The Boy Next Door
Diogo Jota
Pedro Azevedo
Stairway to Heaven: o craque anti-vedeta
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Pedro Azevedo
Stairway to Heaven: o craque anti-vedeta
Pedro Azevedo
A notícia sacudiu-me da semi-letargia das primeiras horas da manhã: "O Diogo Jota morreu" - escreveu um amigo no Whatsapp, uma frase que em mim produziu o efeito de um murro em cheio no estômago.
Todos os Leitores que seguem este blogue foram percebendo ao longo dos anos que eu tinha uma predileção pelo Diogo Jota, cujo "hype" era, na minha opinião, muito inferior ao seu real valor. Esse valor ancorava-se na objectividade das suas acções: era um jogador muito perpendicular, rectilíneo, que fazia da recepção orientada uma das suas grandes armas. Também rápido, vertiginoso até, qual filho do vento. E depois "tinha golo", não se assustava na área, era combativo, forte nos duelos, resiliente e tinha uma impulsão que compensava a sua falta de altura e lhe garantia um bom jogo de cabeça. No plano pessoal, era humilde, avesso ao protagonismo, dedicado aos seus, consciente de que o essencial do que tinha para falar deveria ser dito em campo. Com golos, assistências e desarmes que comprovavam o seu compromisso com a(s) equipa(s).
Independentemente do seu falecimento ser uma grande perda para o Liverpool e a Selecção Nacional, as minhas últimas palavras destinam-se a quem mais sentirá a sua falta, a sua família, país (perderam um outro filho no mesmo acidente que vitimou o Diogo), mulher e 3 filhos: que Deus vos abençoe e que a solidariedade de amigos e conhecidos vos ajude a mitigar um pouco a dor que acredito irá estar sempre presente.
Pedro Azevedo
A diferença entre o futebol e outras artes performativas como o teatro ou o bailado é que, embora também tenha um guião, este é ténue e dá muita margem para o improviso. Nesse sentido, ao contrário das outras artes mencionadas, o futebol é impreciso na medida em que desde o primeiro minuto depende de um conjunto de árvores de decisão que pode afastar muitíssimo o resultado final daquilo que é treinado. Desde logo porque, ao contrário do teatro ou bailado, há um adversário a contracenar em cima do palco apostado em que não se cumpra o guião escolhido por um elenco de pessoas e determinado em que se adopte o seu. Assim, o futebol aproxima-se muito mais de um Reality Show do que do teatro ou bailado, ainda que tenha uma carga coreográfica que emule estes. Mas não é suposto que Nureyev falhe tão flagrantemente um movimento quanto o Bryan Ruiz desperdice um golo em cima da baliza, e essa porção de inesperado é algo que tem de se levar sempre em conta num jogo de futebol, que, embora não pretenda representar a vida como o teatro e o bailado, tem o condão de nos confrontar muito mais com a mortalidade, ou não implique um conjunto predominante de acções condenadas ao fracasso.
Pedro Azevedo
Usando o pretexto da novela de mercado que envolve o Gyokeres, na semana passada falei-vos aqui da diferença existente entre o valor intrínseco e o preço de um activo. Hoje, oporei o conceito de valor absoluto ao de valor relativo.
Para Auguste Comte, o pai do Humanismo, tudo na vida é relativo, e esse é o único valor absoluto. Frederico Varandas, presidente do Sporting, primeiro definiu o preço que o clube pede para vender os direitos económicos de Gyokeres, com base numa avaliação interna que terá levado em conta o seu valor intrínseco. Agora, mostrando que essa avaliação não foi despropositada, recorreu a comparativos de mercado, ou seja, ao valor relativo. Para isso, definiu um benchmark, ou seja, o preço que o Manchester United aceitou pagar ao Wolverhampton por um avançado da mesma idade (Matheus Cunha), cerca de 75 milhões de euros. Porque uma coisa é a nossa avaliação de um activo com base na estimativa presente de proveitos vindouros (discounted cash-flow method), outra são os comparáveis de mercado, ambos sendo métodos aceitáveis de estimativa de valorização de activos (e de formação de um preço).
Pedro Azevedo
Três momentos insanos em que Cristiano Ronaldo mostrou não ser deste planeta. Na história do desporto mundial, no que concerne a atleticismo, Ronaldo talvez só encontre paralelo em "His Airness" Michael Jordan, o mítico jogador dos Chicago Bulls. Os 3 vídeos seguintes são disso elucidativos.
Pedro Azevedo
Uma coisa é o preço de um activo, outra é o seu valor intrínseco. Os direitos económicos que incidem sobre um jogador de futebol são um activo. O Sporting detém os direitos económicos de Gyokeres. Para o Sporting, o valor intrínseco do jogador é superior àquele que, por exemplo, um Manchester City (ou PSG) avaliará. Por uma razão simples: o sueco, no Sporting, tem sido um jogador determinante na obtenção de sucesso desportivo (dois Campeonatos e uma Taça) e concomitante retorno financeiro (acesso aos milhões da Champions). E é neste último que reside a diferença, na medida em que mesmo não descurando a importância do sueco para outro clube no que concerne à conquista de títulos, um City ou PSG não necessitam do jogador para estarem presentes na prova milionária. Por isso, o seu valor intrínseco para nós tem de ser superior, o que justifica em parte a diferença entre aquilo que o Sporting pede pelo jogador e o que o mercado neste momento parece estar disposto a pagar. E, nesse sentido, o Sporting não deverá estar disposto a aceitar um preço que seja inferior àquilo que avalia ser o valor intrínseco do jogador para si. Porque nunca vender abaixo do valor intrínseco é tão importante como comprar abaixo do mesmo valor intrínseco perspectivado, o que o Sporting cumpriu brilhantemente quando por uma hoje considerada bagatela de cerca de 25 milhões de euros adquiriu o passe de Gyokeres ao Coventry. É esse aliás o conceito de "value investing", como o senhor Bill Miller vos poderia explicar.
Pedro Azevedo
Não é que o futebol no continente americano tenha hoje equipas do calibre daquele Flamengo, de Zico, Júnior e Leandro, ou pelo menos do bom Boca Juniors, de Maradona, Gareca e Ruggieri, mas a realidade é que, após 3 jogos, as equipas portuguesas continuam incapazes de vencer as suas congéneres americanas, no Campeonato Mundial de clubes. O problema não é exclusivamente português: o campeão europeu, PSG, acaba de perder com o Botafogo e o finalista da mesma competição, Inter de Milão, empatou com os mexicanos do Monterrey, Fluminense e Dortmund igualaram-se em outra partida. Para quem esperava um "passeio no parque" das equipas europeias, este Mundial de Clubes está a surpreender. Porém, existem razões históricas que aconselhariam uma maior cautela nos prognósticos: em 8 edições do Campeonato do Mundo de selecções disputadas no continente americano, só por uma vez (Brasil, 2014) um país não-americano (Alemanha) venceu a competição. Além da adaptação ao clima, uma outra coisa que desfavorece os europeus é o ciclo competitivo: enquanto os clubes do continente americano estão em pré-época ou começaram há relativamente pouco tempo as suas competições nacionais, os europeus apresentam-se em final de época, com cerca de 60 jogos em cima. Por isso, apesar da qualidade das equipas sul-americanas estar longe do nível ocorrido antes da lei Bosman ter criado um furacão que abanou todo o futebol mundial, estão criadas as condições ideais para que este Campeonato do Mundo de Clubes tenha uma incerteza quanto ao vencedor maior do que à primeira vista seria de supor. Veremos então o que ele nos reservará...
Pedro Azevedo
Quando, no longínquo ano de 1385, corria o tempo de El Rei D. João I, as tropas portuguesas enfrentaram o exército de João de Castela, em Aljubarrota, a bola do jogo estava então longe da forma redonda que hoje lhe conhecemos, antes possuía a geometria rectangular de uma pá, aliás tecnicamente manejada com brilhantismo pela padeira Brites, o nosso Cristiano Ronaldo da época. [A presença da dita Padeira no contexto da batalha é uma questão do for(n)o interno português, que ainda hoje permanece envolta em algum mistério.] Todavia, a comandar as tropas, já havia um treinador (D. Nuno Álvares Pereira), por sinal bem português, ou não tivesse sido essa batalha uma resposta às pretensões castelhanas de influenciar as decisões estratégicas lusas através do Conde de Andeiro. O Conde acabou defenestrado no Paço e o Condestável avançou para Aljubarrota com um esboço da Táctica do Quadrado a faiscar nas sinapses do seu cérebro. O resultado foi o que se viu. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (como escreveu o Camões e cantou o Zé Mário Branco): não só o nosso herói dos tempos modernos alinha agora pelos árabes (Al Nassr) como quis o destino que, 640 anos depois, Portugal viesse a defrontar a Espanha na final da Liga das Nações de futebol com um espanhol no banco a entoar tão efusivamente o nosso hino que nem um patriota tuga nascido e criado no bairro de Xabregas, freguesia do Beato. Creio que é a isto que os mais cinicos denominam de Globalização.
A qualidade dos nossos jogadores foi sempre tão grande que Portugal chegou até a dar-se bem no tempo em que em vez do Santo Condestável havíamos sido dirigidos pelo (Fernando) "Santos Contestável", pelo que a realidade de o Roberto ser tão contestado nas vésperas de defrontarmos a Espanha não poderia ser um dado determinante no desfecho do encontro. Muda-se o ser, muda-se a confiança e a bem da verdade havia que pesar também nos pratos da balança o grande conhecimento que os nossos internacionais tinham de "Nuestros Hermanos" e da sua forma de jogar inspirada em Cruijff e nos seus discípulos: Nelson Semedo e Trincão foram jogadores do Barcelona, Ruben Dias e Bernardo Silva são treinados por Guardiola já há alguns anos, Nuno Mendes, João Neves, Vitinha e Gonçalo Ramos haviam acabado de atingir o pináculo da consagração europeia com Luís Enrique e Cristiano Ronaldo foi o grande ícone do Real Madrid e o areal inteiro na engrenagem que impediu que a hegemonia catalã nessa fase tivesse sido total. Havia também o facto de o nosso Seleccionador ser espanhol, embora a sua predilecção pela flexibilidade táctica, também conhecida por experimentalismo, o aproximasse mais da linha de pensamento de alguns cineastas portugueses do que da escola de futebol do país vizinho, não constituindo assim uma vantagem tão evidente para nós.
Todo o mundo é composto de mudança. Enquanto Martinez contava a táctica aos seus jogadores, na impossibilidade física de D. João I estar presente, a dupla de M&Ms da República, Marcelo e Montenegro, de megafone ao punho e postura de cheerleading no Beergarden de Munique, arregimentava os foliões lusos que previamente ao jogo aí se concentravam. Marcelo avançou logo com um prognóstico de 3-0, arrancando alguns sorrisos e mostrando-se assim particularmente identificado com a Funzone onde se encontrava. Não se sabe se igualmente foi transmitir a mensagem ao balneário, mas o doping emocional aos adeptos ficou logo ali dado. [Não são só os jogadores, os adeptos também têm direito ao seu aquecimento, e se umas cervejas ajudam a inflamar o corpo e a alma, depois o presidente faz o resto.]
Tomando sempre novas qualidades, Portugal foi sempre melhorando ao longo do jogo. Após um início sobre o fraco, penalizado com o primeiro golo da Espanha, a Selecção chegou ao empate numa grande arrancada de Nuno Mendes. Antes do jogo, os media espanhóis haviam projectado o jogo como um duelo geracional entre Lamine Yamal e Cristiano Ronaldo, mas esqueceram-se daquela assoalhada sita na algibeira do calção de Nuno Mendes onde Yamal morou durante todo o tempo em que esteve em jogo. Em cima do intervalo, a Espanha voltou a adiantar-se no marcador. Portugal entrou a perder no segundo tempo, mas Nuno Mendes não se conformou e cedo voltou a promover um desequilíbrio pela esquerda. A bola enroscou na perna de um adversário e aos 40 anos Cristiano Ronaldo compreendeu melhor o ponto de queda da bola que Cucurella e empatou o jogo. Com a entrada de Leão, sempre muito apoiado por Nuno Mendes, Portugal então superiorizou-se, efeito que se estendeu à primeira parte do prolongamento. Mas o que parece tão fácil nos pés de Ronaldo, e por isso é desvalorizado, foi difícil para Nelson Semedo e os demais, que não aproveitaram novas solicitações de Nuno Mendes, ontem em modo Bola de Ouro da France Football. Mas a justiça não foi feita ali, a segunda parte do prolongamento foi inconclusiva e tivemos de ir a penáltis. Aí Portugal não falhou nenhuma penalidade e Diogo Costa defendeu a de Morata. Seis anos depois, Portugal voltava a vencer a Liga das Nações, com o balzaquiano Ronaldo ainda e sempre parte do elenco. Um dia de festa portanto para uma grande maioria de portugueses mas também para os farmacêuticos do nosso país: o stock de Rennie e Kompensan esgotou, um facto nada insólito numa nação onde as poucas soluções são muitas vezes vistas como os grandes problemas.
Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Mendes
Pedro Azevedo
Estalou a polémica sobre a "auto-exclusão" de Eduardo Quaresma do Euro de sub-21, após umas declarações de Rui Jorge que foram particularmente arrasadoras para o jogador, em modo crucificação, o que no caso de um jogador com nome de Quaresma até nem será de estranhar.
Se eu fosse jogador de futebol, não tenho dúvidas de que seria para mim um privilégio representar a "Equipa de Todos Nós". Mas, vamos a factos: Eduardo Quaresma tem 23 anos, não é propriamente um sub-21, embora os possa representar em face das regras vigentes. E fez um campeonato excelente, que o recomendaria para o patamar acima, a equipa A de Portugal. É por isso natural que a sua motivação intrínseca para representar o país neste escalão não seja a melhor, ainda mais após uma época para ele particularmente exigente do ponto de vista físico. Está esgotado o jogador, do ponto de vista físico e também mental, e terá sido isso que comunicou a Rui Jorge como resposta à prévia inquirição do Seleccionador (pormenor que vejo ser desvalorizado nas análises). Este não reagiu bem, o que também se aceita. Mas a partir do momento em que optou por o verbalizar, sujeitou-se ao contraditório que agora venho exercer.
Começo por dizer que não é a acéfala clubite que me norteia, apenas os factos e só os factos. Facto 1: Eduardo Quaresma nunca foi um titular indiscutível para Rui Jorge desde que é elegível para os sub-21 (mesmo que tendo mais idade e experiência que os demais). Suspeita-se assim que não seria imprescindível para o treinador. Facto 2: existe o precedente de alguns clubes pedirem a exclusão de alguns dos seus jogadores elegíveis para as selecções nacionais com base na prevenção de problemas físicos. O facto de o Sporting não o ter feito não significa que o jogador não sinta não estar nas melhores condições, ele que foi acometido de várias maleitas durante a época. Facto 3: tendo já 23 anos e na sequência de brilhantes prestações durante a época, é natural que o jogador ambicione a Selecção princípal. Facto 4: se é verdade que o treinador é soberano nas suas opções, estas, ao longo do tempo, não deixam de ser escrutináveis. Nesse sentido, causou espanto na época que Pote, na altura (2020/21) melhor jogador e marcador do campeonato, fosse nos sub-21 suplente de Jota, um ex-junior promissor do Benfica cuja careira profissional ainda não confirmou o imenso potencial precocemente detectado. Ou que Gonçalo Inácio tenha chegado à Selecção A antes de ser notado pelos sub-21, numa época em que o Sporting foi campeão e ele um titular indiscutível.
Espero que esta polémica fique por aqui porque na verdade não me parece que a atitude do Eduardo Quaresma tenha sido tão lesa-pátria como agora se quer fazer crer. Creio no entanto que é importante prevenir que situações análogas não voltem a acontecer, o que na minha opinião passará também por critérios mais justos, coerentes e transparentes dos selecionadores envolvidos nestes processos de decisão.
Pedro Azevedo
(*) Últimos 30 anos (para trás não existem dados de assistências, razão pela qual jogadores emblemáticos como Manuel Fernandes, Peyroteo, Jordão, Vasques, Jesus Correia, Travassos, Albano, Balakov ou António Oliveira não constam desta tabela). Nota: entre os 10 primeiros de destacar a presença de Bruno Fernandes (médio) e de Pote (médio/interior esquerdo), dois jogadores com estatísticas fora do comum para a sua posição no terreno.
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