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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

08
Fev25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Um Pinheiro a empatar a acção no campo


Pedro Azevedo

Uma visita ao campo do FC Porto é uma experiência que muitas vezes (demasiadas?) deve ser enquadrada no conjunto de fenómenos ditos paranormais. Lá, o Sporting já viveu no inferno de (Alder) Dante, não sofrendo o único golo na história do futebol mundial marcado com a mão mas sim o único golo marcado com a mão por um apanha-bolas (e, ainda assim, vencemos por 3-2), ou jogou boa parte do tempo com 8 jogadores contra 11 (e, ainda assim, empatámos por 3-3). Nas antigas Antas vi, por exemplo, um santo de altar polaco, incapaz de fazer mal a uma mosca (Juskowiak), ser expulso após uma entrada assassina de um "cara" que dentro do campo gozava connosco e não era pouco. Também aí acabámos com 8 e Peixe e Juskowiak impedidos de defrontar o Benfica no jogo dos 6 a 3. De uma outra vez, observei um golo limpo ser invalidado ao Manuel Fernandes e um penálti fictício ser atribuído ao Biffe, mais tarde falhado e repetido ad- nauseam até finalmente a bola entrar na baliza do nosso Vaz. Paralelamente, os "caldinhos" foram e continuam a ser o paradigma dessas visitas, com o Matheus Reis como alvo principal recente. As tácticas, as dinâmicas do jogo, as qualidades individuais e colectivas das nossas equipas nunca foram determinantes nas visitas do Sporting ao FC Porto. As circunstâncias, sim. Logicamente, na ausência de nevoeiro, um apanha-bolas não pode ser goleador. Mas um Pinheiro manso, plantado no relvado, pode dar jeito. "Bravo!" - dirão os portistas sobre a actuação do mesmo. O Pinheiro de que Vos falo insere-se em algo muito superior a ele próprio. Surge aqui parabolicamente para nos explicar a diferença entre a realidade e a percepção que dela temos. A percepção que temos da realidade é a de que Pinto da Costa era o Lobo Mau e que, comparados com ele, André Villas-Boas, Jorge Costa e Zubizarreta são os 3 Porquinhos, sendo o André, o Prático, que em alvenaria reconstruiu um edifício que fez com que o Lobo Mau não soprasse mais (velas na presidência do Porto). Porém, a realidade presente na mente dos árbitros assemelha-se mais à Alegoria da Caverna, de Platão, onde, apesar de na Liga do senhor Proença nos quererem fazer crer que o mundo mudou, a ideia de mudança é errónea (mesmo sem guarda Abel) e há quem continue a viver acorrentado a falsas crenças, preconceitos e ideias enganosas que no final determinam resultados. 

O Sporting perdeu nos últimos instantes a possibilidade de vencer no Dragão e eliminar definitivamente o Porto da corrida pelo título. E teve as melhores oportunidades de golo, mesmo num segundo tempo em que o Porto foi melhor e chegou mesmo a asfixiar pela pressão constante. Claro que para isso também ajudou o Pinheiro ter feito disciplinarmente vista grossa a uma entrada de Eustáquio que tirou Simões do campo ou o Djaló ter executado um mata-leão sobre o Harder dentro da área portista com a complacência do árbitro e o encobrimento tácito da SportTV, que nesse lance decidiu editar umas imagens filmadas a partir da Lua para assim testar a acuidade visual dos telespectadores. Evidentemente, houve também 2 penáltis, um quando o mesmo Djaló agarrou e imobilizou o Gyokeres na área, outro quando Quenda foi atropelado. ao abrir uma passadeira para golo, por Zé Pedro. Mas como este fez a bola mexer - "E pur si muove" (e no entanto ela move-se), diria Galileu, que também ele receava as arbitragens (da Santa Inquisição) - , após uma pantufada dois-em-um no joelho e pé direito de Quenda, o árbitro sentenciou que era "business as usual" e com o silêncio cúmplice do VAR Tiago Martins massajou o ego portista com um final feliz que consistiu em eliminar dois jogadores do Sporting antes da marcação de um canto que poderia ser perigoso, tornando assim a nossa vida mais difícil no futuro, que no presente já pouco mais prejuízo poderia haver. 

Obviamente, não foi só por acção do árbitro que o Sporting não ganhou. Este novo Porto promete e jogou muito quando Anselmi juntou a criatividade de Fábio Vieira à de Mora, mais tarde reforçada com a adição de Gonçalo Borges. E aproveitou bem o único erro de Diomande em todo o jogo, que afundou a linha de fora de jogo, para empatar a partida nos seus últimos instantes. Fez-se justiça em termos de caudal de jogo, mas as melhores oportunidades foram do Sporting, com Harder (duas vezes) e Quenda a desperdiçarem bolas de golo. No fim, houve empate. Um empate que empata mais o Porto que nós, que continuamos na frente, ainda que com uma vantagem para o Benfica que presumivelmente será encurtada para 4 pontos. O futuro dirá se ganhámos 1 ponto ou se perdemos 2. Dependerá das culturas que tivermos pela frente. [Um dia, no rugby da Agronomia, contaram-me uma história relacionada com um professor do Instituto (ISA) que teria desafiado os seus alunos a plantarem uma árvore em pleno campo de rugby. Lembrei-me deste episódio surreal ao observar que ontem houve um Pinheiro a obstaculizar a acção no Dragão. O que se lhe seguirá? Um(a) Oliveira em Aves? O tempo o dirá.]

 

Tenor "Tudo ao molho...": Quenda, pelo lance mágico do golo do Sporting, que meteu túnel e ultrapassagem em excesso de velocidade. Hjulmand foi imponente até aos 75 minutos e Diomande teria sido o melhor em campo não fora o deslize final (e fatal). Maxi muito bem no primeiro tempo e até ceder ao cansaço e o Fresnove voltou a mostrar os seus dotes de segundo avançado. 

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08
Jan25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Que grande 31!


Pedro Azevedo

Numa Liga ainda(!) presidida por um Pedro Proença que acredita que o anteriormente competitivo futebol português, que já foi capaz de vencer quatro Champions, uma Taça dos Vencedores de Taças e duas Ligas Europa, voltará em todo o seu esplendor de Choupana-Quibir num dia de nevoeiro, enquanto o Porto foi de passeio até à Pérola do Atlântico - um mistério da fé, ou não se tratasse da quadra natalícia -, o Sporting deixou a pele num duelo muito intenso na Cidade Berço. Assim, enquanto os Dragões puderam descansar e focar-se imediatamente na Taça da Liga, os Leões tiveram de ir a jogo e subsequentemente recuperar fisiologicamente os jogadores que actuaram em Guimarães, ao mesmo tempo que com rezas e mezinhas procuravam resgatar da enfermaria de Al Cochete um ou dois dos inúmeros entretanto coxos caídos em combate que por lá se vão acumulando. Dir-se-ia assim que o Sporting chegava com armas desiguais a esta semi-final com o Porto, mas os jogos não se perdem antecipadamente quando se é de uma raça que nunca se verga. E assim apresentámo-nos em Leiria. 

O Porto começou melhor, aproveitando o espaço que a linha recuada dos Leões foi cavando para o seu meio campo. Nessas entrelinhas foi-se destacando o que parece ser o clone perfeito de João Vieira Pinto, um miúdo com pinta de malabarista da bola que dá pelo nome de Rodrigo Mora, que logo se evidenciou com um toque de calcanhar seguido de passe açucarado para um remate perigoso à baliza de Israel. Em contraste de estilo, o Samu abusou da canela do meio campo até à nossa área e chegou a ameaçar rematar, mas o Fresneda interpôs-se e tudo acabou num pastel de nada. Terminadas as aproximações perigosas do Porto à nossa área, que oportunidades de golo são outra coisa, logo equilibrámos a coisa: primeiro, num slalom gigante de Gyokeres que ultrapassou portistas como se fossem bandeiras até rematar rente ao poste, depois num tiro defiectido de Quenda que quase enganava o Cláudio. Chegava o intervalo. 

Se no primeiro tempo os Leões foram ineficientes na saída para o ataque, especialmente na ala direita - numa jogada típica de bowling, o Fresneda chegou a mandar violentamente a bola contra o Geny como se este fosse um pino - , no reatamento o Sporting surgiu a atacar por todo o lado. Mas a mina estava no corredor central, mais concretamente no espaço que já no primeiro tempo se percebia existir nas imediações da meia-lua da área portista. Eis então que Geny pega na bola, tabela com Morita, recebe de volta, finta mais um, toca para Quenda, este desmarca Gyokeres no centro da área e o sueco não vacila: golo a coroar uma jogada de tiki-taka a fazer lembrar o Barcelona de Messi ou os brasileiros de 82. Foi o 31º golo de Gyokeres pelo Sporting nesta época desportiva, ele que também ontem foi um grande 31 para quem o teve de marcar. E poderia ainda ter feito mais estragos, não fora a compaixão do árbitro para com os desfavorecidos que passaram o tempo todo a agarrá-lo e a dar-lhe pontapés como se não houvesse amanhã e assim conseguiram "passar entre os pingos da chuva".

 

Este Rui Borges que pode ser Rui Borges está a sair-nos muito melhor do que o João Pereira que não pôde ser João Pereira, o que não quer dizer que se o Rui Borges não pudesse ser Rui Borges (o Rui Borges é tão camaleónico e ontem usou tantos sistemas que é difícil dizer se foi igual a si próprio ou o que é o seu "eu" próprio) a coisa corresse mal. É que há ali uma aragenzinha de sorte que o acompanha que faz com que o Rui Borges se assemelhe ao Rúben Amorim. Costuma porém dizer-se que a sorte protege os audazes e o discurso de Borges antes do terrível ciclo que está a ter pela frente foi sempre orientado pela positiva e sem desculpas. E ontem há que dizer que mexeu muito bem na equipa ao intervalo, mesmo não fazendo nenhuma substituição. Agora só lhe resta seguir as sábias palavras de Jean Cocteau: "O tacto na audácia é sabermos até onde podemos ir". Ainda que com Pote, o céu possa ser o limite...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik "Thor" Gyokeres

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01
Set24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

São Gyokeres contra o Dragão


Pedro Azevedo

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A percepção muitas vezes não corresponde à realidade. Umas vezes porque está errada, outras porque a própria realidade está prestes a mudar (e a percepção só reage após o facto consumado): na antecâmara do jogo, o Sporting ia defrontar um treinador invicto de um clube da cidade invicta, uma espécie assim de invicto ao quadrado, que de sinergias se espera um efeito multiplicativo e não só a soma das partes - Essa era a realidade. Depois, entrava a percepção: a de que o Porto seria imbatível, que "Não há duas sem três" e os últimos 2 jogos haviam pendido por sortilégio para eles, o último de forma particularmente insólita e, pensava-se, traumatizante. Tal alimentava a lenda, o mito do dragão. Só que a essa percepção faltou um elemento: São Gyokeres. Igualmente lenda, no caso da mitologia leonina, este Gyokeres não veio da Capadócia e logo demonstrou não ser súbdito romano pela forma como desmontou um adversário com nome de imperador (Otávio). Mas foi ele que primeiro apontou a lança ao pescoço do dragão e depois matou as suas aspirações, criando assim uma nova realidade. 

 

O Porto começou forte, confiante no seu tiki-taka a meio campo, seguro da sua superioridade numérica nessa zona nevrálgica do campo. Mas depois o Sporting foi apertando as marcações, reduzindo os espaços, enlaçando o Porto num torniquete que só estrategicamente em alguns momentos se aliviava. Morita comandou essa revolta leonina, bem secundado pelo estratega militar de Ruben Amorim, o Pedro Gonçalves, o popular Pote, um mártir ou Santo Contestável (às mãos de Roberto Martinez), um rapaz proveniente da República do Alto Tâmega e recém-naturalizado (desde Sexta-feira) português. Com o decorrer do tempo, contida a aventureira epopeia portista, os dois, com o imprescindível apoio de Gyokeres, foram também encontrando os espaços no ataque e criando oportunidades para os colegas. Trincão, o jogador que para ser compreendido não dispensa a consulta do almanaque Borda d'Água, desperdiçou a sementeira e nada colheu. E fomos para o intervalo empatados, num jogo de futebol que bastas vezes imitou outros desportos: houve jogadas em cabines telefónicas que replicaram o futsal e a placagem de Varela sobre Trincão teve resquícios de rugby, vela (Trincão ia à bolina quando levou com a retranca portista) e bowling (no fim, três pinos no chão). 

O Gyokeres ameaçou no início do segundo tempo: o argentino Varela negou-lhe o golo em cima da cal que divide o sucesso do inêxito. O sueco voltaria à carga num lance em tudo idêntico ao duelo com Otamendi da época transacta: Otávio não se conteve, quis igualmente adivinhar a charada antes do tempo, falhou e ficou de fora. A emenda subsequente foi pior que o soneto: penalty, cartão amarelo e 1-0 para o Sporting. [O Gyokeres parece que voa baixinho sempre que perto de si há um(a) OTA.]

 

A partir daí o Porto só poderia voltar ao jogo através de uma bola perdida na área ou cabeceamento mortal. Consciente disso, o Vitor Bruno ainda lançou o Fran Navarro e o gigante Samu, mas a defesa de anti-aérea dos leões mostrou-se impenetrável à medida que o jogo caminhava para o fim. Com o tempo a escoar-se, espaços nas costas portistas apareceram com mais frequência. Bola então para o Geny bolinar a partir da direita e rematar com a canhota: o Diogo Costa lançou-se, esticou-se, cresceu em envergadura mas não o suficiente para parar o que não tinha defesa. O Estádio quase veio abaixo, a vitória seria nossa e já nada a poderia impedir. Agora será tempo de seleções. Entretanto, a liderança (do campeonato) assenta-nos muito bem, real e percepcionadamente. 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres (o "Vitór")

04
Ago24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Morte em “Veneza”


Pedro Azevedo

Há quem diga que Aveiro é a Veneza portuguesa. Se assim é, talvez até haja um Casanova à solta na terra dos moliceiros. A haver, desconhecer-se-á a sua identidade e paradeiro, mas ontem chegou a parecer tratar-se de Gyokeres e estar nesse "Elefante Branco" (construído de propósito para o Euro 2004), tal a facilidade com que na primeira parte ajudou a abanar o véu da noiva. Mas tudo não passou de uma ilusão porque o Casanova não deixava para terceiros aquilo que era da sua competência e o Gyokeres desperdiçou duas claras oportunidades de abanar ele próprio o véu da noiva. Ilusão foi também pensar-se que o enredo do jogo já estava escrito após o 3-0. O problema foi Ruben Amorim ter desenvolvido uma estranha obsessão pela permanência do intranquilo Debast em campo que permitiu o volte-vace no marcador. E do argumento de Casanova passámos para o Thomas Mann e o seu Morte em Veneza. 

Esta coisa de ser Sportinguista tem muito que se lhe diga. Envolve uma dose cavalar de Lexotan e um desfibrilador sempre à mão de semear. Não admira assim que este Sportinguista não tenha embandeirado em arco mesmo com 3 golos à maior. É isso, em cada Sportinguista há um cinico, um ser desconfiado, um Abraracourcix sempre à espera que o céu lhe caia em cima da cabeça. Eu sei, seria altamente improvável e nada racional pensar-se que um dia o céu nos cairia em cima da cabeça. Mas os dinossauros pensaram o mesmo e um dia levaram com um meteoro na província de Yucatán que se assemelhou a uma explosão nuclear e conduziu à sua extinção, abalo semelhante ao que ontem foi psicologicamente sentido em Aveiro e em todos os lares onde há um Sportinguista. A boa notícia é que não nos extinguiremos nunca, daremos a volta - não, não me falem em "remontadas", senão não dormirei de noite - apoiados em meninos como o jovem Quenda que na sua estreia oficial marcou à Jordão. Leões rampantes são assim, ficam sempre de pé, ainda que uma e outra vez pequem pela esmerada arte de perdoar, indo do 80 para o 8, da potencial goleada à derrota, reanimando moribundos e dando moral ao novo Porto de Villas-Boas e de Vítor Bruno por falta de algo que há 30 anos o grande Bobby Robson - ainda assim, não tão grande que se tivesse salvado de um despedimento aéreo que mais pareceu saído de um sketch do Aeroplano, com o Leslie Nielsen (também tinha o cabelo branco) como protagonista - definiu em duas palavras anglo-saxãs: killer instinct. 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres. Menções honrosas: Quaresma, Quenda e Pote.  

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26
Mai24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O sobe e desce do Elevador de St Juste


Pedro Azevedo

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(Pela sombra projectada por guarda-redes e bola, parece-me golo.)

 

Potemkin, Trincone e Santorini estão em campo. Potemkin beija a bola, marca um canto a que St Juste corresponde com uma cabeçada indefensável para Diogo Costa ! Na Tribuna, pálido e com os olhos embaciados, Bob lamenta a sua sorte: infelizmente, o ucraniano, o italiano e o grego têm em comum não serem elegíveis para a nossa Selecção, e Martinez sente-o com uma grande desolação. Ao seu lado, Fernando Gomes pocura animá-lo, consolá-lo de tanto azar, mostrando-lhe o outro lado, o copo meio-cheio, a oportunidade de com Chico Conceição internacionalizar o arraial tuga ou com Pedro Neto promover o nosso Serviço Nacional de Saúde, para não falar do efeito positivo para a nossa balança comercial (e orgulho luso) de exportação de um agora beduíno, recém-naturalizado, de faca permanentemente nos dentes, como contraposição aos nómadas digitais que anualmente de mansinho invadem o nosso país e nos encarecem o custo de vida. Bob parece ganhar de novo cor, ao visualizar o seu papel nessa exótica mostra europeia. Sedento de partilhar essa visão, logo se apressa a ligar ao Horta. 

 

Enquanto isso, no relvado, Potemkin lidera a rebelião Sportinguista contra os czares que dominam o futebol português. Mas o Porto começa a pôr a bola nas costas dos centrais do Sporting e Geny, com os apoios trocados, amortece-a em forma de assistência para Evanilson. Pouco depois, St Juste, que marcara um golo inesperado, falha onde não é expectável: é ultrapassado em velocidade por Galeno e depois abalroa-o à entrada da área. O árbitro ainda dá penalty, depois revertido pelo VAR, mas o holandês não se livra da expulsão e o Sporting de ficar a jogar com 10. Quaresma, que deveria ter sido titular e acabou por ser o melhor dos nossos, entra, mas sai Morita (o único capaz de dar à substituição uma expressão de olhos em bico) e não um interior e com isso o Sporting entrega o jogo ao Porto. 

 

O que se segue são vagas constantes de ataque do Porto que só Quaresma e/ou Diogo Pinto vão conseguindo repelir. O jogo, de sentido único, vai para prolongamento. O Porto nada consegue fazer do lado direito da nossa defesa, mérito indiscutível de Quaresma, mas no flanco oposto Chico Conceição cria sucessivo perigo. Até que chega mais uma previsível bola nas costas do nosso lado esquerdo e Diogo Pinto primeiro hesita e quando sai da baliza abalroa Evanilson. Penalty e 2-1. Até ao final o Sporting ainda esboça uma reacção que fica à porta da rulote onde o VAR bebe a essa hora umas bejecas, pelo que o resultado não sofre alteração. 

 

Vitória justa do Porto, hoje claramente a melhor equipa, com José Pedro como o melhor homem em campo em virtude de ter secado Gyokeres. E assim a dobradinha não veio para Alvalade, o que em matéria de culinária nos põe em inferioridade com um Porto sobejamente conhecido pelas tripas e um Benfica que há muito se alimenta da mão de vaca (quando não de Vata). 

 

Enquanto os portistas já festejam nas imediações do Jamor, Bob abandona o estádio. Não evita porém uma última paragem no seu gabinete na sede da Federação, antes do regresso a casa. Com nostalgia contempla a sua secretária de trabalho. As viagens pelo mundo haviam-lhe trazido mais olheiras do que propriamente actividade de olheiro. O cansaço inerente a um jogo a cada 3 meses deixara-o exausto. O que vale é que para arrepio de algum esgotamento já tinha a convocatória para o Euro pronta mesmo antes de aceitar o cargo de seleccionador em Portugal. Era então chegado o tempo de tirar umas férias. Consulta o mapa e escolhe. Destino: Alemanha. Liga o piloto automático, que é como quem diz, ao Cristiano Ronaldo e ao Bruno Fernandes, e marca a viagem. 

 

Boas Férias (de bola) !!!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Eduardo Quaresma (por uma milha de diferença)


28
Abr24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Once upon a time in the West Ham


Pedro Azevedo

Com a vitória sobre o... Vitória, o Sporting ficou muito perto do título de campeão nacional. A instabilidade anterior à entrada de Amorim em Alvalade pareceu longínqua no tempo e definitivamente erradicada, com os resultados tinha chegado a famosa tranquilidade com sotaquezinho espanhol (língua do nosso grande capitão Coates) que no passado, entre outros méritos,  até normalizara o risco ao meio do Paulo Bento. Até que aconteceu segunda-feira, não um dia a seguir a Domingo semelhante a outros 51 que ocorrem durante 1 ano, mas aquele em que Rúben Amorim apanhou um avião (o avião criou imediato desassossego, se tivesse sido visto em Tires a andar de bicicleta ou trotinete saberíamos que não iria longe). A caminho de Londres. Para ir tratar de presuntos, na zona oeste da capital inglesa. Confesso que não entendi o empolamento. Quer dizer, já todos conhecíamos a ambição europeia de Amorim, mas o meu receio foi que ele se tivesse metido num vôo para Estrasburgo, à boleia de ser cabeça de lista da AD para o parlamento europeu. Porque o mandato é de 5 anos. Mas não, felizmente não, tal como o Montenegro, eu confundi alhos com Bugalhos: o Amorim só tinha ido a Londres. E sobre o assunto não adianta serrar mais presunto (há um campeonato para vencer). Ainda se fosse um Pata Negra talvez valesse a pena, mas assim...

 

Bom, mas isso foi na segunda-feira, hoje o Sporting jogava no Dragão (Oeste por faroeste, antes o último, ainda por explorar). Pelo que lá fomos nós à procura do Henry Fonda e de outros mauzões, só que o Fonda já havia sido mandado para casa por uma multidão em repúdio através de um escrutínio popular. Como o Mau estava de fora, tomou-lhe o lugar o Vilão-Boas (mas isso é um outro filme). Não tivemos Bronson, o que (não) foi uma gaita, mas Cardinal(e) não estava na linha, o que deu para evitar distrações. Assim, ninguém ficou de beiço caído... Sem Bronson, o herói foi Gyokeres. Amorim ainda deu 60 minutos de avanço ao Porto, facto de que agora deverá estar arrependido. Foi um erro, uma asneira, ter Inácio fora de posição e uma ala esquerda coxa, assim como a ida de Diomande (desastrado) a jogo. Só que Gyokeres foi para dentro de campo, Quaresma também, Nuno Santos entrou à hora de jogo, todas as peças finalmente encaixaram e o Sporting melhorou imediatamente. Até lá, valeram Hjulmand e Coates, que evitaram o naufrágio e deram fôlego a Amorim para corrigir aquilo que estava errado. 

 

O jogo e a semana resumem-se numa frase/interrogação de William Blake: "Como saberes o que é suficiente, se não souberes o que é demais?". Amorim pisou o risco, teve uma dose dupla de aprendizagem e crê-se que tenha compreendido a lição. Ora, lição rima com campeão. E Portimão, cidade do próximo clube que nos visita. É para ganhar, claro, qual a dúvida? Somos o Sporting, logo a Oeste nada de novo...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Viktor Gyokeres

 

P.S. Força, meu capitão! As melhoras, Manuel Fernandes, e que no Marquês celebremos também a sua recuperação. 

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20
Dez23

Chicos-espertos


Pedro Azevedo

Eu, se fosse portista, não teria o descaramento de questionar a arbitragem do último Clássico. Por uma questão de honestidade intelectual, vis-a-vis as circunstâncias em que dois golos foram anulados ao Sporting e a entrada de Varela sobre Geny foi punida apenas com um amarelo (já nem falo da cotovelada de Taremi no Inácio). Porém, Miguel Sousa Tavares consegue questionar a expulsão de Pepe, afirmando que o central portista só quis "sacudir" Matheus Reis e argumentando que o lateral Sportinguista escapou impune e foi o prevaricador. Sobre isto tenho a dizer 3 coisas: em primeiro lugar, se o árbitro tivesse agido correctamente e em tempo real, Matheus Reis teria visto o cartão amarelo e Pepe sido expulso. Como se teve de recorrer ao VAR, Matheus Reis escapou ileso porque eventuais acções sujeitas a amostragem de cartão amarelo não fazem parte do Protocolo da vídeo-arbitragem; segundo, Pepe tem a mão aberta quando é empurrado por Matheus Reis, cerrando depois o punho no momento da colisão, pelo que sacudir foi o que Matheus fez, Pepe simplesmente esmurrou; finalmente, não gosto do tipo de chico-espertices preconizadas por jogadores como Matheus, cujo objectivo visa a reacção do adversário e consequente infração disciplinar. Porém, eu vi com os meus olhos ao vivo nas Antas os jogadores do Sporting serem agredidos e no final o santo do Juskowiak, o Peixe e o Vujacic é que foram expulsos, terminando o Sporting com 8 sob a complacência do árbitro Carlos Valente e dizendo assim adeus ao título (93/94). E recordo igualmente muito bem o que ocorreu em 2001/02, em nova visita às Antas, quando a Paulo Bento (58 minutos), o Pedro Barbosa (75 min.) e o Jardel (84 min.) foram expulsos, conseguindo ainda assim o Sporting um empate (2-2) a jogar com menos 3. Uma vergonha! Arbitrou o senhor Martins dos Santos, o mesmo que em 2013 foi condenado a ano e meio de prisão (com pena suspensa) por tráfico de influências visando a não descida de divisão do São Pedro da Cova. 

 

Estratégico ou não, estou em crer que o silêncio de Rúben Amorim sobre a arbitragem retira a desculpabilização e aumenta a exigência ao plantel do Sporting, contribuindo adicionalmente para que se promova e se discuta essencialmente o jogo e não os árbitros. É, como tal, uma atitude duplamente positiva. Mas não sejamos ingénuos: como a natureza tem horror ao vazio, logo a chico-espertice leva a que esse espaço de abordagem à arbitragem seja preenchido. Nesse sentido, Sérgio Conceição, ainda que o pudor não o tenha deixado ir mais longe, disse qualquer coisa sobre um fora de jogo (quando houve outro, assinalado a Gyokeres, em que o jogador estava no nosso meio campo) e Miguel Sousa Tavares logo extravasou para o caso de Pepe. Pelo que mais uns dias e umas intervenções e ainda chegaremos à conclusão que o Porto foi alvo de um roubo de igreja em Alvalade, passando essa versão à história. É este tipo de coisas que me chateia em Portugal, país onde não se é incentivado a ter uma postura correcta e decente porque é-se logo comido de cebolada. Por chicos-espertos, que inteligência é coisa bem diferente e essa não só não é valorizada como não existe em barda neste país. Talvez por isso vivamos da espuma dos dias, do momento e dos truques, e nos falte visão de longo prazo que traga efectiva prosperidade a todos. 

19
Dez23

Tudo ao molho e fé em Deus

Ciclone Gyokeres contra as altas pressões


Pedro Azevedo

Das histórias de quadradinhos do Walt Disney vêm-nos à memória vários personagens. Uns mais recorrentes no almanaque, como o Tio Patinhas, o Mickey, o Donald ou mesmo o Pateta, outros mais raros. Entre estes últimos destaco o Grilo Falante. Este falava frequentemente ao ouvido do Pinóquio, dando-lhe conselhos sábios e constituindo-se como a voz da sua consciência. Transferindo dos quadradinhos para o universo do futebol profissional, o Grilo Falante seria o VAR ideal de qualquer árbitro. O problema é que no nosso futebol há muitos Pinóquios - já o dizia o Pimenta Machado a propósito do que hoje é verdade, amanhã poder ser mentira - e poucos Grilos Falantes, abundando porém os Metralhas. Vem isto a propósito do Clássico de ontem, porque não é natural comentar um jogo contra o Porto em que o nosso maior adversário residiu no auricular instalado no ouvido do Nuno Almeida. A botar faladura, o Tiago Martins: aquando do seu anúncio, disseram-nos que o VAR era para ser usado em lances de flagrante delito do árbitro e seus auxiliares. Tomámos boa nota. O que ninguém nos preparou foi para um anti-ciclone Gyokeres a operar a partir da Cidade do Futebol, uma flor de estufa muito sensível a correntes de ar. Como resultado da acção desse centro de alta pressão (sobre o árbitro), foram anulados dois golos ao Sporting e os ânimos aqueceram na proporção das nuvens cinzentas que se desanuviaram sobre o Porto. No primeiro, o Quaresma veio da direita à esquerda para cortar um ataque perigoso do Porto. Embalado, tabelou com o Morita e foi apanhar a bola à frente. Enquanto o João Mário se contorcia no chão com dores de cotovelo, o Quaresma sacou do GPS e direccionou um cruzamento perfeito para o Gyokeres, que de cabeça disparou um míssil que passou por cima do Diogo Costa antes que este pudesse sequer ajeitar o cabelo para a fotografia. A anulação do golo foi um crime de lesa-futebol. No segundo, o Bragança chegou primeiro à bola - há uma imagem de uma câmara de frente que mostra o portista que o tenta desarmar ainda com o pé no ar - e tocou para o Paulinho, que marcou. O auxiliar anulou por fora de jogo que o VAR posteriormente viu não existir. Os portistas alegaram ter havido falta do Paulinho, que o VAR também viu não existir. Criou-se assim um impasse: consultadas as leis do jogo, a utilização do pé esquerdo não constituía infração por si só para anulação de um golo. A chuteira estava calçada, outro contratempo. Continuação do impasse. Até que o inefável Martins recorreu ao Telescópio James Webb para vislumbrar uma alegada falta do Daniel. O curioso é que o jogador que alegadamente sofreu a falta não protestou, ao contrário dos colegas que se dividiram entre um sem número de alegações cujo único propósito visava evitar a goleada.  

 

Não sei se o Sporting teve melhor organização colectiva do que o Porto, o que é claro é que os nossos jogadores ganharam os duelos individuais mais importantes. Nesse particular, o Gyokeres e o Quaresma destacaram-se: de tanto encostar o Pepe às cordas, o Gyokeres levou-o à exaustão física e mental, erosão que terá estado na origem de ter confundido o relvado com um ringue de boxe e concomitante expulsão por agressão a soco. E o Quaresma colou o cromo do Galeno numa caderneta e fechou-a, não o deixando sair de lá e tendo ainda tempo para uma jogada à Baresi ou à Beckenbauer, conforme a Vossa preferência. No golo, o Gyokeres choca contra o Pepe, ganha o ressalto com o peito e surpreende o Diogo Costa ao chutar para o primeiro poste. (Quem quer comparar este golo com o sofrido por nós em Guimarães engana-se, porque o jogador vimaranense conduz pela esquerda do seu ataque com o pé canhoto e tem pouquíssimo ângulo, enquanto o Gyokeres vem da esquerda, tem a bola no seu pé direito e assim o ângulo aberto.) O Sérgio Conceição logo alegou ter havido mão do sueco. Mas podia também ter alegado maus tratos a idosos e requerido a presença de uma assistente social no local para registar o facto, que ainda que fosse possível motivo para interditar o nosso lar de Alvalade não seria alibi para anular o golo. A cena repetiu-se aquando da anulação do segundo golo a Gyokeres: o árbitro não viu razão para infração e até advertiu por simulação o portista caído no chão. Mas logo se armou a tenda do circo, não faltando o anão da praxe e o médico que troca o juramento de Hipócrates pela hipocrisia de utilizar o seu estatuto para falar ao ouvido do bandeirinha: um outro tipo de Grilos Falantes. Após o intervalo, o Pepe foi expulso. O árbitro, de frente para o lance, não viu a agressão ao Matheus Reis. Chamado ao VAR, Nuno Almeida demorou um tempo infinito a constatar o óbvio ululante. Cheguei a pensar se não estaria a ser equacionado que o Matheus Reis teria agredido com a sua boca o punho cerrado do Pepe, mas o facto de as comunicações entre VAR e árbitro não serem divulgadas em tempo real inibiu o seu cabal esclarecimento (e um momento potencialmente humorístico). Após consulta exaustiva da Carta Universal dos Direitos do Homem, o direito à segurança pessoal (artigo 3º) prevaleceu sobre a presunção de inocência (artigo 11º) e Nuno Almeida mandou finalmente o Pepe ir tomar banho. No chão, Matheus Reis jorrava sangue... Com menos 1 em campo, os portistas concederam mais espaços ao Sporting. O Geny encontrou o Gyokeres com uma pista para acelerar e este não se fez rogado, oferecendo no fim o golo ao Pote. A celebração que se seguiu foi de baile de máscaras, como se o Pote tivesse reconhecido que o golo era todo construção do sueco e fosse necessário disfarçar a enorme superioridade leonina. Depois o Gyokeres voltou a isolar-se e a tocar novamente para o Pote, mas desta vez o Diogo Costa conseguiu defender. Novo vendaval sueco se seguiria, com o golo a ser novamente anulado como descrito acima. Pelo meio, uma cotovelada de Taremi a Inácio ou um pontapé deliberado de Varela a Catamo escaparam somente com o amarelo. 

 

No fim do jogo lá apareceram o Faustino e o Duarte Gomes na televisão. Afinal foi tudo normal: os golos anulados, a cotovelada do Taremi ao Inácio, o pontapé do Varela ao Catamo e o tempo que o Nuno Almeida demorou para tomar a decisão de expulsar o Pepe. É sempre pungente ver como funciona o corporativismo em Portugal. Em resumo, a arbitragem foi excelente, nós todos é que precisamos de ir urgentemente à Multiópticas. Como aliás já foi a Dª Dolores, a mãe do nosso Cristiano Ronaldo, que, Sportinguista orgulhosa, foi vista a festejar euforicamente a nossa grande vitória. Grande Dª Dolores! Do jogo fica ainda uma lição da matemática: como marcar 4 golos e só ganhar por 2 de diferença, sabendo-se que o adversário não marcou qualquer golo. É que a matemática é uma ciência exacta, excepto quando a bola rola em Portugal e se subtrai a verdade desportiva. Estamos na frente!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres. Grande jogo do Eduardo Quaresma e exibições acima da média do Hjulmand, do Diomande e do Inácio. 

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