Tudo ao molho e fé em Gyokeres
O niilismo casapiano
Pedro Azevedo
Friedrich Nietzsche escreveu um dia: "Desde que me cansei de procurar, aprendi a encontrar. E depois de um vento me ter oposto resistência, passei a velejar com todos os ventos." Não sei se Amorim leu Nietzsche, mas esta equipa do Casa Pia foi o teste que mostrou que vale mais uma carta de marinheiro que mil cursos do IV nível do senhor José Pereira.
Apesar de uma ousada e enganadora inicial (primeiro minuto) migração para sul, cedo os gansos se dispuseram num conservador "V" (6-3-1). Ora, a ideia da formação em "V" destina-se conceptualmente a oferecer resistência ao vento, e vendaval era o que os casapianos, durante o vôo, poderiam esperar de Gyokeres e seus pares. Só que os gansos ainda andarão a mudar de pena e assim não podem voar, logo ficaram em terra, estacionados em metade do seu meio campo, cobrindo assim apenas um quarto do terreno. Como consequência, o Sporting teve no primeiro tempo uma posse de 87%, um número que seria de esperar somente num jogo que opusesse um candidato ao título máximo do futebol português a um clube dos distritais.
Durante o primeiro tempo, o Sporting cansou-se de procurar o espaço. Mas a maior parte dos espaços estava ocupada por casapianos, sempre em contra-vapor. E a parte menor, a que não estava ocupada por casapianos, era pertença de Harder. Pelo que só um movimento de Trincão que aliou velocidade de execução a precisão de relojoeiro permitiu desbloquear o marcador.
No segundo tempo, o Casa Pia continuou cá atrás, como quem espera pelo quase encerramento do casino para tentar uma cava de roleta. Só que o Amorim foi esperto. E substituiu Harder por Morita, trocando ter alguém a ocupar um espaço por outro que surgisse de trás a descobrir esse espaço, agora vazio. No fundo, cansando-se de procurar e aprendendo a encontrar. Com paciência, os espaços foram aparecendo em maior quantidade. E duma dessas nesgas de espaço para um homem comum o Gyokeres fez um latifúndio, ganhando um penalty que com alguma sorte foi convertido, cortando assim praticamente as asas a uns gansos que doravante procuraram voar mas só o fizeram baixinho. Baixinho como o nível futebolístico deste primodivisionário, ontem exibido em Alvalade, em que a falta de crença e de convicções dos casapianos os aproximou de um futebol destrutivo ao jeito da mesma doutrina filosófica que invadiu a literatura, arte, ética ou ciências sociais e teve como grande protagonista... Nietzsche. Porque é de niilismo que falamos, movimento que ao longo dos anos divide os especialistas em o classificar como positivo ou negativo. Eu vejo-lhe coisas positivas (início do texto) e outras profundamente negativas (postura do Casa Pia). Aplicando ao futebol, não pode treinar quem não acredita na finalidade do jogo, no porquê da sua existência, ou seja, o golo.
Seguimos líderes!!!
Tenor "Tudo ao molho...": Trincão