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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

30
Out25

Neemias voa na NBA


Pedro Azevedo

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Titular pela quinta vez consecutiva neste início de temporada (cinco jogos), o poste português Neemias Queta obteve o seu primeiro duplo-duplo da temporada (10 pontos e 13 ressaltos) na vitória folgada dos Boston Celtics sobre os Cleveland Cavaliers (125-105). Com esta exibição, a que não faltaram também 3 assistências, 3 roubos de bola (contra apenas 1 turnover e uma falta pessoal) e uma contribuição de +25 pontos de diferença para a sua equipa nos minutos (25:39) em que esteve em campo (melhor desempenho individual de todos os jogadores na quadra),  Neemias tem agora um acumulado de 45 pontos e 45 ressaltos na época, números que o aproximam de uma média de duplo-duplo (9 pontos e 9 ressaltos, por jogo). 

29
Out25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

A Quinta do Blopa


Pedro Azevedo

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Há poucos dias morreu Francisco Pinto Balsemão, um arauto da democracia e da liberdade da imprensa (e de expressão), valores que hoje permitem a um blogue como "A Poesia do Drible" criticar uma Taça da Liga anti-democrática, um paradoxo tuga do pós-25 de Abril que só podia ter nascido na cabeça brilhante (com brilhantina) de Pedro Proença e que consiste no absurdo de ter em excesso na Primeira Liga um conjunto de clubes que depois está em (enorme) défice na Taça da Liga (que é uma associação composta por 34 clubes e 36 equipas profissionais). Haja quem entenda isto...

 

A noite em Alvalade provou mais uma vez que Rui Borges é um treinador subvalorizado por imprensa e adeptos. Tacticamente, a variabilidade do jogo do Sporting é por demais evidente. Hoje, por exemplo, tivemos os laterais por dentro e os interiores por fora, daí resultando duas assistências de Vagiannidis e dois golos de Salvador Blopa, um miúdo de 18 anos em estreia absoluta no onze principal do Sporting. Deu também para silenciar as vozes que aqui e ali iam criticando o Ioannidis, que não só foi de um labor extraordinário como marcou um golo fabuloso. Para continuar a ser de grande utilidade, basta que a equipa mude o "chip" e o sirva em profundidade quando ele render o Suarez. Como hoje aliás fez. E depois foi muito bonito ver o Flávio, um estagiário no escritório dos Gonçalves que eu tenho como um sucedâneo de Pote em tirocínio em Alcochete, o Rodrigo Ribeiro (nova oportunidade na A), o Rayan, o Grombahi e o Muniz em acção, num jogo onde Quenda (2 golos) e Quaresma (imperial na defesa) merecem também destaque. 

Venha a Final Four desta singular competição a 8 em que nada é deixado ao acaso e tudo é feito ao detalhe para que não falhem os 4 finalistas que antecipadamente se quer ver em compita. Fosse assim tão fácil acertar nos números do Euromilhões...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Salvador Blopa (2 golos na estreia oficial pelo Sporting). 


P.S. A Quinta do Blopa: Salvador, Flávio, Rayan, Chris e João. 

27
Out25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O Colosso de Rodes no nosso museu


Pedro Azevedo

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Caro Leitor, um grupo de arqueólogos ontem reunidos em Tondela revelou ter encontrado numa primeira fase vestígios que indicam a existência de uma réplica do Colosso de Rodes na cidade,  evidências essas mais tarde confirmadas numa peritagem observada no estádio João Cardoso. Um Colosso que afinal não foi um tributo ao deus sol (Hélios) mas sim uma homenagem a Bernardo Fontes, um gigante com 33 metros de altura e uns braços tão longos quanto os tentáculos de um polvo. Alertado para o facto, há rumores de que o Sporting prepara-se para o transferir para a capital a troco de 225 milhões ou assim, emitindo para tal um conjunto de obrigações proporcional aos pedaços de bronze (resquícios de um Verão mais largo do que o habitual) que o nosso terramoto de futebol atacante foi capaz de finalmente desmembrar. Esses fragmentos em bronze serão entregues em Alvalade através de um "private placement" do JP Morgan a fim de que o puzzle (de Fornecedores) possa ser montado e o Colosso reconstruído e apresentado como principal atração no futuro museu do clube, justificando-se assim o forte investimento. 

Com João Simões como dínamo de um futebol de grande fluidez atacante, "comendo" espaços outrora só cobertos através do passe, o Sporting cedo encostou o Tondela às cordas. Durante a maior parte do tempo, o jogo pôde resumir-se a um duelo particular entre o colombiano Suarez e o brasileiro Fontes, uma batalha sul-americana que o guarda-redes foi vencendo aos pontos. Não obstante, Suarez logrou desferir um golpe que deixou Fontes à beira do K.O.,  porém a rede abanou mais do que o guarda-redes e este acabou por chegar ao fim dos 15 assaltos (à sua baliza), um número equivalente ao dos antigos combates profissionais de boxe (entretanto reduzido para 12), ou não fosse o Colosso de uma outra era. E se o Colosso bem pode ser considerado uma das 7 maravilhas do mundo, o que dizer da Art-Deco do nosso Pote? O Pote foi tantas vezes à Fonte(s) até que a partiu, uma subtil mudança de desfecho de enredo que se ficou a dever ao génio do jogador português, primeiro tirando dois adversários do caminho através de um misto de simulação e finta, depois finalizando com um remate indefensável até para um Colosso. Vencida a resistência tondelense, tempo ainda houve para que 4 dos 5 jogadores com que Rui Borges refrescou a equipa combinassem para o terceiro golo, num lance pensado por Alisson, Kocho e Matheus e concluído por Quenda, com o treinador do Sporting a mostrar pelo segundo jogo consecutivo o seu toque de Midas nas substituições. 

Tenor "Tudo ao molho...": Suarez

24
Out25

Filhos e Enteados


Pedro Azevedo

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Da segunda vez em que uma equipa equiparou-se-lhe (a primeira foi o Red Bull Salzburgo) em fisicalidade, o Porto mostrou zero soluções, não teve génio ou pelo menos criatividade para criar um lance de perigo durante todo o jogo, com os fantasistas Mora e William a verem a maior parte da partida a partir do banco. E perdeu, bem. Mas Farioli é o treinador da moda em Portugal e assim a crítica será leve. Ainda que, ontem, com esse Far(I)ol(I) de ideias, não houvesse navio que não se afundasse. No Benfica, Mourinho queixou-se da falta de soluções, após ter sido copiosamente batido em St James Park. Afinal, Bruno Lage não era um privilegiado, com um plantel riquíssimo, como Mourinho afirmara quando ao serviço do Fenerbahçe. Era para motivar os turcos, diz agora o "Special One", negando a convicção do que afirmou anteriormente. E por conseguinte, (hoje) deve ser para destruir o moral dos seus (actuais) jogadores. Mas Mourinho tem fama (e proveito, mesmo quando "mete água", ainda que esteja longe do seu pico) de bom comunicador e irá passar entre os pingos da chuva. Quem não escapa à crítica é o Rui Borges, faça ele o que fizer. Mesmo ganhando, numa ronda europeia onde o Sporting foi aliás o único grande a vencer. Algumas das críticas são justas, mas a maioria não. Partem de uns "nouveaux-riches" (e outros,  remediados) que por vestirem uma camisinha da Ralph Lauren logo acham que podem olhar os humildes de cima para baixo e esquecer as suas próprias origens (já um verdadeiro senhor sabe estar em qualquer ambiente e fazer sentir bem qualquer pessoa), as mesmas que o Rui Borges, e muito bem, nunca renega. Eu estou com ele, a crítica construtiva é sempre bem-vinda (na minha opinião, que não a dispenso e nunca gostei de "yes men"), mas a recorrência de histórias de alheiras e quejandos para o minorar já cheira a refogado, o que não combina nada bem com o produto (frito) de Mirandela. É um tique português, esse de preferirmos os pantomineiros que nos enganam com a pose com que disfarçam o seu ser em detrimento dos homens genuínos. E fica-nos mal. Muito mal. Força, mister! 

23
Out25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O dia de Rui Borges (La Vie en Rose)


Pedro Azevedo

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O Bertrand Russell dizia que muitos homens cometem o erro de substituir o conhecimento pela afirmação de que é verdade aquilo que eles desejam. Depois de ouvir Rui Borges após a recepção ao Braga, cheguei a temer que isso se estivesse a passar com o nosso treinador. Mas hoje, no pré-jogo, numa mini-entrevista à SportTV, vi Rui Borges reconhecer que deveria ter utilizado o João Simões nesse jogo e percebi que ele retirou ensinamentos do erro. Fiquei aliviado, mais ainda quando vi o miúdo Simões a subir ao relvado como titular. Costuma dizer-se que Deus protege os audazes e o nosso treinador teve hoje um dia de afirmação. Um dia inteiramente merecido, porque uma coisa é a crítica construtiva e outra é o enxovalho. O amor afirma, o ódio nega. Mas por cada afirmação há milhares de negações. Assim o amor é pequeno em face do que se odeia (Vergílio Ferreira). Hoje, Rui Borges conseguiu que isso fosse mentira. E assim chegou à verdade. Com conhecimento. Fazendo substituições decisivas para a vitória, que Geny e Alisson marcaram os golos do triunfo e Ioannidis deu imenso trabalho ao Marselha, a atacar e a defender. Ainda sobre a verdade, a nota de que Simões teve dois raids com bola na primeira parte que fizeram jus ao que muitos comentadores vêm escrevendo por aqui, além de um passe para Suarez que ia dando golo e uma espectacular rotação sobre um defesa que o argentino que guarda as redes do Marselha evitou que só parasse dentro da baliza francesa. E por último, mas não menos importante ("last but not the least"), mais uma verdade, ou melhor, a VARDADE: o árbitro e os seus auxiliares cometeram 3 erros, todos em prejuízo do Sporting (penalty contra nós, golo anulado e expulsão de Maxi) que o VAR inverteu. Com o "plus" de com a anulação do penalty contra ter vindo também o segundo amarelo e concomitante expulsão de um jogador do Marselha, permitindo-nos jogar toda o segundo tempo contra dez (estranhamente, ganhámos, o que deve ter deixado a fazer contas de cabeça o "filósofo" JJ). Foi bom para o Sporting e veio na altura ideal para calar quem parece querer substituir a verdade sujeita a erros ou omissões pela mentira que criou tanta escola que chegou até a ser vista como verdadeira. 


Os jogadores e a equipa não estiveram perfeitos, a noite sim. E esperançosa, também. devido à forma como Rui Borges preparou o jogo e agiu durante o mesmo. Adensou-se porém uma dúvida: no lance do golo do Marselha, Fresneda não só deu muito espaço à recepção de Paixão como depois lhe ofereceu o lado de dentro para rematar, dois erros na mesma jogada que me fizeram questionar se ganhámos alguma coisa ao trocar um terceiro central por um lateral direito convencional. 


Há 50 anos atrás, o Marselha levou-nos o nosso imortal Yazalde. A vingança serviu-se não fria, mas como naqueles congelados da Iglo. Tanto assim foi, que teve de ir ao micro-ondas (do VAR) para se fazer justiça. Três jogos, seis pontos na Champions. Segue-se uma viagem a Turim, capital da região do Piemonte que curiosamente tem uma bandeira muito semelhante à da Dinamarca. Depois da afirmação de Rui Borges, será esse o sinal da reafirmação de Hjulmand (algo alheado esta temporada) no panorama do futebol europeu? Ou será que estou a ver "La Vie en Rose", única consequência positiva que se pode retirar da observação daquele leão (tra)vestido de pantera cor de rosa que mais parece saído de uma comédia do Blake Edwards? (Quem sabe se subliminarmente não nos estão a oferecer a parábola de um Rui Borges como uma espécie de Inspector Clouseau, algo desajeitado e errático no discurso e na acção, mas que no fim leva sempre a sua avante e sai ganhador?)


PS: Estamos a precisar do melhor de Trincão e Pote.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Geny Catamo

19
Out25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Conta-me histórias…


Pedro Azevedo

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Houve um tempo em que visitar Paços de Ferreira era um sinal de mau agoiro. Aí, enquanto campeões em título, chegámos a ser goleados por 4-0 (2002/03), por exemplo. O Paços já não é o que era e o Sporting actuai é bem mais consistente do que nesses tempos, mas ontem foi preciso bater três vezes na madeira (uma delas com a ajuda de um "Castor") para sairmos da Capital do Móvel (faz sentido!) com a qualificação para a próxima eliminatória. 


Mais do que contrariar a lógica, o futebol destrói até o mais elementar silogismo aristotélico. Senão vejamos: há cerca de mês e meio atrás, a equipa B do Sporting espetou três golos (as tais 3 pancadinhas que dão sorte...) sem resposta nos pacenses, em jogo a contar para a Segunda Liga. Tomemos essa como a primeira proposição. Ora, se é só senso comum que a nossa equipa principal é teoricamente superior à B (segunda proposição), logo o jogo de ontem deveria ter terminado com uma goleada dos Leões (mais de 3 golos de diferença). Mas não... 

 

Fala-se muito da mudança de sistema como explicação para os piores desempenhos do Sporting. Rui Borges defende-se com as estatísticas, que mostram um Sporting que cria mais e concede menos oportunidades. O problema é que essas oportunidades que concede, geralmente produto de erros individuais, são normalmente fatais. Desde logo porque já não há o central extra que escondia melhor os erros individuais que hoje saltam mais à vista e prejudicam o colectivo. Não se pense porém que o sistema é a origem de todos os males, porque não o é. Os erros de casting de Rui Borges têm sido mais do que muitos, com especial incidência no meio campo, e esse é o maior problema. Não é só a opção de prescindir de um central para fazer entrar um lateral que não faz a diferença (e o Travassos mesmo ali ao lado... Vagiannidis não faz a diferença para Fresneda, o que quer dizer que não faz também a diferença num jogo), o ostracismo a que vem confinando o Simões é um caso de estudo de como o estatuto pode influenciar as escolhas de um treinador. Um distúrbio psicológico conhecido por Martinice, por afectar primeiramente o actual Seleccionador nacional. Sem um meio campo que filtre e com uma defesa ad-hoc, que não respeitou a linha de fora de jogo e raramente esteve alinhada (o que não acontecia com Ruben Amorim), com Vagiannidis nesse particular a abusar do mau posicionamento e Quaresma e Diomande a excederem-se nos erros individuais, o Sporting mostrou muito pouco rigor e expôs-se ao que o Paços ofensivamente conseguisse fazer. Por isso, os Castores, ainda sem vencerem esta época, estiveram por duas vezes em vantagem no marcador, ainda que as suas limitações fossem por demais evidentes. Valeu-nos então o grego Ioannidis, herdeiro de um tipo de jogo que nos valeu três campeonatos, que tanto soube explorar a profundidade como servir apoios a quem vinha de trás. Por isso esteve nos 3 golos, com uma acção preponderante no primeiro (houve um penalty sobre ele antes de a bola sobrar para Pote), um cabeceamento mortal no segundo (um "plus" face a todos os nossos avançados neste último triénio)  e estando na linha da bola na assistência de Fresneda para o terceiro, que um pacense tentou até à última impedir sem  conseguir evitar introduzir a bola na sua própria baliza. 

Foi pobre o jogo do Sporting e paupérrima vem sendo a nossa ideia de participação na Champions, encarada como uma forma de ganhar uns cobres, com a concomitante ideia peregrina de poupar jogadores na maior competição planetária de futebol, nesse transe relegada para um plano inferior a uma "Taça da Carica" (Taça da Liga). Algo inadmissível (e insólito) num clube que tem como lema "Tão grandes como os maiores da Europa" e que bem precisaria de fazer valer a sua marca na grande montra do futebol. Porém, tanto disparate vem produzindo uma virtude: é uma oportunidade para vermos em acção o João Simões, um miúdo, tal como outros miúdos como o Flávio Gonçalves ou o Mauro Couto, com quem efectivamente Rui Borges não conta, o que dá razão àquela expressão de William Bruce Cameron, quando disse: "Nem tudo o que pode ser contado, conta". E sobre Simões, não houve até hoje ninguém capaz de nos contar tantas histórias como o mister Rui Borges. Histórias que acabam com uma moral: o miúdo a assistir na bancada (Braga) ao jogo dos mais velhos - "É o que é!"

Tenor "Tudo ao molho...": Fotis Ioannidis

17
Out25

O meu louvor a Pedro Henriques


Pedro Azevedo

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O meu louvor para o Pedro Henriques, antigo lateral esquerdo do Benfica e emérito comentador desportivo, que eu já aqui havia destacado anteriormente como um dos três melhores do país. O meu louvor deve-se à imparcialidade que já demonstrava na SportTV e agora mantém na SIC Notícias (o meu apreço é mais lato e atribui-se a uma leitura dos jogos que não anda à boleia do momentâneo resultado nem de preconceitos técnico-tácticos que muitas vezes não reflectem as nuances que se vêem no relvado, bem como à gíria muito própria que emprega nos seus comentários e traz "cor" ao jogo, da qual destaco termos como "alegria nas pernas" ou "partiu a corda", por exemplo). Ontem, perante mais um reacender da fogueira em que se transformou a final da Taça perdida para o Sporting, com Rui Costa e Mourinho desta vez como perpetradores do fogo posto, Pedro Henriques chamou a atenção para o óbvio: independentemente das más acções do árbitro e do VAR que não puniram a inadmissível agressão de Matheus Reis, no lance do penalty, que permitiu ao Sporting reentrar no jogo, o Florentino fez-se ao lance com pezinhos de bailarino, o António Silva foi de carrinho quando devia ter ficado de pé e o Renato Sanches (na área) atirou-ae à bola (ou ao Gyokeres?) qual elefante em loja de porcelana, ainda que a prudência aconselhasse contenção porque Otamendi já vinha no encurtamento. Uma verdade inconveniente para a cartilha benfiquista (eleitoralista, da parte de Rui Costa, que no caso de Mourinho é só uma tentativa de colher frutos no futuro de um passado que nem sequer viveu de águia ao peito), mas que evidencia que os erros não foram apenas da arbitragem, houve leveza a mais, desatenção, desleixo e imprudência na forma como o Benfica deixou-se empatar nos últimos segundos do tempo regulamentar. 

14
Out25

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

O estatuto não ganha jogos


Pedro Azevedo

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Se o estatuto ganhasse jogos, estes seriam sempre decididos pelos presidentes dos clubes. Mas não, os presidentes não jogam, e o estatuto não devia jogar, também. Além de que confundir o estatuto com a imprescindibilidade será sempre um erro. Na Selecção, imprescindíveis são Ruben Dias, Nuno Mendes, Vitinha, João Neves, Ronaldo (apesar dos "apesares" não há ninguém com tanto faro de golo) e Diogo Costa (grandes reflexos, corre na baliza como os melhores guarda-redes, joga optimamente com os pés, continua sem resolver o problema do timing de saída aos cruzamentos por alto, mas não há melhor do que ele), observados o momento de forma e as opções alternativas existentes. Mais ninguém. Bruno e Bernardo têm estatuto e mereceram-o, mas neste momento não são imprescindíveis na Selecção e não deveriam jogar sempre, muito menos em jogos com pouquíssimo tempo de intervalo entre eles. Que o estatuto é tudo para Roberto Martinez é fácil de constatar, mas Portugal tem uma equipa tão boa que até a cadela Laika ao seu leme entraria novamente em órbita. Por isso, resiste a jogar contra um time iminentemente físico e forte no jogo aéreo sem um Palhinha para ganhar a primeira bola, expondo assim sistematicamente os defesas. Não parece haver plano de jogo porque o plano é a categoria individual dos nossos jogadores. O Trincão é decisivo contra a Irlanda, no jogo seguinte não sai do banco. O Pote tira uma licença sabática de cada vez que vai à Selecção. Com o jogo por decidir, Martinez subtrai aquele que provavelmente é o melhor jogador do mundo neste momento, o Nuno Mendes. Por cansaço? Por cansaço não seria, pelo menos observando o estado em que se encontrava Bernardo, qual Lawrence da Arábia após uma semana a deambular sem água no deserto. Também saiu Ronaldo, autor de um bis de plena oportunidade e capaz de reter 2 húngaros sempre com ele. Entrou o Ramos, para alegria de grande parte da nação. Infelizmente, tratou-se de uma alegria dos cemitérios, que o homem voltou a chegar atrasado ao seu destino. O do golo, mas também o da titularidade - dizem eles, os do costume. Também foi a jogo o Félix, dizem alguns, embora só se tenha alegadamente visto num cabeceamento. Félix que sempre foi um daqueles protegidos de Martinez, tantas vezes em detrimento do injustiçado Jota, aquele que agora o Seleccionador evoca à laia de aggiornamento. Não há volta a dar, com Martinez vai ser sempre isto. Com falinhas mansas e um discurso sempre politicamente correcto, continuará preso a cumplicidades que no seu imaginário lhe garantem o equilíbrio no balneário. O problema é que os jogos ganham-se essencialmente no relvado. E será pelo que acontecerá no relvado, pelos resultados, que no fim Martinez será julgado. Se ganhar, o Mundial, como venceu a Liga das Nações, será incensado. Se perder, será recordado como um Seleccionador situacionista e incapaz de um rasgo, destruidor de umas gerações cruzadas de talento indiscutível, incompreensível nas suas opções e, pior, nas concomitantes explicações. Hoje, até a atirar uns dardos ao calhas, qualquer português teria escolhido um melhor onze e certamente produzido melhores substituições. Porque jogador que actue em Portugal não tem estatuto para Martinez. Mas se amanhã for para o estrangeiro, logo será titular. É uma pena que Martinez não vá também para o estrangeiro, se bem que o seu estrangeiro seja Portugal, o país que lhe deu a redenção após ter perdido uma geração de talento único na Bélgica, selecção com que chegou a cometer a proeza de não ultrapassar a fase de grupos no último Mundial.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Cristiano Ronaldo

11
Out25

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

O omnipresente Marcelo e o sempre presente Jota


Pedro Azevedo

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Marcelo deu todo um novo significado à função de presidente da República. Houve um tempo até em que a República se confundiu com a "Repúbica" (Ré Púbica?), com o presidente a deixar-se entrevistar em calção de banho entre 2 mergulhos na Praia da Conceição. Depois há as suas aparições nos jogos de Portugal, cá ou no estrangeiro, que incluem comentários aos jogos e prognósticos antes deles, de microfone na mão e atitude de cheerleader. Aí é o presidente da Fé Pública. Hoje, estava o melhor em campo. Francisco Trincão, a ser entrevistado para a SportTV quando a realização do canal mudou a emissão para o local onde estava Luís Marcelo Freitas Rebello de Sousa Lobo, que de pronto comentou o jogo com a mesma propriedade com que há uns tempos atrás gabou o bife com ovo a cavalo que foi o seu jantar. Nota 20. No fundo, Marcelo é um presidente (bem ou mal "passado", consoante as simpatias) com um comentarista a cavalo. Se Marcelo é omnipresente, o espírito de Jota está sempre presente: no início da campanha para o Mundial, Portugal marcou no minuto 21, hoje o actual portador da sua camisola 21, Ruben Neves, que tem Diogo Jota tatuado numa perna, decidiu o nosso jogo contra a Irlanda. Há coisas que não acontecem por acaso, embora excedam largamente a nossa compreensão, mostrando-nos que é muito mais o que desconhecemos do que aquilo que conhecemos (excepto se nos chamarmos Marcelo, claro). Dá para meditar, ou não fosse hoje um dia de reflexão (para as eleições autárquicas). Tudo está então alinhado: temos o profeta (Crist...iano) Ronaldo, portador da boa nova do futebol português, o deus Marcelo e o espírito de Jota, uma santíssima trindade que só pode terminar com o troféu de campeão do mundo. 

Tenor "Tudo ao molho...": Trincão (arrancou um penalty e fez a assistência para o golo solitário do encontro). 

06
Out25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Um ocaso nada por acaso


Pedro Azevedo

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Um elemento essencial da cultura corporativa de qualquer empresa é a sua identidade, pelo que, quando os leões vão a campo disfarçados de panteras (cor de rosa), um dos seus símbolos identitários está a ser posto em causa, não havendo causa por mais nobre que seja (e a da prevenção do cancro de mama indiscutivelmente assim o é) que o justifique. Coincidência ou não, o Sporring foi sempre muito meiguinho, não explorou os 30-40 metros existentes nas costas da subida defesa bracarense, nem conseguiu trocar dois ou três passes seguidos sem perder a bola. Foi assim uma exibição arco-íris, paz e amor, "woke" até dizer chega (Chega?), sempre em defesa das minorias (Braga). Para tal também contribuiu a inexistência do nosso meio campo, com Simões a passar de titular a não-convocado sem razão conhecida (admito que o cor de rosa não lhe assente bem), Morita mais a pensar no hara-kiri do que disponível para a batalha no miolo e Hjulmand abaixo do melhor que já lhe vimos, sem ninguém capaz de transportar a bola em progressão e assim encontrar uma forma alternativa de contornar a zona de pressão do Braga. Com Inácio e Debast sempre à beira do abismo, a permanentemente oferecerem a bola ao adversário, o que deixa à beira de um ataque de nervos um ser fleumático. Ainda assim os deuses da fortuna estiveram connosco. É que já se sabe que no fim do arco-íris há um Pote, e Suarez por caminhos sinuosos encontrou o ouro. Antes do intervalo, Rui Silva evitou que o Braga arrombasse o cofre, após Lelo ter aplicado um pé de cabra (a bola elevou-se quase na perpendicular, como se tivesse levado uma marrada).

 

No segundo tempo, não se registaram melhorias significativas. Borges trocou Morita pelo "Ponytailshvili", mas o rabo de cavalo ("chonmage") não faz um samurai (dos bons tempos do japonês), a sua bravura sim. Já a entrada de Alisson (por Trincão, cujo holograma foi projectado no relvado durante 1 hora) deu mais velocidade e capacidade no 1x1 à equipa, mas Suarez, já muito cansado, disso não beneficiou. Entrou então Ioannidis, um jogador com maior potência e que se julgaria ideal para finalmente aproveitar o muito espaço existente nas costas dos bracarenses. Paradoxalmente, o Sporting nunca o solicitou dessa forma, antes pedindo-lhe um jogo associativo. Incapaz de exercer a mesma pressão sobre a saída de bola que é uma das grandes virtudes de Suarez, o não aproveitamento das melhores qualidades do grego acabou por ser um "loose-loose" para o Sporting. E assim o Braga foi continuando a acreditar, até que Hjulmand puxou a camisola de um adversário numa bola parada e o VAR assistiu o árbitro no sentido de este marcar o competente penalty. Zalazar não perdoou (o que é uma características dos Zalazares, seja em que país fôr) e assim voaram 2 pontos que nos teriam permitido simultaneamente aproximar do Porto e distanciar do Benfica. "É o que é",  dirá o Rui Borges naquele seu jeito sincero e conformista de quem não esconde a realidade mas também não a contraria, e "nesse sentido" talvez seja melhor pôr-se a pau, porque o treinador parece preso a estatutos, não está a aproveitar as melhores características dos seus jogadores, claramente menosprezou na antecâmara da época a importância da posição "8" e não está a conseguir suster a instabilidade exibicional que faz a equipa descer do 80 até ao 8 no espaço de duas semanas. Já não há Gyokeres, para esconder o que está menos bem, pelo que Borges hoje trabalha sem rede. E também não há St Juste, o que se calhar não é o melhor para o ambiente do balneário. Não há coincidências, nada acontece por acaso. E quem acredita no acaso, cedo ou tarde acaba por deparar-se com o ocaso. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Suarez 

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