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Se o estatuto ganhasse jogos, estes seriam sempre decididos pelos presidentes dos clubes. Mas não, os presidentes não jogam, e o estatuto não devia jogar, também. Além de que confundir o estatuto com a imprescindibilidade será sempre um erro. Na Selecção, imprescindíveis são Ruben Dias, Nuno Mendes, Vitinha, João Neves, Ronaldo (apesar dos "apesares" não há ninguém com tanto faro de golo) e Diogo Costa (grandes reflexos, corre na baliza como os melhores guarda-redes, joga optimamente com os pés, continua sem resolver o problema do timing de saída aos cruzamentos por alto, mas não há melhor do que ele), observados o momento de forma e as opções alternativas existentes. Mais ninguém. Bruno e Bernardo têm estatuto e mereceram-o, mas neste momento não são imprescindíveis na Selecção e não deveriam jogar sempre, muito menos em jogos com pouquíssimo tempo de intervalo entre eles. Que o estatuto é tudo para Roberto Martinez é fácil de constatar, mas Portugal tem uma equipa tão boa que até a cadela Laika ao seu leme entraria novamente em órbita. Por isso, resiste a jogar contra um time iminentemente físico e forte no jogo aéreo sem um Palhinha para ganhar a primeira bola, expondo assim sistematicamente os defesas. Não parece haver plano de jogo porque o plano é a categoria individual dos nossos jogadores. O Trincão é decisivo contra a Irlanda, no jogo seguinte não sai do banco. O Pote tira uma licença sabática de cada vez que vai à Selecção. Com o jogo por decidir, Martinez subtrai aquele que provavelmente é o melhor jogador do mundo neste momento, o Nuno Mendes. Por cansaço? Por cansaço não seria, pelo menos observando o estado em que se encontrava Bernardo, qual Lawrence da Arábia após uma semana a deambular sem água no deserto. Também saiu Ronaldo, autor de um bis de plena oportunidade e capaz de reter 2 húngaros sempre com ele. Entrou o Ramos, para alegria de grande parte da nação. Infelizmente, tratou-se de uma alegria dos cemitérios, que o homem voltou a chegar atrasado ao seu destino. O do golo, mas também o da titularidade - dizem eles, os do costume. Também foi a jogo o Félix, dizem alguns, embora só se tenha alegadamente visto num cabeceamento. Félix que sempre foi um daqueles protegidos de Martinez, tantas vezes em detrimento do injustiçado Jota, aquele que agora o Seleccionador evoca à laia de aggiornamento. Não há volta a dar, com Martinez vai ser sempre isto. Com falinhas mansas e um discurso sempre politicamente correcto, continuará preso a cumplicidades que no seu imaginário lhe garantem o equilíbrio no balneário. O problema é que os jogos ganham-se essencialmente no relvado. E será pelo que acontecerá no relvado, pelos resultados, que no fim Martinez será julgado. Se ganhar, o Mundial, como venceu a Liga das Nações, será incensado. Se perder, será recordado como um Seleccionador situacionista e incapaz de um rasgo, destruidor de umas gerações cruzadas de talento indiscutível, incompreensível nas suas opções e, pior, nas concomitantes explicações. Hoje, até a atirar uns dardos ao calhas, qualquer português teria escolhido um melhor onze e certamente produzido melhores substituições. Porque jogador que actue em Portugal não tem estatuto para Martinez. Mas se amanhã for para o estrangeiro, logo será titular. É uma pena que Martinez não vá também para o estrangeiro, se bem que o seu estrangeiro seja Portugal, o país que lhe deu a redenção após ter perdido uma geração de talento único na Bélgica, selecção com que chegou a cometer a proeza de não ultrapassar a fase de grupos no último Mundial.
Tenor "Tudo ao molho...": Cristiano Ronaldo