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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

29
Mar25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Não há Estrela(s) no Céu


Pedro Azevedo

Rúben Amorim trouxe o sistema de 3-4-3 para Alvalade. Os laterais (Porro e Nuno Mendes) tornaram-se alas, ofensivamente incorporando-se no meio campo. Pontualmente, recordo-me da recepção ao Gil Vicente, era necessário ainda mais balanço atacante nos minutos finais dos jogos e a equipa chegou mesmo a jogar em 3-2-5, ressuscitando o WM que Herbert Chapman criou para o seu Arsenal, o sistema dos Cinco Violinos que com Cândido de Oliveira ganhou nuances de 4-2-4 com o recuo de Travassos para organizar o jogo (e a descida de um médio para o sector defensivo), a forma aliás como a Hungria, de Puskas, Kocsis e Hidegkuti, surpreendeu a Inglaterra, em Wembley, naquele que foi considerado o Jogo do Século (3-6). Na sua última época, Amorim evoluiu o seu sistema, usando alas que eram no fundo extremos, aproximando a equipa ofensivamente do tal 3-2-5 (WM). Mas o Rúben saiu, a tentativa de João Pereira de introduzir um losango no meio campo revelou-se um paradoxo trágico-geométrico e Rui Borges chegou com o seu 4-3-3, que tinha Trincão como terceiro médio e até entusiasmou quando o Sporting deslocou-se a Vila do Conde. Só que se o plantel já era curto para dois médios, com três mais curto ficou. Com a erosão causada pela falta de rotatividade, um a um, os médios foram caindo em combate, pelo que foi necessário criar um novo sistema. E é aqui que as opiniões divergem: enquanto para uns regressámos ao 3-4-3, para o Carlos Freitas jogamos em VG (as iniciais de Viktor Gyokeres). Eu estou mais com a segunda opinião. A razão é simples: o Gyokeres, sozinho, resolve uma série de problemas que o colectivo não consegue quando não há Hjulmand e Morita. Pontualmente tendo a companhia de um ou outro jogador (hoje foi o Quenda, amanhã será o Trincão, num sebastiânico dia envolto em névoa pela Unidade de Underperformance poderá ser o Pote). Esta ideia é também acompanhada por inúmeros benfiquistas e portistas. Mas aqui tenho uma divergência com eles, na medida em que para os nossos adversários é como se o Sporting cometesse alguma ilegalidade ao utilizar o sueco. Tipo "assim não vale", como nos jogos de rua em que um miúdo desequilibrava tanto a balança que era obrigado a ir à baliza ao fim de um certo tempo. Só que o Gyokeres tem contrato com o Sporting, logo o Sporting utiliza-o. Tudo normal, como quando Eusébio jogou no Benfica ou Madjer e Futre formavam o par de ases com que o Porto de Artur Jorge especulava com os adversários antes de os esmagar com um póquer. Hoje, o Gyokeres voltou a ser providencial num dos piores jogos do Sporting de que tenho memória. Uma partida que fez jus ao título desta crónica, que aquilo andava tudo ao molho na fezada que o sueco resolvesse. Ainda assim, o nosso primeiro golo teve a acção decisiva de uma vítima que costuma ser réu. Ver um leão como Diomande vestir a pele de cordeiro não deixa de ser irónico, e não pude deixar de sorrir quando o árbitro assinalou penalty. Lembrei-me logo do jogo das Aves. Depois, o Gyokeres levou dois defesas para longe da área e deu no Quenda. O que este fez a seguir, o primeiro toque (finta) que deu na bola, não deve ter sido visto por Roberto Martinez porque não aconteceu num dos estágios da Selecção. Seguiu-se a simulação de passe para Geny, engodo que criou o espaço para o remate fatal. O Quenda é ouro, embora o Roberto ache que ouro é pô-lo no banco a conviver com as estrelas Bernardo e Ronaldo. Não a servi-las numa bandeja de ouro, como seria admissível, mas a vê-las do banco. Realmente, a ser traumatizado nas minhas expectativas de cada vez que fosse à Selecção , um ser humano normal como eu até ficaria a "ver estrelas", mas o Quenda é um fenómeno tambem de resiliência mental e hoje voltou a mostrá-lo. É craque!!! O Estrela ainda reduziu, mas o VAR também reduziu as suas expectativas ao anular-lhe o golo. Estas linhas do nosso VAR estão para as linhas com que se cose o VAR da Champions (ou Premier) como o esoterismo está para a ciência. São linhas Maginot, como aquelas que os franceses achavam que nunca seriam violadas pelos nazis. Tem-se fé naquilo com o mesmo estado de espírito que se vai vendo o desfilar do baralho de cartas do tarot após uma noite de copos: parece-nos tudo enviesado. Enfim, a verdade é que o Sporting continuou a ser banal até ao momento em que a bola chegava aos pés de Gyokeres, que a partir daí a música passava a ser outra, no caso requiem para os estrelistas. E assim, logo o sueco tratou de encomendar a missa fúnebre aos da Amadora, ganhando e finalizando um penalty que pôs fim a um jogo de triste memória que contudo teve o condão de nos manter na liderança. (Este foi o jogo que eu vi, se perguntarem ao Rui Borges ele dir-vos-á que o Geny fez uma grande exibição, uma realidade tão alternativa como a de sonhar ver um muito bom ala puro a brilhar como mediocre interior.)

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeres

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(Foto: A Bola)

27
Mar25

Longa se torna a espera


Pedro Azevedo

A 10 de Novembro, em Braga, Pote teve uma recidiva de uma lesão muscular e abandonou o terreno de jogo. Ninguém imaginou na altura este tempo de ausência. Pensou-se que 1 mês seria suficiente para o recuperar, mas estamos a chegar a Abril e longa se torna a espera. Tenho muitas saudades da sua classe, inteligência e influência estatística na produção de golos da equipa. Por muito que Gyokeres permita disfarçar muita coisa, haver um jogador como Pote ausente dos relvados é um crime de lesa-futebol. Porque o Pote é arte, filigrana, uma extravagância fina para o boçal campeonato português, um oxímoro apropriado a quem usa como pseudónimo o nome de um objecto incapaz de reter o seu talento transbordante. O William Blake dizia: "Como saberes o que é suficiente, se não souberes o que é demais?" Pote está há demasiado tempo fora dos relvados. Faz falta ao Sporting e a quem gosta verdadeiramente de futebol. Um dia regressará, aos chutos e pontapés. Até lá, resta-nos o lamento à Xutos&Pontapés.

 

"Longa se torna a espera (oh-oh-oh-oh)Na névoa que cobre o rio (oh-oh)Lenta vem a galera (oh-oh)Na noite quieta de frio (oh-oh)"

24
Mar25

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

Trincão deu asas ao sonho na Vespa de Jota


Pedro Azevedo

Ao contrário do que por vezes Roberto Martinez nos quer fazer crer, uma Selecção não pode ser vista como um clube mais ou menos enclauserado em estágios, na medida em que a experiência e momento de forma de um jogador provêm essencialmente da sua utilização no(s) clube(s) e não na Selecção. Só assim aliás se explica aqui a teoria da Tábula Rasa, do filósofo John Locke, que defende que o Homem nasce como uma folha em branco e todo o seu conhecimento deriva da experiência, tentativa e erro. Por isso, tanto Ronaldo, o decano nestas andanças da Selecção, como Trincão, um neófito, mostraram serem conhecedores e foram importantes no resultado final, tendo o Sportinguista sido mesmo absolutamente decisivo ao marcar dois golos e idealizado outro, servindo esta dicotomia para provar o quão errado tem estado Roberto Martinez ao excluir das primeiras opções jogadores como Pote, Gonçalo Ramos ou Quenda com o argumento de que não estiveram em alguns estágios ou têm pouca experiência na Selecção. Porque se a experiência na Selecção do Cristiano Ronaldo é equivalente a todos os tomos da Enciclopédia Luso-Brasileira, a do Trincão era até ontem igual à de uma folha de papel cavalinho ainda por preencher. O curioso é que, se Ronaldo comprovou a teoria de Locke ao falhar primeiro (tentativa-erro) para depois evoluir com dois golos (um anulado por fora de jogo milimétrico anterior de Leão) e um par de outras oportunidades negadas por boas defesas de Kasper Schmeichel, mostrando que mesmo aos 40 anos continua a adquirir um conhecimento que depois lhe permite dar a volta a situações adversas, já o Trincão não precisou do erro, pois concretizou todas as tentativas, pelo que o seu conhecimento adveio essencialmente da experiência acumulada no Sporting.  

Portugal deu 1 hora de avanço à Dinamarca devido a Martinez ter mantido em campo um jogador sem compromisso como Rafael Leão em detrimento de Diogo Jota. Além da moto, Jota trouxe intensidade nos duelos ofensivos e defensivos. Enquanto Leão pedia a bola no pé e sem ela alheava-se do jogo, Jota procurou o espaço, foi buscar metros de comprimento nas costas da defesa nórdica e envolveu-se em inúmeras batalhas pela posse da bola (meão e com uma cinturinha de vespa, é incrível a luta que dá aos adversários). No dia em que Bernardo Silva (excelente exibição) realizou o seu centésimo jogo pelo seleccionado português, Gonçalo Inácio foi um dos melhores em campo, sobreponde-se mesmo a Rúben Dias (teve um erro comprometedor) como patrão da nossa defesa. Bom jogo também de Nuno Mendes, mas o destaque individual tem de ir para Trincão, que se revelou exímio na definição, quer no passe que isolou Jota no quinto golo como nos remates que primeiro nos voltaram a colocar dentro da eliminatória e depois nos puseram por cima. Tudo isto porém não teria sido possível se Diogo Costa não tem ganho tempo na Dinamarca para que Portugal, em Alvalade, pudesse dar a volta aos Vikings.

Uma nota especial para Cristiano Ronaldo: foi um verdadeiro capitão. Na Conferência de Imprensa que antecedeu o jogo, enquanto esteve em campo (exortando frequentemente o apoio das bancadas) e após ter sido substituído (estimulando sempre os colegas), continuando a fazer tábula rasa aos "haters". 

Portugal não foi a única selecção a necessitar de prolongamento para carimbar a passagem à fase decisiva da Taça das Nações, pois Espanha (contra os Países Baixos) e França (face à Croácia) precisaram até de ir a penáltis, mas acabou por ser a que passou com maior margem de golos. Segue-se a Final Four, na Alemanha, com uma meia-final em que defrontaremos a equipa da casa, uma nova prova de fogo para Martinez porque não haverá uma segunda oportunidade para deixar uma boa impressão final.  

Tenor "Tudo ao molho...": Trincão 

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21
Mar25

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

Bob, o Construtor... de ilusões (ou a depressão Martinez)


Pedro Azevedo

O Roberto Martinez nunca comete o mesmo erro duas vezes. Não, pelo contrário, descobre sempre novos erros para cometer. Se insistisse no mesmo erro seria um teimoso, assim é um criativo. Da asneira. A equipa não foi intensa, perdia a bola com facilidade, na frente os jogadores pediam a bola no pé e não no espaço, ninguém se desmarcava, mas, ainda que constatando tudo isso, o senhor Martinez diz que houve atitude. Estamos muito mais descansados! Para Martinez, o Vitinha é o melhor médio da Europa e o Ronaldo um dos melhores pontas de lança actuais. Depois há o Nuno Mendes, um dos melhores laterais esquerdos do mundo, Bruno Fernandes, um médio extremamente goleador, Ruben Dias, um xerife da defesa, e João Neves, grande revelação do futebol mundial dos últimos anos. Então, porque é que Portugal joga tão pouco, ao ponto de Diogo Costa ter sido o melhor em campo? Não será pelos jogadores, certamente. Também não será crível que a culpa possa ser assacada ao médico ou fisioterapeuta. Nem ao roupeiro. Mesmo o Pedro Proença, que sempre achei fraco, não teve ainda tempo suficiente no cargo de presidente da FPF para cometer erros (um situacionista foge da audácia como um gato da água, não vá a ousadia impedir que salve o pêlo), apesar de eu ter estranhado em véspera de um jogo importante os jornalistas terem perguntado aos jogadores sobre José Mourinho. Assim, a resposta parece-me tão óbvia quanto as consequências da Depressão Martinho (ou será Martinez?): o maior culpado chama-se Roberto Martinez. Ele vê coisas que mais ninguém enxerga. Mas não é visionário quem quer, só quem pode, algo estritamente reservado a génios. Ora, génio é coisa que o sedutor Martinez, sempre tão desejoso de agradar, não é. Por isso, o nosso avançado mais fiável que joga lá fora e com melhores números em campeonatos dos Big 5 (Diogo Jota), um explorador por natureza do espaço, na Selecção do senhor Martinez tem como destino a suplência. Da mesma forma que o médio com maior participação em golos em Portugal nos últimos 4 anos (Pote) quase nunca calçou. Para não falar de outro patinho feio para o Seleccionador (Matheus Nunes), cuja envergadura, aceleração com bola e capacidade de quebrar linhas são características desprezadas por Bob, o Construtor... de ilusões. Enfim, admita-se, não é um titular indiscutível do City, mas então por que razão o Félix tem lugar cativo nas escolhas de Roberto? Aparentemente, porque faz muito bons estágios. Tal como um bom whiskey, pelo que daqui a uns 12 ou 15 anos estará no ponto. No malte, ou Malta, depois de todos os treinadores que insistiram ad-nauseam nele terem tido de empenhar os anéis para salvarem os dedos. Esses estarão todos errados, o Martinez é que está certo. Lembro-me de ver algo semelhante na tropa, em que o passo trocado era sempre de todos os outros e nunca do próprio. Ainda assim, face ao ocorrido em Copenhaga, a derrota pela diferença mínima foi um bom resultado, na medida em que deixa em aberto para Alvalade a possibilidade de uma reviravolta. Apesar de Martinez. Pelo que terão de ser os nossos jogadores a dar dois passos atrás e não um à frente na direcção do precipício. Até porque já não há o João Pinto é só ele sabia como flutuar sobre o vácuo ou atirar a bola contra o próprio poste para evitar um canto. Canto do cisne? No Domingo se verá. Mas há qualidade para melhor. Muito melhor. De preferência, sem estágios onde os nossos jogadores desaprendam o que sabem. Se é para jogarmos como na Dinamarca, então eu prefiro o Ramos, abstinente em estágios mas competente nos apoios frontais e na procura da profundidade, uma muleta ideal para o Jota. E o Quenda. Porque ninguém está errado por fazer as coisas certas, mas Martinez nunca estará certo se continuar a fazer tudo errado. Por muito que tenhamos grandes jogadores, que um fraco rei (Momo) faz fraca a forte gente. Já dizia o Camões, um visionário a quem bastou um olho para ver o que Martinez não descortina com os dois olhos bem abertos. 

 

"A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre." - Oscar Wilde

 

Tenor "Tudo ao molho...": Diogo Costa

 

P.S. Ao contrário de alguns, eu creio que o Ronaldo ainda pode ser útil à Selecção, O que não entendo é que Martinez, mais ainda após ter dito ver o Ronaldo actual como um avançado estritamente de área, depois lhe peça para descer entre-linhas e construir a partir daí. 

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18
Mar25

Eu show Roberto


Pedro Azevedo

A Selecção de Portugal regressa ao activo e essa é uma grande oportunidade de voltarmos a ouvir o senhor Roberto Martinez. Confesso que é um momento que, aguardo com o mesmo estado de espírito com que espero o programa semanal do Ricardo Araujo Pereira. Porque é humor a valer, um non-sense ao nível do melhor que se faz em Inglaterra, a pátria que imortalizou o género com os seus Monty Python, Rowan Atkinson ou Benny Hill. O que eu me ri quando o Roberto afirmou que a Selecção servia para recuperar jogadores (Cancelo e Félix) para os clubes ou que um jogo a feijões não proporcionou a estreia de Quenda! Ou que o melhor médio da Liga em 4 anos consecutivos (Pote) "teve azar" e o João Félix "é muito forte nos estágios". Como Deus também tem imenso sentido de humor, em consonância o Pote ficou em casa e o Félix falhou o penalty que nos afastou no Europeu. Nada porém que demovesse ou tivesse feito pensar o sr. Martinez. Desta feita viémos a saber que o Tomás Araujo estava fora da convocatória por ter uma "lesão crónica". Poucos dias depois jogou pelo Benfica, em Vila do Conde, pelo que talvez a lesão seja da honra (do Seleccionador). Se será crónica ou não, só o futuro o dirá. Vamos ver então o que valerá este estágio de Março nas contas finais da Liga das Nações, sabendo nós que o de igual mês do ano passado foi determinante para o elenco final do Euro-2024. Mas o mais provável é que o nosso Seleccionador venha a criar uma outra narrativa, que o seu sentido de humor dificilmente não prevalecerá sobre a coerência na justificação dos critérios que presidem às suas escolhas. Segue-se então a Dinamarca, pátria de um certo cavaleiro que inspirou Shakespeare. Nada que preocupe Martinez, certamente mais próximo do género Blackadder ou Em Busca do Cálice Sagrado, que montado num lote de jogadores invejáveis decerto confiará que os nórdicos não farão Hamlets sem ovos tão bons como os nossos. A caminho da Final Four, uma nova oportunidade para assistir ao show do Roberto. bob3.jpg

16
Mar25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Fama...lição


Pedro Azevedo

Se o Benfica é indiscutivelmente o clube de bairro mais português de Portugal e o Porto quis vender durante muitos anos a ideia de ser uma "aldeia de irredutíveis gauleses" cujo poder residia nas "poções mágicas" engendradas pelo seu druida Pintocostix (e enterrando machado e práticas antigas, sente a natural dificuldade de impôr um novo discurso e posicionamento), o Sporting é muito "british" desde a sua fundação. No nome e no trato, na fleuma mas também nos princípios e nas regras que quer trazer para o faroeste lusitano que se estende até ao Cabo da Roca e onde o que se poupa na prevenção consome-se depois em excesso de ruído de tribunais e comissões de inquérito com conclusões nas calendas gregas (ou não fosse tudo isto uma tragédia). Evidentemente, um clube assim está em contra-ciclo com o seu próprio país, pelo que não será de admirar que tantas vezes Portugal tenha sido pequenino para o Sporting, nessa pequenez diluindo a grandeza do próprio clube. Faz-me lembrar a história do Infante D. Pedro, seguramente o mais brilhante da já de si insigne Ínclita Geração e autor da famosa Carta de Bruges (destinada ao irmão, o rei D. Duarte). O Pedro das 7 Partidas, aquele sobre o qual escreveu Sophia: "Nunca choraremos bastante, nem com pranto amargo e forte, aquele que fundou glória e grandeza e recebeu em paga insulto e morte". Do gozo insultuoso, ou falta de compreensão e consideração, podemos não nos livrar, mas a morte vamos enganando época após época. Sem perdermos o nosso brilhantismo que tanto incomoda, aquele que Oscar Wilde sintetizava da seguinte forma: "A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para se ser popular é indispensável ser-se medíocre" (uma fama...lição). 

 

Tendo Amorim ou não, com ou sem aquele que mais 3 anos e estará num colosso europeu, a verdade é que o Sporting chega ao último quarto do campeonato na liderança. Um quarto que se está a antever como crescente nas exibições, na directa proporção da recuperação de influentes jogadores outrora utentes do abundante hospital de campanha sito em Alcoitão, perdão, Alcochete. Quem já voltou sem limitações foi o Gyokeres. A anunciar a depressão Laurence... nos seus adversários, que se dividem entre consultar o IPMA ou... um psicanalista. O sueco em campo é anúncio de tempestade, um vendaval a soprar de corredor em corredor. Da esquerda congeminou o primeiro golo, da direita ofereceu o terceiro, ao centro bateu o penalty do segundo. No resto do tempo arreliou, desgastou e devastou física e psicologicamente todos os que lhe tentaram fazer frente. E o que dizer do Quenda? Que craque! Muita qualidade naquele pé esquerdo... E um pormenor: aquando da recepção de bola, enquanto outros a fazem chorar convulsamente, não há ninguém em Portugal que a faça adormecer automaticamente aos seus pés como ele (se não fosse futebolista, teria uma carreira de babysitter pela frente). Depois, o Morita não pode passar ao lado desta crónica. O que é que foi aquilo que ele fez à bola no lance do penalty a nosso favor? Que sortilégio, que toque de magia! Bem também, aliás, muito bem, o Rui Silva, com duas belíssimas "paradas". O Fresneda, por outro lado, mostra a riqueza do nosso vocabulário (não é para todas as línguas) ao distinguir a diferença ontológica existente entre o "ser" e o "estar": ele é um lateral direito, mas está muito bem como um segundo avançado. Além de que como segundo avançado tem a vantagem de a única coisa de que se tem de desembaraçar ser a bola (e não um adversário), o que ele faz particularmente bem. Por fim, o Diomande: testosterona a mais, serotonina a menos? Alguém por favor lhe transmita que para "mau tempo" já bastam estes tristes dias de Março. 

 

Estamos em primeiro!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik "Thor" Gyokeres

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12
Mar25

Very Nice, Almeida!!!


Pedro Azevedo

Pela primeira vez na história do lendário Paris-Nice, um português venceu uma etapa. Na chegada a La Loge des Gardes (1077m de altitude), que coincidiu com uma contagem de prémio de montanha de 1ª categoria (6,7Km a 7,1% inclinação média), João Almeida não se limitou a ganhar, bateu em cima da meta o dinamarquês Jonas Vingegaard, duas vezes vencedor do Tour de France e membro do "Rat Pack" (dá todo um novo significado à expressão "A montanha pariu um rato") que domina a modalidade na vertente de corrida por etapas e é composto também pelos eslovenos Tadej Pogacar e Primoz Roglic e o belga Remco Evanepoel. Com este triunfo, Almeida ascendeu ao quinto posto da classificação geral, uma subida apreciável após um contra-relógio por equipas que o penalizou e deixou na décima sexta posição. 

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09
Mar25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O Paizão Borges


Pedro Azevedo

Após a saída de Rúben Amorim, os jogadores do Sporting sentiram orfandade. Para resolver o problema, Frederico Varandas lembrou-se de chamar um irmão mais velho. O problema dos irmãos mais velhos é que são muitas vezes contestados pelos mais novos, especialmente se estes tiverem "pêlo na venta" e sentirem que o mais velho está a introduzir alterações ao anteriormente estipulado por uma figura de maior autoridade, Assim, o João Pereira foi num instante da A a Z, recuperando posteriormente até à B em tirocínio para um gigante europeu (uma letra que ainda não foi inventada pelo presidente), e Varandas não teve outro remédio se não arranjar um pai de adopção para o plantel. Veio o Rui Borges. No início, o Rui Borges quis impor o seu sistema. Mas, com poucos ovos (médios) para a omelete (sistema), cedo estropiou os poucos jogadores existentes. Por isso, o lema "onde vai um, vão todos", de Amorim, virou um "onde vai um, vão todos... para a enfermaria". Até que não sobrou um médio para amostra. Ora, a realidade pode ser mascarada em percepções da mesma até ao momento em que choca de frente connosco. "É o que é", diz o Rui (assim como quem está "feito ao "bife", com "nesse sentido" como o ovo a cavalo), pelo que voltou atrás e adoptou o sistema de Amorim. Mas com uma nuance: como pai de fortes raizes transmontanas, Rui Borges é um conservador. Logo, em vez de 3-4-3, Borges joga num 5-2-3, que uma coisa é ter Quenda e Maxi (ou Geny) nas alas, outra é jogar com Fresneda e Matheus Reis (para Amorim já só contava como central pela esquerda). E, nessas condições, lá fomos nós a Rio Maior jogar com um Casa Pia que, paradoxalmente, anda com a casa às costas, o que deve pesar ainda mais um bocadinho por ser um Duplex (Tchamba). 

O jogo começou bem para nós e logo o Trincão falhou um golo cantado após o vendaval que Gyokeres soltou na esquerda. Não tardou até que o Gonçalo Inácio inaugurasse o marcador pelo segundo jogo consecutivo, novamente de cabeça, na sequência de um belo cruzamento da direita do Quenda. A partir daí, e durante largos minutos, o Sporting só conheceu uma táctica: bola para o mato e o Gyokeres que nos ganhe o campeonato. Ainda assim, o sueco recolheu uma bola despejada por Hjulmand para a entrada do meio campo do Casa Pia, junto à linha lateral do lado esquerdo, flectiu para dentro e disparou para o segundo. Com o golo, a equipa desacelerou ainda mais. Mas o jogo estava controlado, assim como controlados estavam os avançados casapianos. Acontece que nos escapou o Esgaio, um ponta de lança especialmente letal com a canela. E o Casa Pia reduziu, em cima do intervalo. No segundo tempo, a toada manteve-se. Valeram-nos uma enorme defesa de Rui Silva (52 minutos) e um falhanço incrível de Esgaio, em nova canelada que rasou o poste (o Esgaio é o pessimista típico de que falava o Oscar Wilde, aquele que, podendo escolher entre dois males, opta pelos dois). Em termos atacantes nada fazíamos, a não ser chutões na direcção de Gyokeres. como quem lança um osso a um perdigueiro e espera que de volta ele traga um lingote de ouro. Até que o Rui Borges decidiu-se e lançou o Morita, passando o meio campo a ter um jogador de penetração e não só de passe. A melhoria foi quase automática. Seguiu-se um novo golpe de asa do Rui,  ajudando a dar a manchada final no jogo, colocando em campo o Maxi por troca com o Matheus. Tendo que se preocupar também com a esquerda, o Casa Pia foi abrindo buracos. E assim se arranjou um penalty que o Gyokeres logo encarregou-se de converter. 

Com uma reprimenda aqui e um colinho acoli aos seus "filhos", a verdade é que o Rui Borges lá vai levando a água ao seu moinho. Bom homem, o Rui parece estar na sua cadeira de sonho mesmo quando a famosa Unidade de Performance acidentalmente a puxa para ele cair. Mas ele resiste, como todo o pai que quer ser um (bom) exemplo para os seus filhos. 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik "Thor" Gyokeres. Menções honrosas: Rui Silva e Gonçalo Inacio. 

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06
Mar25

Manchester United, por Joy Division


Pedro Azevedo

O Manchester United tem Malcolm Glazer como accionista maioritário e Sir Jim Ratcliffe (CEO da INEOS e detentor de 25% das acções do clube) como responsável pela operação do futebol. O clube foi marcado profundamente por 2 treinadores, que em conjunto obtiveram 18 dos 20 títulos de campeão inglês que fazem parte do seu palmarés. O primeiro foi Sir Matt Busby, que venceu 5 troféus nos anos 50 e 60, apresentando ainda o imenso mérito de ter reconstruído uma equipa a partir dos escombros do acidente de aviação ocorrido em Munique, onde pereceram, entre outros jogadores, as suas duas principais vedetas (Tommy Taylor e Duncan Edwards). A partir de um sobrevivente do desastre (Bobby Charlton), que esteve dias em coma entre a vida e a morte, Busby lançou a primeira pedra de uma edificação que incluiu também George Best e Denis Law (United Trinity), foi pela última vez campeã inglesa em 1967 e chegou a conquistar a Europa (Taça dos Campeões de 1968). Seguiu-se um longo hiato de vitórias até que Sir Alex Ferguson devolveu a grandeza ao clube. Para se ter uma ideia, antes de Ferguson ter ganho o seu primeiro título de campeão de Inglaterra (1992/1993, época que marcou o início da Premier League), o Liverpool detinha 18 títulos de campeão nacional, só voltando a ganhar o troféu (2020) após o treinador escocês se ter retirado (2013). No seu período no United, Ferguson acrescentou 13 títulos de campeão inglês ao palmarés do clube, perfazendo assim o total de 20 troféus com que o Manchester United destronou o Liverpool como o clube mais vezes campeão de Inglaterra. Adicionalmente, na Europa juntou duas Champions ao museu do clube. Tal como já havia ocorrido aquando da sucessão de Busby, após a saída de Ferguson o clube entrou em declínio. São já 10 os treinadores que lhe sucederam e nenhum conseguiu um rácio de vitórias (por jogo) na Premier League semelhante ao de Alex Ferguson (65,2%). Ainda assim, o melhor até agora é português (José Mourinho). Infelizmente, o pior também é luso (Rúben Amorim). Por curiosidade, aqui fica a estatística (Mou 53,8%, Ten Haag 51,8%, Solskjaer 51,4%, van Gaal 51,3%, van Nistelrooij 50%, Carrick 50%, Giggs 50%, Moyes 50%, Rangnick 41,7% e Amorim 31,3%). Perante este cenário, os adeptos do United estão dilacerados, o que nos traz à memória uma canção de uma banda local (Joy Division) cujo título era "Love will Tear us Apart", que expressa bem o sentimento dos "supporters" do clube para com a gestão da família Glazer pós-reforma de Ferguson. Não é esta porém a única associação do Manchester United aos Joy Division, havendo uma outra bem mais concreta: no início da temporada 2020/21, o clube anunciou uma parceria com o designer Peter Saville na produção dos novos equipamentos de jogo, equipamentos esses que incluíram desenhos baseados na capa de um LP dos Joy Division que havia sido obra do famoso designer gráfico. Curiosamente, esse álbum levou o nome de "Unknown Pleasures" (Prazeres Desconhecidos), como serão os da nova geração de adeptos do clube perante a ausência de títulos. Estes seguramente esperarão que seguir-se-á uma nova ordem ("New Order"), o nome do grupo que sucedeu aos Joy Division pós-morte do seu vocalista Ian Curtis.

 

#manchesterunited

#futebol

#joydivision

04
Mar25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Felicíssimo, para nosso contentamento


Pedro Azevedo

Nascido na Galiza e com origens lusas por parte da mãe, Filomeno Freijomil não gostava do seu nome, achava-o até ridículo. Por isso, evitava pronunciá-lo. "Filomeno, para meu pesar" é um romance de Gonzalo Torrente Ballester, autor de obras-primas como "Crónica do Rei Pasmado" ou "Don Juan", cuja acção inclui também algumas passagens em Portugal. Lembrei-me desse livro a propósito dos nomes de alguns jogadores de futebol. Uns associamos a objectos ou matéria existente na natureza, tanto que, se os conjugássemos com o que nos vem imediatamente à cabeça, dariam interessantes trava-línguas ou aliterações. São os casos de Diomande, que soa a diamante, assim como de Esgaio, que se assemelha a esgalho, ou de Biel, que evoca a biela. Outros há porém que revelam sentimentos, como Sorriso, do Famalicão, ou Felicíssimo, do Sporting, ambos transmitindo alegria, a do famalicense quando marca golos e a do leão por se estrear a titular, ontem, em Alvalade. Pelo que se Ballester ainda fosse vivo e manifestasse interesse no personagem a ponto de sobre ele elaborar uma narrativa, o título desse hipotético livro bem que podia ser qualquer coisa como "Felicíssimo, para meu contentamento". Meu (dele) e nosso, porque o menino jogou como gente grande e revelou maturidade suficiente para não cair no engodo de um segundo amarelo que nos deixaria pela quarta vez consecutiva(!) em inferioridade numérica em jogos do campeonato. Em sentido oposto, Rui Borges, em conferência de imprensa, referiu que o jogo não estava para o Biel. Compreende-se, não era jogo de Futsal ou de Capoeira...

 

Se Felicíssimo estreou-se como titular e Gyokeres regressou a um nível próximo do seu melhor, o destaque para mim foi o Debast. O belga transbordou de classe, primeiro num cruzamento milimétrico para Inácio inaugurar o marcador, depois num passe a solicitar a profundidade com que o nosso Vik Thor apanhou a defesa do Estoril em contra-mão (e contra-pé), mais tarde num remate ao poste, todo o tempo ainda servindo de mentor ao jovem amanuense formado em Alcochete. Como disse, e bem, o Rui Borges, o Debast encheu o campo. E encheu-me as medidas, também, porque, se não havia dúvidas quanto à sua qualidade com bola, sem ela soube fechar bem os espaços. Surpreendente porém foi a exibição de Esgaio, que mostrou detalhes para mim desconhecidos, como quando fechou ao centro e evitou um golo certo após um desatino de Fresneda que viu sobre ele ser cavado um túnel maior do que o do Marquês ou num vigoroso e intrépido sprint como nunca lhe havíamos visto que terminou numa assistência açucarada para Gyokeres falhar perante o guarda-redes. Bem também esteve o Matheus Reis, que não permitiu ao Guitane pôr o pé em ramo verde.

 

Para que a noite tivesse sido perfeita, o Quenda e o Trincão precisariam de ter jogado melhor. O jovem da nossa Formação tem porém a atenuante de ter trabalhado muito. Já Trincão falhou um golo cantado, depois de ter ficado a poucos centímetros de marcar um golo de fazer levantar o estádio. No resto do tempo perdeu-se em rotundas, revelando a sua principal lacuna: falta de timing de passe. Harder, que o substituiu, foi bem mais eficiente, ganhando na raça uma bola que isolou Gyokeres no lance de que resultou o penalty que nos daria o terceiro golo. Outro miúdo lançado ontem, o José Silva, resistiu a um abalroamento em excesso de velocidade, dentro da área do Estoril. Como não caiu no local para registo do sinistro, o árbitro deixou andar, penalizando a vítima e beneficiando o infractor. Conclusão: ser bom e bem-intencionado é sinónimo de ingenuidade num país onde só a matreirice ou xico-espertice compensa.


Por uma vez, o conformismo de Rui Borges expresso no "é o que é", habitualmente associado à onda de lesões que lhe vem impedindo desde o início de apresentar a melhor equipa, soou a algo de bom: o Gyokeres "é o que é" quando pode estar, e estando bem o Sporting continuará na frente. É o que é, ou seja, uma máquina, um exterminador implacável. Ainda que massacrado pelo adversário directo, um tal de Pedro Álvaro que repetiu em Alvalade a proeza já vista na Amoreira de sobre ele cometer inúmeras infrações e ainda assim continuar em campo, desta vez sem sequer uma admoestação. 

Tenor "Tudo ao molho...": Zeno Debast

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