Tudo ao molho e fé em Gyokeres
Pirâmide de Maslow, nesse sentido
Pedro Azevedo
Quis o destino que o Sporting visitasse a cidade que viu nascer Gil Vicente em plena época carnavalesca. Dado o contexto duplamente favorável para uma atitude teatral, os leões cedo representaram um cansaço inexplicável para quem ainda não tinha tido tempo para sujar os calções, apresentando uma farsa durante o primeiro acto de uma peça em que Trincão foi protagonista a actuar como um presidente de câmara orgulhoso das inúmeras rotundas que deixou como obra pífia. Em 4 ocasiões, o Gil poderia ter inaugurado o marcador, mas, por acção inspirada de Rui Silva e/ou azelhice dos seus avançados, o intervalo chegou com uma igualdade. No início do segundo acto, Rui Borges lançou Gyokeres. Ainda que visivelmente condicionado, só a presença do sueco intimida, entendendo-se essa presença como física ou mera projecção cinematográfica de um holograma (uma ideia de como fazer descansar Gyokeres e ainda assim, recorrendo a efeitos especiais, apoquentar os nossos adversários). Pelo que o Gil desconfiou, tornando-se menos afoito e concentrando atenções na marcação ao nosso ponta de lança goleador. Com isso, o jogo equilibrou-se, passando o Gil a atacar a medo, com receio de no processo perder a bola e assim soltar a fera sueca, deixando de posicionar dois ou três homens entre-linhas como durante o primeiro acto. Libertado de maiores preocupações defensivas, o Debast começou a subir no terreno, iludindo vários gilistas no drible como um Maradona belga ou combinando com os avançados em acções atacantes. Até que Gyokeres o viu solto no centro do campo e o belga recepcionou orientadamente com categoria e foi feliz na deflecção do subsequente remate num defesa que tirou a bola do alcance da acção do seu guarda-redes. Como um mal nunca vem só, as Parcas do destino logo trataram de deixar o Gil reduzido a 10 quando Zé Carlos abalroou Maxi, que caminhava isolado para a baliza. Pensou-se que o jogo teria terminado aí, mas após a farsa viria o drama. Felix Correia, um ex-jogador leonino que partilha com Nuno Moreira o único senão de não ser proveniente de Salvador da Baía, bailou com pagodinho sobre a defesa do Sporting e cruzou para Rúben Fernandes encostar com a cabeça para golo. Entrou então em cena o CarnaVAR de Barcelos, e 3 minutos depois o golo seria anulado por 3 centímetros. Com esse cenário digno de uma alegria dos cemitérios pré-quaresmal, o jogo chegaria ao fim com o triunfo do Sporting, que assim se qualificou para as meias-finais da Taça de Portugal, onde defrontará, a duas mãos, o Rio Ave. Com uma onda inaudita de lesões, o Sporting de Rui Borges depara-se perante a Pirâmide de Maslow: primeiro, necessita de saciar a fome (de vitórias), depois de melhorar a segurança (defensiva), para mais tarde recuperar a interacção ou coabitação entre os sectores e aumentar a auto-estima, até que finalmente possa estimular a criatividade a fim de voltar a ter o reconhecimento dos amantes do futebol. Passo a passo, "nesse sentido" (ascendente).
Tenor "Tudo ao molho...": Debast