O "Killer Instinct" voltou
Pedro Azevedo
Recordo-me do tempo em que o então nosso treinador Bobby Robson sentenciou faltar ao Sporting "killer instinct". Robson tinha toda a razão. Imagino, pelas estatísticas disponíveis e conversas com os mais antigos, que esse instinto predador era o nosso paradigma no tempo de Peyroteo e dos 5 Violinos, mas foi coisa que nunca tinha realmente visto no Sporting, mesmo quando campeão (exceptuando talvez na época 1973/74, temporada que no entanto não contraria a minha premissa inicial na medida em que foi por mim ouvida na rádio e não vista no estádio). Até que chegou Gyokeres. O nosso jogador Neto, ontem, em bate-boca no programa "Titulares" da SportTV, afirmou que o sueco "não sabe brincar", dando como exemplo as correrias desenfreadas que empreendeu após entrar num jogo de Taça contra o Dumiense, quando o resultado já estava 4-0. Ora, o que Neto nos trouxe, e todos pudemos comprovar com os nossos olhos, é demonstrativo da tal atitude que há muitos anos andava arredada de Alvalade e contraria a esmerada arte de perdoar que era até aí paradigma do Sporting quando o nosso adversário estava de joelhos, o que não só nunca nos trouxe respeito como ainda nos deu alguns dissabores. E isso finalmente alterou-se, muito por causa do empenho contagiante de Gyokeres e da sua fome indomável de (mais) golos. Como consequência, após um primeiro período em que houve mais Gyokeres do que Gyokerismo, a doutrina passou, a máquina oleou e as goleadas apareceram em catarse. Senão vejamos: 8-0 ao Casa Pia e ao Dumiense, 6-1 ao Boavista, 5-0 ao Braga, 5-1 ao Estoril, 4-0 ao Gil Vicente e ao Tondela, 5-2 ao Vizela, além de sete vitórias por 3-0. Foi este querer sempre mais que elevou a capacidade competitiva da equipa e o seu ritmo de jogo, deixando para trás aquelas segundas partes sensaboronas que ao longo das épocas foram o nosso padrão após garantirmos uma vantagem folgada no marcador. Com o prego sempre a fundo, o "killer instinct" regressou, cortesia de um "assassino" sueco que veio do frio para nos aquecer os corações. Parece paradoxal, mas o único paradoxo foi o longo hiato em que o Sporting não se deu ao respeito.