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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

13
Mai24

A Champions no hóquei


Pedro Azevedo

O Sporting venceu a Champions de hóquei em patins e cumpre-me escrever algo sobre o assunto. Começo por dizer que o hóquei exerceu um grande fascínio em mim enquanto criança. E tal resultou do sortilégio da rádio. Sim, porque ouvir o hóquei foi um dos raros casos em que a percepção da realidade suplantou a própria realidade que eu mais tarde vi nos pavilhões. Ou seja, o hóquei resultou melhor para mim na rádio do que ao vivo. Talvez porque raros são os ringues de piso suficientemente claro para se ver a bola, que esta talvez devesse ser fluorescente para que a sua trajectória pudesse ser acompanhada. E se a bola não pode ser acompanhada, então só deve ser imaginada, razão pela qual a ausência de visão sublima todos os outros sentidos e realça o papel da rádio. Eu juro que em menino, ao ouvir os relatos, conseguia perceber quando a bola ia à tabela, batia no ferro de uma baliza ou era defendida pela luva do guarda-redes. Porque o som era diferente em cada ocasião, e isso também ajudava a criar uma percepção. E depois havia relatadores como o Fernando Correia e o Jorge Perestrelo (sim, os seus primeiros relatos desportivos em Portugal foram de jogos do Sporting de Tomar) que davam uma cor ao jogo que eu raras vezes observei em pavilhões. A não ser quando o Chana e o Livramento coexistiram no Sporting e o jogo para mim tornou-se um bailado de alto nível e digno de um Nureyev ou uma Fonteyn. Jamais voltei a sentir essa sensação, embora ainda tenta acompanhado de perto as duas gerações seguintes, a primeira do Realista, Cenoura e especialmente do Trindade - o que mais perto esteve do virtuosismo dos meus ídolos do passado, aqueles que com Ramalhete, Rendeiro e Sobrinho trouxeram para Portugal a primeira Taça dos Campeões europeus - , a segunda composta por Paulo e Pedro Alves, Paulo Almeida e Vitor Fortunato. Depois, o hóquei acabou no Sporting e eu também desliguei-me da modalidade, sentimento exorbitado pela constatação de que afinal o hóquei não era global e mesmo em Espanha era mais um costume da Catalunha e pouco mais (na Corunha havia uma equipa de topo), em Itália não merecia mais do que um par de linhas na prestigiada Gazzetta dello Sport, um tipo literal de imprensa cor de rosa que ainda hoje é o único no género que leio. Bem sei, depois o hóquei voltou ao clube, com o Gilberto Borges e o Bruno, tivemos um sobrinho do Paulo Alves como estrela enquanto andámos a comer o pão que o diabo amassou (não foi como no futebol feminino ou no futsal, onde o Benfica começou quase por cima) e mais tarde chegou até nós um guarda-redes tão carismático quanto por vezes desabrido, chamado Girão. E soube que começámos por ganhar uma Challenge ao Réus (um daqueles nomes míticos do hóquei, tal como o Voltregá) e, mais tarde, uma segunda e terceira Champions. Chegou agora a quarta, assente na genialidade entre os postes do Girão e na precisão de relojoeiro do João Souto, que achei um piadão também copiar os festejos do Gyokeres. Está de parabéns a secção do hóquei e o Sporting, é mais uma taça europeia para o nosso museu e um novo título que nos afirma entre as 3 maiores potências desportivas europeias, ecleticamente falando. Mas o hóquei precisa urgentemente de se reinventar, de mudar ou enfrentar a extinção. Tendo já perdido uma grande oportunidade (J.O. Barcelona), não resta muito tempo para lhe ser dado o impulso necessário que o tire de um semi-anonimato crónico, desde logo porque até em Portugal muitos desportos se desenvolveram e lhe retiraram protagonismo.

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24
Mar24

Enquanto o futebol descansa


Pedro Azevedo

Foi um fim de semana misto para os desportistas lusos nos seus confrontos internacionais. Na NBA, Neemias Queta não saiu do banco na deslocação dos Celtics a Chicago. Relegado para quinta opção na rotação de Poste após a chegada de Tillman (as outras são Porzingis, Horford e Kornet), Queta vê-se assim impedido de confirmar as boas indicações dadas nas escassas oportunidades reais de que dispôs e que o levaram à obtenção de dois duplo-duplos em jogos quase consecutivos.

 

Num nível inferior ao do ano transacto tem vindo a apresentar-se o ciclista João Almeida. Com o pico de forma esta época agendado para o Tour, Almeida não poderia começar tão bem como quando o objectivo era o Giro, mas ainda assim nota-se bastante a falta de explosão na montanha e a incapacidade em seguir com os melhores quando o declive aumenta. Seja como for, o ciclista português melhorou na Catalunha (nono classificado na Geral) face ao Paris-Nice (décimo primeiro na GC). 

Também Miguel Oliveira continua abaixo do que chegou a prometer nas suas duas primeiras épocas de MotoGP. Dificuldades de adaptação à Aprilia, assim como a já habitual menor performance em qualificação, estão na origem de um desempenho menos conseguido. Ainda assim, fechou a corrida longa num honroso nono lugar (décimo quinto na qualificação). 

Em grande esteve Henrique Rocha, nova esperança lusa (19 anos), no Challenge de Múrcia, competição que hoje conquistou ao bater o georgiano Basilashvili (antigo Top 20 mundial) em 3 sets (3-6, 7-6(0), 7-5). Foi o primeiro triunfo nesta categoria para Rocha, que assim se tornou no décimo português a conseguir vencer torneios Challenge. Recorde-se que na semana passada Nuno Borges havia revalidado o título no Challenge de Phoenix, sinal de que o ténis luso está a subir de nível. 

Em termos domésticos e colectivos, de destacar o fim de semana das modalidades do Sporting. No andebol, os leões voltaram a vencer o Porto, desta vez por 35-32, terminando a primeira fase da competição só com vitórias. No hóquei, a vitória sobre a Oliveirense (5-3) permitiu ao Sporting subir ao segundo posto da classificação por troca com os aveirenses. Finalmente, no voleibol, os leões primeiro ganharam o derby (3-1 ao Benfica) para depois baterem o Fonte de Bastardo (3-2, com 22-20 na "negra"), triunfo que lhes permitiu vencer a Taça de Portugal. 

11
Set23

Menos toxicidade, mais boas referências


Pedro Azevedo

Há muito mais além do futebol no mundo do desporto. Por exemplo, neste fim de semana pudemos testemunhar 3 grandes momentos desportivos: na Vuelta, uma das 3 competições ciclísticas por etapas mais reconhecidas mundialmente, o português Rui Costa, ex-campeão do mundo, venceu brilhantemente na chegada a Lekunberri; em Marselha, no decurso do Mundial de Rugby, tivemos um exemplo de bom-senso e autoridade arbitral (que não deve ser equiparada a autoritarismo, porque no desporto da bola oval o árbitro evita ser protagonista) no África do Sul - Escócia e de desportivismo e fair-play dos jogadores no tremendo Gales - Fiji; finalmente, no ténis, no Open dos EUA (um dos 4 torneios do Grand Slam), Djokovic impôs-se a Medvedev num confronto épico em que a qualidade de jogo e a força mental de cada um dos protagonistas esteve em evidência. Foi o 24º título em Majors para o sérvio, que aproveitou a coincidência do número para homenagear o Black Mamba, Kobe Bryant, lendário antigo jogador dos Lakers falecido em acidente de aviação. 

 

No final da etapa da Volta a Espanha, Rui Costa foi elogiado pelos rivais Kamna e Buitrago, não havendo azedume por parte do colombiano pelo facto de o português não o ter ajudado na montanha. No rugby, as comunicações do VAR foram audíveis para todos a bem da transparência, um árbitro interrompeu uma escaramuça com um discurso que logo pôs em sentido os jogadores e o fijiano Botia teve um detalhe que produziu toda a diferença ao sinalizar o árbitro no sentido de que a bola lhe caíra das mãos e assim não deveria sancionar um ensaio de que Fiji desesperadamente necesitava para ainda dar a volta ao marcador. No ténis, o respeito entre os contendores ficou bem expresso nas declarações públicas de cada um no final do jogo. Conclusão: o futebol tem muito a aprender com as melhores práticas de outros desportos. Menos toxicidade precisa-se no desporto-rei, mais espaço urge para outras modalidades que no seu alto rendimento têm atletas e procedimentos que são uma referência para o desporto e, por que não dizê-lo(?), para a vida. 

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