Tudo ao molho e fé em Gyokeres
Portugal na CEE
Pedro Azevedo
Estávamos no início dos anos 80 e os GNR cantavam "Portugal na CEE": "Na rádio, na TV, nos jornais, quem não lê..." A CEE mais tarde deu lugar à União Europeia. E alargou-se, dispersando os seus membros, de uma forma diferente da antiga Taça dos clubes Campeões europeus, que se transmutou na Liga dos Campeões que hoje conhecemos, concentrando o poder nas grandes ligas. Por isso, a Champions é hoje uma competição sui-generis, por conter uma maioria de clubes que não foram campeões (dos 24 clubes apurados para a próxima fase, só 9 venceram o campeonato do seu país na época anterior e alguns, como a Atalanta ou o Brest, nunca foram sequer campeões nacionais na sua história). Mas o negócio dita a lei, os patrocinadores querem ver as melhores equipas no momento, pelo que se atropela o conceito básico, mistura-se com uns pózinhos de perlimpimpim do Zadok the Priest (Handel) para dar solenidade à coisa e coroa-se assim o fim de clubes históricos como o Anderlecht, o Ajax, o Estrela Vermelha ou o Steaua de Bucareste, muito periféricos para a alta-roda dos milhões que a UEFA quer explorar até ao tutano, que o osso fica para os orfãos deste modelo de "desenvolvimento".
Calhou o sortilégio do sorteio que o futuro de Sporting e Benfica na competição estivesse dependente do seu desempenho contra equipas italianas: o Benfica ia a Turim tentar trocar três passes seguidos para saltar à próxima fase e assim o Lage poder fazer a sua festa de garagem, o Sporting precisava de ratificar um Tratado de Bolonha que conviesse a ambas as partes. A tarefa dos Leões não era fácil, que recentemente, haviam trocado Alcochete por Alcoitão, que é como quem diz um centro de estágio por outro de medicina de reabilitação. Já se sabe que tirar um curso superior tendo por companhia um par de muletas em vez de manuais pode ser incomodativo, mas a realidade era essa e os Leões teriam de procurar o melhor aproveitamento. Sem três dos seus quatro melhores "estudantes" (Gyokeres, Pote e Morita de fora, só Hjulmand foi a exame) e com um "cábula" como Fresneda a baixar a média geral da turma - aos 2 minutos, num canto, deixou-se antecipar por Sam Beukema e a bola foi à trave; aos 17, Samuel Iling fez o que quis dele e cruzou com muito perigo; aos 20, novo canto, Beukema novamente vence-o nos ares, Hjulmand já não chega a tempo para o compensar, a bola sobra para Pogeba e golo do Bolonha (Israel ficou como habitualmente entre os postes, como se estes para si representassem um cativeiro do qual fosse impossível libertar-se) - , o Sporting precisou de recorrer aos alunos mais jovens (Simões e Quenda) para obter um suficiente na prova.
A entrada do miúdo João Simões permitiu criar um par de combinações pela esquerda com Maxi, conjuntamente com Diomande um dos mais inspirados em campo, que desestabilizaram os italianos. E de uma jogada que deve ter deixado orgulhoso o nosso Jorge Theriaga, decano do bilhar às três tabelas leonino, Simões passou a Harder (outro adolescente) e este fez uma carambola do seu pé esquerdo para o direito que pôs a bola no "saco" e o quezilento Bolonha (29 faltas!!) finalmente no bolso (pocket). O miúdo quase repetiu a proeza momentos depois, optando desta vez por um passe atrasado, mas o lance perder-se-ia por interferência de um bolonhês.
Como o Benfica ganhou à Juventus, os dois clubes portugueses entraram no play-off. Há agora 24 clubes ainda em prova, sendo que apenas 6 pertencem a países periféricos que resistem ao jugo das ligas alemã, inglesa, espanhola, italiana e francesa. Nesse particular, Portugal rivaliza com os Países Baixos (também com 2 clubes, PSV e Feijenoord), os outros são Escócia (Celtic) e Bélgica (Club Brugge, o último apurado).
"E agora que já lá estamos, vamos ter tudo aquilo que desejamos: um PA p'ras vozes e uma Fender. Oh, boy, é tão bom estar na CEE! Quero ver Portugal na CEE, quero ver portuga na CEE." - as vozes ficam para o Lage, a nós compete-nos ter unhas (garras de leão) para tocar esta guitarra.
Tenor "Tudo ao molho...": João Simões