Bragança e Pote
Pedro Azevedo
O grande escritor português e autor de "O que diz Molero", Dinis Machado, dizia que "O jogador sem adjectivos, não desmontável, com os pés voltados para todo o lado, a sujeitar os adversários e a bola à sua qualidade inconsciente, é tão difícil de explicar como o mistério da luz de Rembrandt". É isso que me ocorre ao me deparar com o talento inato, seja ele expresso no pé canhoto de Bragança, esquerda a uma só mão de Federer, "glamour" de (Bryan) Ferry, dedilhar de (Keith) Jarrett ou Di Meola e comprimento vocal de Bocelli. Além, claro, da luz de Rembrandt. O talento natural, a habilidade inata, é algo que se abate sobre nós, comuns mortais, como uma bigorna, é esmagador. Ao contrário, por exemplo, da inteligência, que é mais subtil e demora mais tempo a ser compreendida. interiorizada e requer uma maior atenção. Como a que Pote alardeia e suscita a quem o olhe com olhos de ver e sem filtros: aquele seu jogo de entre-linhas, desde as várias mutações na forma como se posiciona para receber até aos múltiplos cenários que idealiza sobre o que fazer a seguir, parece mais próprio de um Grande-Mestre de xadrez com máximo rating ELO (Ranking FIDE) do que de um jogador de futebol. Pode não criar o elo emocional que a facilidade de execução inerente ao talento inato e inconsciente desperta em todos nós, mas a boa tomada de decisão associada ao consciente não pode também deixar ninguém indiferente.