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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

27
Nov24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Saka, saca rolhas


Pedro Azevedo

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Lembram-se do desespero do Macaulay Culkin em "Sozinho em Casa" ao aperceber-se de que se esqueceram dele? Terá sido a sensação que Maxi Araújo experenciou durante toda a primeira parte ao ver-se sem apoio perante Bukayo Saka. 

A sorte e o azar são factores a não desprezar em qualquer jogo, não sendo o jogo de futebol uma excepção à regra. Ao intervalo, contra o Manchester City, o Sporting poderia ter estado a perder por dois ou três golos de diferença, mas quis a roda da fortuna que tal não acontecesse. Depois, no segundo tempo, os leões justificaram plenamente a vitória. Ontem, novamente, o Sporting não entrou bem no jogo, só que desta vez chegou mesmo ao intervalo a perder por 3 golos. Dir-se-ia assim que teve azar. Todavia, nem só de sorte ou azar se faz um jogo de futebol: quando, num jogo internacional, contra uma equipa de primeiro plano europeu, se admite uma inferioridade numérica num sector nevrálgico como o meio campo, então está-se a dar trunfos a uma eventual má sorte. Foi isso que aconteceu quando João Pereira, na impossibilidade de contar com Pote, escalou Edwards como interior esquerdo, sabendo à partida que o inglês pouco ou nada defende e que por esse flanco o Arsenal geralmente cria mais perigo, não sendo expectável que os médios pudessem ser de grande ajuda, concentrados que presumivelmente estariam em se posicionarem correctamente face ao excesso de adversários no miolo do campo. Ademais, das poucas vezes que Amorim havia começado com Edwards e Trincão em simultâneo, tinha havido a preocupação de dar a Trincão a posição de interior esquerdo, jogando Edwards a partir da direita. Tal talvez pudesse ter esbatido a diferença que o melhor jogador do Arsenal, Saka, produziu no lado direito do ataque do Arsenal, na medida em que Trincão é muito mais competente sem bola, a fechar espaços e a lutar pela posse, do que Edwards. Mas não foi essa a opção de João Pereira, e com relativa facilidade Saka sacou dois lances de inspiração individual que conduziram aos dois primeiros golos, abrindo assim a rolha do futebol champanhe com que os londrinos presentearam o Sporting durante o primeiro tempo. Para piorar o cenário, de um canto, uma bola parada, de um "set pieces" como os ingleses gostam de lhe chamar, viria o terceiro golo, com toda a equipa do Sporting concentrada na marcação na pequena área e Gabriel a surgir de trás sem oposição. 

A ganhar por três, o Arsenal surgiu mais expectante no segundo tempo. E o Sporting aproveitou para igualar a contenda no que respeita à concretização de jogadas de laboratório, quando Inácio desviou ao primeiro poste um canto executado por Trincão. Cresceu o Sporting e atemorizou-se o Arsenal. Por momentos o milagre pareceu possível. Morita e Hjulmand tiveram remates brilhantemente defendidos por esse grande guarda-redes que dá pelo nome de Raya, Gyokeres começou gradualmente a libertar-se do jugo imposto por Gabriel. Mas quem não marca arrisca-se a sofrer e, em novo lance iniciado na direita do ataque do Arsenal, a bola circulou rapidamente para o centro e Inácio e Diomande não foram suficientemente incisivos, cedendo o Sporting um penalty e ficando ainda a agradecer ao árbitro a não expulsão (segundo amarelo) do costa-marfinense. O jogo praticamente terminou aí. João Pereira finalmente lançou Bragança por Edwards e o Sporting pareceu ainda ganhar um suplemento de alma. Durante 15 minutos o jogo instalou-se no meio campo dos "Gunners". Gyokeres rebentou primeiro fisicamente com Gabriel e depois desenhou uma jogada brilhante em que correu maio campo, tirou dois defesas do seu caminho e ainda teve força para enviar um míssil que esbarrou no poste de Raya. Mas faltou a pontinha de sorte que sobejou no jogo contra o City e o Arsenal viria a marcar um outro golo. 

Na sua despedida, Ruben Amorim garantiu a competência de João Pereira mas não deixou de alertar para a importância da estrelinha da sorte que sempre o acompanhou e poderia não transitar para o nóvel treinador. Vis-a-vis o ocorrido com o City e confrontando com ontem, dir-se-ia que Amorim estava cheio de razão. Convém porém não atribuir tudo à sorte e ao azar. A sorte procura-se e encontra-se mais facilmente quando a preparação interliga-se com a oportunidade. João Pereira teve a oportunidade de uma vida e não a quererá desperdiçar. O plantel é bom e está lá para o ajudar. Caberá então ao jovem treinador de futuro tomar melhores opções, escolhas que não facilitem tanto a acção dos adversários como as que infelizmente tomou ontem. A ser assim, as nuvens agoirentas de ontem serão tomadas por um céu limpo e um sol radioso. Os Sportinguistas estão com ele, mas convém que João Pereira não ressuscite o discurso estafado, que aliás se julgava erradicado por Ruben Amorim, de que é preciso "levantar a cabeça" . É que o símbolo do Sporting é um leão rampante, o que significa que fica sempre de pé. Mesmo quando cai...

Tenor "tudo ao molho...": Hjulmand

23
Nov24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Encontros imediatos do terceiro grau


Pedro Azevedo

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Com um treinador certificado do quarto nível, o Amarante vinha a Alvalade defrontar um adversário cujo treinador ainda aguarda a chegada do diploma do terceiro grau, pelo que, seguindo a cartilha da ANTF e seu presidente, os amarantinos seriam à partida os grandes favoritos. Mas Taça é Taça, e a história da Taça de Portugal tem sido feita de Davides que batem o pé a Golias e às vezes até lhes acertam com uma boa fisgada. Pelo que havia a esperança de que a diferença de habilitações literárias entre os comandantes se pudesse esbater e que em Alvalade emergisse o Sporting como um dos tomba-gigantes que ancestralmemte animam a competição. Ao contrário do senhor José Pereira, o João Pereira ainda não é suficientemente conhecedor. Mas começa a dar provas de que é muito mais sábio do que o homónimo José, na medida em que, já dizia o velho Sócrates, sábio é  aquele que conhece os limites da sua própria ignorância. Nada porém que abale as convicções do senhor José Pereira, que assentam no seguinte silogismo aristotélico: "Não há conhecimento sem certificação" - primeira proposição; "João Pereira não tem certificação" - segunda proposição; "logo, João Pereira não tem conhecimento" - conclusão. E assim, entre um discípulo de Aristóteles, que foi discípulo de Platão que por sua vez foi discípulo de Sócrates, e um discípulo directo de Sócrates, estabeleceu-se a dicotomia entre conhecimento e sabedoria, que conhecimento é saber que o tomate é um fruto, sabedoria é não misturá-lo numa salada de frutas. Depois, há também a questão de saber-se se ao menor conhecimento se devem aplicar restrições de mobilidade: sem conhecimento, o João Pereira pode estar no banco. Todavia, não se pode levantar ou dar instruções. José Pereira revela aqui uma visão do mundo tipo colégio interno "brutânico", onde coabitam o ponteiro na cabeça, a reguada na mão e o isolamento do aluno não certificado numa cadeira junto ao quadro, imóvel, em silêncio e se possível ostentando umas orelhas de burro. Ora, isto denota um grande desconhecimento da complexidade do ser humano.  Se, para José Pereira, o não conhecimento obriga ao imobilismo, a psicologia clínica doutrina que há pessoas, e não só seres hiperactivos ou dislexicos, que se expressam melhor pelo movimento, que necessitam do movimento para melhor compreenderem o mundo e o que as rodeia. São os casos dos bailarinos, actores de teatro e cinema ou... jogadores e treinadores de futebol. Ou seja, para eles menor movimento significa menor conhecimento (e não o seu contrário). 

Seja porque o plantel quis marcar uma posição pós-Ruben Amorim ou porque os jogadores sentiram a necessidade de mostrar a sua solidariedade com João Pereira neste diferendo com a ANTF, a verdade é que o Sporting surgiu muito motivado em campo. A revolta tem dessas coisas, e muitas vezes acontece-nos estarmos sozinhos contra o mundo e isso ainda dar-nos mais força. Foi o que aconteceu com o Edwards, que vinha jogando menos e viu aqui uma oportunidade. E lá foi sozinho, contra o mundo, fintando para a esquerda e para a direita, naquele seu jeito de quem mói o sentimento (obrigado, Carlos Tê), de quem questiona o que faz aqui e para onde vai, muitas vezes perdendo-se no caminho, absorto nos seus próprios pensamentos e desligado de tudo o resto. Não desta vez, porque não só encontrou o caminho como escolheu o mais difícil, não recorrendo ao atalho de procurar o seu melhor pé na altura da conclusão. E saiu bomba, abrindo o marcador. Logo de seguida veio uma jogada de laboratório, uma daquelas que para qualquer espírito atento seria motivo de doutoramento de um treinador: aproveitando a actual lei do fora de jogo, Harder expôs-se à profundidade. A defesa do Amarante ficou imóvel, feliz pelo dinamarquês ter caído na armadilha. Só que atrás dele veio o Bragança, que recebeu o passe do Matheus Reis e cruzou para a entrada da pequena área onde Esgaio apareceu a desviar subtilmente para golo. Simples e eficaz. E ao quarto de hora o Sporting fazia surpresa na Taça, ganhando por 2-0 ao treinador licenciado do Amarante. Entretanto, o Trincão estava num turbilhão, rodopiava entre os adversários como se não houvesse amanhã e ia causando os estragos habituais da presença de um furacão. De um desses lances resultou o estrondo de um poste a abanar, o que até fez o Harder trocar os pés. Lívido, o dinamarquês não esperou pela demora: nova bola de Trincão e o Harder a colocá-la fora do alcance do guarda-redes do Amarante. E antes que chegasse ao fim da primeira parte, o Bragança desviou do guardião o suficiente para que o Edwards aparecesse a bisar. 

O Amarante perdia 4-0 ao intervalo e pior terá ficado quando os seus jogadores viram o Gyokeres a aquecer. Antes que entrasse, o Trincão combinou com o Harder pelo centro e rematou para o 5-0. Depois, o sueco entrou naquele seu jeito de que ou vai ou racha. E começou por rachar... no poste, duas bombas executadas de livre directo, para logo facturar na sequência de um penalty. Em cima do minuto 90, o Sporting continuava a pressionar o Amarante e a não deixá-lo respirar, a tónica de todo o jogo. No fim foram 6, mas podiam ter sido muito mais. Não sei se Jose Pereira terá ficado incrédulo ao ver um treinador sem nível golear um encartado, mas nestas coisas talvez seja melhor citar o William Blake: "Há o conhecido, o desconhecido, e no meio estão as portas da percepção". Trocando por miúdos, na antecâmara do jogo era conhecimento de todos que o João Pereira não tinha nível. Adicionalmente, desconhecia-se o que poderia mostrar quando tivesse a oportunidade. Acabado o jogo, a percepção geral é a de que João Pereira poderá ter unhas para tocar esta guitarra. O que nos leva a Einstein e este seu pensamento: "É mais fácil desintegrar um átomo do que destruir um preconceito". O futuro dirá se Jose Pereira, à semelhança de idêntica polémica criada com Ruben Amorim, não começou ontem a engolir o preconceito. Preconceito que é um pré-conceito das coisas, e como tal não valoriza a experiência. Não deixa por isso de ser intrigante que quem quer fazer do futebol uma ciência não valorize a experiência, sujeitando-se assim a encontros imediatos do terceiro grau. Imagine-se quando for do quarto...

 
Tenor "Tudo ao molho...": Trincão

20
Nov24

Póqueres, lobos e cordeiros


Pedro Azevedo

Suspeito que se Vik "Thor" Gyokeres (ou será Póqueres?) fosse português, Roberto Martinez inundá-lo-ia de elogios e no final do dia poria o Fábio Silva como titular. Porque afinal há uma afinidade clara entre o Fábio Silva e o Sr Martinez: são ambos lobos (o Fábio é do Wolves, mas está emprestado ao Las Palmas). Porém, há uma não tão pouco subtil diferença: só o Roberto veste a pele de cordeiro (o símbolo do Las Palmas é um castelo e... um leão rampante). 

19
Nov24

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

Remar, REMAX (aos Chutos&Pontapés)


Pedro Azevedo

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Sabemos que o mundo é um lugar estranho quando, em pleno "Century 21",  Portugal vai a Split jogar contra a equipa da REMAX (Hrvatska, em croata). É a força da globalização e suas tendências, ainda que paradoxalmente as pessoas andem bastante mais separadas ("Split", na língua global) umas das outras, entretidas a brincar às casinhas. 

Portugal entrou com tudo, com João Neves a marcar o ritmo, Vitinha a esconder a bola, Tomás Araújo imperial com e sem bola e Nuno Mendes omnipresente como central pela esquerda, lateral ofensivo e extremo canhoto. Só o Rafael não apareceu no seu melhor,  no caso em versão emplastro Leão, o que rima com trapalhão (só na definição). O céu parecia ser o limite, o que até é, curiosamente, um slogan caro aos da REMAX, mas muita parra produziu pouca uva e ao intervalo vencíamos por apenas 1 golo de diferença, cortesia de João Félix e de um daqueles seus detalhes de génio da lâmpada que um dia (sebastianismo puro luso) lhe valeram uma transferência de 120 milhões. O problema do João é que o seu perfume requintado coabita num frasco de 25ml, esgota-se em pouco tempo. (Para quem vê o futebol como arte, o delicado entrelaçar de jogo que nasce no seu cognito e logo floresce nos seus pés capta a atenção como se de uma bela e complexa peça de filigrana se tratasse. Não é só o que se vê, é muito também o que se sente: o som perfeito que a bola emite quando por ele impelida, o perfume requintado derramado no acto, a intenção que quase conseguimos tocar latente em cada sua acção, a água que nos cresce na boca como que a pedir sempre mais. Tudo isto nos acontece porque Félix é um dos raros futebolistas que nos despertam os cinco sentidos. Porém, e apesar de todos os predicados, a carreira de Félix tem ficado aquém. Porque não só de talento se faz um caminho, é preciso trabalho, consistência e atitude mental. E é especialmente nesta última que as coisas falham.)


Depois de uma muito boa primeira parte, na segunda perdemos a objectividade: escondermos a bola passou a ser a meta, ao invés de continuarmos a procurar o golo. Foi assim um tempo de espera: esperámos pela REMAX e esperámos por Godot. É normal em Portugal se esperar por Godot, os portugueses estão habituados a esperar e suspirar até por aquilo que nunca vem. Talvez por isso não reajam bem a quem entrega o que promete, gente como o Cristiano Ronaldo e assim, que como tal nem sempre é bem-vista ou bem-quista. No dia, o nosso Godot chamava-se Quenda, Geovany Quenda, e não havia noticiário prévio ao jogo que não anunciasse a sua estreia oficial pela Selecção, estreia essa que bateria o recorde de precocidade pertencente a Paulo Futre. O problema é que, tal como na peça de Beckett, o Quenda nunca chegou. Na antecâmara do jogo haviam 4 potenciais estreias lusas. Dessas quatro, a do Tomás Araújo logo se confirmou (foi titular). Depois entraram o Tiago Djaló, recém-titular de uma defesa do Porto que mete mais buracos que uma balsa a remos de dissidentes cubanos prestes a naufragar ao largo da Flórida, e o Fábio Silva, que anda de clube em clube a ver se alguém lhe dá a mão (ou, pelo menos, lhe mostrem as palmas das mãos, "Las Palmas"). Já foi "Ranger" e até vestiu a pele de Lobo (Wolves), mas quem lhe deu verdadeiramente a mão veste a pele de cordeiro (Martinez). Pelo que o Quenda foi o único que não saiu do banco, dali ficando a ver todas as expectativas criadas pelo próprio Seleccionador gorarem-se, frustrarem-se, o que já não é a primeira vez. Ainda que vendo o Semedo facilitar no golo da REMAX, um golo muito antecipado como outros no passado que resultam da inação face aos acontecimentos tão comum ao nosso Seleccionador, o homem que desperdiçou a melhor geração belga desde a ínclita dos anos 80 e se prepara para fazer o mesmo, se lhe derem tempo, com Portugal. Como também já é um hábito, o Trincão não saiu do banco, passou de afluente no último jogo a não influente neste, o que ilustra bem a (in)coerência de consistência das decisões do treinador. Tudo isto, porém, obedece a um plano estratégico genial por parte de Roberto Martinez, o melhor aliado do Sporting no presente campeonato: é que os nossos jogadores saem da Selecção com tanta fome de bola que depois comem a relva nos compromissos domésticos. Creio que assim deveremos estar muito agradecidos ao Sr Martinez, rezando para que ele não saia para uma REMAX, que até seria um fato à sua medida visto que exige exclusividade no seu portefólio de activos.

 

"Mares convulsos, ressacas estranhas
Cruzam-te a alma de verde escuro
As ondas que te empurram
As vagas que te esmagam
Contra tudo lutas
Contra tudo falhas

Todas as tuas explosões
Todas as tuas explosões
Redundam em silêncio
Redundam em silêncio
(2x)
Nada me diz

Berras às bestas
Que te sufocam
Em abraços viscosos
Cheios de pavor
Esse frio surdo
O frio que te envolve
Nasce na fonte
Na fonte da dor

Remar remar
Forçar a corrente
Ao mar, ao mar
Que mata a gente
(2x)

Nada me diz"

 

Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Mendes 

18
Nov24

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

A Eficácia


Pedro Azevedo

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Este mundo prometido da internet e das redes sociais, que supostamente iria aproximar mais as pessoas, tem o condão de criar e dar palco a "haters" todos os dias. Estes crescem como cogumelos venenosos, sempre à espera do alvo certo para intoxicarem. Como não convém que o alvo seja desconhecido, porque assim ser "hater" não teria qualquer visibilidade, logo nenhuma utilidade, esta forma subtil de parasitismo geralmente ataca indivíduos famosos por terem obra feita, o que é um tipo de fama diferente daquela de se tornar conhecido só porque se apareceu na televisão pelos piores motivos. Um desses famosos com obra, por direito, chama-se Cristiano Ronaldo. Cada jogo de Portugal é uma oportunidade para os "haters" de Ronaldo provarem que o madeirense já está fora de prazo e devia arrumar as botas. Mas, se é uma oportunidade, não deixa também de ser uma ameaça, especialmente quando a Selecção ganha e o craque português passa mais um recibo verde de um ou dois golos, a caminho do Santo Graal de todos os goleadores: o milésimo golo. Ora, como os portugueses têm mais apreço pela sua razão individual do que simpatia por que esta assista a um colectivo, quando o Ronaldo marca a azia desses "haters" é incontornável. Porém, a coisa até esteve prometedora, não fora um segundo tempo que contrariou uma anémica primeira parte em que só por manifesta sorte Portugal chegou ao intervalo com um lisonjeiro empate. Embora para os tais "haters" a culpa quando Portugal não joga nada seja do Ronaldo, a verdade é que durante o primeiro tempo foi difícil ver um jogador português em destaque. Talvez Nuno Mendes. Ou Diogo Costa. Mais ninguém. Do outro lado, os polacos criaram 3 ou 4 claras oportunidades de golo. Nós, nem uma para amostra. Após o reatamento, o Rafael Leão pegou na bola à entrada da sua área a foi por ali fora como uma gazela à solta na savana. até passar o meio campo sem que ninguém tivesse pernas para o parar. Tocou então para o Nuno Mendes, outro puro sangue, e prosseguiu em frente à espera da retribuição do passe. O Nuno fixou bem o defesa, contemporizou o suficiente e decidiu-se por chutar a bola para um espaço a que só o Leão teria acesso. Respondendo à chamada, este aplicou uma cabeçada na bola que não deu hipótese de defesa ao guarda-redes polaco. Estava inaugurado o marcador. Os polacos pareceram surpreendidos por terem sofrido um golo de uma equipa que até aí nem mostrara as unhas, quanto mais dar a ideia de que essas unhas poderiam transformar-se em garras e arranhar. Enquanto digeriam essa incredulidade, levaram com o segundo golo: Ronaldo, num penálti clássico, mandou o guarda-redes para o vazio e a bola para a rede. Aturdidos, sem perceberem o que lhes estava a acontecer, pouco depois os polacos viram o bombardeiro Bruno Fernandes levantar vôo por entre a sua defesa anti-aerea. A bomba acertou no ninho da águia (símbolo polaco) e a resistência polaca acabou aí. Pedro Neto ainda voltaria a marcar, mas o melhor ficou reservado para o fim: o velhinho Ronaldo renasceu mais uma vez como a fénix e numa acrobacia de bicicleta pôs os polacos em órbita (órbita, como o Leitor sabe, tem tudo a ver com bicicletas). Mesmo no finzinho, os polacos reduziram, apenas para nos lembrar que uma coisa é a função trabalho, outra a função rendimento, e que a eficácia está directamente relacionada com o sucesso de uma qualquer empreitada. A eficácia com que, por exemplo, Alex Ferguson esculpiu Cristiano Ronaldo, despojando-o de toda a eficiência assente em esquivas e rodriguinhos bonitos para os olhos do espectador, mas supérfluos porque não objectivos, transformando-o assim num ser que contrasta com o que é ser português e nos confronta permanentemente com as razões dos nossos inêxitos, por isso gerando tantos ódios.  

Tenor "Tudo ao molho...": Rafael Leão 

15
Nov24

Pereira contra Pereira


Pedro Azevedo

Esta coisa em forma de assim de se querer fazer do futebol uma ciência e dos seus treinadores uns Leonardos da Vincis do século XXI é algo que pretende certamente prestigiar uma classe mas não deixa de ser risível na sua aplicação. Desde logo porque, ao contrário da medicina, engenharia, advocacia ou gestão, o conhecimento sobre futebol é transmitido por uma universidade aberta que todas as semanas produz as suas lições. Toda a gente vê futebol, o que não quer dizer que todos tenham a sensibilidade de o perceber. Porque há emoção e esta pode toldar a frieza na análise. Todavia, o conhecimento está disseminado, logo democratizado, como em nenhuma outra área de actividade económica. Pô-lo em prática é outra coisa, que conhecimento é saber que o tomate é um fruto, sabedoria é não misturá-lo numa salada de frutas. Ora, da mesma forma que ninguém sai de uma universidade sabedor (mas apenas conhecedor), também não se pode pensar que serão uns cursinhos de poucos meses (trezentas e tal horas) que elevarão um treinador à sapiência. Vem isto a propósito da obstinação da ANTF e do seu presidente José Pereira em impedir que treinadores sem o nível IV possam dirigir as suas equipas no banco. Veja-se o caso de João Pereira: jogou futebol profissionalmente durante década e meia, nesse período tendo de se adaptar a múltiplos treinadores e múltiplas tácticas, estilos de liderança e de comunicação, gestão física e mental. Não serão preparação e habilitação suficientes para o cargo de treinador? Para José Pereira, não. E quem vem da Faculdade de Motricidade Humana, também necessita dos cursinhos? Pelos vistos, sim, o que faz da actividade de treinador de futebol a mais complexa da era moderna. E eu a pensar que um médico que tem uma vida humana nas mãos, um advogado que tem a inocência de um seu constituinte nos braços ou um gestor que tem o futuro de centenas ou milhares de colaboradores dependente do sucesso das suas decisões estratégicas teriam maiores responsabilidades... Como em tudo, nada como pegar num exemplo radical para ilustrar a falta de senso do que está a ser exigido, na esperança de que José Pereira se confronte com o seu momento Monty Python e refreie caminho: já ouviram falar de Anselmo Fernandez? Era arquitecto e ficou conhecido por ter projectado o antigo Estádio de Alvalade, mas também o Hotel Tivoli, a Reitoria da Universidade de Lisboa e a Faculdade de Letras ou a Clássica. Um dia pediram-lhe para treinar a equipa profissional do Sporting, pós-demissão do brasileiro Gentil Cardoso. Pois, acabou vencedor da Taça das Taças, ainda hoje o único título europeu, em futebol, do meu Sporting. Sem nivel, para o senhor José Pereira, o mesmo que correu Seca e Meca a apreguar a falta de nível de Rúben Amorim enquanto este o desmentia na prática ao liderar folgadamente o campeonato. Há gente que não aprende as lições que a vida lhe vai dando e cumulativamente ainda se julga credor de dar lições a outros. É o caso (perdido) do senhor José Pereira e dos cursos que, espaçadamente no tempo (ao que parece, um tempo médio de 8 anos é necessário para completar os 4 níveis) e sabe-se lá com que justeza de critérios de atribuição de vagas, vai abrindo por aí. Cursos esses que, porém, têm uma virtude: permitem dar trabalho a um sem número de treinadores encartados, agora investidos de monitores/professores porque no desemprego. Digam lá se não é irónico?

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14
Nov24

Amorim contra “Weltschmerz"


Pedro Azevedo

Os adeptos do Sporting passaram décadas com a consciência de que o que o clube demonstrava no campo não estava de acordo com a sua grandeza. Quer dizer, na mente do adepto, o Sporting era o maior, mas depois, na prática, os resultados não se adequavam a esse pensamento. E isso chegou a ameaçar mudar a mentalidade do adepto, tornando-o mais conformista, menos ambicioso, com laivos até de fatalista - um non sequitur, porque o que havia a fazer era mudar os resultados e não a mentalidade. Os alemães, que são pródigos em encontrarem palavras que designam condições, chamam Weltschmerz ao sentimento causado quando o estado físico não permite acompanhar a idealização da mente, e os adeptos Sportinguistas padeceram dessa angústia durante muito tempo. Até que chegou Rúben Amorim, que com o seu optimismo - "E se corre bem?" - , liderança e comunicação, mas também com as suas convicções e inteligência (sistema de jogo inalterado de base, mas sempre sujeito a sucessivas nuances de dinamicas introduzidas com o propósito de o melhorar), devolveu na prática, e não apenas em teoria, o estatuto de grande clube ao Sporting. Com alguns erros pelo meio, como foi o caso dos avançados móveis, mas aprendendo com eles e sabendo evoluir a partir daí. Também, aqui e ali demonstrando alguma azia por o clube não segurar alguns dos seus melhores jogadores em momentos críticos (caso Matheus Nunes), mas de uma forma geral chamando a si a razão dos pontuais inêxitos (os êxitos sempre partilhou com toda a Estrutura) e assim mostrando uma notavel solidariedade com a administração da SAD e a sua entidade patronal. Chegou, por fim, a hora da sua partida, longe de ser a ideal. Mas fica uma obra, um ideário, um roteiro de sucesso que vai servir ao novo timoneiro, cenário bem diferente daquele que Rúben encontrou na sua apresentação em Alvalade. E há também um plantel motivado, com bons hábitos profissionais e que tem um pilar fora e dentro do campo que se chama Hjulmand, não por acaso precocemente elevado a capitão. É sobre estas boas fundações que futuramente assentará o trabalho de João Pereira, e esse parece-me augúrio suficiente de que o caminho de sucesso continuará a ser percorrido nesta temporada. Depois haverão outras, novos plantéis se formarão e com eles novos testes e desafios à liderança de João Pereira, cujo legado é difícil mas bom. Pior seria se fosse mau... E mau será perdermo-nos em sebastianismos que minem o trabalho do novo treinador, o que não significa que não sejamos para sempre reconhecidos por aquilo que Amorim fez por nós, que foi muito e até impensável, observadas as circunstâncias em que encontrou o clube, tendo sido para mim o melhor e mais dedicado treinador que vi ao longo da minha vivência de Sporting. 

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11
Nov24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

A Última Ceia


Pedro Azevedo

Desde há duas semanas que sabíamos que o nosso futuro próximo não passaria por Rúben Amorim, mas de alguma maneira a administração do clube conseguiu estender o presente umas semanas, pelo que o Rúben continuou por aqui mais algum tempo e a sensação de orfandade ficou suspensa num tempo entretanto congelado para que o alimento de que todos os Sportinguistas precisam (as vitórias) não ficasse estragado e o novo treinador a anunciar não tivesse prematuramente de meter-se em refogados. Mas tudo tem o seu fim, embora esse fim só seja conhecido quando vem acompanhado de um prazo de validade pré-anunciado. A data escolhida para a cisão teve o seu quê de auto-explicativa, na medida em que foi coincidir com o dia de São Martinho, efeméride religiosa que celebra um soldado romano conhecido pela sua personalidade filantrópica: para nós, que sonhávamos com o título nacional há 19 anos, o Rúben será sempre o homem que nos veio matar a fome. E que, posteriormente, nos reparou o estatuto, nos ensinou a comer de novo e reiteradamente à mesa dos reis, que é algo assim a jeito de na sala do Gambrinus podermos degustar o empadão de perdiz com um bom vinho, enquanto arranjamos espaço para acamar um Crêpe Suzette ("pièce de la résistance"), em vez de nos quedarmos por uns croquetes e uma imperial na barra como um fidalgo falido. Como não há forma de indeterminadamente parar o tempo, ele teve de avançar. Inexoravelmente. De forma que Braga marcaria o fim de uma era. Os últimos dias haviam sido brilhantes, com vitórias sucessivas, a última face ao "mighty" Manchester City. Mas a cauda é sempre o pior de se esfolar, e havia um jogo final em Braga para ser disputado. Um jogo de emoções fortes para adeptos e jogadores, que uma coisa é saber-se que o treinador está de partida, outra é chegar a noite de véspera da data em que ele vai apanhar o avião (e nós bem traumatizados já estávamos com escapadas precárias de avião). Como iríamos todos nós lidar com a nostalgia do momento? 

O primeiro tempo ficou marcado pela saudade de alguém ainda presente, um sentimento de perda que causou angústia e nervosismo à equipa e gerou alguma atrapalhação na definição dos lances. Eficaz, o Braga defensivamente nada nos concedeu e ofensivamente tudo aproveitou: se, lá atrás, os minhotos montaram a barraquinha do tiro ao Gyokeres e foram-se revezando com notável solidariedade nessa especialidade simultaneamente tão promotora quão idiossincrática da cultura de futebol existente em Portugal, mais à frente, o Bruma combinou com o Horta, numa espécie de Horta do Bruma, para nos dar cabo do apetite vegetariano. Resultado: ao intervalo perdíamos por 2-0. 

Com o segundo tempo veio a revolta do pasodoble sobre o fado e "pegámos o touro pelos cornos": a nostalgia ficou no balneário e passámos a "dar ao pedal" em dobro. As substituições também ajudaram a dar maior agressividade e vivacidade ao nosso futebol. Cedo, um dos que entrou (Morita) reduziu a desvantagem no marcador e com isso reentrámos no jogo. Com menos dois dias de descanso, o Braga procurou recorrer a todo o tipo de truques que escondessem o cansaço acumulado dos seus jogadores: cada pontapé de baliza a seu favor era usado pelo Matheus para reflectir sobre a sua própria existência, ao passo que uma queda no relvado do Moutinho exigia a presença simultânea do INEM, de um padre, de um médico legista e de um profissional de seguros com qualificação em avaliação de sinistros, antes do politraumatizado corpo poder ser removido do terreno de jogo para logo reaparecer todo viçoso por artes de magia negra. Tantas perdas de tempo iam quebrando o ritmo de jogo ao Sporting. Mas a vingança serve-se fria, ou não viesse da Dinamarca. E se Hjulmand com um foguete anunciou a revolução, o princípe Harder logo exibiu aquele par de huevos com que se fazem Hamlets.

 

A passagem de Amorim foi uma epopeia que só careceu de um Homero para que fosse fielmente retratada.  Como todas as epopeias poderia ter terminado em tragédia (Aquiles) ou glória (Ulisses), mas reza a lenda que Lisboa foi fundada por Ulisses e isso terá tido uma influência marcante no desempenho do alfacinha Amorim. Sendo para sempre, na mitologia leonina, o profeta e filho de deus que trouxe a boa nova, Amorim por fim reuniu 11 apóstolos naquela que foi a sua Última Ceia. E saiu em merecida glória, deixando para trás uma legião de crentes. 

 

"Sic transit gloria mundi!!!", que a luz ilumine João Pereira!!!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Conrad Harder. Hjulmand seria uma óptima opção.

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06
Nov24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Um argumento caído do Céu


Pedro Azevedo

Antes do jogo era sabido o seguinte: o Manchester City não perdia há 26 jogos para a Liga dos Campeões, um recorde da competição. E ainda não havia sofrido qualquer golo na Champions da presente temporada. Adicionalmente, vencera a exigentíssima Premier League na época passada, chegando assim ao tetra-campeonato, totalizando 6 títulos de campeão inglês nas últimas 7 edições. Perante estes factos, escusado será dizer que o City era super favorito. Mas um jogo de futebol não se joga no computador, nas estatísticas, nas previsões das cassandras apressadas nos jornais e teievisoes. Não, um jogo de futebol joga-se no campo, no relvado. E é presente, e não passado, pelo que tudo o que aconteceu lá atrás não é garantido que se repita. Além de que se trata de um jogo, logo inclui variáveis aleatórias como a sorte e o azar que tantas vezes são desprezadas na sua análise posterior. Serve este último arrazoado para introduzir não de supetão o resultado do jogo. Para quem não viu ou não sabe ainda, recomendo que se acomode, que se sente bem - o resultado foi quatro-a-um para o Sporting!!! 

"Como é que tal foi possível?", perguntará, legitimamente, o Leitor.  Foi possível porque é futebol. E também na medida em que os pontos fortes do Sporting colidiram com os poucos pontos fracos do City e daí resultou a hecatombe inglesa. Pode agora parecer paradoxal, tendo-vos dito primeiramente que o passado não garante o presente, mas a história está cheia de exemplos de superação do mais fraco face ao mais forte. Desde David e Golias, passando por Aljubarrota ou pela Armada outrora julgada Invencível. E ontem fez-se história em Alvalade, na despedida do nosso treinador desse palco sagrado para todos os Sportinguistas. Um enredo que desafiaria o guionista mais out-of-the-box de Hollywood, porque alinhavado no Céu, que Amorim é um daqueles que Deus mais ama e assim transporta com ele uma estrelinha que reluz quando dela mais precisa. Como todo o bom argumento, os sinais iniciais foram contraditórios com o resultado final, como se o Dramaturgo desta história quisesse apanhar o espectador de surpresa. Assim, cedo (3 minutos) o City se apanhou em vantagem no marcador. E para que não houvesse dúvidas de que a noite não seria auspiciosa, pouco depois Gyokeres, o nosso Vik Thor, o Viking e filho de Odin que em boa hora aportou a Alvalade, falhou um golo cantado, mostrando assim uma faceta menos própria de um deus e mais próxima de uma condição humana que se lhe desconhecia. Se o nosso deus está num dia mau, e nós, mortais, nem sabíamos que os deuses poderiam ter dias menos bons, então a nossa glória ou ambição acabará na vala (e não em Vahala) - pensou-se. Mas os guiões mais criativos dão muitas voltas e reviravoltas ("remontadas" é no Bernabéu e este enredo vai mais no caminho de re-béu-béu, pardais ao ninho, conforme adiante se verá) e este centrou-se durante largos minutos num actor secundário que roubou o palco aos designados protagonistas. Falo-vos de Franco Israel, que foi adiando o julgado inevitável, e assim mantendo o Sporting no jogo e dando tempo para que um qualquer milagre se operasse. Eram vagas e vagas constantes de ataque do City, calafrios a seguir a calafrios, mas Israel foi mantendo o sonho da "terra prometida". Até que o menino Quenda agigantou-se e serviu Gyokeres no espaço com maestria. Na profundidade, o Vik Thor ganha artes de Neptuno e nada nem ninguém o pode parar. Resultado: 1-1.

 

O intervalo chegou e com ele a sensação de que o resultado era muito melhor do que a exibição. Mas estávamos dentro do jogo, e assim tudo ainda era possível, o sonho continuava presente e à espera de ser vivido. A verdade é que o jogo reatou-se e o nosso Aladino logo soltou o Pote Mágico, libertando o primeiro de 3 desejos que viriam a ser concretizados na íntegra, deixando Kovacic nas covas e isolando Maxi - não um perna-de-pau qualquer, mas um Super Max(i) - na cara de Ederson. O uruguaio, que no primeiro tempo já havia liderado pelo exemplo, nunca se deixando intimidar e mostrando ganas de ser o primeiro a libertar-se do jugo inglês, não perdoou e pôs o Sporting na frente. Ainda não refeitos da pancada, logo os ingleses viram Trincão a isolar-se na direita. Em pânico, sem perceber o que, o como e o porquê do que estava a acontecer, Gvardiol atropelou-o na área. Subitamente, o City via-se em banho-maria no caldeirão do Panoramix Amorim, mais um exemplo de como um "pequeno" pode fincar o pé a um "grande" ou uma "aldeia gaulesa" se manter invicta face ao todo-poderoso "Império Romano".  Chamado a converter a penalidade, o Gyokeres recorreu à antiguidade clássica do engodo do penalty: guarda-redes para um lado, bola para o outro. De engodo se faz um bom argumento e este ainda estava longe de estar terminado. Eis então, no nosso melhor período, que do inferno do VAR cai um penalty desta vez a favor do City. Para marcá-lo o Haaland, o deus deies, aquele que na antecâmara do jogo suscitara nas TVs e redes sociais um condescendente "pois, o Gyokeres e tal, mas o Haaland é outra loiça...". Se o era, partiu-se, desintegrou-se naquela bola que saiu da marca dos 11 metros para malhar no ferro. Nesse momento, o Sporting ganhou o jogo, até São Tomé deixou de acreditar num qualquer outro cenário que não fosse a vitória leonina. Restava porém perceber por quantos. O City estava reduzido a cacos e nesse transe até um dos seus melhores jogadores no dia (Matheus Nunes) perdeu a compostura e não cedeu à tentação de cometer mais um penalty. Era o descalabro, o desgoverno de uma equipa que não entendia o que acontecia no campo, como se tivesse sido atropelada pelo autocarro que em tempos Amorim dispusera no relvado, antes de lhe ligar a ignição e de inerte ganhar vida. Desta vez o Gyokeres quis que o Ederson adivinhasse o lado e conhecesse os limites da sua própria elasticidade, colocando a bola com a força e pontaria necessárias a que os esforços do brasileiro fossem vãos e inglórios - uma maldade. Estava feito o resultado final de um jogo que foi como uma Marioshka, ou seja, teve vários jogos dentro de si. Como o jogo entre o futuro treinador do United e o actual do City. Ou o duelo particular entre Gyokeres e Haaland, que também terminou com 3 golos de diferença. 

O Homem sonha, a obra acontece. Venha o Braga! Depois, se "o rei está morto", "longa vida ao novo rei". Muito obrigado por tudo, mister Amorim, boa sorte, mister João Pereira!!! Deixem-me sonhar...

 

"Aquele que já não consegue sentir espanto nem surpresa está, por assim dizer, morto; os seus olhos estão apagados." - Albert Einstein

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeres. Menções honrosas: Israel, Maxi, Pote (para Martinez ver), Trincão, Quenda e todo o sector defensivo (como entrou bem o Quaresma!)  

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05
Nov24

E se corre bem?


Pedro Azevedo

Um Sporting mais realista do que há 2 anos atrás, definindo a zona de pressão sobre a linha de meio campo e não em cima da área do City, pode fazer um brilharete, hoje, no nosso José Alvalade. 

É essencial não permitir ao City construir desde trás porque tal significaria deixarmos demasiados homens à frente da bola e inúmeros espaços para os ingleses explorarem, um erro notório aliás ocorrido há 2 anos, quando a nossa equipa esticou sem bola o harmónio, oferecendo ao seu adversário um latifúndio entrelinhas para que cavasse a diferença entre as equipas. É preciso evitar a todo o custo, nomeadamente, as penetrações verticais de Kovacic, que quebra linhas com uma facilidade incrível em sprints de 10-20 metros e logo cria desequilíbrios a quem defende. 

Importante e decisivo será também controlar bem as movimentações da ala direita do City, onde Bernardo e Foden alternam para baralhar marcações e ainda há Walker para explorar o comprimento. Aqui talvez tenhamos o problema mais bicudo a resolver. Porque Matheus Reis poderia ser uma solução conservadora na nossa ala esquerda, equilibrando assim mais a equipa, mas devido à lesão de Inácio deverá jogar a central pela esquerda, pelo que Maxi terá aqui uma prova de fogo à sua maturidade táctica. A não ser que Debast jogue como central pela esquerda e entrem St Juste ou Quaresma para a direita, solução que não é da minha preferência pelo seguinte: o holandês muitas vezes deslumbra-se com a facilidade dos seus recursos técnicos e tem paragens cerebrais que lhe afectam a concentração, Quaresma é excelente, traz igualmente velocidade e saída de bola em progressão, mas vem de lesão prolongada e poderá estar sem o ritmo certo. 

Não sei se a opção de Amorim para fazer companhia a Hjulmand no meio campo passará por Morita ou Bragança. Se jogar o português, a ideia será ter mais bola, escondendo-a do City. Mas será isso realista dada a pressão que os ingleses exercerão? Talvez a melhor solução passe por tentar roubar a bola e rapidamente a endereçar a Gyokeres para que ele explore em transição a "profundidade"  e abra espaços para Pote ou Trincão aproveitarem as segundas bolas e uma eventual momentânea desorganização defensiva do City. Creio que essa deverá ser a melhor opção de jogo do Sporting. 

Na esquerda do ataque do City deverá aparecer o nosso velho conhecido Matheus Nunes. Todos conhecemos a sua qualidade de transporte de bola em velocidade e isso exigirá ao nosso ala direito que controle esses movimentos. O problema é que Guardiola irá pedir largura a Matheus, obrigando Geny ou Quenda a deslocarem-se para junto da lateral e assim abrindo muito espaço entre si e o central pela direita. Além de que por vezes Debast será obrigado a dobrar o seu ala, não tendo a velocidade de um Quaresma para o fazer. Aqui penso que um dos médios terá de ajudar a mitigar o espaço que se abrirá, evitando a entrada de jogadores entre o nosso ala e o central pela direita. 

Com bola, o Sporting terá numa primeira fase de ser rápido de processos. Se conseguirmos explorar a "profundidade", depois, numa segunda fase, caso não se gere o caos e não surja uma oportunidade para uma segunda bola, poderemos introduzir a nossa organização ofensiva, o nosso jogo de triângulos que visa isolar jogadores nas oblíquas da área contrária. É possível ferir o City nessa situação. Acresce que Aké e Akanji não são tão fortes na marcação quanto Dias ou Stones, o que poderá dar algum espaço livre na área para Gyokeres ou Pote. Por outro lado, esta dupla de centrais é mais competente na defesa do espaço, mais rápida, pelo que teremos de criar algum engodo de forma a não se concentrarem exclusivamente em Gyokeres e assim mais facilmente o abafarem quando este procurar o comprimento do campo. 


Em resumo, não será fácil ganhar este jogo, mas não é de todo impossível. Necessitaremos de realismo, pragmatismo e conhecimento daquilo que são as nossas melhores qualidades. As lesões e a falta de ritmo de algumas potenciais soluções que mais se adequariam ao que será preciso fazer no sector defensivo não ajudam e poderão ser decisivas a nosso desfavor. De como o Sporting conseguirá camuflar isso, dependerá em grande parte o sucesso ou insucesso da gigante empreitada que terá pela frente. 

 

PS: não mencionei Haaland... Este não pode receber a bola na área. Mesmo de costas, com aquela envergura é letal. E é um perigo na resposta aos cruzamentos laterais e um faról nos apoios frontais que dá, algumas vezes servido directamente pelo pontapé longo de Ederson.

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