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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

30
Ago24

Trocar o cântaro pelo Pote


Pedro Azevedo

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"Bob, o Construtor" finalmente constatou o óbvio, que de tão claro e inequívoco se diria ululante. Vai daí, depois de reflexão pós-Europeu, o senhor concluiu que há cântaros que de tantas vezes que vão à fonte acabam por partir-se, preterindo-os agora em função de um bem mais maneirinho Pote, que anteriormente esteve à bica, à bica do (pedregulho no) sapato. Como não há fome que não dê em fartura, com o Pote vão também o Trincão e, pasme-se(!), o Quenda (chamada merecida da revelação desta temporada). Só faltou o Quaresma, mas, como a prioridade agora é o ritmo de jogo - razão pela qual Cancelo ou Matheus Nunes ficaram de fora - , avançou o António Silva. Para momento de humor só ficou a faltar o Vasco Santana. Juntos fariam uma dupla imbatível. 

25
Ago24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Entre o neo-realismo de Gyokeres e o existencialismo de Edwards


Pedro Azevedo

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Por motivos logísticos, essencialmente relacionados com a capacidade de armazenamento de golos, o Farense trocou o acanhado São Luís, em Faro, pelo mais amplo Estádio do Algarve, em Loulé. E o que se pode dizer é que as previsões farenses bateram certo porque Gyokeres e companhia só por uma ocasião (auto-golo) deixaram os seus créditos por mãos alheias (no caso, uma cabeça). 

Cedo a vertigem de passe e repasse Sportinguista, em progressão constante, deixou os algarvios almareados. E foi com esse enjoo que viram Gyokeres, uma e outra e ainda outra vez, abanar as redes de Ricardo Velho, que por acaso até é jovem, qual espécie de Plínio dois-em-um, ou não tivesse ele revelado a sabedoria para ser eleito o melhor guarda-redes da Primeira Liga da temporada 2023/24 ou sido suficientemente crítico da extravagância a ponto de evitar que os números finais tivessem de ser representados em potência de base igual a 2 e expoente igual a 3. 


Como em qualquer bolo bem confecionado, faltava a cereja no topo. Eis então que surgiu Edwards, O Existencialista. E lá pegou na bola a meio campo, naquele seu estilo sisudo, de quem se questiona sobre de onde veio e para onde vai, o que faz aqui, e nesse jeito vai procurando respostas pelo caminho. No fundo, alguém que no seu existencialismo se opõe a um Camus, que escolheu a solidão de dois paus e de uma barra para melhor chegar a conclusões (foi guarda-redes de uma equipa argelina). Bom, a verdade é que o Edwards deve ter encontrado respostas e com isso formulado uma tese. E como, para seu conforto, do lado dos algarvios não apareceu nenhum discípulo de Hegel capaz de apresentar uma antítese, foi andando e tirando adversários do caminho até marcar o golo. Uma jogada Maradoniana na sua forma, à qual não faltou conceptualmente a mão de Deus que despertou Edwards da sua letargia e lhe iluminou o caminho. 

3 jogos, 3 vitórias, 14 golos marcados e finalmente uma "clean sheet ", haveria melhor maneira de com confiança preparar o Clássico que aí vem? 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres. Menções honrosas para Morita, o maestro, e Quaresma, um outrora obscuro subsecretário de estado que se propõe para Ministro da Defesa. 

22
Ago24

Western Mão-de-Vaca


Pedro Azevedo

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Nada de novo no Oeste? Quando a Itália começou a produzir em Cinecittá, periferia de Roma, os seus primeiros filmes do género "Western", os americanos jocosamente ajuntaram-lhe o apodo "Spaghetti", dada a escassez dos meios de produção e a falta de qualidade dos filmes. Todavia, o apodo tornou-se injusto para o realizador Sergio Leone, que se destacou dos demais ao emergir com filmes que foram um êxito de bilheteira, como "Por um punhado de dólares" ou "Por mais um punhado de dólares" e os fundamentais "O Bom, o Mau e o Vilão" e "Era uma vez no Oeste". Dando papéis de uma vida a actores aspirantes como Clint Eastwood e Charles Bronson ou a consagrados como Henry Fonda. 

Vem este arrazoado a propósito do futebol português. Este também tem contornos de "Western", com "cowboys" e "índios", heróis e vilões, orçamentos que imitam acrobacias de circo (com ou sem rede do "super-empresário") e uma qualidade média do seu principal campeonato que fica um bocado aquém do que o público aspiraria. O ponto mais ocidental (faroeste) deste Western, cuja idiossincrasia tuga o força a designar por "Western Mão-de-Vaca (ou Vata)" ou "Western Pezinhos-de-Coentrada" (à moda do Norte), não está curiosamente centrado no Cabo da Roca: embora se desconheça o actual paradeiro, sabe-se que no passado o seu epicentro foi em Canal Caveira. Porém, tal como no "Western Spaghetti", há um "Leone" que se destaca dos demais, no caso um Leão Rampante que desde 1906 procura elevar o nível e luta por uma maior qualidade das produções. Com melhores ou piores actores, estrelas ou canastrões, mas sempre com integridade. 

18
Ago24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Futebol ao Sol e à Sombra


Pedro Azevedo

IMG_3383.jpeg"Futebol ao Sol e à Sombra" é o título de um extraordinário livro do insigne Eduardo Galeano, mas poderia ser também paradigmático de um outro tempo, dos jogos (ao Domingo) à tarde, com os relvados polvilhados de sol e da sombra projectada pela cobertura das bancadas cheias de gente. Foi isso que aconteceu ontem na Choupana, literal mas também metaforicamente: no primeiro tempo, o Sporting não "foi pela sombra" tanto quanto se recomendaria, isto é, não se protegeu, não se cuidou.  É certo que marcou cedo, numa bela iniciativa individual de Pote, mas depois trocou as chuteiras pelas chanatas, sacou do farnel, enterrou (mal) umas cascas de banana, deitou-se na toalha e dormiu uma soneca. Acordou tarde e a más horas, não se sabe se consequência do próprio ressono ou do barulho das gaivotas que entretanto se abeiraram por lhes cheirar a presa, e exposto a uma insolação. Nesse transe, um nacionalista superou o irmão gémeo do Diomande que regressou da CAN e repôs o empate. Para a coisa não se complicar demasiado, valeu o Trincão desafiar milhares de anos de sabedoria popular expressos no almanaque Borda d'Água e antecipar a colheita só prevista para os meses de Janeiro e diante. O golo teve o condão de levar o Sporting à frente no marcador para o intervalo. 

 

No reatamento, o Quenda caiu na área. Quer dizer, houve Que(n)da na área e o árbitro Godinho não teve outro remédio senão assinalar a penalidade provocada por um defesa nacionalista. O Gyokeres aproveitou para "molhar a sopa", que não seria de todo gaspacho tal o caldo quente que se fazia sentir na Madeira. Entretanto, os nacionalistas iam caindo que nem tordos, ao passo que os leões se mostravam frescos que nem a alface de onde a Nike extraiu o pantone da cor das suas camisolas.  Meio perdido, o Nacional ainda depositou a fé no seu Ulisses para que a odisseia não terminasse mal, mas quando este capitulou, não fazendo jus ao herói de James Joyce (Leopold Bloom) ou de Homero, os madeirenses entregaram os pontos: logo, Geny roubou a bola dentro da área e deu de bandeja de prata a Trincão para o quarto golo; depois, Bragança procurou o melhor enquadramento para o seu pé esquerdo e colocou fora do alcance do desamparado guarda-redes nacionalista; finalmente, Gyokeres recebeu um passe do recém-entrado Debast e com um tiro de canhão causou severos danos na rede da baliza dos insulares.

 

O que é Nacional, é bom. Com a vitória garantida, os leões regressaram a banhos na bonita Pérola do Atlântico. Seguir-se-á o fim das mini-férias madeirenses e o regresso a Alcochete. Na liderança do campeonato. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Pote

13
Ago24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O Óbvio Ululante


Pedro Azevedo

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Aquando da convocatória para o Euro, ficámos a saber que, para Roberto Martinez - um homem incapaz de ver o óbvio ululante, ainda que este se agite, num dia de céu aberto, a um palmo do seu nariz -, o Pote é um indivíduo com azar, muito azar. Mas o azar de uns é a sorte de outros, como foi o caso da França ou da Geórgia. Também do Pedro Neto, que acaba de assinar pelo Chelsea por 60 cripto-mendilhões, que é moeda que valoriza sempre para directores desportivos e nos mercados do futebol internacional. Sorte, e orgulho, tambem tem o Sporting em contar com o Pote nas suas fileiras, sentimento que tudo o indica ser recíproco: na Sexta-feira voltou a mostrar o seu entusiasmo com 2 golos, um com uma finalização à ponta de lança, outro de pura antologia. Tal como no passado, não deverá ser suficiente para convencer o senhor Martinez, algo que deveria ser mais propício de preocupar o Dr Fernando Gomes do que o Pote. É que, como diria o Confucio: "Se o problema tem solução, concentra-te na solução; se o problema não tem solução, porque é que te preocupas?". O facto é que Roberto Martinez não tem mesmo solução e o Pote tem o poder de mudar o figurino de um jogo mas não o de demitir o Seleccionador, logo...

[O cargo de Seleccionador nacional tornou-se assim o símbolo do mais alto representante do "gajo-porreirismo" luso, doutrina que consiste em habilmente se conseguir estar bem em simultâneo com Deus e o diabo. Os seus representantes são os "gajos-porreiros", isto é, muito amáveis e gentis mas sempre incapazes de tomar partido por uma causa justa que possa afectar compromissos assumidos ou obrigue a tomada de decisões que ponham em causa cargo e carreira. Habitam em cima de muros, sendo o comprimento, largura e profundidade desses muros as únicas medidas que têm no pensamento praticar em vida, aquelas vitais que evitam que caiam (na real) e se tornem uns "gajos susceptíveis" e capazes de empreender acções em nome de conceitos tão comezinhos como os resultados ou a justiça.]

 

Comecei por dizer que o Pote marcou um golo "à Inzaghi", mas na preparação estiveram o Quenda e o Gyokeres. A sorte do Quenda é ser do Sporting. Se fosse do Benfica, logo os poetas e bardos do regime teceriam loas e entoariam belas melodias à volta dos seus feitos, estabelecendo imediatamente um mercado paralelo de cotações onde o jogador valeria na casa das centenas de milhões. Mas o Quenda é do Sporting, e essa singularidade é o melhor antídoto contra o vedetismo e o deslumbramento. E assim poderá ir longe... O que não foi longe foi o pontapé do guarda-redes do Rio Ave, que ficou logo ali, à entrada da área e ao jeito do pé direito do Pote. Resultado: bola e jogo na gaveta, venha o próximo !!!

 

O segundo tempo foi igual a tantos segundos tempos de jogos antecipadamente ganhos ao intervalo, prélios de que constitui desonrosa excepção o recente desafio da Supertaça: os espectadores, treinadores e jogadores de ambas as equipas sabem tacitamente que o jogo terminou, mas há que prosseguir, representando, como se tudo estivesse em aberto. Nesse contexto mais distendido, pudemos vislumbrar  melhor o jogador que Gyokeres é e aquele que Trincão virá a ser a partir de Janeiro. Do encontro entre um sueco que diz presente e um português que é o futuro gerou-se  um buraco negro temporal por onde a bola irrompeu aos tropelões até dentro da baliza do Rio Ave. Até ao fim, nada mais haveria a destacar, não fora a audácia de Clayton em desmontar o Diomande em dois, momento que, à semelhança dos múltiplos protagonizados por Debast na Supertaça, serviu para evocar o grande capitão Coates. Amém !!!
[Cronista que se preze não analisa o Trincão sem primeiro se fazer municiar do Borda d'Água. Uma breve leitora deste almanaque permite-nos concluir que em Janeiro se colhem couves e espinafres, tulipas, violetas, amores-perfeitos... e amores-imperfeitos como o Trincão (a adenda é livre e do autor). Este é portanto o tempo de semear, para colheita o Leitor deve esperar pelo início do novo ano.]

 

P.S. O "óbvio ululante" é uma expressão criada pelo genial Nelson Rodrigues, um dos melhores cronistas desportivos (e não só) de sempre.  

Tenor "Tudo ao molho...": Pote

07
Ago24

Eles que paguem as favas


Pedro Azevedo

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Após uma derrota traumatizante, mais até pela forma como ocorreu, nada melhor do que jogar logo a seguir. Jogar é terapêutico, o melhor remédio contra a dúvida, a ansiedade e a depressão. Do outro lado vai estar o Rio Ave, uma boa equipa mas a anos-luz do potencial do Sporting. Por isso, não podemos passar da euforia incontida para a depressão mais profunda, da vertigem de, qual Hummer, passarmos todos os adversários a ferro para o pânico de sermos atropelados pela carrinha de gelados da Olá (para refrescante já chegou o balde de agua fria que levámos em Aveiro). Pelo que então joguemos, joguemos e façamos recair sobre os vilacondenses a frustração do nosso desaire anterior, que é como quem diz, eles que paguem as favas. Que são verdes, uma das cores históricas do nosso equipamento (a outra é o branco), agora tricolor por imposição dos marketeers. E o Rio Ave nada? Não, dos rioavistas devemos esperar luta, ousadia e intrepidez próprias de quem se lança ao mar todos os dias sem saber se regressa. Assim é a sua natureza, e a natureza não mente nem se desmente. Então, não duvidemos nós da nossa natureza, do nosso ADN de leão, de um clube que nasceu para ganhar, e mostremos aos vilacondenses e ao mundo a raça de que somos feitos e a qualidade do nosso futebol. E, já agora, a qualidade também dos nossos jogadores, que só precisam de voltar a acreditar em si próprios, não se deixarem corroer pelo pessimismo e sentir o apoio e estímulo da melhor massa associativa do mundo. Marquemos então o reencontro com a nossa história para Sexta-feira, que o fim de semana passado foi apenas uma triste nota de rodapé numa história gloriosa e que se pretende que continue viva mais nos relvados do que no museu. 

05
Ago24

Complicar o que é simples


Pedro Azevedo

Ao contrário do jogo de rugby, que é iminentemente estratégico e se assemelha a uma guerra, onde não faltam até às 3 armas do exército - artilharia, no chuto aos postes e pontapés tácticos; infantaria, nas melées, moules, rucks e scratch em geral; cavalaria, quando avançam, a flanquear as colunas, os três quartos - o jogo de futebol é extremamente simples na sua génese. Mas também é o mais democrático, com regras que permitem mais facilmente a um David enfiar uma fisgada num Golias e uma exposição maior ao acaso (aquilo a que chamamos sorte ou azar). São as regras, e não tanto a estratégia, que promovem uma maior equilíbrio entre os contendores, permitindo tácticas como o antigo "catennaccio" que seriam improváveis de pôr em prática numa modalidade como o rugby. O que não quer dizer que uma boa organização no fim não faça toda a diferença, atenuando assim a diferença de valores entre os jogadores das equipas em disputa. O que me parece no futebol actual é que os jogadores estão demasiadamente amarrados a tácticas e não conseguem extrair todo o sumo que têm dentro, ao contrário do que vejo no rugby, onde o espectáculo é maior e há motivos constantes de vibração nas bancadas. Estarão os treinadores a matar o jogo de futebol, não libertando os craques que podem fazer a diferença? E estará esse factor na origem de cada vez menos vermos talento natural em campo? É normal que nos escalões mais precoces da Formação se peça a miúdos para não fintarem, não procurarem o desequilíbrio em nome de uma organização de todo desenquadrada com as características que deveriam desenvolver nessa idade? Depois não nos admiremos que o jogo fique completamente robotizado (como se viu no Euro), na medida em que "sábios" muito pouco conhecedores estão a levar o futebol para essa dimensão mais própria da máquina do que do Homem, dando assim razão a Aldous Huxley no seu Admirável Mundo Novo. Escravos da parafernália táctica, que transforma simplicidade em complexidade, o futebol caminha no sentido de não ter heróis. Neste novo-normal o importante é sempre o colectivo, como deveria ser numa empresa ou na sociedade em geral (que no entanto tendem a respeitar a idiossincrasia de cada indivíduo, por via dos seus direitos ou da meritocracia). Contudo, talvez nos estejamos a esquecer de que o futebol é emoção e que a atração tamanha que exerce no espectador está na proporção directa do eco dos feitos dos heróis dos estádios. Já não há heróis? 

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04
Ago24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Morte em “Veneza”


Pedro Azevedo

Há quem diga que Aveiro é a Veneza portuguesa. Se assim é, talvez até haja um Casanova à solta na terra dos moliceiros. A haver, desconhecer-se-á a sua identidade e paradeiro, mas ontem chegou a parecer tratar-se de Gyokeres e estar nesse "Elefante Branco" (construído de propósito para o Euro 2004), tal a facilidade com que na primeira parte ajudou a abanar o véu da noiva. Mas tudo não passou de uma ilusão porque o Casanova não deixava para terceiros aquilo que era da sua competência e o Gyokeres desperdiçou duas claras oportunidades de abanar ele próprio o véu da noiva. Ilusão foi também pensar-se que o enredo do jogo já estava escrito após o 3-0. O problema foi Ruben Amorim ter desenvolvido uma estranha obsessão pela permanência do intranquilo Debast em campo que permitiu o volte-vace no marcador. E do argumento de Casanova passámos para o Thomas Mann e o seu Morte em Veneza. 

Esta coisa de ser Sportinguista tem muito que se lhe diga. Envolve uma dose cavalar de Lexotan e um desfibrilador sempre à mão de semear. Não admira assim que este Sportinguista não tenha embandeirado em arco mesmo com 3 golos à maior. É isso, em cada Sportinguista há um cinico, um ser desconfiado, um Abraracourcix sempre à espera que o céu lhe caia em cima da cabeça. Eu sei, seria altamente improvável e nada racional pensar-se que um dia o céu nos cairia em cima da cabeça. Mas os dinossauros pensaram o mesmo e um dia levaram com um meteoro na província de Yucatán que se assemelhou a uma explosão nuclear e conduziu à sua extinção, abalo semelhante ao que ontem foi psicologicamente sentido em Aveiro e em todos os lares onde há um Sportinguista. A boa notícia é que não nos extinguiremos nunca, daremos a volta - não, não me falem em "remontadas", senão não dormirei de noite - apoiados em meninos como o jovem Quenda que na sua estreia oficial marcou à Jordão. Leões rampantes são assim, ficam sempre de pé, ainda que uma e outra vez pequem pela esmerada arte de perdoar, indo do 80 para o 8, da potencial goleada à derrota, reanimando moribundos e dando moral ao novo Porto de Villas-Boas e de Vítor Bruno por falta de algo que há 30 anos o grande Bobby Robson - ainda assim, não tão grande que se tivesse salvado de um despedimento aéreo que mais pareceu saído de um sketch do Aeroplano, com o Leslie Nielsen (também tinha o cabelo branco) como protagonista - definiu em duas palavras anglo-saxãs: killer instinct. 

Tenor "Tudo ao molho...": Gyokeres. Menções honrosas: Quaresma, Quenda e Pote.  

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02
Ago24

Diogo Ribeiro


Pedro Azevedo

As críticas à prestação do nadador Diogo Ribeiro nos Jogos Olímpicos são pouco entendíveis e revelam uma fraca cultura desportiva dos portugueses. Ê como se, de 4 em 4 anos, os portugueses se apercebessem de que há mais modalidades além do futebol e exigissem aos nossos atletas resultados assimétricos com a atenção que lhes prestam durante todo o outro tempo. Sejamos claros, na minha opinião o Diogo e o seu treinador viram uma oportunidade de fazerem um brilharete nos Mundiais de Doha (disputados este ano), aproveitando o foco de outros nadadores nos Jogos. Por isso, apontaram um pico de forma para essa competição, na esperança, mas não certeza, de que tal se pudesse repetir nos Jogos. E, fiéis ao provérbio luso de que "Mais vale um pássaro na mão do que dois a voar", arrecadaram duas medalhas de ouro para Portugal, uma delas numa disciplina não-olímpica (50m mariposa). Desengane-se porém o Leitor que pretenda desvalorizar este feito só porque os competidores ou não apuraram esse momento para estarem num pico de forma (optando por rodar) ou não marcaram presença, pela simples razão de que isso sempre acontece em ano olímpico. Ora, assim sendo, o feito do Diogo continua a ser impressionante. E porquê? Porque nunca antes, pese iguais circunstâncias inerentes ao ciclo olímpico, um português se havia sequer aproximado dessas conquistas. Assim, Portugal deve sentir-se orgulhoso do seu melhor nadador de todos os tempos, que certamente nos Jogos de 2028, até por já ter vencido em Mundiais, procurará apresentar-se ao seu melhor nível e apontar a essa competição como prioritária. Os seus actuais 19 anos permitem-lhe a ilusão de que um dia será possível um sucesso olímpico, assim continue a haver evolução. 

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