A história dos 5 Violinos é só por si motivo obrigatório de visita ao Museu do Sporting. O Athletic não fugiu à regra e, apesar de ter lá por Bilbau um tal de Guggenheim, não deixou de vir a Alvalade. Como o Sporting, em boa hora, entendeu que as homenagens não se fazem só em museus, que os homens morrem mas a lenda vive e deve ser festejada onde esses homens fizeram história, todos os anos organiza o Troféu 5 Violinos, assim a jeito de um último apronto para as competições oficiais que se seguem.
Campeão europeu por Espanha, o Nico Williams não veio. Bem-educado, como a festa era de gala, não podendo estar presente enviou o mano Iñaki em sua representação. Cedo porém o Athletic percebeu que tinha uma montanha por escalar, o que é uma coisa um bocadinho complicada para quem tem um Vale Verde a orientar desde o banco. Para complicar a vida ao treinador dos bascos, apareceu um ciclista português com muita vontade e pedalada. Não, não foi o João Almeida, de quem os espanhóis também não têm boas memórias desde o Tour. Falo-vos do jovem Quenda, ou melhor, do Geovany Quenda. Para contextualizar, o Quenda é uma grande promessa do futebol português, tal como o Felix um dia o foi. A diferença é que o Quenda pode dar-se ao luxo de vir a ser uma eterna promessa porque mesmo que não dê o salto que se espera na sua carreira será sempre um Geovany. E isso nunca ninguém lhe tirará. A verdade é que o miúdo entrou e encantou, o que deve ter feito os bascos esgotar o stock de ben-u-ron na farmácia de serviço mais perto do José de Alvalade. Más dores de cabeça para os espanhóis e boas para Ruben Amorim, que agora terá de esfregar as meninges para encontrar uma solução para o miúdo ir entrando no onze. É que poderá estar aqui um novo Yamal e nenhum Sportinguista o levará a mal.
Quando li que o Gyokeres tinha ido ao Prado mal a última época terminara, não dei grande relevância ao caso. Mas os jornais não me quiseram dar descanso: "O Gyokeres foi ao Prado, o Gyokeres foi ao Prado" - anunciavam como parangona a cada nova capa. (O Gyokeres foi ao Prado e os media trataram o tema em cima do joelho.) Ora, a mim não me incomodou nada que o sueco, que pintou tantas e tão belas telas realistas na última temporada, se tenha ido inspirar ainda mais em Velásquez, Goya, El Greco, Rubens, Raphael ou Bosch. Pelo contrário, achei até auspicioso. De forma que penso que a voragem jornalística à volta do tema, bem como o alarme social que provocou, foi mais dor de cotovelo do que outra coisa. Antes isso do que dor de joelho... do Gyokeres... (Como era sabido que o Real Madrid iria ficar com o Mbappé, mais do que ao Prado eu teria medo era que o Gyokeres fosse ao Louvre.)
Entretanto, enquanto o Gyokeres foi e veio do Prado, o Coates foi e veio do Uruguai. E voltou a ir, não sem antes receber a justa homenagem de todos os Sportinguistas que jamais o esquecerão, sentimento traduzido num velho poema de Walt Whitman: "Oh Captain, my Captain...". O resto (reticências) não interessa nada, que o poema original foi uma metáfora sobre a morte de Abe Lincoln mas a malta da comunicação do Sporting também não tem de saber tudo, não é verdade? Por isso, hip, hurra, longa vida ao nosso antigo capitão. E muito obrigado por não nos ter deixado num momento difícil e ter sido sempre um grande profissional, bi-campeão.
Não tardou que Gyokeres deixasse a sua marca no jogo, ao atrair dois bascos a si para depois isolar Pedro Gonçalves. E o Pote não se fez rogado e passou a bola à baliza daquela forma que só ele presentemente sabe e anteriormente só havíamos visto num certo médio do FC Porto e da "Equipa de todos nós". Art-Deco no seu melhor, que ainda assim não convence aquele senhor Seleccionador nacional que por sua vez, mesmo com falinhas mansas, não convence ninguém. Por isso passará à história como o treinador da "Equipa de todos os nós" (parece a mesma coisa, mas não é).
O Quenda, endiabrado, ainda mandou uma bola aonde o poste abraça a barra e viu um outro remate ser defendido na linha de golo por um defesa, pelo que o Sporting chegou ao intervalo a vencer apenas pela vantagem mínima. Mas depois entrou o assistente. Quer dizer, entrou aquele que na Supertaça ficará a assistir. De fora. Refiro-me ao Matheus Reis, que levou esse desígnio a peito e começou a criar um novo estatuto com dois passes com mel que Edwards e Trincão agradeceram para facturarem mais dois golos. Por essa altura já o Bragança e o Mateus Fernandes dinamitavam o meio campo basco com números de alta cavalaria, pelo que a estes pouco sobrou senão rezar para que o jogo acabasse depressa.
O Sporting ganhou assim por 3-0 ao Athletic Bilbao. Mas o Porto não se quis ficar e espetou 4 no Al Nassr, mais um, portanto, embora talvez não seja de desprezar o facto de o golo a mais ter sido obtido na sequência do Otávio se ter esquecido que trocou de clube e se ter posto a assistir para um golo da sua antiga equipa. Dê para onde der, esta febre goleadora de Sporting e Porto promete animar a Supertaça, o troféu que inaugura a época de 24/25. E isso só pode ser bom para o espectáculo. Viva o Sporting e vivam para sempre na nossa memória os 5 Violinos. A saber: Jesus Correia, Vasques, Peyroteo, Travassos e Albano, os Imortais !