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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

30
Jun25

Sobre Gyokeres (2)


Pedro Azevedo

Usando o pretexto da novela de mercado que envolve o Gyokeres, na semana passada falei-vos aqui da diferença existente entre o valor intrínseco e o preço de um activo. Hoje, oporei o conceito de valor absoluto ao de valor relativo. 

Para Auguste Comte, o pai do Humanismo, tudo na vida é relativo, e esse é o único valor absoluto. Frederico Varandas, presidente do Sporting, primeiro definiu o preço que o clube pede para vender os direitos económicos de Gyokeres, com base numa avaliação interna que terá levado em conta o seu valor intrínseco. Agora, mostrando que essa avaliação não foi despropositada, recorreu a comparativos de mercado, ou seja, ao valor relativo. Para isso, definiu um benchmark, ou seja, o preço que o Manchester United aceitou pagar ao Wolverhampton por um avançado da mesma idade (Matheus Cunha), cerca de 75 milhões de euros. Porque uma coisa é a nossa avaliação de um activo com base na estimativa presente de proveitos vindouros (discounted cash-flow method), outra são os comparáveis de mercado, ambos sendo métodos aceitáveis de estimativa de valorização de activos (e de formação de um preço). 

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25
Jun25

Sobre Gyokeres


Pedro Azevedo

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Uma coisa é o preço de um activo, outra é o seu valor intrínseco. Os direitos económicos que incidem sobre um jogador de futebol são um activo. O Sporting detém os direitos económicos de Gyokeres. Para o Sporting, o valor intrínseco do jogador é superior àquele que, por exemplo, um Manchester City (ou PSG) avaliará. Por uma razão simples: o sueco, no Sporting, tem sido um jogador determinante na obtenção de sucesso desportivo (dois Campeonatos e uma Taça) e concomitante retorno financeiro (acesso aos milhões da Champions). E é neste último que reside a diferença, na medida em que mesmo não descurando a importância do sueco para outro clube no que concerne à conquista de títulos, um City ou PSG não necessitam do jogador para estarem presentes na prova milionária. Por isso, o seu valor intrínseco para nós tem de ser superior, o que justifica em parte a diferença entre aquilo que o Sporting pede pelo jogador e o que o mercado neste momento parece estar disposto a pagar. E, nesse sentido, o Sporting não deverá estar disposto a aceitar um preço que seja inferior àquilo que avalia ser o valor intrínseco do jogador para si. Porque nunca vender abaixo do valor intrínseco é tão importante como comprar abaixo do mesmo valor intrínseco perspectivado, o que o Sporting cumpriu brilhantemente quando por uma hoje considerada bagatela de cerca de 25 milhões de euros adquiriu o passe de Gyokeres ao Coventry. É esse aliás o conceito de "value investing", como o senhor Bill Miller vos poderia explicar. 

02
Jan25

Ninguém superou Gyokeres em 2024


Pedro Azevedo

Gyokeres meteu a bola dentro da baliza por 62 vezes durante o ano de 2024. Ninguém fez melhor (ou igual). O sueco tornou-se assim o décimo segundo jogador da história do futebol mundial com mais golos marcados numa só temporada. Melhores só Messi (91 golos, 2012), Zico (88, 1979), Gerd Müller (81, 1972), Josef Bican (76, 1944), Pelé (75 em 1958, 73 em 1965 e 63 em 1959), Romário (72, 2000), Fernando Peyroteo (69, 1938), Cristiano Ronaldo (69 em 2013, 63 em 2012), Ferenc Deák (68, 1946), Just Fontaine (66, 1958) e Imre Schlosser (64, 1912). 

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25
Mar24

O mito Gyokeres


Pedro Azevedo

Séneca escreveu duas peças sobre ele e Shakespeare nele se inspirou em mais de trinta obras. Falo-vos de Hércules, para os romanos, ou de Héracles, para os gregos. Na mitologia leonina, o seu nome é Gyokeres. Na sua pele de leão, cada seu pontapé e como uma bastonada de uma clava para os seus adversários. Dono de uma força e velocidade incríveis, Gyokeres é a nossa representação alegórica do herói greco-romano: um mito leonino com a potência de um semi-deus. Em oposição ao que experienciou com outros craques como Maradona ou Messi, com ele a bola não adormece no pé ou troca galanteios, antes vive constantemente num vórtice de acelerações e travagens súbitas que desafiam a leitura do GPS e estimulam o uso do ABS, obrigando-a a aprender o código da estrada e a ter conhecimentos sobre filas de espera (o projecto Gertrudes de sinalização do trânsito) e a localização dos radares que detectam o excesso de velocidade. Enquanto isso, o espaço aguarda-o, chama por ele como uma sereia no mar canta a um marinheiro prestes a naufragar. Mas ele, senhor de ventos e marés, tem tudo sob controlo. E vai em frente. Na "profundidade", que o Neptuno não mora aqui.  

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23
Fev24

Tudo ao molho e fé em Deus

As pequenas coisas


Pedro Azevedo

Daqui a alguns anos, quando olharmos para o ranking UEFA, não nos vamos lembrar deste empate contra o Young Boys. E, contudo, é à conta de deslizes assim - o Leitor recordar-se-á do Skenderbeu e dos jogos com o LASK... -, e da atitude de alguma indiferença que foi havendo perante a sua acumulação ao longo dos anos, que o Sporting tem poucos pontos na Europa e não participará no próximo Campeonato do Mundo de clubes (2025). Porque, se o diabo está nos detalhes, as pequenas coisas acabam por no fim fazer toda a diferença. Como foi ontem o caso do desacerto na finalização, que nos custou uma vitória mais do que certa. E por goleada. Amorim sentiu-o, muito, quando se apresentou na flash-interview a deitar fumo por dentro, sem necessidade de recorrer a truques circenses. Fez bem em dar esse sinal, porque o Sporting conseguiu o mais difícil, que foi manter um ritmo alto durante todo o tempo, e tinha de ter ganho o jogo. 

 

Entre tantos falhanços à frente da baliza, difícil será destacar qual foi o mais bizarro ou caricato,  desde o pé direito de Edwards que travou o remate de pé esquerdo de... Edwards que se encaminhava para a baliza deserta até ao pontapé desferido por Bragança na pequena área que acertou no único pedaço de baliza coberto pelo guarda-redes suiço, para já não falar do traço de humanidade revelado pelo deus Gyokeres no momento em que falhou uma grande penalidade ou de uma outra perdida clamorosa do Daniel. 

 

Ainda assim houve um golo, um grande golo, marcado por Gyokeres num movimento soberbo em que rodou sobre 2 adversários e rematou de forma indefensável, por alto. No resto do tempo, a boa dinâmica leonina foi alargando os buracos no queijo suiço por onde surgiram as tais grandes oportunidades. Mas na hora de comermos o queijo, a gula demasiada levou a que a sofreguidão se impusesse ao discernimento e acabámos por cear mal e ir dormir com fome, que comer de penálti também não ajuda à correcta ingestão dos alimentos. (Continuamos sob o signo da temporada de 73/74: depois de uns 8-0 ao Casa Pia que evocaram igual resultado contra o Oriental, este jogo fez-me recordar a aziaga recepção ao Magdeburgo.)

 

Seguem-se os Oitavos e de novo a Atalanta. Um reencontro, pois então. E a possibilidade de corrigir velhas falhas para não incorrer em novos erros (Confúcio). Para que no fim a dor de partir não emerja sobre a alegria de um reencontro bem sucedido. A fazer lembrar a igualmente (à de 73/74) épica época de 63/64 (sempre a acabar em 4), em que dois jogos não bastaram para pôr fora do caminho a briosa equipa de Bérgamo no nosso rumo até Antuérpia (finalíssima), cidade onde levantámos por fim o caneco. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Viktor Gyokeres

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22
Fev24

Gyokeres no topo da Europa


Pedro Azevedo

Segundo o jornal espanhol A Marca, em artigo com o título de "Os outros dois Mbappé", Viktor Gyokeres, do Sporting, reparte com Kylian Mbappé e Luuk de Jong a liderança europeia dos jogadores com mais participações directas em golos. Em boa verdade, o sueco até deve ser considerado como o único líder, na medida em que os seus números foram conseguidos em menos minutos de utilização (2519 min. de 31 jogos, contra os 2619 min. do jogador do PSG e os 2828 min. do futebolista do PSV): Gyokeres tem actualmente 39 participações directas, resultantes de 28 golos e 11 assistências, exactamente os mesmos parciais do holandês de Jong. Já o francês Mbappé marcou mais (32 golos), mas foi menos influente a nível das assistências (7).

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22
Fev24

A estatística confirma a qualidade do trabalho


Pedro Azevedo

Actualizado o ranking GAP, o que se conclui? Bom, há dois indicadores que saltam logo à vista. O primeiro é que, após 35 jogos, Rúben Amorim conseguiu o número impressionante de 80% de vitórias. O segundo é que Viktor Gyokeres lidera os rankings de golos e de assistências, sendo claramente o nosso jogador mais influente e MVP (Most Valuable Player). E, se do ponto de vista quantitativo, os nomes de Amorim e de Gyokeres se evidenciam, no plano qualitativo é impossível não dar relevo à forma como o Sporting domina os adversários e roda o plantel ou o sueco se destaca na procura da profundidade, serve de pivô para combinações interiores ou demonstra frieza na cara do golo. Por tudo isto, a carreira do Sporting em 23/24 é indissociável da qualidade de jogo apresentada por Rúben e das prestações de Viktor, restando a nós esperar que o foco do treinador e a energia do sueco não se esgotem a fim de que a época se possa concluir com a tão merecida glória. Não esquecendo, claro, a importância da restante equipa técnica e jogadores. Porque ninguém ganha nada sozinho e a qualidade técnica, física, táctica e mental medida individualmente não substitui um colectivo forte e a apontar todo na mesma direcção. 

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16
Fev24

Tudo ao molho e fé em Deus

Sintético a dobrar


Pedro Azevedo

Caro Leitor, isto de ser analítico a comentar o sintético já de si é uma contradição nos termos. Acresce que sintético não foi só o relvado, artificial. Não, sintético foi também o Rúben Amorim na dosagem de esforço dos mais utilizados, gerindo a condição física dos jogadores e simultaneamente a disposição anímica do balneário. Doravante, socorramo-nos então do dobro do sintético para nos aproximarmos de algo que se assemelhe a uma análise, substituindo a relva e o Amorim por Kant e Hegel em busca de uma síntese filosófica que explique o que se passou ontem em Berna.

 

A síntese filosófica é um processo que deriva do simples para o composto, do elemento para o todo, das causas para as consequências, com o objectivo último de defender uma ideia através da argumentação. Como tal, comecemos pelo mais simples, o elemento, o jogador: Coates e Paulinho foram poupados a um piso demolidor para as articulações e ficaram em Lisboa. Trincão, que pegou de estaca e muito tem jogado (e jogado muito, também) desde que o novo ano brotou, e Morita, em acção recente na Taça de Ásia, não iniciaram o jogo por gestão da sua condição física. Se estas foram as causas, tudo isto conjugado deu a oportunidade a Edwards, Bragança, Matheus Reis e, mais tarde, aos estreantes Nel e Koba de jogarem, solidificando a união do balneário, pelo que a única consequência negativa para o todo (a equipa) foi um desempenho menos bom do nosso meio-campo. Tratou-se de um risco, creio que calculado, que o nosso treinador assumiu correr, mas a verdade é que a dupla Bragança-Hjulmand não funcionou, não conseguindo controlar os tempos de jogo e dando demasiado espaço (por vezes, avenidas) aos nossos adversários no miolo do terreno. Então, o que nos valeu? Bom, desde logo a excelente acção dos nossos 3 centrais, em especial de Eduardo Quaresma e de Gonçalo Inácio, que numas vezes deram o corpo ao manifesto e noutras fizeram valer a antecipação para evitarem males maiores. E depois a acção de Edwards e de Gyokeres na frente (Pote esteve muito activo, mas desinspirado na definição), que puserem sempre em sentido as pretensões helvéticas de avançar mais as suas linhas, com o "plus" do sueco ter arrancado desde cedo um cartão amarelo ao seu marcador directo (quando mais tarde ficámos a jogar contra 10, senti-me como um voyeur a espreitar o que é jogar como o Benfica), ele que foi carregado à margem das leis tantas vezes quantas as que ousou transformar a defesa do Young Boys num queijo suíço. [Emmental (que até é de Berna), meu caro Watson.]

 

No fim, gerindo até ao limite (os nossos dois melhores jogadores, Gyokeres e Pote, foram descansar com um quarto de hora mais descontos por cumprir), Amorim venceu a triplicar: o jogo, a condição física dos jogadores e o balneário. Especulou e foi feliz, que o controlo esteve à beira de se descontrolar em momentos como o do "frango" de Adán ou dos golos anulados ao Young Boys e o golo inaugural do jogo foi na realidade um auto-golo. Não que o Sporting não fosse muito superior aos suiços, mas porque Amorim quis ganhar em Berna a pensar em Moreira de Cónegos. Legítimo, evidentemente, mas não necessariamente sinónimo de uma menor ambição europeia, espera-se. Pelo menos a fazer fé no lema do nosso fundador: "TÃO GRANDES COMO OS MAIORES DA EUROPA". 

 

Um dia, num treino do Varzim, o Joaquim Meirim, que tinha tanto de filósofo como de psicólogo e louco, disse a um guarda-redes espanhol que lá treinava, Jose Luis de seu nome, que era o melhor da Europa. Quando este então o inquiriu sobre a razão por que não jogava, Meirim respondeu-lhe que o Benje era o melhor do Mundo. O Sporting pode até ganhar a Liga Europa, mas a condição de melhor equipa da Europa paradoxalmente não lhe garante o título máximo doméstico. Por isso há que fazer pela vida, externa e internamente. E ser objectivo, que é como quem diz, sintético. Serve como análise? (Deu para "dobrar" os suiços.) 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Eduardo Quaresma. Edwards, Inácio e Gyokeres estiveram em bom plano. 

P.S. (Sobre o excesso de futebol nas televisões.) À hora a que termino esta crónica está a começar mais um jogo no 11, canal sempre na vanguarda da promoção do futebol exótico. Parece que é em casa (casota?) do São Bernardo. Não ouvi o adversário, mas suspeito que seja o Pastor Alemão. Ou então o Serra da Estrela, o que daria um belo clássico de montanha.

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