O Gyokerismo
Pedro Azevedo
Viktor Gyokeres é um atleta excepcional. Tem envergadura, altura e potência (força e velocidade). É leal nos duelos - comportamento que revela um saudável espírito de desportista - e respeitador do espectador que paga para ver o empenho de um jogador durar os 90 minutos de um jogo O seu físico e mentalidade aproximam-no mais de um jogador de rugby do que de um futebolista - é um Purista, e como tal corre o risco de não ser entendido ou valorizado no ambiente tóxico do futebol português por alguns árbitros e uma certa estirpe de comentadores, estes últimos sempre solícitos a gabar a "inteligência" de quem se deixa cair ao chão ao menor sopro. São traços de uma enviesada cultura desportiva em Portugal, onde o fim (ganhar) assume sempre mais relevância do que a forma (como fazer para ganhar) e a crítica é feita consoante o resultado. Entendendo eu que é importante erradicar esta mentalidade, a relevância de Gyokeres para o futebol português vai além do seu rendimento desportivo, no sentido de que seria interessante se todos aprendêssemos algo com ele. Todavia, tenho poucas ilusões, é mais difícil replicarmos a sua ética de trabalho do que o jogador se aculturar ao status-quo luso. Quando idealmente o que deveria prevalecer seria a doutrina que o sueco trouxe. Será possível haver Gyokerismo mesmo sem Gyokeres? Ou vamos continuar a educar na elegia da trafulhice?