Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

28
Fev25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Pirâmide de Maslow, nesse sentido


Pedro Azevedo

Quis o destino que o Sporting visitasse a cidade que viu nascer Gil Vicente em plena época carnavalesca. Dado o contexto duplamente favorável para uma atitude teatral, os leões cedo representaram um cansaço inexplicável para quem ainda não tinha tido tempo para sujar os calções, apresentando uma farsa durante o primeiro acto de uma peça em que Trincão foi protagonista a actuar como um presidente de câmara orgulhoso das inúmeras rotundas que deixou como obra pífia. Em 4 ocasiões, o Gil poderia ter inaugurado o marcador, mas, por acção inspirada de Rui Silva e/ou azelhice dos seus avançados, o intervalo chegou com uma igualdade. No início do segundo acto, Rui Borges lançou Gyokeres. Ainda que visivelmente condicionado, só a presença do sueco intimida, entendendo-se essa presença como física ou mera projecção cinematográfica de um holograma (uma ideia de como fazer descansar Gyokeres e ainda assim, recorrendo a efeitos especiais, apoquentar os nossos adversários). Pelo que o Gil desconfiou, tornando-se menos afoito e concentrando atenções na marcação ao nosso ponta de lança goleador. Com isso, o jogo equilibrou-se, passando o Gil a atacar a medo, com receio de no processo perder a bola e assim soltar a fera sueca, deixando de posicionar dois ou três homens entre-linhas como durante o primeiro acto. Libertado de maiores preocupações defensivas, o Debast começou a subir no terreno, iludindo vários gilistas no drible como um Maradona belga ou combinando com os avançados em acções atacantes. Até que Gyokeres o viu solto no centro do campo e o belga recepcionou orientadamente com categoria e foi feliz na deflecção do subsequente remate num defesa que tirou a bola do alcance da acção do seu guarda-redes. Como um mal nunca vem só, as Parcas do destino logo trataram de deixar o Gil reduzido a 10 quando Zé Carlos abalroou Maxi, que caminhava isolado para a baliza. Pensou-se que o jogo teria terminado aí, mas após a farsa viria o drama. Felix Correia, um ex-jogador leonino que partilha com Nuno Moreira o único senão de não ser proveniente de Salvador da Baía, bailou com pagodinho sobre a defesa do Sporting e cruzou para Rúben Fernandes encostar com a cabeça para golo. Entrou então em cena o CarnaVAR de Barcelos, e 3 minutos depois o golo seria anulado por 3 centímetros. Com esse cenário digno de uma alegria dos cemitérios pré-quaresmal, o jogo chegaria ao fim com o triunfo do Sporting, que assim se qualificou para as meias-finais da Taça de Portugal, onde defrontará, a duas mãos, o Rio Ave. Com uma onda inaudita de lesões, o Sporting de Rui Borges depara-se perante a Pirâmide de Maslow: primeiro, necessita de saciar a fome (de vitórias), depois de melhorar a segurança (defensiva), para mais tarde recuperar a interacção ou coabitação entre os sectores e aumentar a auto-estima, até que finalmente possa estimular a criatividade a fim de voltar a ter o reconhecimento dos amantes do futebol. Passo a passo, "nesse sentido" (ascendente). 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Debast

trinc.jpg

26
Fev25

Cansa só de ouvir


Pedro Azevedo

O cansaço é a incapacidade de continuar a funcionar a um nível normal devido à percepção majorada de esforço que tanto se reflecte muscularmente como através de uma sensação de falta de energia. Esse cansaço, a que Rui Borges se refere ainda mais do que a "nesse sentido", não é só físico mas também mental (desde logo é o cérebro que transmite ao corpo a fadiga), pelo que a utilização excessiva da palavra por parte de RB decerto não ajudará a que a mente dos seus jogadores desprenda-se dessa sensação, tendo o condão até de agudizar o problema. Ora, RB, que tem características pessoais e profissionais que muito valorizo, precisa urgentemente de erradicar do seu discurso esse tipo de considerações. É que enquanto o "nesse sentido" serve de muleta de linguagem, e como tal é inócuo, o "cansaço" é como passar uma rasteira a quem já anda de canadianas, servindo de desculpa para a capitulação que o corpo já pede. Por isso, Mister, por favor mude o chip.

rb.jpg

23
Fev25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Como subverter um silogismo aristotélico


Pedro Azevedo

Dada a hecatombe de lesões no seu plantel, o Rui Borges precisou de complementar o curso de treinador certificado (ISO) pela ANTF com uma pós-gradução como cabo-maqueiro. De seguida, por um daqueles imperativos de força maior típico das hecatombes, teve de suspender a sua carteira profissional para abraçar a carreira de cientista e descobrir uma vocação, a de "Padre Américo" ("não há rapazes maus", a não ser que se chamem St Juste). O Rui agora é o Professor Pardal, a quem o Hugo Viana num último suspiro (estão caros, os suspiros) juntou o Lampadinha (assim se justificando plenamente a contratação do Biel). À medida que os nossos médios foram caindo em combate contra a conspiração universal que se abateu sobre a nossa Unidade de Performance, o Rui Borges foi inventando novos sistemas tácticos: o Bragança caiu em combate? Lançou o Harder e passámos a jogar em 4-4-2. O Hjulmand foi expulso? Ficou o João Simões sozinho no meio e jogámos em 4-3-2. Não tínhamos 3 médios para jogar? Na 4ª feira chamou um padre daqueles que no futebol não têm aspas e o sistema de 4-3-3 recebeu a Extrema Unção que neste Domingo um médico legista certificou. De seguida,, ressuscitou o 3-4-3 (com 2 médios e 2 alas). E hoje, não havendo simultaneamente o Hjulmand, o Bragança, o Simões, o Morita e o Pote, a fim de evitar estrear um 5-0-5, na segunda parte apresentou uma tese candidata ao Prémio Nobel da Física que se baseou nas batalhas de trincheira da 1ª Guerra Mundial - Jogo Directo: "Como usar a bola como uma granada a fim de que esta sobrevoe um meio-campo deserto de jogadores nossos e caia em cima da área do adversário". Uma estratégia em que não pudemos contar com o apoio de St Juste, um jogador conhecido por espoletar granadas dentro da sua própria trincheira.

 

Até aí, tudo bem, esse Rui Borges que desculpa tudo aquilo que está a seu montante e encontra soluções onde outros veriam problemas merece os maiores encómios, quiçá até ir a Estocolmo receber o Prémio Nobel da Paz. O único problema para o qual o Rui Borges parece não encontrar solução é quando chega a vez de ser ele próprio o problema. Gerindo as segundas partes com filosofia de treinador de equipa pequena, procedendo a substituições desastrosas e mostrando um discurso permissivo (versão Padre Américo) com uma quantidade perfeitamente anormal de erros individuais e de indisciplina que revelam um défice de concentração competitiva e/ou um estado psicológico instável de vários jogadores. Como hoje  de novo aconteceu, após uma primeira parte em que o Sporting impôs-se desde o início, marcou cedo, ampliou o "score" e chegou ao intervalo a pedir o terceiro golo. 

O segundo tempo do jogo foi marcado pela autofagia, ironia do destino e inovação. A autogagia foi leonina, claro, ao pedir a despenalização de um jogador que não era suposto estar em campo hoje e nos viria a custar a vitória em dois momentos desconcertantes. A ironia do destino prendeu-se com o facto de Varandas, na sexta-feira, ter pedido mais independência e equidade do VAR no sentido de reverter globalmente maus juízos dos árbitros e ter visto exactamente isso hoje acontecer e em seu desfavor. Já a inovação foi do VAR. Quer dizer, eu sempre parti do princípio que o protocolo do VAR seria um instrumento da verdade desportiva, mas nunca suspeitei que a violação da filosofia desse protocolo servisse ainda melhor essa verdade desportiva, nem que para isso fosse necessário usar o expediente de sugerir ao árbitro um cartão vermelho a fim de que um segundo amarelo fosse correctamente atribuído ao jogador prevaricador. Pelo contrário, o segundo golo do Sporting atentou contra a verdade desportiva (na origem do lance, Fresneda recebeu a bola em fora de jogo), mas não ofendeu o protocolo (tendo havido uma segunda fase de ataque, o VAR não pôde considerar o ocorrido anteriormente). Conclusão: o Sporting teria ganho o jogo sem VAR ou com um VAR que tivesse cumprido a filosofia do protocolo, mas empatou-o em nome da verdade desportiva cuja defesa conduziu à criação do VAR. Confusos? Eu também... [Ou como a subversão de um silogismo aristotélico (o VAR ajuda à verdade desportiva, o protocolo é um instrumento do VAR, logo o protocolo ajuda à verdade desportiva) pode não ser ilógica no contexto de um jogo de futebol.]

 

Ah(!), e o Gyokeres voltou aos golos. Lógico!!!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Maxi Araújo

 

P.S. Porque é que Quaresma saiu ao intervalo? Gestão física? Lesão? Opção técnica? A verdade é que essa alteração mexeu com 3 posições.

gyo9.jpg

19
Fev25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Missão Impossível?


Pedro Azevedo

"Look at the starsLook how they shine for you" - Yellow (Coldplay)

 

Jogar no Signal Iduna Park (Westfalenstadion) é estar num relvado cercado de amarelo por todos os lados. Os adeptos do Dortmund são provavelmente os mais entusiastas da Europa e fazem de cada jogo uma experiência única. O Sporting hoje fez parte dessa experiência, procurando não ser a cobaia. Passar a eliminatória era uma missão à partida impossível, com três teenagers (Quenda, Simões e Harder) a tentarem fazer de Tom Cruise (mais tarde também Alexandre Brito e Afonso Moreira, que Lucas Anjos já tem a enormidade de 20 anos). Muitos jovens a olharem as estrelas do Borussia Dortmund e a sentirem o brilho da Liga dos Campeões. 



Para ainda dificultar mais a nossa missão, muito cedo se percebeu que João Simões e Hjulmand, os dois médios centro do sistema de 3-4-3 que Rui Borges recuperou (com o Arouca, após a entrada de Harder, o Sporting atacou pela primeira vez em 4-4-2, pelo que a escassez de médios promete pôr de lado as várias nuances de 4-3-3 anteriores), tornaram-se as mais recentes vítimas da conspiração universal contra a nossa Unidade de Performance (o "azar"). Se a qualificação para a fase seguinte seria a sorte grande e a vitória no jogo o segundo prémio, o Sporting teve de contentar-se com a terminação (não perder). Ainda assim, valeram-nos as exibições de Eduardo Quaresma e do guarda-redes Rui Silva, dois rochedos que encravaram a engrenagem da máquina alemã. Quaresma esteve soberbo, imperial até. Foram inúmeras as vezes em que desarmou adversários dentro ou nas imediações da área leonina, assim como incontáveis as ocasiões em que surgiu como pronto-socorro a equilibrar o que já estava desordenado. Se não calar hoje a boca de analistas tão condescendentes e coniventes com a mediocridade e simultaneamente tão obstinados em lhe apontar o dedo ao mínimo erro, então isso simplesmente nunca ocorrerá. Mas teve uma única falha, na leitura da linha de fora de jogo, e isso deverá servir de bálsamo à usual narrativa de quem embirra com ele. Uma coisa é certa, no 1x1, por ele ninguém passou, foi um colosso, tanto que meteu o Gittens no bolso e este já nem voltou do intervalo. E é, indiscutivelmente, um grande jogador, um jogador à Sporting, com muita técnica, velocidade e força nos duelos, à espera de finalmente ser uma aposta consistente de um treinador leonino para se afirmar definitivamente. Em grande esteve também o Rui Silva, que até um penalty defendeu, entre outras três paradas de grau de dificuldade elevado. Temos "Keeper"! Fora deste duo, a equipa revelou limitações. Por exemplo, o "Menino do Rio", formado no Fluminense e proveniente do Bahia, mostrou um futebol que se esgota dentro de uma caixa de fósforos, sem acesso à parte de fora para causar uma fricção capaz de fazer lume - um(a) Biel(a) incapaz de dar vida a um motor. Esgaio empenha-se séria e profissionalmente mas é curto, Inácio está em muito má forma e falha muitos passes, Harder viu-se sozinho e teve de lutar muitas vezes contra 2 ou 3 adversários. Os substitutos estiveram bem melhor: Alexandre Brito, após um início nervoso, fez o nosso primeiro remate com perigo, Afonso Moreira revelou personalidade com bola e bons pormenores técnicos, Lucas Anjos deu-se à luta como se estivesse a jogar com o 1º de Dezembro e Maxi mostrou a qualidade habitual com bola e uma boa noção dos tempos de jogo. 

Enfim, não foi a "Missão Impossível", mas pelo menos não houve "O Silêncio dos Inocentes". A longa-metragem a que assistimos teve título e sub-título intermédios, uma "Missão para Inocentes" (jovens) atrapalhada pelo "Silêncio Impossível" que pode haver à volta da catadupa de lesões que nos assolam. Ainda assim um filme com um razoável "box office", aquele que com 1 ponto conquistado é garantido pela UEFA. 

Tenores "Tudo ao molho...": Eduardo Quaresma e Rui Silva, ex-aequo. 

rui.jpg

18
Fev25

Parabéns, Carlos Lopes!!!


Pedro Azevedo

O maior, o mais completo, o campeoníssimo Carlos Lopes completa hoje 78 anos. Dominador no corta-mato (três medalhas de ouro e duas de prata em Mundiais), pista (medalha de prata nos J.O. Montreal e ex-recordista da Europa, nos 10.000 metros) e estrada (medalha de ouro, na maratona, nos J.O. Los Angeles), Lopes foi um atleta que se caracterizou pela vontade indomável de superação de todos os obstáculos que se lhe deparassem, fossem eles psicológicos ou observáveis no terreno (os desníveis no solo e a lama no "cross", as sucessivas curvas para a esquerda na pista, os longos 42 km na maratona). Carlos Lopes foi também o primeiro campeão olímpico português em qualquer modalidade, quebrando também aí uma barreira mental e abrindo assim novos horizontes aos nossos atletas. Produto da escola de atletismo que o Professor Mário Moniz Pereira (outra grande figura do desporto nacional) montou em Alvalade, Lopes é provavelmente o maior símbolo do Sporting Clube de Portugal. Um símbolo vivo, que importa continuar a homenagear em vida. Muitos Parabéns, Carlos Lopes, e obrigado por tudo!

Carlos-Lopes.jpg

16
Fev25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Reordenamento do Território e Hospitais de Campanha


Pedro Azevedo

Estamos a assistir nas últimas semanas no futebol português a um reordenamento do território. O período de Natal terminou no Dia de Reis, mas, no Sporting, continuámos a viver sob o signo do Pinheiro. Primeiro, no Dragão, um Pinheiro real, cujas raízes entortaram o campo em nosso desfavor. Depois, na recepção ao Dortmund, passámos do Pinheiro literal para o metafórico, o célebre Pinheiro do Paulo Sérgio. Só que em vez de um Purovic, com quem seria negociável lidar (desde logo por se tratar de um Pinheiro Manso), tocou-nos em sorte um Pinheiro da Guiné, um Pinheiro Bravo, da "griffe" Guirassy (os bons pinheiros têm "griffe" e valor de mercado a condizer). Nestas coisas de reordenanento do território, nada como escutar Gonçalo Ribeiro Telles. Ensina-nos o famoso arquitecto que os povoamentos de uma só espécie constituem um barril de pólvora. Vai daí, ontem, em Alvalade, a flora diversificou-se com Nogueira. É um caminho cujo precursor foi D. Dinis, marido da rainha Santa Isabel, o que faz algum sentido porque, com este Conselho de Arbitragem, para o Sporting ser campeão vai ser necessário um milagre de rosas. Como não há uma limpeza, o risco de se incendiar o ambiente é bem real, o que é potenciado pela ausência de montados de sobro ou de azinho, um tipo de pastagem que raramente arde e regenera com muita facilidade. Mas não só de ecologia vive o Homem e seria até redutor olvidar os erros cometidos naquilo que de nós depende, pelo que sobre isso elaborarei de seguida. 

A equipa do Sporting é um hospital itinerante de campanha com a maior ala de acamados de que há memória em tempos de paz. Em casa de ferreiros, espeto de pau, diz o povo na sua imensa sabedoria, logo uma pandemia de lesões musculares assim (altamente contagiante) não se gere com um presidente-médico. Talvez sim com um presidente-militar, outra valência tipo canivete suiço de Varandas (dispensa-se o corta-unhas... ao leão), uma espécie de um Gouveia e Melo para disciplinar a coisa e dar-lhe uma nova ordem (Deus seria a primeira opção, mas tem uma agenda tão carregada que suspeito não possa estar disponível para milagres como os que fez com Lázaro ou os paralíticos). Depois, há que lidar também com os momentos Monty Python que são uma idiossincrasia que caracteriza a nossa existência: ninguém espera a Inquisição Espanhola, da mesma forma que ninguém suspeita do que passou pela cabeça de St Juste na hora de enviar uma granada pronta a explodir no corpo de Rui Silva - um golo digno dos desenhos animados - ou os momentâneos lapsos de razão que levaram Hjulmand a pôr-se a jeito para um penalty e de seguida fazer-se expulsar. Pelo que, se é para continuar assim, mais vale vender os direitos dos nossos jogos ao Cartoon Network. Depois, há a questão do encaixe das peças. Não sei se é Tetris ou se são tretas, mas esta coisa de o Rui Borges pôr um segundo avançado a jogar a lateral direito é o mesmo que não termos nem segundo avançado nem lateral direito, pelo que começamos logo a jogar em inferioridade numérica. Também seria bom perceber onde anda o verdadeiro Inácio, porque o que vemos em campo é um seu holograma. Do Quaresma é que nem holograma, tanto derivaram o rapaz para a direita que acabou por sair pela linha lateral até acabar no banco de suplentes. "Nesse sentido", como repete até à exaustão o Rui Borges, deixou de contar, um Mistério da Estrada da Alcochete, sem o Eça ou o Ramalho (mais virados para Sintra) para darem consistência à narrativa. Assim, o Sporting vai vivendo da garra de Harder e de Maxi e do virtuosismo de Quenda. Enquanto espera pelo retorno do melhor Gyokeres como quem aguarda por D. Sebastião, na esperança de que não se confirmem as piores notícias que dão também o sueco como perecido em Alcochete-Quibir, local onde alegadamente o Sporting está a perder a cruzada pela Unidade de Performance. 

Tenor "Tudo ao molho": Harder

hjulmand.jpg

14
Fev25

A Paixão


Pedro Azevedo

Sempre me atraíram os artistas, os burocratas do jogo enfastiam-me. Bem sei, é preciso correr, mas para ver velocidade pura eu sigo os americanos e jamaicanos nos 100m e para resistência nada como os quenianos ou etíopes, agora que o último que lhes ganhou (o campeoníssimo Carlos Lopes) goza a merecida reforma. Pelo que, para mim, futebol é arte. Não me passa ao lado um Makélélé, mas o meu coração bate mais depressa quando rebobino umas cassetes e me ponho a contemplar a classe de um Fernando Redondo. Ou de um Paulo Sousa, o último operário genial. Contra o "ruído" da espuma dos dias, agradam-me os "unsung heros", os Matt Le Tissier desta vida, puro génio num corpo que dificilmente se poderia enquadrar no de um atleta dos dias de hoje. Homens como David Ginola ou Eric Cantona, que nunca se reviram na personagem de "role model" para a juventude, uma idiotice estimulada por pais que se demitem do seu papel de educar os seus filhos e querem ver em ídolos pop os princípios que nunca cuidaram de passar. Por isso, sem hipocrisias, adoro o Maradona, um tipo inteligente e que via tudo muito antes de qualquer outro num campo de futebol. Pensava primeiro e raciocinava melhor. E depois executava como ninguém na história do jogo. Mesmo lesionado e com uma bota feita à medida do inchaço num pé, como aconteceu naquele Argentina vs Brasil em que mandou os canarinhos para casa, qual carteiro com uma encomenda de correio azul (e branco) numa desenfreada gincana em hora de ponta com o fim de entregar um presente ao seu amigo Caniggia. Como gosto do Balakov, que passou ao lado dos holofotes e não me enganou desde o primeiro jogo que lhe vi ao vivo (apresentação contra o ETAR Trnovo). Esses são alguns daqueles que me fazem gostar de futebol, o resto entendia-me de morte. Por isso, aquela ideia de ganhar a qualquer preço ou com meia bola e força nada me seduz. Primeiro, por aquilo que deve ser a integridade do jogo, depois porque valorizo o estilo. Também porque detesto fanatismos e a estimulação que é feita disso à volta do jogo. Não basta ganhar, é preciso cativar. Sobre isso não tenho qualquer dúvida, desde logo porque as fundações da minha paixão pelo futebol têm a ver com a bola (que pode ser rompida, mas nunca corrompida) e com os grandes jogadores, os mestres que a tratam por tu, a acariciam e adestram, como se, nesse transe, bola e jogador fossem um só e a bola se fundisse como se cosida no pé do craque. Isso, sim, vale o bilhete para a "bola". O resto, o clube do nosso amor - e reparem que escrevo isto no Dia dos Namorados -, obedece só ao desejo natural e humano de fazermos parte de algo bem mais importante e maior do que a nossa própria individualidade ou existência. É a nossa tribo, e isso é muito bom, mas não é tudo. 

Maradona-Camões-Rádio-Desporto-Mundo.jpg

12
Fev25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

UPs!…


Pedro Azevedo

IMG_3646.jpeg

O jogo com o Borussia Dortmund acentuou os méritos do Centro de Medicina de Recuperação, vulgo Unidade de Performance, sito em Alcoitão, perdão, Alcochete (juro solenemente a partir de hoje exortar a nossa UP tantas vezes quantas o Rui Borges usa a muleta "nesse sentido"). Nesse sentido, o que pode por vezes não fazer sentido nenhum, o plano correu na perfeição: o Gyokeres e o Morita conseguiram jogar sem canadianas (um tipo diferente de muleta) e não cair para o lado, e o Trincão ainda respirava no fim do jogo segundo informações não-oficiais. Miúdos novos, como o Quenda a o Simões abandonaram o terreno de jogo com débeis, porém encorajadores, sinais vitais, o mesmo ocorrendo com o Bragança. O Pote, qual antigo presidente soviético, voltou a ser avistado na Tribuna para desmentir rumores e assegurar a todos que ainda se encontra entre nós. Pelo que ninguém se aleijou ou faleceu, logo, prova superada.

Desconfio, porém, que a famosa UP não seria tão realçada se um dia o nosso presidente não tivesse descoberto em João Pereira um treinador que em 4 anos estaria num colosso europeu. É que à hecatombe de resultados seguiu-se o massacre das lesões, e esse é um aspecto que vejo menorizado na análise a esse período singular na nossa história recente. Terá havida uma evolução colossal nos métodos de trabalho e agora estaremos a pagar as favas? Ou será que, pelo contrário, estarei a ser injusto porque o planeamento de início da época não contemplou o excesso de jogos para a Champions nesta fase e consequente erosão física dos nossos jogadores mais utilizados? Seja como for, em consequência, sem mãos a medir, logo a UP montou um colossal hospital de campanha, prática habitual em bombardeamentos em tempos de guerra (experiência afegã) ou ataques terroristas em larga escala como o que o Manchester United operou em Alvalade. Desengane-se o Leitor que pensar que um hospital de campanha é uma coisa má. Nada disso, no nosso caso deve ser encarado como um reforço da Estrutura (muito abalada após a saída de quem um dia fez entrar Bolasie, Jesé e Fernando em Alvalade),, termo tantas vezes usado pelo nosso presidente quanto o "nesse sentido" do nosso treinador ou, simplesmente, "nesse sentido" usado pelo nosso presidente, se é que isso para Vós faz algum sentido. Eu, cá, sinto muito. 

Enquanto a bola de cristal da Alcina Lameiras, a dedução do Detective Correia, a boia de salvação do Instituto de Socorros a Náufragos e a sabedoria milenar do almanaque Borda d'Água combinam esforços para debelar a lesão muscular de Pote em 4 meses e reaver os ligamentos de Nuno Santos em.quem sabe, 4 anos, o pobre do adepto chora a inação no mercado de inverno. Dizem-me que a versão oficial é a de que não precisamos de reforços porque os reforços estão cá dentro, a recuperar..A ideia, não sendo original, tem os seus méritos. O problema é o tempo de recuperação. Por exemplo, se esses reforços estiverem recuperados aquando do início do campeonato do mundo de clubes, competição da qual o Sporting se auto-excluiu e continuará no futuro a excluir-se por má interpretação do lema do seu fundador, então esses reforços não nos serão úteis para a época ainda em vigor, o que poderá pôr em causa o campeonato nacional. Mais preocupantemente, enquanto os jogadores, um a um, vão caindo que nem tordos, o que é uma coisa que nunca se espera de um leão (nós sabemos que "por cada leão que cair, outro se levantará", mas nada nos disseram sobre como isso se processa com os tordos), ninguém sabe ao certo de que maleitas padecem. Todavia, como das ameaças podemos fazer oportunidades, quem sabe se não estará aqui uma fonte futura de receitas. Eu explico: emitiam-se umas rifas entre todos os Sportinguistas, convidava-se a participar o sindicato dessa classe ávida por saber novidades como é a dos jornalistas e por um valor X todos podiam tentar acertar na lesão dos jogadores Y, Z e por aí adiante. Essa espécie de loto poderia depois ser incrementada com um quiz semanal em que os apostadores identificariam quem seria o próximo jogador a tombar, a ir para o estaleiro. O prémio para o melhor palpite, a atribuir no final da época, seria uma semana de férias na famosa Unidade de Performance, departamento certificado pelo Instituto de Medicina Legal. Estou certo de que arrecadaríamos uma maquia que dispensaria a venda futura dos nossos melhores jogadores, no caso de eles conseguirem chegar a esse futuro que agora parece tão longínquo (aviso ao vencedor: neste verão, durante as tais férias, se passar pelo Auditório Artur Agostinho e aí encontrar o nosso Rui Borges ainda a perorar sobre "O Viktor..." não fique incomodado, lembre-se de que é sinal de que o caro vencedor sobreviveu aos tratamentos da nossa UP). 

Ah, já quase me esquecia que houve um jogo. Ou um mini-jogo, na medida em que teve a duração de 45 minutos...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Maxi Araújo 

11
Fev25

Vender gato por lebre


Pedro Azevedo

Quem paga o jogo são os espectadores, por via dos bilhetes de época, ingresso jogo a jogo ou direitos que as televisões adquirem com base nos clientes que subscrevem o serviço. Ora, algo vai mal quando quem paga o jogo não tem salvaguardado o direito básico de escrutínio sobre o que se passa no relvado. Foi isso que, flagrantemente, ocorreu no último fim de semana. Primeiro na SportTV, que apresentou umas imagens provavelmente transmitidas a partir de uma qualquer nave espacial da NASA que em nada clarificaram um mimo que Tiago Djaló alegadamente terá dado a Harder no interior da área do Porto. E assim voltou a acontecer no dia seguinte, quando foi necessário recorrer a um vídeo-amador para perceber que Florentino jogou pelota basca, ao usar o braço como clava para deflectir um cruzamento do Moreirense dentro da área benfiquista. Conclusão: anda-se a vender gato por lebre a quem paga. Identifique-se então quem são os "veterinários" que habitam por cima do "restaurante chinês", sendo certo que o caso da BenficaTV é paradigmático de um país que não tem qualquer sensibilidade à prevenção de situações passíveis de conflito de interesses, vivendo o futebol sob a égide de uma Liga de Clubes que assobia para o ar.

 

P.S. Ao contrário do telespectador, o VAR tem acesso a todas as câmaras instaladas no recinto de jogo. Mas quem é que escrutina as decisões do VAR, se as imagens mais clarificadoras não chegam a casa dos subscritores do(s) serviço(s)? 

lbm.jpg

08
Fev25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Um Pinheiro a empatar a acção no campo


Pedro Azevedo

Uma visita ao campo do FC Porto é uma experiência que muitas vezes (demasiadas?) deve ser enquadrada no conjunto de fenómenos ditos paranormais. Lá, o Sporting já viveu no inferno de (Alder) Dante, não sofrendo o único golo na história do futebol mundial marcado com a mão mas sim o único golo marcado com a mão por um apanha-bolas (e, ainda assim, vencemos por 3-2), ou jogou boa parte do tempo com 8 jogadores contra 11 (e, ainda assim, empatámos por 3-3). Nas antigas Antas vi, por exemplo, um santo de altar polaco, incapaz de fazer mal a uma mosca (Juskowiak), ser expulso após uma entrada assassina de um "cara" que dentro do campo gozava connosco e não era pouco. Também aí acabámos com 8 e Peixe e Juskowiak impedidos de defrontar o Benfica no jogo dos 6 a 3. De uma outra vez, observei um golo limpo ser invalidado ao Manuel Fernandes e um penálti fictício ser atribuído ao Biffe, mais tarde falhado e repetido ad- nauseam até finalmente a bola entrar na baliza do nosso Vaz. Paralelamente, os "caldinhos" foram e continuam a ser o paradigma dessas visitas, com o Matheus Reis como alvo principal recente. As tácticas, as dinâmicas do jogo, as qualidades individuais e colectivas das nossas equipas nunca foram determinantes nas visitas do Sporting ao FC Porto. As circunstâncias, sim. Logicamente, na ausência de nevoeiro, um apanha-bolas não pode ser goleador. Mas um Pinheiro manso, plantado no relvado, pode dar jeito. "Bravo!" - dirão os portistas sobre a actuação do mesmo. O Pinheiro de que Vos falo insere-se em algo muito superior a ele próprio. Surge aqui parabolicamente para nos explicar a diferença entre a realidade e a percepção que dela temos. A percepção que temos da realidade é a de que Pinto da Costa era o Lobo Mau e que, comparados com ele, André Villas-Boas, Jorge Costa e Zubizarreta são os 3 Porquinhos, sendo o André, o Prático, que em alvenaria reconstruiu um edifício que fez com que o Lobo Mau não soprasse mais (velas na presidência do Porto). Porém, a realidade presente na mente dos árbitros assemelha-se mais à Alegoria da Caverna, de Platão, onde, apesar de na Liga do senhor Proença nos quererem fazer crer que o mundo mudou, a ideia de mudança é errónea (mesmo sem guarda Abel) e há quem continue a viver acorrentado a falsas crenças, preconceitos e ideias enganosas que no final determinam resultados. 

O Sporting perdeu nos últimos instantes a possibilidade de vencer no Dragão e eliminar definitivamente o Porto da corrida pelo título. E teve as melhores oportunidades de golo, mesmo num segundo tempo em que o Porto foi melhor e chegou mesmo a asfixiar pela pressão constante. Claro que para isso também ajudou o Pinheiro ter feito disciplinarmente vista grossa a uma entrada de Eustáquio que tirou Simões do campo ou o Djaló ter executado um mata-leão sobre o Harder dentro da área portista com a complacência do árbitro e o encobrimento tácito da SportTV, que nesse lance decidiu editar umas imagens filmadas a partir da Lua para assim testar a acuidade visual dos telespectadores. Evidentemente, houve também 2 penáltis, um quando o mesmo Djaló agarrou e imobilizou o Gyokeres na área, outro quando Quenda foi atropelado. ao abrir uma passadeira para golo, por Zé Pedro. Mas como este fez a bola mexer - "E pur si muove" (e no entanto ela move-se), diria Galileu, que também ele receava as arbitragens (da Santa Inquisição) - , após uma pantufada dois-em-um no joelho e pé direito de Quenda, o árbitro sentenciou que era "business as usual" e com o silêncio cúmplice do VAR Tiago Martins massajou o ego portista com um final feliz que consistiu em eliminar dois jogadores do Sporting antes da marcação de um canto que poderia ser perigoso, tornando assim a nossa vida mais difícil no futuro, que no presente já pouco mais prejuízo poderia haver. 

Obviamente, não foi só por acção do árbitro que o Sporting não ganhou. Este novo Porto promete e jogou muito quando Anselmi juntou a criatividade de Fábio Vieira à de Mora, mais tarde reforçada com a adição de Gonçalo Borges. E aproveitou bem o único erro de Diomande em todo o jogo, que afundou a linha de fora de jogo, para empatar a partida nos seus últimos instantes. Fez-se justiça em termos de caudal de jogo, mas as melhores oportunidades foram do Sporting, com Harder (duas vezes) e Quenda a desperdiçarem bolas de golo. No fim, houve empate. Um empate que empata mais o Porto que nós, que continuamos na frente, ainda que com uma vantagem para o Benfica que presumivelmente será encurtada para 4 pontos. O futuro dirá se ganhámos 1 ponto ou se perdemos 2. Dependerá das culturas que tivermos pela frente. [Um dia, no rugby da Agronomia, contaram-me uma história relacionada com um professor do Instituto (ISA) que teria desafiado os seus alunos a plantarem uma árvore em pleno campo de rugby. Lembrei-me deste episódio surreal ao observar que ontem houve um Pinheiro a obstaculizar a acção no Dragão. O que se lhe seguirá? Um(a) Oliveira em Aves? O tempo o dirá.]

 

Tenor "Tudo ao molho...": Quenda, pelo lance mágico do golo do Sporting, que meteu túnel e ultrapassagem em excesso de velocidade. Hjulmand foi imponente até aos 75 minutos e Diomande teria sido o melhor em campo não fora o deslize final (e fatal). Maxi muito bem no primeiro tempo e até ceder ao cansaço e o Fresnove voltou a mostrar os seus dotes de segundo avançado. 

r.jpg

Pág. 1/2

Mais sobre mim

Facebook

Apoesiadodrible

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2025
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2024
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2023
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub