Tudo ao molho e fé em Deus
Amorim e o Ovo de Colombo
Pedro Azevedo
Caro Leitor, o obreiro do triunfo de ontem foi Rúben Amorim, o qual engendrou um Ovo de Colombo que permitiu a Geny Catamo temperar com massala, guardamungo e pimenta preta o nosso jogo atacante. Liberto de funções defensivas, entregues a um Diomande que fechou o flanco direito como lateral numa defesa a 4, o moçambicano pôde por fim jogar junto de Edwards, Pote e Gyokeres, o que proporcionou ao Sporting colocar 4 unidades ofensivas em campo. Assim, defensivamente o Sporting posicionou-se num 4-3-3 (pressão alta) que se transformava num 4-5-1 quando o Boavista superava a nossa primeira zona de pressão, enquanto ofensivamente oscilámos entre um 3-4-2-1 e mesmo um 3-3-3-1, com Geny muitas vezes metido na mesma linha de Pote (esquerda) e Edwards (centro), e Matheus Reis mais cauteloso, em parelha com os 2 médios centro (um flectia mais para a direita para compensar), a fim de mais facilmente poder recuperar a sua posição para a linha de 4 defesas assim que perdíamos a bola. Com esta inovação, Amorim absolutamente surpreendeu Petit, assegurando ao Sporting uma primeira parte de amplo domínio de jogo. Sendo certo que o Boavista até teve a primeira oportunidade, a grande sensação de golo surgiu dos pés de Geny, com a bola a abanar as redes pelo lado de fora da baliza confiada a João Gonçalves, um guarda-redes jovem que já é uma certeza. Depois, foi Pote a atirar por cima. Não tardou porém o nosso primeiro golo: Morita primeiro encontrou inteligentemente o espaço livre, de seguida executou uma recepção brilhante e depois colocou a bola redondinha nos pés de Matheus. Este cruzou bem (finalmente!!!), indo a bola encontrar Geny ao segundo poste, que encostou à matador. Um show de bola! (E Morita a mostrar que o mais importante no futebol são o tempo e o espaço, o tempo que ele poupou em recepção e passe imaculados e o espaço que só ele descobriu.)
No segundo tempo o jogo foi mais equilibrado, mas sempre com o Sporting mais ameaçador. Até que houve demasiadas substituições na defesa e a equipa desconjuntou-se por breves instantes, indefinida entre defender numa linha de 4 ou de 5, sabendo-se que Inácio (apesar de também ter sido lateral esquerdo na Formação) não tem a mesma propensão (e velocidade) de fechar no flanco que Diomande mostra no lado oposto. Isso, mais a entrada da némesis Bruno Lourenço, foram o suficiente para o Boavista empatar, o que podia injustamente ter borrado a bonita pintura que Amorim havia esboçado para o jogo não fora o eslovaco Bozenik estar deslocado vinte e tal centímetros (com Inácio e Nuno Santos a ficarem encostados um ao outro, o espaço para Diomande tornou-se tão grande que permitiu ao eslovaco aí antecipar-se à defesa leonina). Entretanto, já haviam sido perdoadas duas expulsões ao Boavista, uma a Tiago Morais por carga idêntica (sobre Diomande) à cometida por Gyokeres na Polónia, outra por segundo amarelo a Chidozie, que impediu um contra-ataque promissor. Tudo passado em claro e na santa paz do Senhor, que enquanto o jogo decorria a SportTV nem a lebre levantou (mais tarde, o mesmo árbitro marcou uma falta sobre Hjulmand na nossa área que até deu vontade de rir, à semelhança de uma outra apontada a Geny nas imediações da área boavisteira). Até que um dos substitutos que Amorim colocou em campo, Ricardo Esgaio, recebeu um passe de Gyokeres e cruzou para Pote ter um momento genial, um daqueles que se tivesse nascido dos pés de um jogador a quem o Senhor Martinez precisasse de dar carinho já estaria a correr mundo à boleia da máquina de propaganda. Art-Deco foi o que foi, ou o Pote não me fizesse tanto lembrar, na subtileza das suas acções, o ex-jogador do Porto e da Selecção Nacional. Não, senhor Martinez, não é azar nenhum ser assim tão dotado. Quanto muito é Hazard (dos bons tempos), que o senhor tão bem conhece.
O Sporting ganhou e lidera com 3 pontos de vantagem sobre Benfica e Porto. E ontem os assistentes para golo até foram dois patinhos feios: Esgaio e Matheus. É o futebol a dar razão a Pimenta Machado quando este dizia que o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira. Na Quinta-feira logo se verá...
Tenor "Tudo ao molho...": Pote