Tudo ao molho e fé em Gyokeres
Missão Impossível?
Pedro Azevedo
"Look at the stars
Look how they shine for you" - Yellow (Coldplay)
Jogar no Signal Iduna Park (Westfalenstadion) é estar num relvado cercado de amarelo por todos os lados. Os adeptos do Dortmund são provavelmente os mais entusiastas da Europa e fazem de cada jogo uma experiência única. O Sporting hoje fez parte dessa experiência, procurando não ser a cobaia. Passar a eliminatória era uma missão à partida impossível, com três teenagers (Quenda, Simões e Harder) a tentarem fazer de Tom Cruise (mais tarde também Alexandre Brito e Afonso Moreira, que Lucas Anjos já tem a enormidade de 20 anos). Muitos jovens a olharem as estrelas do Borussia Dortmund e a sentirem o brilho da Liga dos Campeões.
Para ainda dificultar mais a nossa missão, muito cedo se percebeu que João Simões e Hjulmand, os dois médios centro do sistema de 3-4-3 que Rui Borges recuperou (com o Arouca, após a entrada de Harder, o Sporting atacou pela primeira vez em 4-4-2, pelo que a escassez de médios promete pôr de lado as várias nuances de 4-3-3 anteriores), tornaram-se as mais recentes vítimas da conspiração universal contra a nossa Unidade de Performance (o "azar"). Se a qualificação para a fase seguinte seria a sorte grande e a vitória no jogo o segundo prémio, o Sporting teve de contentar-se com a terminação (não perder). Ainda assim, valeram-nos as exibições de Eduardo Quaresma e do guarda-redes Rui Silva, dois rochedos que encravaram a engrenagem da máquina alemã. Quaresma esteve soberbo, imperial até. Foram inúmeras as vezes em que desarmou adversários dentro ou nas imediações da área leonina, assim como incontáveis as ocasiões em que surgiu como pronto-socorro a equilibrar o que já estava desordenado. Se não calar hoje a boca de analistas tão condescendentes e coniventes com a mediocridade e simultaneamente tão obstinados em lhe apontar o dedo ao mínimo erro, então isso simplesmente nunca ocorrerá. Mas teve uma única falha, na leitura da linha de fora de jogo, e isso deverá servir de bálsamo à usual narrativa de quem embirra com ele. Uma coisa é certa, no 1x1, por ele ninguém passou, foi um colosso, tanto que meteu o Gittens no bolso e este já nem voltou do intervalo. E é, indiscutivelmente, um grande jogador, um jogador à Sporting, com muita técnica, velocidade e força nos duelos, à espera de finalmente ser uma aposta consistente de um treinador leonino para se afirmar definitivamente. Em grande esteve também o Rui Silva, que até um penalty defendeu, entre outras três paradas de grau de dificuldade elevado. Temos "Keeper"! Fora deste duo, a equipa revelou limitações. Por exemplo, o "Menino do Rio", formado no Fluminense e proveniente do Bahia, mostrou um futebol que se esgota dentro de uma caixa de fósforos, sem acesso à parte de fora para causar uma fricção capaz de fazer lume - um(a) Biel(a) incapaz de dar vida a um motor. Esgaio empenha-se séria e profissionalmente mas é curto, Inácio está em muito má forma e falha muitos passes, Harder viu-se sozinho e teve de lutar muitas vezes contra 2 ou 3 adversários. Os substitutos estiveram bem melhor: Alexandre Brito, após um início nervoso, fez o nosso primeiro remate com perigo, Afonso Moreira revelou personalidade com bola e bons pormenores técnicos, Lucas Anjos deu-se à luta como se estivesse a jogar com o 1º de Dezembro e Maxi mostrou a qualidade habitual com bola e uma boa noção dos tempos de jogo.
Enfim, não foi a "Missão Impossível", mas pelo menos não houve "O Silêncio dos Inocentes". A longa-metragem a que assistimos teve título e sub-título intermédios, uma "Missão para Inocentes" (jovens) atrapalhada pelo "Silêncio Impossível" que pode haver à volta da catadupa de lesões que nos assolam. Ainda assim um filme com um razoável "box office", aquele que com 1 ponto conquistado é garantido pela UEFA.
Tenores "Tudo ao molho...": Eduardo Quaresma e Rui Silva, ex-aequo.