Os deuses devem estar loucos
Pedro Azevedo
Movo-me pelo amor às coisas, nunca fui propriamente anti fosse o que fosse e obviamente até reconheço ao Benfica a sua contribuição histórica para a grandeza do Sporting (e vice-versa), mas a derrota de ontem dos encarnados não deixou de me dar um certo gozo. Não pelo desaire do clube em si, que eu estou mais focado é nas vitórias dos nossos, mas pelos ecos permanentes de uma imprensa que nos transmitia que o Campeonato, tal como a pescada, antes de o ser já o era, ou seja, tratar-se-ia de uma mera formalidade em que os demais competidores se ajoelhariam à passagem do andor vermelho. Então, não é que o clube maravilha, dos jogadores de cento e tal milhões e das mil e uma noites de glória (no Dubai, onde o Mendes dá prémios todos os anos), do astro Cai-Maria e companhia, levou um xeque-mate no tabuleiro do Bessa? Os deuses devem andar loucos!!!
De modo que o meu titubeante Sporting, das contratações que tardam ou chegam depois da hora, dos mil e um hara-kiris e das centenas de desilusões, da incerteza e sobressalto permanentes, lhe leva 3 pontinhos de avanço. Com um ponta de lança que a imprensa nunca deixou de frisar ser proveniente de uma segunda divisão, o que para o Darwin, atendendo certamente à evolução das espécies - eles também têm a Girafa (Luisão) - , nunca foi um problema. Contrariando até o proverbial fado com um golo tardio, minuto que curiosamente se viria a revelar fatal para o seu rival de sempre. Os deuses andam mesmo loucos!!!
Bem sei, a procissão ainda vai no adro, mas, enquanto a poeira não assentar e o mau tempo nos canais (televisivos) continuar, sabe bem sentir esta loucura no ar. E ler as explicações dos aturdidos fazedores de opinião, que vão do bater de asas da borboleta (Teoria do Caos) até à Lei de Murphy, que um mal nunca vem só e há males que não só não estão nos livros (ou cartilhas) como até desafiam o racional. Quanto ao passional, há 6 milhões de benfiquistas por alegrar, o PIB por incrementar e um país por salvar, pelo que algo terá de ser feito com prontidão. Enquanto tal não se torna realidade, os comuns mortais não-escarlates unem-se aos deuses e gozam o prato. Muito.