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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

30
Out24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O Aníbal Amorim


Pedro Azevedo

Aníbal ficou conhecido tanto pelos seus brilhantes dotes de estratega quanto pelos seus elefantes. Todavia, com o caminho aberto para o triunfo (entrada em Roma), optou por mudar de ares, decisão que ainda hoje é considerada como controversa. Em consequência, acabou derrotado. Aquilo que Amorim se propõe fazer agora é semelhante, não deixando de ser figurativamente paradigmático da sua acção que tenha afirmado o seu desejo de retirar o elefante da sala. O problema é que o elefante foi para as bancadas, e agora os Sportinguistas estão de trombas. O ambiente sombrio que se viveu ontem em Alvalade assim o demonstra. A vida de um Sportinguista é do car(t)ago !!!...

A primeira parte do jogo evidenciou um conjunto de hesitações e de desligamentos de ficha que há muito não se viam numa equipa do Sporting. O choque está a ser grande e isso reflectiu-se em menores alegria e concentração. Foi então necessário recorrer a Gyokeres. O sueco não tem estados de alma. Na sua essência, ele é um elefante que, espera-se, não venha a ser retirado das salas de espectáculo onde actue o Sporting. E logo começou a causar estragos na porcelana nacionalista. Primeiro sacando um penalty, depois destruindo "à bomba" a última resistência insular, de forma livre e directa.

 

Os próximos dias dirão se Amorim vai apanhar o avião. A fazê-lo, talvez mais tarde (Janeiro) chegue um outro avião, esse de carga, para a viagem do elefante para o mesmo destino do seu treinador/adestrador, um enredo saramaguiano que permanecerá no sub-consciente de cada Sportinguista até ao início do novo ano. 

E nós? A gente vai continuar. Que remédio !...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Vik Thor Gyokeresexit.jpg

29
Out24

Amorim deve continuar


Pedro Azevedo

A ida de Ruben Amorim para o Manchester United, a concretizar-se neste momento, será um "loose-loose" para ele e Sporting. Primeiro, porque o Man Utd é presentemente um cemitério de treinadores, um clube sem uma estratégia de longo prazo e cujas vagas de contratações são como espuma de ondas que prometem muito até rebentarem com estrondo e assim morrerem na praia. Nesse sentido, é impossível não ver um nexo de causalidade entre o recrutamento de Cristiano Ronaldo e agora a preferência por Ruben Amorim, como se o objectivo fosse apenas o de antecipação ao rival da cidade, o Manchester City, agora que Viana já está certo em Maine Road e Guardiola não é seguro que continue. Ora, todos sabemos como acabou o folhetim Ronaldo em Old Trafford...

 

Para o Sporting, a saída prematura de Amorim, agora que ultrapassámos apenas o primeiro quarto do campeonato, também não seria nada boa. A equipa está muito mecanizada no sistema de jogo que o treinador aportou a Alvalade e embora tal pudesse ser replicado com João Pereira, por exemplo, o carisma e a facilidade de comunicação demonstrados por Amorim dificilmente seriam clonados, assim como os graus de liberdade para a formação do plantel de acordo com as ideias exclusivas do treinador seriam necessariamente diferentes. Acresce que Ruben assumiu no Marquês perante os Sportinguistas o desafio de ganhar o bicampeonato e posteriormente zelou pela manutenção dos principais activos, pelo que a sua saída prematura soaria como uma traição face a um objectivo/compromisso com que Amorim quis propositadamente marcar a agenda leonina para 2024/25.

 

Não sendo de desprezar, obviamente, a ambição do treinador de treinar na Premier League, algo que ficou bem claro e patente aquando do interesse de Liverpool e West Ham, o timing para ele não será o melhor. Desde logo porque terá de esperar por Janeiro para adequar o plantel do United às suas ideias, depois também porque esse reforço poderá passar pelo desfalque do clube que o catapultou para o estrelato. Por todos os motivos, seria mais lógico e prudente que Amorim fizesse essa opção no verão, saindo de Alvalade pela porta grande e dando tempo ao clube para organizar o seu mercado. Mesmo o atractivo de pegar num clube na mó de baixo, correntemente décimo quarto classificado na Premier, não me parece ser sedutor o suficiente. Porque dificilmente Amorim terá a autonomia, poder de decisão e respaldo da administração que tem em Alvalade e ainda terá de contar com alguma desmotivação dos jogadores do United agora que o objectivo principal da época parece perdido e mesmo a qualificação para a Champions se afigura muito complicada. E isso será um risco muito sério, passado o efeito positivo que uma chicotada psicológica sempre tem nos primeiros tempos. 

Claro que Amorim estará agora a pensar que há comboios que não param duas vezes, mas também deverá reflectir se para a sua carreira será melhor apanhá-lo na gare de origem ou num qualquer apeadeiro. Especialmente num clube com tantas estações em que há sempre alguém com vontade de entrar, o que suscita um arranca-e-para cíclico que não permite que se anda à velocidade de um TGV. 

 

P.S. O ciclo vicioso do United pós-Ferguson não é novo: após a saída de outra figura marcante do clube (Sir Matt Busby), o Man U esteve 26 anos sem ganhar o campeonato inglês. E mesmo Ferguson necessitou de 7 anos para vencer, manutenção no cargo que só foi possível porque tinha créditos acumulados pela conquista da Taça dos Vencedores das Taças no Aberdeen (final contra o sempre poderoso Real Madrid). Ora, o último título de campeão do United data de 2013 e desde aí já por lá passaram 7 treinadores...

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26
Out24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

La vie en rose


Pedro Azevedo

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De um Evangelista espera-se que proclame a boa nova. Assim foi com Mateus, João, Lucas ou Marcos. O Armando quis seguir-lhes os passos, mas o Gyokeres ditou-lhe um novo testamento.

 

Em Tractatus Logico-Philosophicus, Wittgenstein descreve que uma proposição é tão figurativa da realidade quanto uma maquete o é de um edifício. Ora, se o Leitor se recorda, na minha última crónica eu já havia anunciado ser impossível parar Gyokeres dentro da legalidade. Ontem voltou a provar-se que tal proposição é representativa da realidade: assim como um pai que faz girar o filho numa roda de um parque infantil, empurrando ora num sentido, ora noutro, o Gyokeres deixou um defesa fanalicense almariado. De seguida, não deu hipótese ao guarda-redes. Para o Gyokeres, é tão fácil como brincar com meninos. Estava aberto o marcador em Famalicão. Depois, o miúdo Quenda fez-se grande e tornou-se o mais jovem jogador da história do Sporting a marcar na Primeira Liga. Não querendo ficar atrás, outro produto da nossa Formação (Inácio) fechou a conta.  

Se o verde original do nosso equipamento representa a esperança, ontem em Famalicão vimos "La vie en rose": 9 jogos, 9 vitórias, primeiro lugar isolados no campeonato. E a águia nem pia(f)...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres

23
Out24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Não negar uma ciência que se desconhece


Pedro Azevedo

Com as atenções mais recentes viradas para o Ministério das Infraestruturas - a questão dos autocarros estacionados e assim... - , pouco relevo vinha sendo dado ultimamente às baixas no nosso Ministério da Defesa. Todavia, elas existem, como se comprovou ontem quando o nazareno (Esgaio) realizou o milagre de jogar a central pela direita. E não o fez nada mal, se exceptuarmos aquela ocasião, na primeira parte, em que se viu ultrapassado por um Boving 737 com o número 15 no dorso e a voar baixinho. 

 

Muita gente ignora que os seres vivos presentes num rectângulo de jogo não se circunscrevem a jogadores e árbitros. Há mais, e não estou a falar da bola, por muito que ela às vezes pareça ganhar vontade própria. Refiro-me, obviamente, à relva. Ora, se, aquando da visita a Eindhoven (PSV), a relva quis avidamente engolir os jogadores do Sporting, em Klagenfurt (casa emprestada do Sturm Graz), provavelmente devido a uma qualquer má digestão (de adubos), regurgitou. Em consequência, os tufos que se soltaram da sua superfície foram durante a maior parte do tempo o maior obstáculo às intenções de mister Amorim, porque de resto os austríacos não pressionaram alto, limitaram-se a esperar a chegada do Sporting e assim não constituíram propriamente um grande óbice aos avanços do leão também no marcador:  se no primeiro golo (Nuno Santos, assistido por Geny), o Gyokeres "limitou-se" a servir um daqueles apoios frontais que sempre executa na perfeição a um só toque, no segundo brindou-nos com um número à Ronaldo "Fenómeno" dos tempos de Barcelona, conciliando agilidade e jogo de cintura com força e velocidade, num mix de características que começam num lutador de capoeira, passam por um primeiro centro de rugby e acabam inevitavelmente num grande jogador de futebol. 

 

Os últimos meses têm trazido para cima da mesa o debate sobre como parar Gyokeres. Treinadores no activo ou no desemprego, jornalistas com ou sem carteira, analistas de mais ou menos laboratório, todos vêm expressando o seu douto parecer. E é cómico, porque na verdade pouco ou nada há a fazer: se esperas por ele, a tua inércia é vencida pela sua potência; se tentas antecipar, ele roda o corpo e logo dispara no sentido da tua baliza. Pelo que a única forma de o parar é a tiro de caçadeira, mas isso duvido que possa ser publicamente tolerado, ministrado nos cursos do senhor José Pereira ou advogado em programas televisivos daqueles que fazem a Alcina Lameiras, com o lenço na cabeça e a bola de cristal, parecer uma inocente imberbe na arte da cartomância. Eu estou como a Alcina e não nego à partida uma ciência que não conheço: a robótica sueca que desenvolveu este Exterminador Implacável. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres (pelo golaço!!!). Menções honrosas para Israel, Debast, Inácio e Hjulmand

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21
Out24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

We try Harder


Pedro Azevedo

O jogo de Portimão provou que o staff técnico do Sporting precisa de ser urgentemente reforçado. Não, não se trata da necessidade de contratar mais um adjunto, médico ou fisioterapeuta, o que Amorim precisa mesmo é de um perito em linha de montagem/desmontagem de autocarros, de um operário da Auto-Europa ou assim. 

Em rodagem para tentar compreender este novo requisito do futebol português, na sexta-feira o Sporting foi visitar a Empresa de Viação do Algarve (EVA), cujos autocarros se encontravam estacionados em Portimão. Ou não se tratasse da Eva, a falta do tal operário qualificado fez-se sentir qual pecado original, o que inviabilizou a desmontagem dos referidos autocarros. Como último recurso, recorreu-se então a uma "grua" oriunda da Dinamarca, que a custo lá removeu os autocarros. Já se sabe, não se fazem Hamlets sem ovos e este príncipe nórdico (Harder) foi chocado para vir a ser o delfim do rei Gyokeres. No fim, chocados ficarão os nossos adversários, que, com o Conrad, "We Try Harder". 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Conrad Harder

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16
Out24

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

Futebol sem alma


Pedro Azevedo

A Escócia invoca-me os Highlanders, a verde paisagem, a bruma mítica e intemporal, as famosas destilarias de whiskey, os Waterboys, o rugby em Murrayfield com prefácio de um "Flower of Scotland" entoado para arrepio dos corpos e apoteose das almas, os castelos, kilts e as gaitas de foles, Mary Stuart e o Mel Gibson como William Wallace em Braveheart. Com uma história rica, futebolísticamente a Escócia vive actualmente um período pobre, sem craques de um outro tempo como Dalglish, Souness, Strachan, Gemmill ou Andy Gray, o que ontem obrigou o seu seleccionador Clarke a contrapôr o Realismo a todo o Romantismo envolto em qualquer olhar que se tenha sobre a nação. Defendendo muito e bem, com os seus 11 jogadores atrás da linha da bola e protegendo maioritariamente o eixo central, a Escócia impediu o jogo interior português e obrigou os lusos a encontrarem espaço somente nas alas. Só que raras foram as combinações 2x1 que nos permitissem chegar com jogadores isolados na diagonal da pequena área, com Diogo Jota sempre a querer vir para dentro sem bola e Chico e Cancelo a privilegiarem cruzamentos de longe e por alto que sistematicamente beneficiavam o bom posicionamento defensivo escocês. Pelo que só uma entrada de (Rafael) Leão no segundo tempo criou dificuldades aos pupilos de Clarke, tudo o resto (os "innuendos", as tímidas aproximações à área, a incontida posse estéril) foi uma perda de tempo, num jogo tão em forma de soporífero que até conseguiu calar as vozes no outrora barulhento Hampden Park. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Rafael Leão

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13
Out24

Tudo ao molho e fé em Ronaldo

Pacto de Varsóvia


Pedro Azevedo

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O palco era Warsaw, capital polaca e tema de uma conhecida canção dos Joy Division em que a letra versa sobre Rudolf Hess, um oficial nazi que chegou a ser adjunto de Hitler antes de cair nas mãos dos britânicos dois anos após a infâme invasão alemã à Polónia. Sombria na sua atmosfera, a música que a acompanha bem que poderia reflectir o estado de espírito dos jogadores e adeptos polacos no final do jogo... A razão: o "Pacto de Varsóvia", onde Portugal fez aprovar todos os 3 pontos propostos à "mesa de negociações". 

Numa jogada a três toques, mais própria do voleibol do que do futebol, Ruben Neves serviu Bruno Fernandes, e este, qual distribuidor de costas para a rede, amorteceu para o "smash" triunfante de Bernardo.  Estava destruída a velha conhecida Solidariedade polaca, movimento de resistência que vem do final dos anos 80, precedeu o "Glasnost" e a "Perestroika" e teve Lech Walesa como grande impulsionador. Porque, antes, futebolisticamente falando, a Polónia não precisou de solidariedade nenhuma, teve jogadores de alto gabarito como Lato, Deyna, Boniek ou Szarmach e chegou a duas semi-finais de Mundiais (74 e 82), competições em que aliás fechou o pódio. Mas isso foram outros tempos, à Polónia actual falta qualidade além do óbvio Lewandowski e de Zielinski. Mas se o barcelonista é um goleador, o que dizer do nosso Cristiano Ronaldo, que após um slalom gigante de Rafael Leão que fez a bola estrelar no poste como se de um ovo se tratasse, mostrou às claras que tem um tempo de reacção de um jovem de 19 anos e continua a ser a gema mais preciosa do futebol mundial? Os polacos aplaudiram-no de pé, por cá há quem insista em dar-lhe umas caneladas para ver se com o traumatismo ele se vai embora... Bom, com o golo fomos para o intervalo a ganhar por 2-0, um resultado escasso para a melhor exibição da era de "Bob, O Construtor" e que apenas se justificou pelo sortilégio do ferro (desvio de Ronaldo para a barra) e por uma parada do outro mundo de Skorupski que não carimbou um remate de Bruno que levava o selo de golo. Na nossa baliza, só um recorrente mau cálculo de Diogo Costa na saída dos postes a um cruzamento por alto constituiu um momento de calafrio. 

No segundo tempo a toada de jogo manteve-se e Ronaldo teve nos pés o terceiro, mas num momento de raro altruísmo preferiu servir Bruno para um desperdício inglório. CR7 foi poupado para a Escócia e foi já do banco que assistiu ao golo polaco, nascido de um toque infeliz na bola por parte de Ruben Neves. Portugal tremeu um pouco, mas Jota acelerou e logo os polacos tiveram dificuldade em o acompanhar. Até que Nuno Mendes, o melhor em campo, subiu pela esquerda e pretendeu oferecer o golo à moto Jota. Na ânsia de acompanhar o movimento, o polaco Bednarek despistou-se e introduziu a bola na sua própria baliza. 

Mais 3 pontos para Portugal, que poderá já na Escócia carimbar matematicamente o passaporte para os quartos de final da Liga das Nações, assim vença o seu desafio e a Polónia não ganhe à Croácia. Perder em Glasgow é que seria uma gaita (de foles)...


Tenor "Tudo ao molho...": Nuno Mendes 

06
Out24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O niilismo casapiano


Pedro Azevedo

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Friedrich Nietzsche escreveu um dia: "Desde que me cansei de procurar, aprendi a encontrar. E depois de um vento me ter oposto resistência, passei a velejar com todos os ventos." Não sei se Amorim leu Nietzsche, mas esta equipa do Casa Pia foi o teste que mostrou que vale mais uma carta de marinheiro que mil cursos do IV nível do senhor José Pereira.

Apesar de uma ousada e enganadora inicial (primeiro minuto) migração para sul, cedo os gansos se dispuseram num conservador "V"  (6-3-1). Ora, a ideia da formação em "V" destina-se conceptualmente a oferecer resistência ao vento, e vendaval era o que os casapianos, durante o vôo, poderiam esperar de Gyokeres e seus pares. Só que os gansos ainda andarão a mudar de pena e assim não podem voar, logo ficaram em terra, estacionados em metade do seu meio campo, cobrindo assim apenas um quarto do terreno. Como consequência, o Sporting teve no primeiro tempo uma posse de 87%, um número que seria de esperar somente num jogo que opusesse um candidato ao título máximo do futebol português a um clube dos distritais. 

Durante o primeiro tempo, o Sporting cansou-se de procurar o espaço. Mas a maior parte dos espaços estava ocupada por casapianos, sempre em contra-vapor. E a parte menor, a que não estava ocupada por casapianos, era pertença de Harder. Pelo que só um movimento de Trincão que aliou velocidade de execução a precisão de relojoeiro permitiu desbloquear o marcador. 

No segundo tempo, o Casa Pia continuou cá atrás, como quem espera pelo quase encerramento do casino para tentar uma cava de roleta. Só que o Amorim foi esperto. E substituiu Harder por Morita, trocando ter alguém a ocupar um espaço por outro que surgisse de trás a descobrir esse espaço, agora vazio. No fundo, cansando-se de procurar e aprendendo a encontrar. Com paciência, os espaços foram aparecendo em maior quantidade. E duma dessas nesgas de espaço para um homem comum o Gyokeres fez um latifúndio, ganhando um penalty que com alguma sorte foi convertido, cortando assim praticamente as asas a uns gansos que doravante procuraram voar mas só o fizeram baixinho. Baixinho como o nível futebolístico deste primodivisionário, ontem exibido em Alvalade, em que a falta de crença e de convicções dos casapianos os aproximou de um futebol destrutivo ao jeito da mesma doutrina filosófica que invadiu a literatura, arte, ética ou ciências sociais e teve como grande protagonista... Nietzsche. Porque é de niilismo que falamos, movimento que ao longo dos anos divide os especialistas em o classificar como positivo ou negativo. Eu vejo-lhe coisas positivas (início do texto) e outras profundamente negativas (postura do Casa Pia). Aplicando ao futebol, não pode treinar quem não acredita na finalidade do jogo, no porquê da sua existência, ou seja, o golo. 

 

Seguimos líderes!!!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Trincão 

02
Out24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Lampadinha na casa da Philips


Pedro Azevedo

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Para avaliar como deve ser o desempenho dos jogadores do Sporting em Eindhoven não basta a abordagem tipicamente jornalística, é necessário recorrer à patinagem artística e suas notas técnica e artística. Então, debrucemo-nos sob esse prisma: em termos de nota técnica, o desempenho foi medonho, com um número imenso de quedas na rotação (Axel e Axel Duplo), uma delas inclusive com um jogador isolado (Quaresma) perante o guarda-redes. Já no que respeita à nota artística, houve quem sobressaísse da mediania e quem tenha ficado aquém. Pela positiva, o Quenda escavou 3 túneis, aproveitando estar nos Países Baixos, país onde o solo não tem relevo, e o Bragança teve um movimento magnífico no lance do golo que daria o empate. Pela negativa, o Debast rodou para o lado errado e depois fez um passe suicida e o Geny nada fez de significativo. Já o caso do Quaresma é particular, na medida em que alternou grandes momentos artísticos com um outro em que praticamente ofereceu um golo ao PSV, o que acabou por lhe prejudicar a nota final. 

O ritmo - aquilo que em futebolês se designa como "intensidade" (ainda que não se meça quantitativamente em Amperes) - a que se joga na Europa contrasta muito com o do nosso futebol doméstico, e o Sporting sentiu-o na pele durante a maior parte do tempo: não só os nossos jogadores chegavam sempre tarde aos lances como a maioria dos ressaltos iam sempre encontrar um neerlandês no caminho. Pelo que só depois da entrada de Bragança a equipa conseguiu ter a bola e estabilizar o seu jogo-padrão. Foi, sem dúvida, o nosso melhor período, mais tarde exacerbado pela entrada do pujante Harder por troca com um errante Trincão. Porque até esse momento, só Quenda destoara de uma mediania a roçar a mediocridade. 

O empate foi o melhor resultado possível face à exibição. Se, perante as expectativas criadas na antecâmara do jogo, podemos dizer que desperdiçámos 2 pontos que nos farão muita falta nas contas finais desta fase, a forma como o jogo decorreu mostra-nos que o pecúlio obtido (1 ponto) largamente superou o nosso desempenho. Foi, por isso, um "bom" resultado. 


No Estádio da Philips, faltou Geny(o) que iluminasse a(s) lâmpada(s). Ainda assim, Amorim, a quem tanto devemos, ontem investido em Professor Pardal com a escolha do ala Geny para interior esquerdo, soube recorrer ao Lampadinha (o pequeno Bragança) e com isso salvaguardar um empate. 

Quatro pontos em duas jornadas devem ter diluído a zero as ínfimas probabilidades de nos apurarmos directamente para os oitavos de final. Mas constituem um razoável número para as contas do play-off, a que se deverão somar vitórias em Graz, Brugge e em casa com o Bolonha, num total provisional de 13 pontos que não nos darão o estatuto de cabeças de série. Depois, sobrarão 3 jogos (com o City, Arsenal e Leipzig) onde qualquer ponto obtido será de ouro tendo em vista a possibilidade de nos situarmos entre o nono e o décimo sexto colocado e assim podermos almejar um melhor sorteio. 

Tenor "Tudo ao molho...": Daniel Bragança

 

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