O Sporting começou a época de 2023/24 de uma forma natural para um concorrente ao título de campeão nacional, o que não quer dizer que isso não marque a diferença para várias outras temporadas em que estivemos longe de estar à altura da nossa ambição. Agora, o que não me parece bem nesta conjuntura positiva é que haja correntes extremas que se andem a degladiar por aí como se o presente fosse um mar de rosas e o passado todo um fado triste, ou como se o presente fosse uma desgraça e o passado é que "era" (bom). Vamos ser realistas, a grande diferença do Sporting desta época para a anterior tem um nome: Gyokeres. O resto dos reforços ainda não convenceu na plenitude, o que coloca a legítima questão se foi investimento ou gasto. Além de que a aposta na Formação estancou, não se sabendo se por falta de qualidade - o que põe em causa o projecto da "Formação centrada no jogador, o holístico e assim..." - , se por não aposta do treinador. O que eu sei é que as duas melhores época recentes do Sporting no binómio custo/rendimento desportivo foram a de 2013/14, com Leonardo Jardim, e a de 2020/21, com Rúben Amorim. E sei também que em ambas as expectativas iniciais estavam baixas, por isso lançámos vários jovens e tal trouxe uma suave brisa a Renascimento. Depois, em ambas as eras, perdeu-se um pouco o rumo. Poderíamos (e deveríamos) ter ganho em 2015/16, e muito haveria a dizer sobre isso, como poderíamos ter ganho em 2021/22, mesmo com um goleador associativo, se não tivessemos adormecido e dado parte de fraco nos Açores e sido indecentemente prejudicados em Alvalade com o Braga e no Dragão. Mas, depois, nos anos seguintes, o que ocorreu? Em 2016/17 e 2022/23 tivemos das piores temporadas de que me recordo no Sporting, com orçamentos elevadíssimos, contratações que todas somadas apontaram para valores milionários e um rendimento em campo muito fraco. E sem aposta nenhuma na Formação (os poucos minutos conferidos a jovens foram como um cortinado que depois de corrido não esconde a visão do essencial). Ou seja, tudo ao contrário do que deveria ser.
Não se pode reescrever o passado, excepto para alguns escribas, mas deve-se lê-lo e, se possível, aprender com ele. Além de que tudo poderá correr melhor se formos esclarecidos e tivermos a exacta noção do que existe: nas duas últimas épocas, entre um saco de reforços, destacam-se no actual plantel os jogadores Diomande, Morita e Gyokeres. E há 4 traves mestras em atletas como Coates, o Grande Capitão, Pote (mesmo quando não em forma tem uma leitura do que o jogo pede superior), Gonçalo Inácio e Nuno Santos. Todos os outros são como as luas, inclusivé o por vezes genial Edwards. Obviamente, há lacunas, as mais gritantes a ausência de um médio box-to-box para jogar com Morita, agora que este teve de recuar no terreno para compensar a ausência de um Ugarte ou de um Palhinha, e um lateral/ala direito que nos faça esquecer o Porro.
Se estamos onde estamos, muito o devemos aos jogadores que supracitei, permitindo-me eu destacar aqui a qualidade de recepção ou do primeiro toque do japonês, um fenómeno de 3,5M€, e a potência e definição do sueco, um jogador caro que nos saiu muito mais barato do que aqueles baratos que saem caro, o que só concorre para demonstrar que nem sempre o dinheiro é significado de qualidade/felicidade (mas ajuda muito). O que vai acontecer daqui para a frente, ninguém sabe. Mas é crível que possa não correr muito bem, atendendo às limitações que aqui não escondo ou olvido, se continuarmos a usar as vitórias, uns, ou as derrotas, outros, para exercícios de revanchismo que, da maneira que se vê a cultura desportiva neste país, podem atrair muitos interessados, mas sinceramente de nada servem ao Sporting e à sua equipa de futebol.
O Sporting precisa de ganhar. E necessita também de adeptos conscientes, que não se deprimam nas derrotas e não beijem a lua nas vitórias. Só assim podemos vencer, aproveitando o pior Porto de que tenho memória e um Benfica que contratou muito mas não com o perfil certo. Assim, as nossas limitações não deslustram das dos rivais, se exceptuarmos a questão da profundidade do plantel, aspecto onde a sobrecarga de jogos pode influir em nosso desfavor. Lá está, podemos pôr um miúdo na equipa principal aos 16 anos e disso recolher loas de Seca e Meca, mas no final do dia o importante teria sido que esse jogador tivesse tido um crescimento sustentado em número de jogos e de minutos em campo. Porque um chavão não deve ser só um produto de marketing, tem de ter substância. Caso contrário não passará de um arrazoado mal cosido de conceitos tão extremos como holístico e individual, mais caro o primeiro do que o segundo. se bem que caro mesmo é não querer perceber que não se educa um jogador do Sporting a perder, e que nunca haverá um todo superior à soma das partes, se o todo for revolucionado todas as semanas. Assim, sem segmento afluente que chegue lá, estamos restritos ao que temos. E terá de ser com esses que iremos até ao fim. Esperando que os nossos melhores não desfaleçam em combate, porque deles, e do nosso apoio, dependerá muito do sucesso ou insucesso desta época. O resto (o ruído) são tretas (perdoem-me a expressão), logo uma tremenda perda de tempo. (O tempo é a mercadoria mais importante nas nossas vidas.)