio por aí além. Porque a nossa onda é andar a filosofar pelo campo adentro, o Cancelo a mostrar-nos as virtudes e contradições do livre-arbítrio, o Vitinha a ser tese e antítese hegeliana ao mesmo tempo, o Félix a lembrar-nos o existencialismo como Heidegger o vê. Até que o Arquimedes que há em Ronaldo exclame Eureka! ou o Kierkegaard existente no Bruno elucide o Bernardo e todos os outros que a  vida só se compreende olhando para trás mas só se vive para diante. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Diogo Jota

croacia.jpg

05
Jun24

Tudo ao molho e fé em Deus

Rena va plus


Pedro Azevedo

A Finlândia é um país onde acontecem sortilégios como o Sol da Meia Noite no Verão, a Aurora Boreal no Inverno ou o Pai Natal todo o ano em Rovaniemi (Lapónia). A inclusão aqui do Pai Natal não foi inocente, na medida em que é preciso acreditar muito nele para imaginar uma equipa finlandesa como a que nos visitou ontem competitiva no futebol. É certo que houve um Litmanen, que marcou uma década no Ajax, mas essa foi a excepção que confirma a regra da mediania do futebol finlandês. Pelo que nem o sangue de rena - elas até voam nas mãos, lá está, do Pai Natal - que valeu ao Lasse Viren bater o nosso Carlos Lopes em Montreal lhes tem servido ao longo dos tempos, que no futebol a bola deve correr mais do que o jogador e para isso é necessário talento. Como tal, foi o adversário ideal para dar continuidade a um grupo de qualificação onde pontificaram vários países do terceiro escalão do futebol mundial, ficando por revelar o que ocorrerá quando defrontarmos um adversário de primeiro nível: será a Aurora Boreal que fará luz sobre o Inverno do nosso descontentamento ou o Sol da Meia Noite de um sonho de uma noite de Verão? (Ou como com uma tirada Shakespeariana a armar ao inteligente se procura desesperadamente esconder a falta de ideias e encher o chouriço de uma crónica.)

 

Se o Pai Natal é omnipresente só em Dezembro, o Palhinha é omnipresente no ano inteiro em tudo o que envolve estádios de futebol. Ele parece ter o dom da ubiquidade: em cada palmo de relva, na bancada a vender nougats, no bar a servir umas imperiais, em todo o lado e ao mesmo tempo há Palhinha. Não admira por isso que, para quem vive o futebol como quem bebe de um trago só (o público), ele caia no goto, que é coisa que não ocorre a quem no relvado se submete ao filtro de Palhinha. É verdade, com ele em campo o adversário não mexe um(a) Palhinha, não assusta, não incomoda. Ele é o seguro de vida do senhor Martinez e a razão por trás dos sonhos de todos os portugueses. Porque já não é só mais do que notório na repressão, qual guarda florestal que contrabalança a acção de uns quantos espalha-brasas. Sim, em matéria florestal ele continua a ser o eucalipto que nada deixa crescer à volta, mas agora também é o pinheiro que domina o jogo aéreo e o azevinho que ornamenta belas jogadas de ataque com os seus venenosos passes entre-linhas. Não é a árvore, é a floresta toda. Por exemplo, às tantas o Puki marcou 2 golos de rajada. "Puki"? "Puki" o Palhinha já não estava no relvado. Estavam outros, jovens estrelas ainda na idade dos "Pukis", mas Palhinha só há um.

 

Outro que não engana é o Bruno. Rematar como ele só o Ronaldo dos melhores dias. E depois ainda tem o "plus" de ser um treinador dentro do campo, o que pode dar algum jeito caso o seleccionador seja tão mau a dar a táctica como a explicar as convocatórias. E não posso esquecer o Diogo Jota, que é do meu particular agrado: um faz-tudo simultaneamente empreendedor e solidário, mais combativo do que a sua envergadura recomendaria, melhor cabeceador do que a sua altura prognosticaria, mais veloz do que o seu biotipo avaliaria, melhor goleador do que a sua posição no terreno atestaria. No fundo, supera-se. E eu creio que é de jogadores assim que se pode sempre esperar um golpe de asa quando outros já baixam os braços.

 

Uma nota final para o Chico Sansão (ele que não corte o cabelo), que espalhou brasas como o prometido, Vitinha, que se espera que no fim seja tão bom para a barriga quão agradável é para a vista (ainda tenho as minhas dúvidas), Pedro Neto, um furacão na ala esquerda, e Nuno Mendes, um regresso que se saúda. 

 

E pronto, temos os nossos 26, rien ne vas plus. A Finlândia também não vai (ao Euro), mas marcou-nos dois golos (a rever). Ficou a ideia de que o grupo não é tão homogéneo assim, no sentido em que não há um substituto à altura de Palhinha, por exemplo. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Palhinha

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