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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

29
Mai24

Eternamente Yazalde

Completaria hoje 78 anos


Pedro Azevedo

Parte I - Da Villa Fiorito a Rei de Copas

 

Héctor Casimiro Yazalde nasceu em 29 de Maio de 1946 na Villa Fiorito, um pobre e degradado bairro de Lomas de Zamora, na periferia sul de Buenos Aires, onde 14 anos depois viria também ao mundo o génio Diego Armando Maradona, que aliás teve Yazalde como um dos seus grandes ídolos de infância. Começou a jogar à bola nas ruas da cidade argentina, onde com 13 anos já trabalhava, vendendo jornais, bananas e picando gelo. Como retribuição davam-lhe umas moeditas de cêntimos, apelidadas de "chirolas", o que lhe viria a valer uma alcunha para a vida. Desta forma pretendia ajudar os pais, Pedro e Petrona, e os 7 irmãos, mas o seu sonho era tornar-se profissional de futebol e jogar no Boca. 

 

Tentou a sua sorte no Racing e no Los Andes, mas o seu físico franzino e as sapatilhas esburacadas com que se apresentava nas captações não deixaram os técnicos da cantera desses clubes propriamente bem impressionados, pelo que a oportunidade continuou a passar-lhe ao lado. Até que surgiu o Piraña, um humilde clube que militava na quarta divisão argentina. Tinha 18 anos e finalmente poderia jogar futebol a nível federado. O momento era também de teste às suas reais capacidades, se falhasse ingressaria como mecânico na fábrica textil de Don Prieto. O Piraña havia sido fundado em 1942 como homenagem a Jaime "piraña" Sarlanga, um goleador do Boca do início da década de 40 (122 golos, um dos 5 maiores goleadores da história dos xeneize). O seu fundador, Alcides Solé, era um sonhador e um romântico. De forma que 3 dias apenas após o último jogo de Sarlanga pelo Boca decidira criar e registar o clube, convencendo todos à sua volta de que o nome era sonante e gracioso. Quando Yazalde chegou ao Parque de los Patricios, o clube só estava afiliado na federação argentina (AFA) há apenas 3 anos, por isso não tinha histórico significativo e encontrava-se nas profundezas das divisões inferiores argentinas. Na verdade, dificilmente se poderia chamar àquilo uma oportunidade, mas Yazalde não tinha outra e havia que tentar dar nas vistas o mais possível. E Yazalde aproveitou o que pôde, marcando 52 golos nos dois anos que passou no Piraña, o último dos quais no jogo decisivo que definia a promoção à 3ª divisão. Nessa final, disputada no estádio do Arsenal de Sarandí, clube fundado e presidido à época por Julio Grondona, futuramente presidente da AFA e vice-presidente da FIFA, do outro lado estava um clube de Avellaneda, o General Mitre, presidido por Pedro Iso. Acontece que Grondona e Iso já tinham acertado passar a desempenhar funções dirigentes no Independiente, o primeiro como presidente da comissão de futebol profissional do clube de Avellaneda. Apesar de Yazalde ter sido expulso aos 10 minutos dessa final, o golo que marcou e o requinte que mostrou deixaram impressionado Grondona, que logo convenceu o presidente Carlos Radrizzani a despender 1,8 milhões de pesos para o levar para o Independiente. Do nada, o Chirola dava um salto lunar na carreira. Tinha 21 anos e ia-se estrear na Primera A (primeira divisão da Argentina).

 

Estávamos em 1967 e o Rei de Copas, alcunha atribuída ao Independiente, o melhor clube argentino nas décadas de 60 e 70, disputava o Torneio Nacional (Clausura), o campeonato argentino que encerrava a época (na primeira fase da época ocorria o Torneo Metropolitano, hoje Apertura, podendo assim haver 2 campeões diferentes num ano). Entrando a todo o gás na competição. o Independiente cedo somou 8 vitórias consecutivas. A equipa era fortíssima e tinha um ataque de meter medo, formado por Bernao (o poeta da direita), "El Artillero" Artime, Tarabini e o polivalente Savoy, um canhoto de excelência. Mas Yazalde não se intimidou e estreou-se a marcar logo à 3ª jornada, obtendo o golo decisivo que permitiu ao "Rojo" (outro apodo) vencer no campo do Platense. Tomando-lhe o gosto e não acusando a pressão de quem vinha da 4ª divisão nem a adapatação à nova realidade, o Chirola iniciava sem ainda o saber um ciclo de 6 jogos consecutivos a marcar, obtendo logo de seguida um hat-trick na recepção ao Lanús e bisando frente ao Quilmes. A série não viria a ser interrompida sem novos golos ao Ferrocarril, Chaco e Mar de La Plata, perfazendo um total de 9 em apenas 6 jogos. No final, o Independiente, treinado pelo brasileiro Oswaldo Brandão, sagrar-se-ia campeão, com 12 vitórias, dois empates e apenas uma derrota (San Lorenzo, 1-3, golo do Chirola), e Yazalde seria o 2º melhor marcador da competição (10 golos), a apenas 1 golo do seu colega de equipa, Luis Artime, que viria a coroar-se como o melhor marcador. Continuando nesse transe de astronómico crescimento, no ano seguinte José María Minella convoca-o para a selecção argentina e chega a jogar pela Celeste no Maracanã num tanto quanto possível amistoso contra o Brasil. Nesse mesmo ano e no de 69 continua entre os melhores marcadores na Argentina, mas o título de campeão foge-lhe. Chega então o ano de 1970 e Yazalde volta a ganhar um campeonato argentino, desta vez o Metropolitano. O título teve tanto de glória como de dramatismo, com Independiente e River Plate a acabarem empatados em quase tudo, desde pontos (27) até à diferença de golos (18). Um campeonato que se assemelhou portanto ao célebre Campeonato do Pirolito ganho pelo Sporting ao Benfica, só que com Hector Yazalde a fazer as vezes de Fernando Peyroteo. O independiente acabaria por ser declarado vencedor devido ao terceiro critério de desempate, os golos marcados (43 contra 42 do River). Para chegar aí, o Rei de Copas teve de superar o rival Racing na última jornada. Com o jogo empatado a 2, viria a ser Yazalde a resolver nos minutos finais, assegurando a vitória no jogo e campeonato e obtendo o seu 12º golo da competição. Em consequência, seria eleito o Jogador do Ano (1970), distinção mais tarde também atribuída a craques como Passarella, Fillol, Kempes, Maradona (4 vezes), Francescoli, Riquelme, Tévez, Verón ou Messi.

 

Desperto sobre o valor de Yazalde, Abraão Sorin, dirigente do Sporting, iniciou então negociações pelo seu concurso. E em Janeiro de 1971, o Chirola assinava pelo nosso clube. Para trás haviam ficado 72 golos em 112 jogos realizados pelo Independiente de Avellaneda. Lisboa esperava-o. Antes, porém, uma despedida em beleza: a Argentina convida o Bayern de Munique, de Maier, Beckenbauer e Muller, e a 30 de Dezembro de 1970 vence os bávaros por 4-3. Yazalde bisa. Há também uma última homenagem: o histórico bandoneonista Ernesto Baffa compõe um tango a que chama "Para vos Chirola".  

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Parte II - Yazalde em Lisboa

 

Disputado por Santos e Palmeiras do Brasil, Nacional de Montevidéu do Uruguai, Boca Juniors da Argentina e os europeus Lyon e Valência, os dotes negociais de Abraão Sorin viriam a ser providenciais para que o Sporting garantisse a sua contratação em Janeiro de 1971. Após acordar o pagamento de 3 500 contos (17 500 euros) ao clube argentino (mais 700 contos de prémio, ou "luvas" como se designava à época, para o jogador), o Sporting pediu a Yazalde para se juntar à comitiva leonina que se encontrava em digressão pela América do Sul. Estrear-se-ia então, de forma não oficial, em 25 de Janeiro, no Morumbi, num jogo contra o São Paulo, substituindo Chico Faria após o intervalo. Curiosamente, nessa ficha de jogo, do lado dos paulistas constava o nome de Pedro Rocha, grande jogador uruguaio com presença em 4 Mundiais de Futebol que mais tarde viria a ser treinador do Sporting. 

 

Chegou a Lisboa em 11 de Fevereiro, mas os primeiros tempos na capital portuguesa não foram fáceis a nível desportivo. Não podendo ser inscrito nessa temporada, restavam-lhe os jogos particulares para ir aparecendo. A sua apresentação em Alvalade ocorreria a 24 de Fevereiro desse mesmo mês, tendo sido convidados os franceses do Red Star para abrilhantar a festa. O Sporting ganhou por 3-0, mas o Chirola esteve longe de deslumbrar. Integrando uma linha avançada com Marinho, Chico e Lourenço, ficou a nu a falta de entrosamento com os seus companheiros. Aqui e ali, no entanto, deixou pinceladas de bom futebol. Enfastiado por não poder jogar oficialmente, Yazalde envolve-se na "movida" lisboeta por entre uns fados e tertúlias com a elite artística e cultural do país. Damas e Laranjeira são companheiros inseparáveis, os seus melhores amigos no Sporting. Com muito tempo disponível, as mulheres, muitas mulheres, passam também a ser uma companhia habitual na sua vida. Vivia então num pequeno apartamento na Avenida de Roma que se situava por cima do Centro Comercial Tutti Mundi, o terceiro "drugstore" por ordem cronológica a ser aberto em Portugal (o segundo em Lisboa), e Conchita Velasco, diva espanhola da época, actriz e cantora, sua vizinha, terá sido uma das suas conquistas. Até que conhece a mulher da sua vida: Maria do Carmo da Ressurreição de Deus, conhecida no meio artístico como Carmizé. O cupido foi Camilo de Oliveira, actor e fanático Sportinguista. Yazalde começa então a ser visto, noite após noite, na primeira fila do teatro de revista no Parque Meyer. Em exibição estava "Lisboa é sempre mulher" e do elenco constava Carmizé, actriz e modelo. Jantam pela primeira vez n' A Mexicana, saem com Camilo e sua mulher para uma noite de fados e iniciam então um relacionamento sério. Com outra tranquilidade e equilíbrio, chegou a altura de Yazalde voltar a jogar futebol.

 

Algum tempo havia passado até que finalmente a 12 de Setembro de 1971, 7 meses após a sua chegada a Alvalade, Yazalde estreia-se oficialmente pelo Sporting na primeira jornada do campeonato nacional de 71/72. O adversário é o Boavista, que inicia nessa temporada a metamorfose que o tornaria Boavistão. Com a voragem de recuperar o tempo perdido, ao Chirola bastam 5 minutos para marcar o seu primeiro golo pelo Sporting. Ainda faria mais dois, completando assim um "hat-trick", numa vitória leonina por 4-1. O pior havia ficado lá atrás e Yazalde preparava-se para encantar os Sportinguistas. O “anjo com cara de índio”, homem que nunca esqueceria as suas humildes origens e pela vida fora sempre evidenciará uma especial sensibilidade em relação a crianças pobres, iria finalmente a todos mostrar que, para si, o golo era, como um dia o classificou Dinis Machado (obrigado ao António F pela recordação), uma triunfante fatalidade. 

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Parte III - A caminho da glória

 

Após 8 meses sem jogar, Yazalde tem a oportunidade de finalmente poder justificar a sua contratação pelo Sporting. É o início da época 71/72 e o treinador é Fernando Vaz, campeão em 70 e vencedor da Taça de Portugal em 71 pelo clube. Yazalde entusiasma na estreia com 3 golos ao Boavista. Na jornada seguinte, mais um golo, desta vez ao Barreirense. O ímpeto goleador vai continuando: faz abanar as redes do Leixões e do Vitória de Guimarães. À sexta jornada o Sporting tem 6 vitórias e Yazalde 6 golos. Se seis é o número da união perfeita, Alvalade está em delírio com a equipa e o seu avançado.

 

Subitamente, uma derrota, em Belém. Yazalde não marca e o Sporting perde. A equipa parece retomar um caminho virtuoso com vitórias sobre Farense e CUF e um empate nas Antas, mas é sol de pouca dura: um empate em Setúbal e uma derrota caseira com o Beira Mar dão pouco espaço de manobra, o desaire caseiro com o Benfica (0-3) põe fim às aspirações de ganhar o título. Yazalde, entre pequenas lesões e abaixamento de forma não é mais o mesmo, consequência porventura da falta de ritmo ocasionada por ter estado tanto tempo parado durante a temporada anterior. Até ao fim da época marcará apenas em mais 7 ocasiões, 3 golos para o campeonato e outros 4 na Taça das Taças. Nesta última acontece o caricato: após eliminar o Lyn, da Noruega (3 golos de Yazalde), o Sporting enfrenta o Glasgow Rangers. Primeiro, é derrotado na Escócia por 3-2. Em Alvalade, Yazalde inaugura o marcador. Mas, por cada golo que os leões marcam, os protestantes logo igualam. Perto do fim, Pedro Gomes faz o 3-2 e o jogo vai para prolongamento. Desta vez são os escoceses que se adiantam, mas Peres volta a colocar o Sporting na frente. Termina o prolongamento e o árbitro manda seguir com as penalidades. Damas defende por três vezes, é o herói da noite. Alvalade festeja a eliminação do Rangers. Por pouco tempo: ao acordarem de manhã, os adeptos tomam conhecimento que o árbitro falhou ao não cumprir com os novos regulamentos que prevêm que em caso de igualdade final prevaleçam os golos marcados fora. Ora, o Sporting fizera 2 em Glasgow e os escoceses 3 em Lisboa, o golo a mais, ainda que marcado no prolongamento, conta mesmo para desempatar a contenda a favor do Rangers.

 

A época não é menos frustrante: Fernando Vaz não resiste aos maus resultados e é despedido num processo com o seu quê de sinistro. Três vezes campeão pelo Sporting como adjunto de, respectivamente, Robert Kelly, Cândido de Oliveira e Randolph Galloway, Vaz havia ganho como treinador principal o campeonato e a taça, a última após goleada por 4-1 na final contra o eterno rival Benfica. Sai Vaz, entra Mário Lino, antes adjunto. Com o campeonato perdido (3º lugar) e já eliminado na Europa, Lino concentra-se na Taça de Portugal. E o Sporting vai à final, reeditando o duelo com o Benfica. Desta vez sem glória: derrota por 3-2. Yazalde fica em branco e termina da pior maneira uma temporada que pareceu auspiciosa. No total marca 13 em 28 jogos. Chico Faria faz 14 e Fernando Peres, o maestro, é o melhor marcador da equipa (16 golos). 

 

Se no plano futebolístico Yazalde ainda está a aquecer os motores, no amor as coisas vão de vento em popa. Assim, terminada a época, viaja com Camizé, futuramente dita Carmen, para a Argentina a fim de lhe apresentar a família e estar presente no casamento de Teté Coustarot, modelo e rainha de beleza do país das pampas.

 

No regresso conhece um novo treinador. É inglês e chama-se Ronnie Allen, antigo ponta de lança do WBA e dos "Three Lions" (as armas inseridas no escudo da selecção inglesa de futebol). A expectativa é grande, Allen vem com bom cartel de Bilbau onde conseguiu um segundo lugar na La Liga com o Athletic. A estreia no campeonato não poderia ser melhor: o Sporting desloca-se às Antas e ganha por 1-0. Marca Yazalde, "of course". Seguem-se vitórias tranquilas sobre União de Tomar, Farense e Vitória de Guimarães. Em todos esses jogos Yazalde factura, bisando mesmo contra os nabantinos. Quatro jornadas, quatro vitórias, Yazalde já leva 5 golos. Segue-se deslocação à Luz e derrocada: o Sporting perde por 4-1 (póquer de Eusébio). O golo solitário ainda assim é do Chirola. De seguida o Sporting ainda ganha ao Atlético e Yazalde lá faz o seu golito, marcando pelo 6º jogo consecutivo, mas um empate no Montijo inflama os ânimos e na recepção ao Leixões a casa vai abaixo. Estávamos no dia 29 de Outubro de 1972 e o Sporting jogava com os matosinhenses. Damas, a quem Allen deliberadamente havia atribuído culpas do massacre (6-1) na Escócia frente ao Hibernian (Taça das Taças), havia sido agredido por adeptos montijenses no jogo anterior e o ambiente estava quente. Para piorar, logo no início, o auxiliar dá fora de jogo a um ataque leixonense, mas o árbitro deixa seguir. Na sequência, assinala grande penalidade contra os leões. Damas defende, Carlos Lopes (assim se chamava o árbitro) manda repetir alegando que o guarda-redes se havia movimentado antes do tempo. O Leixões marca à segunda tentativa. Começam a chover pedras no relvado. O jogo pára por uns instantes e quando é reatado produz-se o caos: um jogador dos "bebés" corta para canto, o árbitro dá pontapé de baliza. Logo adeptos provenientes do peão, superior e central invadem o campo. Um deles tenta perfurar o árbitro com um guarda-chuva. Às tantas o árbitro é socado, cai no chão. Seguem-se pontapés, alguns na cabeça. Teme-se o pior. Num instinto, Carlos Alhinho corre e deita-se por cima do árbitro. Apanha também ele alguns pontapés. Depois vem Yazalde, conhecido pelo seu elevadíssimo fair-play, que replica o gesto do seu colega de equipa. Outros jogadores ocorrem, fazem um cordão de segurança e Carlos Lopes consegue escapar com vida. O incidente não escapa sem a punição devida e o Estádio José Alvalade fica interditado por 9 jogos. É o fim da picada, a equipa nunca mais se reencontra e termina o campeonato com a até aí pior classificação de sempre, um 5º lugar. 

 

A época é marcada pelo tumulto. Logo de início, Fernando Peres é suspenso pelo clube. Motivo: a defesa da honra de Fernando Vaz. Na Europa, Allen culpa publicamente Damas por 3 dos 6 golos sofridos na Escócia. O guarda-redes chega mesmo a ser agredido por adeptos no Montijo e na jornada seguinte produzem-se os incidentes acima descritos em Alvalade. Allen acaba por ser despedido em Abril, Lino volta a assumir a batuta. Sofridamente, com vitórias tangenciais sobre o mesmo Leixões e a CUF, o Sporting chega à final. Do outro lado, o Vitória de Setúbal, treinado por José Maria Pedroto, 3º classificado nesse campeonato depois de já ter feito sensação no ano anterior (2º). O Sporting acaba por ganhar a Taça após vencer por 3-2. Mário Lino garante o lugar de treinador principal para 73/74 e Yazalde vai de férias com 1 golo importante na final. No total da época faz 28 golos (38 jogos), 19 no campeonato, 7 na Taça, 1 na Europa, 1 na Taça de Honra.

 

De regresso á Argentina, Yazalde desposa Carmen. Dia 16 de Julho de 1973, a cerimónia tem lugar na Basílica María Auxiliadora y San Carlos, em Buenos Aires. Segue-se copo-d'água no Cafe Tabac, jantar a que faltaram metade dos convidados devido ao temporal que nesse dia se abateu sobre a capital argentina. Os noivos vão de lua-de-mel para Mar del Plata. Daí regressarão imediatamente para Lisboa, o Sporting iniciará a pré-época da temporada de 73/74. Estável, dentro e fora do campo, Yazalde está em crescendo. A esperança pinta-se de verde. Vem aí um ano inesquecível.

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Parte IV - Glória

 

Casado de fresco, Yazalde apresenta-se em Alvalade com estabilidade e motivação adicionais para a temporada de 73/74. Mário Lino, vencedor da Taça de Portugal, vê renovada a confiança em si e continua como treinador principal. Ao contrário das duas épocas anteriores, que começaram muito bem, o Sporting perde o primeiro jogo do campeonato. O adversário é o Vitória de Setúbal, que com José Maria Pedroto volta a ameaçar discutir o título. Uma derrota é sempre uma derrota, mas esta, tendo ocorrido no Bonfim, acaba por ser o presságio do que está para vir. Nem de propósito, Benfica e Porto perdem, respectivamente, no Bessa e em Belém. O Sporting inicia então uma sequência de 7 jogos consecutivos a vencer. E não são vitórias quaisquer, os leões marcam 31 golos e sofrem apenas 2: Boavista, Leixões, Farense e CUF levam "chapa 3", o Belenenses 4, o Oriental 7 e o Montijo é vergado em Alvalade com 8 golos sem resposta. Yazalde marca em todos esses jogos. No somatório, são 19(!) golos do "Chirola", meia-dúzia contra os montijenses, um póquer face ao Oriental. Segue-se um jogo nas Antas, o único que Yazalde não disputa nesse campeonato. Chico Faria faz de "Chirola" e o Sporting sai do Porto com um empate. Os leões estão definitivamente na corrida pelo título. 

 

A paragem não parece ter feito bem a Yazalde, que nos próximos dois jogos fica em branco. Um deles é na Luz, onde o Sporting perde por 2-0. Porém, rapidamente retoma a sua cadência goleadora: o Sporting vence os 4 jogos que faltam para completar a primeira volta e "Chirola" faz abanar as redes mais 8 vezes. A meio do campeonato, o Sporting lidera a classificação e Yazalde leva 27 golos(!), ficando em branco em apenas 4 jogos (1 ausente). 

 

No início da segunda volta, o Sporting vInga-se da derrota sofrida em Setúbal. Dois-a-um é o resultado e Yazalde marca o golo decisivo. O Chirola fica em branco no Bessa e o Sporting não vence um Boavista que continua a progredir. Estabelece-se então de novo um proporção directa entre os golos de Yazalde e a sina do Sporting: marca ao Leixões e ganhamos, não marca em Belém e o Sporting perde. Como consequência, Benfica e Vitória de Setúbal aproximam-se de novo com perigo. A resposta é concludente: o Sporting vence o Oriental por 8-0 com 5 golos do Chirola. Na baliza dos marvilistas estava Carlos Alberto Azevedo Cunha, Azevedo para o mundo do futebol, meu homónimo, sem parentesco conhecido com o grande João Azevedo (o Gato de Frankfurt e histórico guarda-redes do tempo dos 5 Violinos). A vitória é o prelúdio para uma sequência de 6 triunfos consecutivos e um score de 23-1 em golos. Yazalde divide as coisas: marca 5 ao Oriental, outros 5 nos restantes jogos. Pelo meio, o Sporting vence o Porto, em Alvalade, por 2-0. Nesse dia Yazalde fica de jejum, é o "Brinca n'areia" (Dinis) que bisa. Na 26ª jornada, o Sporting perde em casa com o Benfica por 3-5. Yazalde bisa, o primeiro memorável, com um salto de peixe que não foi do agrado de Zé Gato. Resultado: o guarda-redes encarnado sai ao intervalo e é substituído por Bento, um render da guarda. O jogo é a 31 de Março e Marcello Caetano está na tribuna. Recebe aí a sua última grande ovação (entre alguns apupos), a revolução está a chegar. Com a derrota, o campeonato fica tremido e a 4 dias do 25 de Abril a coisa piora com um empate em Aveiro. Há só agora 1 ponto a separar-nos de Benfica e 2 do Setúbal, é imprescindível ganharmos os 3 jogos que faltam para sermos campeões. 

 

O Sporting apanha a Revolução no regresso da RDA. Umas meias-finais da Taça dos Vencedores de Taças que terminam de forma totalmente desafortunada com um falhanço de baliza aberta de Tomé, que de outro modo nos teria conduzido à final. Cá o fado já havia sido semelhante: penálti falhado por Dinis, auto-golo de Manaca (sim, o infortúnio não lhe aconteceu só em Guimarães) e golo solitário de Chico. Feitas as contas, 1-1 em casa e 1-2 na Alemanha, o Sporting é eliminado pelo Magdeburgo. Yazalde, lesionado com uma micro-rotura, não joga nenhum dos encontros, os alemães de leste aproveitam e acabam por ganhar o troféu após vitória na final sobre o Milão. 

 

Se bem que não totalmente recuperado, Yazalde acede a jogar os 3 jogos decisivos para o campeonato. Primeiro, o Sporting vence em Coimbra os "estudantes" (3-1) e o Chirola faz 1 golo. A seguir, recepção ao Olhanense e uma goleada por 5-0 com 2 de Yazalde. É chegado então o dia do tudo ou nada. O Sporting tem apenas 1 ponto de avanço sobre o Benfica e estes têm vantagem no desempate directo. Desloca-se ao Barreiro, mais concretamente ao Campo D. Manuel de Mello, a fim de defrontar o Barreirense. Paralelamente, o Benfica vai a Setúbal. O Vitória está já afastado do título, a 3 pontos do Sporting. Pelo sim, pelo não, os adeptos Sportinguistas que vão ao Barreiro levam uma telefonia consigo, os jogos são para acompanhar com os olhos num lado e os ouvidos noutro. O Benfica está a vencer durante a maior parte do tempo, aumenta a ansiedade. Até que, em cima do intervalo, Baltazar adianta o Sporting no marcador. No fim, o Benfica empata (2-2), mas nem seria preciso porque o Sporting cumpre a sua obrigação, vence por 3-0, e sagra-se campeão nacional. É também o melhor ataque (96 golos) e a melhor defesa (21) do campeonato, uma limpeza! Yazalde marca o seu 46º no campeonato (média de 1,59 por jogo, semelhante aos números que marcaram a carreira de Peyroteo). No total, são 50 (35 jogos), contando com os 4 na Taça das Taças. [Por curiosidade e para avivar a memória de jogadores de um outro tempo, aqui ficam os melhores marcadores desse campeonato: 1º Yazalde, 46 golos; 2º Duda (Setúbal), 24; 3º Eusébio (Benfica), 16; 4º Jordão (Benfica), 15, 5º Abel (Porto), 15; 6º José Torres (Setúbal), 14; 7º Alemão (Beira Mar), 14; 8º Arnaldo (CUF), 13; 9º Paco Gonzalez (Belenenses), 13; 10º Ademir (Olhanense), 12; 11º Mirobaldo (Farense), 12; 12º Marco Aurélio (Porto), 11; 13º Vala (Académica), 11; 14º Nelson (Sporting), 11; 15º Custódio Pinto (Guimarães), 11; 16º Tito (Guimarães), 11; 17º Móia (Oriental), 10.]

 

Há ainda uma Taça de Portugal por disputar, mas Yazalde não estará disponível, ausente na Alemanha a tentar recuperar para o Campeonato do Mundo. Aliás, não fará qualquer um dos 5 jogos da competição e assim falhará a gloriosa final contra o Benfica, que parecia perdida, é salva por um golo tardio de Chico e finalmente vencida por outro de Marinho já no prolongamento. 

 

O Sporting faz a dobradinha e Yazalde recupera a tempo do Mundial de 74. A campanha da Argentina não é famosa, eliminada na 2ª fase, mas o Chirola (nº 22) ainda marca dois golos ao Haiti. Entretanto, escrutinados todos os golos dos campeonatos europeus, Yazalde é o melhor marcador da Europa. E no Lido de Paris recebe a Bota de Ouro perante um Franz Beckenbauer que lhe diz ter a mulher mais bonita de todas as mulheres de jogadores de futebol. O segundo classificado é o austríaco Krankl (Rapid de Viena, mais tarde estrela do Barcelona), os terceiros, ex-aequo, são o também argentino Carlos Bianchi (jogador e futuro treinador de sucesso) e os alemães Jupp Heynckes (Borussia M'Gladbach) e Gerd Muller (o "Bomber", do Bayern de Munique). Que quinteto! Termina assim da melhor maneira uma temporada de glória. Para Yazalde e para o Sporting. 

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Parte V - Sob o signo do bronze

 

Como tantas vezes na nossa história, após uma gloriosa época culminada com uma dobradinha nas provas nacionais e presença nas meias-finais da Taça dos Vencedores das Taças, a instabilidade regressa ao clube. Mário Lino e João Rocha têm opiniões distintas sobre a preparação da pré-época seguinte, a corda estica e acaba por partir pelo elo mais fraco. Lino ja nem está no banco na final da Taça, demitido na manhã desse jogo no hotel onde a equipa estagia. Osvaldo Silva, velha glória do clube, assume interinamente.

 

João Rocha tinha uma ideia para garantir a independência financeira do clube. Lança o projecto da SCP - Sociedade de Construções e Planeamento, o qual é aprovado em Março de 1974 pelo governo de então. Surge a Revolução e João Rocha vê-se obrigado a abrir mão do projecto. O PREC está aí e a convulsão política não ajuda à confiança na economia. Em contra-ciclo, Yazalde está em alta. Faz um bom Mundial, o Real Madrid pressente as dificuldades financeiras vividas em Portugal, de que o Sporting não é excepção, e faz uma proposta pelo avançado. São 27.000 contos (135.000 euros). Rocha hesita, mas decide fazer um esforço para manter o seu ponta de lança. Por isso quer ir no final da época aos EUA, onde pretende arrecadar algum dinheiro para o clube. Lino não está de acordo por pesar mais a fadiga dos jogadores e o efeito que isso terá no atraso de preparação da nova época. O treinador sai, o Sporting realiza 3 jogos nos EUA, 2 com o Porto, 1 com o Benfica de Newark, entre 30 de Junho e 7 de Julho de 74.

 

Sem treinador, o Sporting procura-o no estrangeiro. Curiosamente, é uma lenda do Real Madrid o escolhido. Trata-se de Alfredo Di Stefano, a "sieta rúbia", um antigo jogador que está para o Real Madrid e sua correlação de forças com o Barcelona como Eusébio está para o Benfica na sua disputa pela primazia no futebol com o Sporting. Yazalde é quem estabelece o primeiro contacto e apresenta João Rocha a Don Alfredo. Ao longos dos poucos dias em que o argentino naturalizado espanhol está em Portugal são vistos a jantar no Gambrinus, a relação entre eles é muito boa. Tanto assim é que quando Rocha e Di Stefano se incompatibilizam, Yazalde tenta pôr água na fervura e sai em defesa do treinador. Dinis e Dé são os primeiros a não gostar dos métodos do treinador, a derrota em Faro (o Estádio Padinha estava interditado) com o Olhanense, para a primeira jornada do campenato, é a gota de água que faz transbordar o copo. Di Stefano, que nesse jogo nem vai para o banco, acaba demitido por entre a acusação presidencial de ser um "turista mal-educado". O facto de insolitamente ainda não ter o contrato assinado ajuda ao desenlace. Osvaldo Silva volta a assumir, mas apesar de 1 golo de Yazalde o Sporting acaba eliminado das provas europeias pelo Saint Étienne, na primeira eliminatória da Taça dos Campeões (Champions). 

 

Se as coisas não começam bem, tardam a endireitar-se. Apesar de um empate encorajador nas Antas, à quinta jornada a equipa tem apenas 1 vitória. O resto são empates (2) e derrotas (após Olhanense, o Sporting perde em casa com o Guimarães). O Sporting consegue então alinhavar 3 vitórias consecutivas perante Atlético, União de Tomar e Farense. São 11-2 em golos, Yazalde marca 8, com direito a póquer aos alcantarenses e dois bis, um no Nabão, outro na recepção aos algarvios. No total, já leva 10 golos no campeonato (+1 na Europa), a fúria goleadora mantém-se. Vai-se destacando também socialmente: anda sempre com os bolsos cheios de moedas para dar aos meninos que o esperam na Porta 10A, sorteia os carros que lhe oferecem entre os colegas, chega até a comprar de volta um auto-rádio que lhe haviam roubado, a todos vai tocando com a sua humanidade. Voltando ao futebol, as coisas voltam a complicar-se no campeonato. Primeiro é um empate no Estádio do Mar, depois outro, em casa, com a CUF, finalmente nova divisão de pontos em Marvila. Pelo meio, duas vitórias tangenciais contra Espinho e Boavista, este último agora treinado por Pedroto que terminara o seu excelente ciclo em Setúbal. A insatisfação é geral, de forma que a 22 de Dezembro, quando o Sporting se desloca à Luz, é já Fernando Riera que está no banco. Riera começara por se destacar como jogador, tendo actuado pelo Chile na World Cup 50 disputada no Brasil. Como treinador, incia-se no Belenenses e quase é campeão. É o tal campeonato do golo de Martins, nas Salésias, que acaba por dar o título ao Benfica. Depois orienta o Chile no Campeonato do Mundo de 62. Leva a sua selecção até às meias-finais, pela frente tem o Brasil. Quer dizer, o Brasil sem Pelé, que se havia lesionado no 2º jogo da fase de grupos. Mas, se não há Pelé, está lá Garrincha. O "anjo das pernas tortas" marca 2, Vavá outros dois e o Chile (derrota por 4-2) tem de se contentar com o 3º lugar (vitória sobre a Jugoslávia). É depois campeão 3 vezes pelo Benfica, a última já depois de despedido. E vai a uma final dos Campeões perdida para o Milan. Treina também o Porto, em 72/73. É, portanto, um treinador com cartel aquele que acaba de chegar. O embate na Luz termina empatado e renasce a esperança de um futuro melhor. Yazalde, como não podia deixar de ser, aponta o nosso golo, o seu 12º na competição. Confirmando a retoma, o Sporting vence o Belenenses em novo dérbi lisboeta e a 1ª volta termina com melhores auspícios. 

 

O Sporting entra forte na 2ª volta e vinga-se com uma cabazada ao Olhanense. São sete-a-zero e o Chirola faz uma "manita". De seguida, visita a Coimbra onde a Académica mudara de sexo, e nova vitória (3-1). Mais um para a conta de Yazalde. A recuperação é depois testada contra o Porto. A expectativa é grande e os leões mostram estar no bom caminho: triunfo por 2-1 com golo decisivo de Yazalde e tudo. Mas, em Guimarães há empate sem golos e a margem de erro reduz-se para zero. O Sporting consegue então a sua melhor sequência de vitórias nesse campeonato, alinhando 5 triunfos consecutivos. Yazalde marca por 6 vezes, quatro delas aos "bebés" de Matosinhos. Estamos a meio de Março e o Sporting tem uma saída difícil ao Bessa. Os boavisteiros já estão a sentir o efeito Pedroto e lutam com o Guimarães pelo quarto lugar. Têm muito bons jogadores, como Alves, Salvador, Celso ou Mário João. O jogo corre-nos mal (derrota por 2-0) e é o adeus definitivo ao título. Restam-nos 5 jogos, 1 deles com o Benfica (novo empate 1-1). Yazalde marca por 5 vezes e volta a ganhar a Bola de Ouro para o melhor marcador do campeonato. 

 

Os leões terminam o campeonato sob o signo do bronze. O Sporting é 3º e é ainda eliminado pelo Boavista no prolongamento das meias-finais da Taça. Pedroto a ser Pedroto e a aplicar dois xeque-mates aos leões. Yazalde acaba a época com uns muito bons 37 golos (34 jogos). No campeonato marca 30 (26 jogos) e ganha a Bota de Prata europeia da France Football. O romeno Georgescu (33 golos) é o vencedor, Geels, holandês do Ajax, e Onnis, também argentino do Mónaco, dividem com Yazalde o prémio. Infelizmente, há um outro alinhamento de bronze no horizonte: a situação em Portugal deteriora-se, João Rocha não consegue aguentar por mais tempo o seu avançado e vende-o por 11 mil contos ao Marselha. Do bronze no campeonato para o bronze ao sol da Riviera Francesa, Yazalde transfere-se para o Marselha. São 126 golos em 131 jogos, 104 golos em 104 jogos de campeonato. Para o substituir em Alvalade, Manuel Fernandes, proveniente da CUF, outro ídolo leonino.

 

Em Marselha, a vida não corre mal a Yazalde. Socialmente, convive com Alan Delon e Jean Paul Belmondo, astros do cinema francês. Também com Carlos Monzón, seu compatriota e campeão do mundo de pesos médios (boxe). Vive num apartamento de 300m2 com uma vista impressionante, 3 piscinas, 2 courts de ténis, numa hora está na praia em Saint-Tropez ou viaja até Aix-en-Provence. O Mónaco é também um dos seus destinos favoritos. Em França, Yazalde dá largas à sua joie-de-vivre. Desportivamente a primeira época é salva pela conquista da Taça de França. No campeonato o Marselha é 9º classificado devido a uma série final terrível de 6 derrotas em 7 jogos. O treinador é Jules Zvunka e a equipa não tem grandes valores, exceptuando Trésor (defesa) e Yazalde. Coincidência, ou talvez não, a queda do Marselha acontece quando Yazalde se lesiona e perde 6 dos últimos 7 jogos. Nos 10 primeiros jogos do Olympique, 10 golos de Yazalde. Business as usual!  Termina o campeonato com 19 golos em 30 jogos disputados (o campeonato tem 38) e é o 6º melhor marcador, o 1º entre os marselheses. Se é influente no campeonato, na Taça torna-se providencial. Marca 3 golos, um dos quais na meia-final contra o Nancy, de Michel Platini. Na final, é eleito o "L'Homme du Match". No total, a época para Yazalde fica-se pelos 22 golos. Nada mal, considerando o nível da equipa e a lesão. A segunda temporada corre-lhe pior. Começa a época e rapidamente se lesiona. Regressa á equipa e marca os dois golos que garantem uma vitória em Sochaux (2-1) mas já estamos na 9ª jornada do campeonato. De seguida, bisa de novo com o Lille e é o canto do cisne. Yazalde só faz 12 jogos na Ligue 1, a sua cabeça está na Argentina e na promessa que alegadamente Júlio Grondona lhe terá feito - Carmen afirma-o parentoriamente, mas, embora muito influente no meio (o que em parte o justifica), Grondona só será presidente da AFA a partir de 79 -  de que se regressasse à Argentina estaria entre os seleccionados para o Mundial de 78. É tempo de terminar a aventura europeia de Yazalde, a sua terra natal espera-o de volta. Destino: o Newell's Old Boys. 

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Parte VI - Até sempre, Chirola!

 

Após uma boa primeira época em França, nada faria supor que estaria iminente o seu regresso à Argentina. Inclusivé, Carmen acaba de dar à luz o único filho do casal, Gonzalo, em terras francesas. Yazalde tem uma vida estável, tranquila e confortável na Riviera Francesa, mas a ilusão de voltar a jogar um Mundial, ainda mais na Argentina (anfitriã do Mundial de 78), fá-lo esticar a corda e regressar a casa. Perde muito dinheiro (com contrato por mais dois anos, tem de pagar 500.000 dólares de valor de rescisão ao Marselha) no processo, mas no início de 77 (a meio da temporada em França) assina pelo Newell's Old Boys, um clube argentino da cidade de Rosário, 300 km a noroeste de Buenos Aires. 

 

Estreia-se pela sua nova equipa no Campeonato Nacional (hoje Clausura), competição que funcionava como segundo turno do campeonato argentino. O primeiro jogo é em Mar del Plata, contra o Círculo Deportivo. Fica em branco. Em 4 de Fevereiro, contra o San Martin de Tucumán, o primeiro golo. Mas não é só 1, são 3 de uma vez, um hat-trick. Acaba o ano com 7 golos. Reencontrado com a forma de jogar na Argentina, inicia o Metropolitano de 78 em grande forma. Logo a abrir, 2 golos ao Argentinos Juniors, a equipa de "El Pibe" Maradona, mago que tem em Yazalde um dos seus ídolos de criança. O Newell's vence por 3-0 e os dois craques tiram uma foto que um dia Maradona utilizará para homenagear nas redes sociais o seu ídolo (entretanto já falecido). Os golos voltam-lhe aos pares, marca a dobrar ao Colón, Chacarita e San Lorenzo. Acaba o primeiro turno do campeonato com 10 golos. Yazalde está novamente em grande, mas a tristeza por não ter sido incluído na convocatória de Menotti para o Mundial deixa-o inconsolável. Entra em depressão. Como se não bastasse, segundo Carmen, leva uma injecção contra a gripe e é contagiado com hepatite num tempo em que as seringas são muitas vezes reutilizadas. Começa a ter recorrentes problemas de fígado.  Na 2ª parte da época, disputada pós-Mundial, o Chirola só faz 4 golos. Mais animado, regressa em 79 com um bis ao Racing de Avellaneda, rival dos tempos em que esteve no Independiente. De seguida, um hat-trick ao Velez Sarsfield. Acaba 1979 com 14 golos marcados, o mesmo registo do ano anterior. Em 80 está em grande evidência no dérbi de Rosário, o Classico Rosarino, que põe em confronto "leprosos" (Newell's) e "canalhas" (Rosário Central). Marca por duas vezes e o Newell's vence por 3-0. Em finais de Outubro, volta a bisar. Desta vez contra o seu antigo clube, o Independiente. Um mês depois, faz 2 golos no espaço de 3 dias. A vítima é o "all mighty" River Plate. Acaba o ano com 13 golos, como um relógio suiço. Ainda faz uma perninha no Metropolitano de 81. São apenas 2 meses, o suficiente para se despedir com 6 golos. No total, são 54 pelo Newell's. Por fim, é visto em 82, num jogo pelo Huracán, mas é o canto do cisne. 

 

Terminada a carreira de futebolista, Yazalde assume funções no staff directivo do Huracán e chega até a treinar o clube durante um curto período de tempo. No Natal de 84 vem a Lisboa para apresentar Saucedo, compatriota que jogava no Equador. Entra em Alvalade, é recebido e saudado pela direcção presidida por João Rocha e regressa à Argentina. Nunca se esquecerá do Sporting, vivendo-o sempre com intensidade, fazendo fé nas próprias palavras de Carmen Yazalde. Carmen de quem se separa em 87, nunca porém se divorciando. E morre, em 97, a 18 de Junho, aos 51 anos. Conta Carmen ao "As": "o meu filho ligou-me pelas 6h30, mas quando cheguei já o Yazalde estava morto. Tinha vindo de jantar, sentiu-se indisposto. Não estava bem desde há 2 anos atrás, tinha uma úlcera perfurada e muitas hemorrogias internas". 

 

Um Homem só verdadeiramente morre quando já não existe ninguém para o lembrar. Assim, estou em crer que Yazalde viverá enquanto existir pelo menos 1 Sportinguista, logo eternamente (assim o espero). Para a história ficarão essencialmente os seus 50 golos em 73/74 (apenas 35 jogos) - 46 dos quais, no campeonato, valer-lhe-iam a Bota de Ouro - , marca só muitos anos mais tarde batida por outro "leproso" (Messi) e por um jogador da Formação do Sporting (Ronaldo). Não digam que não há coincidências...

 

P.S. Nesta homenagem ao Chirola, publicada originalmente por mim em Castigo Máximo, procurei trazer alguns novos, ou pouco divulgados, dados sobre a sua carreira desportiva e vida fora das quatro linhas. Foram 6 capítulos escritos com amor, ciente do impacto (não querendo desvalorizar a importante acção do meu pai) que o meu 1º ídolo teve na minha decisão de ser do Sporting. Era algo que um dia teria de fazer, assim como que uma espécie de chamamento, eu que me estreei na blogosfera exactamente a escrever sobre Yazalde. Ficará em arquivo, espero que vivo, deste e de outro blogue enquanto acervo da vida deste enorme futebolista que tão bem serviu o nosso Sporting. Nunca se esqueçam que, tal como os nossos princípios ou valores, as pessoas só morrem verdadeiramente se nos esquecermos delas. 

 

Obrigado, Yazalde!

 

Bibliografia: Esquadrão Imortal (site brasileiro); Jornal AS (Espanha, artigo de Topo López); Puntal Villa María (jornal argentino); En Una Baldosa (site argentino); Cápsulas de Carreño (site colombiano); Clarin (jornal argentino); Infobae (site de notícias argentino propriedade de Daniel Hadad), Bifana Bifana (blog, Inglaterra); OM4ever.com (blog de apoiantes do Marselha); Entrevista de Rui Miguel Tovar a Carmen Yazalde; WikiSporting. O meu agradecimento especial ao Francisco Navarro. 

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26
Mai24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O sobe e desce do Elevador de St Juste


Pedro Azevedo

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(Pela sombra projectada por guarda-redes e bola, parece-me golo.)

 

Potemkin, Trincone e Santorini estão em campo. Potemkin beija a bola, marca um canto a que St Juste corresponde com uma cabeçada indefensável para Diogo Costa ! Na Tribuna, pálido e com os olhos embaciados, Bob lamenta a sua sorte: infelizmente, o ucraniano, o italiano e o grego têm em comum não serem elegíveis para a nossa Selecção, e Martinez sente-o com uma grande desolação. Ao seu lado, Fernando Gomes pocura animá-lo, consolá-lo de tanto azar, mostrando-lhe o outro lado, o copo meio-cheio, a oportunidade de com Chico Conceição internacionalizar o arraial tuga ou com Pedro Neto promover o nosso Serviço Nacional de Saúde, para não falar do efeito positivo para a nossa balança comercial (e orgulho luso) de exportação de um agora beduíno, recém-naturalizado, de faca permanentemente nos dentes, como contraposição aos nómadas digitais que anualmente de mansinho invadem o nosso país e nos encarecem o custo de vida. Bob parece ganhar de novo cor, ao visualizar o seu papel nessa exótica mostra europeia. Sedento de partilhar essa visão, logo se apressa a ligar ao Horta. 

 

Enquanto isso, no relvado, Potemkin lidera a rebelião Sportinguista contra os czares que dominam o futebol português. Mas o Porto começa a pôr a bola nas costas dos centrais do Sporting e Geny, com os apoios trocados, amortece-a em forma de assistência para Evanilson. Pouco depois, St Juste, que marcara um golo inesperado, falha onde não é expectável: é ultrapassado em velocidade por Galeno e depois abalroa-o à entrada da área. O árbitro ainda dá penalty, depois revertido pelo VAR, mas o holandês não se livra da expulsão e o Sporting de ficar a jogar com 10. Quaresma, que deveria ter sido titular e acabou por ser o melhor dos nossos, entra, mas sai Morita (o único capaz de dar à substituição uma expressão de olhos em bico) e não um interior e com isso o Sporting entrega o jogo ao Porto. 

 

O que se segue são vagas constantes de ataque do Porto que só Quaresma e/ou Diogo Pinto vão conseguindo repelir. O jogo, de sentido único, vai para prolongamento. O Porto nada consegue fazer do lado direito da nossa defesa, mérito indiscutível de Quaresma, mas no flanco oposto Chico Conceição cria sucessivo perigo. Até que chega mais uma previsível bola nas costas do nosso lado esquerdo e Diogo Pinto primeiro hesita e quando sai da baliza abalroa Evanilson. Penalty e 2-1. Até ao final o Sporting ainda esboça uma reacção que fica à porta da rulote onde o VAR bebe a essa hora umas bejecas, pelo que o resultado não sofre alteração. 

 

Vitória justa do Porto, hoje claramente a melhor equipa, com José Pedro como o melhor homem em campo em virtude de ter secado Gyokeres. E assim a dobradinha não veio para Alvalade, o que em matéria de culinária nos põe em inferioridade com um Porto sobejamente conhecido pelas tripas e um Benfica que há muito se alimenta da mão de vaca (quando não de Vata). 

 

Enquanto os portistas já festejam nas imediações do Jamor, Bob abandona o estádio. Não evita porém uma última paragem no seu gabinete na sede da Federação, antes do regresso a casa. Com nostalgia contempla a sua secretária de trabalho. As viagens pelo mundo haviam-lhe trazido mais olheiras do que propriamente actividade de olheiro. O cansaço inerente a um jogo a cada 3 meses deixara-o exausto. O que vale é que para arrepio de algum esgotamento já tinha a convocatória para o Euro pronta mesmo antes de aceitar o cargo de seleccionador em Portugal. Era então chegado o tempo de tirar umas férias. Consulta o mapa e escolhe. Destino: Alemanha. Liga o piloto automático, que é como quem diz, ao Cristiano Ronaldo e ao Bruno Fernandes, e marca a viagem. 

 

Boas Férias (de bola) !!!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Eduardo Quaresma (por uma milha de diferença)


24
Mai24

Eduardo Quaresma


Pedro Azevedo

Gosto muito do Quaresma, começo por dizer. A sua compostura com a bola e a velocidade com que corre para trás permitem-nos adequar mais o nosso jogo ao da equipa grande que somos. Com a sua saída em progressão há uma alternativa ao passe de Inácio, duas formas diferentes de quebrar linhas que tornam o nosso jogo mais imprevisível para qualquer adversário. Também a sua rapidez nos ajuda e muito, permitindo-nos subir linhas até quase o meio campo adversário. 

Custa muito a entender como um jovem desta categoria, com atributos que podiam fazer dele um Beckenbauer ou um Baresi, ainda não é um titular indiscutível no Sporting. A razão talvez resida num complexo qualquer de Peter Pan de que padecerá: olha-se para ele e parece uma criança. Ainda que um bom menino, note-se. Alguém de bem com a vida, alegre, em suma, feliz. Não sei se isso colide com a imagem que se espera de um "activo" do futebol negócio, cinzento e aparentemente compenetrado da sua tarefa, mas a cor que o Quaresma traz para o jogo é um espectáculo, reconcilia-nos com o futebol dos bancos da escola e com a nossa juventude. Não foi por isso que aprendemos a amar o jogo? Então, muitos parabéns ao Sporting por ter prolongado o vínculo do Eduardo (até 2028), um jogador que, mais do que admirado, precisa de ser compreendido.

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23
Mai24

Aí Leões !!!


Pedro Azevedo

É tempo de atalhar caminho, deixar o tema da Selecção para mais tarde e recuperar o foco no Jamor. O que não nos mata, torna-nos mais fortes, e a melhor resposta que Pote, Trincão e Nuno Santos podem dar face aos "azares" de que padeceram recentemente é dentro do campo. Como diria o saudoso António Silva: "Aí Leões !!!". Estamos todos convosco, unidos contra a arbitrariedade e, por que não assumi-lo, a injustiça. 

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22
Mai24

Eficácia de Remate


Pedro Azevedo

Num estudo do Observatório do Futebol (CIES) envolvendo 54 campeonatos espalhados pelo mundo e 900 clubes, o Sporting figura em segundo lugar no que concerne a eficácia de remate. O pódio é completado por PAOK (Grécia, 1º) e Roma (Itália, 3º). O estudo, que se baseia na diferença entre golos marcados por jogo e golos esperados por jogo (oportunidades de muito perigo), mostra o Sporting com um índice de 0,59 (2,75-2,16). Na Primeira Liga, o Moreirense, com 0,32 (1,04-0,72) e o Arouca, com 0,31 (1,64-1,33), completam o pódio. De referir que o Benfica tem o segundo pior registo entre os clubes nacionais, com um índice de -0,19 (2,28-2,47). Analisando estes dados, conclui-se que o Benfica cria mais oportunidades reais de golo mas marca menos do que o Sporting, o que é explicado em grande parte pela diferença de eficácia entre os avançados de cada um dos clubes, com os do Sporting a destacarem-se inclusivé por marcarem a partir de "meias-oportunidades".

 

The 455th CIES Football Observatory Weekly Post ranks teams from 54 leagues around the world according to their shooting efficiency. The latter was measured from the residuals of a statistical model explaining 78% of the differences in goals scored per team (not including penalties) on the basis of three variables produced by Wyscout: the number of expected goals according to the dangerousness of the chances created (also not including penalties), the number of shots on target and in total.

 

Editors:
Raffaele Poli
Roger Besson
Loïc Ravenel
Thomas Gonzalez

With 0.69 more non-penalty goals than expected per game, Greece’s PAOK FC have the most positive gap in absolute terms, reflecting judicious shooting decisions, as well as particularly effective finishing. Portugal's Sporting CP (+0.59) and Italy’s AS Roma (+0.52) complete the podium. The Italians outrank Inter and Arsenal in the five major European leagues, followed by Bayern MunichBayer Leverkusen and Valencia.

In terms of the most negative gaps, with 0.63 fewer goals than expected per game, Melbourne City top the list, ahead of four particularly inefficient big-5 league teams: OGC Nice (-0.56), Olympique Lyonnais (-0.49), Rayo Vallecano (-0.48) and Montpellier (-0.47). Everton and Köln are the least effective clubs in the other leagues of the European big-5, Go Ahead Eagles in the Dutch Eredivisie, Vizela and Benfica in the Portuguese Primeira Liga, as well as RSC Charleroi in the Belgian Pro League.

21
Mai24

Bob, o desconstrutor de critérios

O Albergue Espanhol


Pedro Azevedo

A primeira observação que me merece a convocatória do senhor Martinez para o Europeu é que o critério é não haver qualquer critério. É, por isso, uma convocatória ad-hoc. Querem exemplos? O Chico Conceição é um joker, um jogador que pode dar coisas diferentes, mas o Matheus Nunes, com um perfil de transporte de bola a quebrar linhas que não existe na Selecção não foi chamado. Depois, o estágio de Março foi muito importante para a decisão final, mas Matheus Nunes (novamente), que jogou e marcou, ficou de fora. Podia estar relacionado com ser suplente no Manchester City, que aliás sagrou-se campeão de Inglaterra, mas Felix não é titular do Barcelona e foi chamado. O Pote e o Trincão tiveram azar com o estágio de Março, mas o verdadeiro azar de Pote foi nunca ter sido convocado, ele que é só o jogador mais regular da Primeira Liga nos últimos 4 anos. A razão não se entende. Enquanto Pedro Neto tem 82 jogos na Premier em 4 anos (8 golos e 16 assistências), Pote leva 124 encontros na Primeira Liga no mesmo período (57 golos e 35 assistências). E ainda há a questão do ritmo competitivo, que pelos vistos não é relevante para não levar Otávio e Rúben Neves (Ronaldo é um caso à parte), mas serve de motivo de exclusão para jogadores suplentes em equipas que dominam o mundo do futebol (Matheus Nunes, Manchester City). Ah, e só levamos um lateral esquerdo de raiz, que tem um histórico de recorrentes lesões musculares. Nuno Santos poderia ser uma boa opção, mais a mais sabendo-se que Martinez gosta por vezes de jogar com 3 centrais, mas também teve azar. Muito azar. Agora espera-se que a Selecção venha a ter sorte. Muita sorte. Senão acontece-lhe como a Bélgica, que conseguiu desperdiçar uma das melhores gerações da sua história sem nenhum feito efectivamente relevante. (Neste autêntico albergue espanhol coexistem jogadores que passaram a época lesionados com outros que jogaram sempre, uns a gozarem a pré-reforma com outros que estão no pico da forma física, titulares indiscutíveis e suplentes crónicos, jogadores com provas dadas no terreno e craques só nas letras de jornais.)

 

Nota: últimos 4 anos (campeonato) - Diogo Jota 41G, 11A; Rafael Leão 40G, 33A; João Felix 23G, 10A, Pedro Neto 8G, 16A; Pote 57G, 35A.

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20
Mai24

Bonita homenagem


Pedro Azevedo

Ainda não era nascido quando Fernando Mendes levantou a Taça dos Vencedores das Taças em Antuérpia e no regresso a comitiva do Sporting a veio entregar a casa de Hilário, o capitão, convalescente de uma lesão contraída pouco tempo antes. Foi um momento certamente bonito. Por isso senti-me comovido ao ver Frederico Varandas e Viktor Gyokeres deslocarem-se hoje ao quarto de hospital do grande capitão Manuel Fernandes para lhe mostrar o troféu de campeão nacional, um título que ele tanto viveu. Nesse momento fez-se Sporting, naquilo que representamos enquanto princípios e valores como os de respeito pela nossa história e solidariedade, e isso é o que deve ser pedido a um presidente do clube. Sendo insuspeito de proximidade a Varandas, aqui lhe deixo o meu aplauso. E um forte abraço ao Manel, o capitão da minha adolescência, aquele que basta a menção do seu nome para imediatamente associar umbilicalmente ao Sporting. Eternamente. 

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19
Mai24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Festa real em placebo de jogo


Pedro Azevedo

Há jogos de campeonato de fim de época que não estão no calendário para serem jogados, antes são para despachar o mais rapidamente possível a fim de dar lugar à festa. Uns porque são campeões, outros por garantirem a Europa, alguns por obterem a melhor classificação ou recorde de pontos, a maioria por se manter na Primeira Liga, no fim muitos clubes têm motivos de comemoração. Pelo que o jogo em si deixa de ser o prato-forte e passa a ser um aperitivo, um "amouse bouche" que prepara as papilas degustativas - fazendo crecer "água na boca" - do adepto para o que virá a seguir.  Um jogo assim não é para ser levado a sério, como sério não é o VAR intervir em lances de interpretação do árbitro - puxão do braço de Trincão por Vasco Fernandes ou pretensa falta discutível de Coates - ou não ser dada a compensação devida por inúmeras paragens de jogo. Enfim, uma brincadeira em forma de jogo e um árbitro em forma de assim, em consonância. Com uma excepção: Viktor Gyokeres. O homem que não sabe brincar, na observação acutilante de Neto, um dos nossos capitães e voz sábia e filosofante no nosso balneário, que ontem se despediu de nós. Por isso vimos o sueco à beira de uma apoplexia (já não lhe bastava o Pote e o Neto quererem bater o penalty) de cada vez que o jogo tinha uma interrupção e quando foi dado o tempo extra. Porque ele quer sempre mais, tem fome de mais: mais golos, mais assistências, mais correrias, mais suor na camisola. E de gente assim se fez o campeão. (Ou como um "underdog" à partida é à chegada um CÃOpeão, importante escalada numa cadeia alimentar onde não faltam as piranhas.)  

 

Se o jogo foi uma brincadeira, os números de stand-up comedy entre o árbitro anafadito e o inefável VAR Rui Costa foram o ponto alto da diversão: as caretas, hesitações e falta de convicção geral de Manuel Oliveira de cada vez que foi chamado a ver o vídeo constituíram um momento de humor a jeito do sketch "A Ponte da Morte" de "Em Busca do Cálice Sagrado", assim como teve alguma graça a rebeldia demonstrada aquando da expulsão de um flaviense que não foi ao VAR - "Não, não me voltarás a julgar", terá pensado o árbitro enquanto fazia alegadamente ouvidos moucos ao Costa que o azucrinava no auricular pela quarta vez durante a primeira parte. Pelo que o jogo valeu essencialmente por dois momentos característicos de van Basten, curiosamente interpretados por 2 diferentes jogadores: a rotação de costas para o defesa, de Gyokeres, na origem do segundo golo, e o pontapé em volley de Paulinho para o terceiro. No resto do tempo pouco se jogou, entre paragens para entrada do massagista e médico do Chaves, bombeiros, INEM, peritos de avaliação de sinistros e de cotação de salvados e análise das câmaras de vídeo-vigilância. (Ou como trocámos uma época com um ponta de lança que se associava com os companheiros por outra com dois pontas de lança em associação com o golo.)

 

Feitas, as contas, o Sporting terminou este campeonato com uma dezena de pontos sobre o proto-campeão Benfica e dezoito pontos acima do Porto, estabelecendo um novo recorde pontual do clube na competição (90 contra os 86 de JJ). Quem acompanhou a pré-época e leu os jornais da altura,  sabia que o campeonato seria um pró-forma, um caminho que serviria unicamente para glorificar e incensar o Grande Benfica, do Rui Costa e do Schmidt, do Di Maria, Rafa e Otamendi e do puto maravilha. Uma coisa em forma de pescada, que, antes de o ser, já o era. Só que não, o Rúben Amorim, o Gyokeres e todos os nossos ignoraram as "postas de pescada" nas previsões de outros e não o quiseram assim. E embora perdendo de goleada na sondagem junto das cassandras apressadas, no fim levantaram o caneco. Seguir-se-ão a Taça e mais uma pré-época com o Benfica campeão. Depois, rolarão a bola e, quem sabe, algumas cabeças... A caminho do 25 !!! [À semelhança do ocorrido com as Ligas Experimentais, há sempre a hipótese de futuramente a Federação passar a considerar os títulos (de jornais) de pré-época do Benfica. Tudo em nome do PIB nacional, que, já se sabe, ninguém pára o Benfica e, portanto, Portugal.]

 

Tenor "Tudo ao molho...": Viktor Einar Gyokeres (who else ??)

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14
Mai24

Tudo ao molho e fé em Gyokeres (especial)

Punching Bag


Pedro Azevedo

Desde que o Gyokeres chegou ao Sporting, os jogos que envolvem a nossa equipa passaram a não ser exclusivamente de futebol. Quer dizer, também há futebol, e do bom (entenda-se), nomeadamente nos poucos intervalos da pancadaria a que o sueco é submetido, mas essencialmente praticam-se artes marciais. Tal é aceite com a maior candura por parte de árbitros e comentadores da bola. Por exemplo, no Estoril não faltaram loas na televisão à "compostura" do Pedro Álvaro, após cada intervenção sua ter inevitavelmente terminado com o Gyokeres descomposto (decomposto?) no chão. Para o efeito, o Pedro Álvaro foi-nos apresentado como um gentleman, um ser delicado e até meigo, quiçá um Vicente (o tal que "secou" o Pelé, sem nunca cometer uma falta) dos tempos de hoje. Talvez por isso, envolveu inúmeras vezes os seus braços e cotovelos em redor do pescoço do Gyokeres em fofinhos diplomata-leão. Não obstante, o Pedro revelou-se muito adaptativo e inovador nas artes, usando uma projecção de Gyo-Jitsu ali, uma biqueirada de Vikboxing acoli. E o árbitro deve ter apreciado as suas técnicas, porque nunca o admoestou. O que vale é que o Gyokeres foi muitas vezes ao tapete(?), mas, sem nunca ser nocauteado, acabou por ganhar aos pontos (3). Pelo que agora seguir-se-á o Chaves, a caminho do ringue do Jamor (e do "Dá fundo")...

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