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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

30
Mar24

Tudo ao molho e fé em Deus

A (mito)mania de falhar de cabeça


Pedro Azevedo

Se até Aquiles tinha um ponto fraco, não admira que Gyokeres, igualmente um herói da mitologia (neste caso, leonina), também o tenha. O "calcanhar de aquiles" do sueco é o jogo de cabeça. E não se manifesta só na área do adversário, onde porventura dará mais nas vistas, mas igualmente na nossa área: por duas vezes o Estrela colocou a bola na sua zona de acção, por duas vezes criou perigo. Uma deu golo, outra motivou uma boa defesa de Israel. Não é a primeira vez que acontece - assim de memória recordo-me, entre outros, de um golo do Gil Vicente em Alvalade e de outro do Portimonense em sua casa, ambos na sequência de bola parada - e deve ser urgentemente corrigido. Amorim, sem nomear jogadores, chamou a atenção para esse erro na conferência de imprensa e fê-lo bem, até porque de outro modo só ficaria na retina do adepto a saída fora de tempo do guarda-redes do Sporting. (Esclareço que não se trata só da forma como Gyokeres coloca a cabeça à bola, tem mais a ver com a falta de confiança neste gesto que o faz não antecipar os lances e atacar atempadamente a bola.)

Quer este arrazoado em cima pôr em causa o Gyokeres? Não, o sueco está tão ligado à nossa redenção e, quiçá, salvação (após um quarto lugar no campeonato que valeu a não presença na Champions desta temporada) que deve ser visto como um mito soteriológico: os 36 golos e 14 assistências, que o tornam o jogador na Europa com mais participações directas em golos, assim o demonstram. Ontem, Sexta-feira Santa, simplesmente absteve-se de comer de cebolada a carne toda picadinha do costume, mas o mais certo é ter guardado o apetite para a jornada dupla com o Benfica. A avaliar pelo estado em que fica após cada jejum, eu diria que estará em ponto de rebuçado nesse momento. Que então a fera se solte em todo o seu esplendor!...

 

Não é que a estrela de Gyokeres tenha empalidecido, simplesmente não esteve ao seu nível. Ou ao nível altíssimo a que nos habituou (mal, para o nosso bem), fazendo apenas um jogo satisfatório. Pelo que a vedeta de ontem foi o Trincão, uma espécie de Lázaro ressuscitado por contacto com o deus Gyokeres. Explorando inteligentemente tanto o espaço entre-linhas como o existente nas costas dos defesas do Estrela, o Trincão fez um grande jogo. A que só faltou um golo da sua parte, que até poderia ter acontecido num par de ocasiões. E se numa o guarda-redes adiou momentaneamente os seus intentos (Nuno Santos marcou na recarga), na outra teve tudo para facturar quando o Kialonda Gaspar preferiu apostar as fichas todas na sua possibilidade de falhar face à inevitabilidade de golo que resultaria de lhe fechar o espaço interior e permitir-lhe a cedência de bola a um desmarcado Gyokeres - uma questão típica de uma cadeira de cálculo de probabilidades.

Outros jogadores em destaque foram Daniel Bragança e Hidemasa Morita. Muita qualidade de passe têm estes dois, que descobriram inúmeras vezes colegas entre-linhas. Jogando muitas vezes de primeira, não se deixando encurralar pela pressão da linha média do Estrela, sempre uns décimos de segundo atrasada face à velocidade de pensamento e de execução do meio campo do Sporting. Na mesma onda verde, Inácio, entrado para o segundo tempo, foi outro jogador que procurou jogadores soltos no espaço interior, criando perigo para o Estrela. Bem também estiveram os centrais, com a rapidez de St Juste a sobrepor-se a alguns "passes para o hospital" (conhece como ninguém o caminho) que fez e deveria evitar a fim de que males maiores possam emergir como no golo do Estrela. Nuno Santos também esteve ao seu nível, mais regular do que Geny. E Paulinho marcou um golo numa bela execução de cabeça, além de ter procurado sempre que possível ser opção para a ligação de jogo com o ataque. 

Não tínhamos necessidade de sofrer tanto, mas Sporting sem sofrimento seria paradoxal e desafiaria todo o conhecimento que os Sportinguistas foram adquirindo ao longo de seis décadas de estudos epistemológicos baseados na verdade e no nosso sistema de crenças. Por falar em crenças, a de que seremos campeões vai crescendo jogo a jogo. Depois de ontem, ficaram a faltar oito. Mas só precisamos de ganhar sete. Ou seis, desde que vençamos o derby. Bom, mas isso será para depois, porque na terça teremos Taça. Na Luz. Haveria melhor palco para uma equipa tão eminentemente renascentista? Então, que o eminente seja iminente e a nossa fluidez de jogo ilumine o rectângulo de jogo sito em Carnide!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Trincão 

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25
Mar24

O mito Gyokeres


Pedro Azevedo

Séneca escreveu duas peças sobre ele e Shakespeare nele se inspirou em mais de trinta obras. Falo-vos de Hércules, para os romanos, ou de Héracles, para os gregos. Na mitologia leonina, o seu nome é Gyokeres. Na sua pele de leão, cada seu pontapé e como uma bastonada de uma clava para os seus adversários. Dono de uma força e velocidade incríveis, Gyokeres é a nossa representação alegórica do herói greco-romano: um mito leonino com a potência de um semi-deus. Em oposição ao que experienciou com outros craques como Maradona ou Messi, com ele a bola não adormece no pé ou troca galanteios, antes vive constantemente num vórtice de acelerações e travagens súbitas que desafiam a leitura do GPS e estimulam o uso do ABS, obrigando-a a aprender o código da estrada e a ter conhecimentos sobre filas de espera (o projecto Gertrudes de sinalização do trânsito) e a localização dos radares que detectam o excesso de velocidade. Enquanto isso, o espaço aguarda-o, chama por ele como uma sereia no mar canta a um marinheiro prestes a naufragar. Mas ele, senhor de ventos e marés, tem tudo sob controlo. E vai em frente. Na "profundidade", que o Neptuno não mora aqui.  

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24
Mar24

Enquanto o futebol descansa


Pedro Azevedo

Foi um fim de semana misto para os desportistas lusos nos seus confrontos internacionais. Na NBA, Neemias Queta não saiu do banco na deslocação dos Celtics a Chicago. Relegado para quinta opção na rotação de Poste após a chegada de Tillman (as outras são Porzingis, Horford e Kornet), Queta vê-se assim impedido de confirmar as boas indicações dadas nas escassas oportunidades reais de que dispôs e que o levaram à obtenção de dois duplo-duplos em jogos quase consecutivos.

 

Num nível inferior ao do ano transacto tem vindo a apresentar-se o ciclista João Almeida. Com o pico de forma esta época agendado para o Tour, Almeida não poderia começar tão bem como quando o objectivo era o Giro, mas ainda assim nota-se bastante a falta de explosão na montanha e a incapacidade em seguir com os melhores quando o declive aumenta. Seja como for, o ciclista português melhorou na Catalunha (nono classificado na Geral) face ao Paris-Nice (décimo primeiro na GC). 

Também Miguel Oliveira continua abaixo do que chegou a prometer nas suas duas primeiras épocas de MotoGP. Dificuldades de adaptação à Aprilia, assim como a já habitual menor performance em qualificação, estão na origem de um desempenho menos conseguido. Ainda assim, fechou a corrida longa num honroso nono lugar (décimo quinto na qualificação). 

Em grande esteve Henrique Rocha, nova esperança lusa (19 anos), no Challenge de Múrcia, competição que hoje conquistou ao bater o georgiano Basilashvili (antigo Top 20 mundial) em 3 sets (3-6, 7-6(0), 7-5). Foi o primeiro triunfo nesta categoria para Rocha, que assim se tornou no décimo português a conseguir vencer torneios Challenge. Recorde-se que na semana passada Nuno Borges havia revalidado o título no Challenge de Phoenix, sinal de que o ténis luso está a subir de nível. 

Em termos domésticos e colectivos, de destacar o fim de semana das modalidades do Sporting. No andebol, os leões voltaram a vencer o Porto, desta vez por 35-32, terminando a primeira fase da competição só com vitórias. No hóquei, a vitória sobre a Oliveirense (5-3) permitiu ao Sporting subir ao segundo posto da classificação por troca com os aveirenses. Finalmente, no voleibol, os leões primeiro ganharam o derby (3-1 ao Benfica) para depois baterem o Fonte de Bastardo (3-2, com 22-20 na "negra"), triunfo que lhes permitiu vencer a Taça de Portugal. 

22
Mar24

Gyokeres ao Raio-X


Pedro Azevedo

Gyokeres tem 36 golos marcados em todas as competições esta época. Mas de que forma foram esses golos obtidos? De penálti: 7 (pé direito); de bola corrida: 18 com o pé direito, 7 com o pé esquerdo e 4 de cabeça. 35 golos de finalização na área, 1 golo de fora da área. 18 desses golos foram finalizações a 1 toque (+7 penálti), 1 a dois toques, 10 em jogadas individuais.

 

Destacam-se as finalizações a 1 toque, marca indelével de um Matador, bem como o elevado número de golos obtidos através de acções individuais, acções essas que também estiveram na origem de algumas assistências. Sem dúvida um ponta de lança muito completo, que conjuga a definição na área com os arranques fora da área que terminam em golo, algo que o aproxima do perfil de um Kane ou de um Mbappé (principalmente). O número de golos de pé esquerdo é muito razoável para um destro, onde fica claramente a perder para jogadores como Kane ou Haaland é no jogo de cabeça. Faltam-lhe também mais golos de fora da área e predisposição para bater livres directos, um item em que há uma lacuna geral no plantel.

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20
Mar24

Compromisso para com o futebol


Pedro Azevedo

O revolucionário sistema táctico implementado, as dinâmicas que o distinguem e as harmoniosas variações entre jogo interior e exterior, comprimento e apoios frontais não têm paralelo em Portugal. Por tudo isto, mas também por possuirmos nos nossos quadros o jogador mais decisivo da Liga, o Sporting merece ser campeão. E precisa sê-lo. Mas isso, mais até do que uma exigência dos adeptos, deve ser encarado por todos como um compromisso para com o futebol. Porque, à excepção da Hungria de 54, Holanda de 74 e Brasil de 82, quem não ganha raramente passa à história, e esta equipa do Sporting, por jogar bem e bonito, merece marcar a história do futebol indígena.

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19
Mar24

Meio século depois


Pedro Azevedo

Já tivemos grupos com melhores jogadores - aquele meio campo em que os titulares eram Paulo Sousa, Cherbakov, Balakov e Figo, com Peixe, Filipe, Capucho e Pacheco (um abraço para a sua família e amigos) como segundas opções, por exemplo -, mas não me lembro de ver ao vivo uma equipa do Sporting tão oleada como esta. Evidentemente, o número astronómico de golos e assistências de um avançado como Gyokeres, ou mesmo de um médio adaptado a interior como Pote, ajuda muito à festa, mas há também a questão do modelo de jogo e de quão difícil se tem vindo a revelar de contrariar. Pelo que tenho de recuar ao meu tempo pré-estádio, o dos relatos da minha meninice pela rádio, para encontrar paralelismo numa equipa tão mandona como esta. Refiro-me à temporada de 73/74, com Mário Lino no banco, Yazalde como fera na área, Marinho a verticalizar e Dinis a serpentear nas alas, Fraguito como maestro de orquestra e essencialmente um bloco coeso que incluía um génio das balizas (Damas), Manaca, Bastos, Alhinho, Laranjeira, Carlos Pereira, Wagner, Tomé, Baltasar, Nélson, Chico Faria e Dé. Nessa época ganhámos Campeonato e Taça e é isso que fará justiça ao bom futebol desta nossa equipa de 23/24, meio século após a conquista da dobradinha por Chirola e companhia. Vamos a isso? [Esta época vem provando que só nós nos podemos derrotar, na medida em que nenhum desaire (tal como o de há 50 anos com o Magdeburgo) nos deixou convencidos da superioridade do adversário.] 

 

P.S. Se considerarmos a Taça de Honra como uma competição não-oficial, o Sporting de 2023/24 já superou o de 1973/74 no número de golos marcados em toda a temporada (117 contra 116, estes últimos obtidos nos mesmíssimos 43 jogos que já levamos esta época). Objectivo(?) para Gyokeres: Yazalde marcou 50 golos (35 jogos). Desafio: se tudo correr bem, faremos mais 11 jogos até ao fim da época. Para igualar Yazalde, Gyokeres precisa ainda marcar por 14 vezes. Se o conseguir, e jogar todos esses jogos, terminará com 50 golos em 50 jogos, uma média de 1 golo por jogo, curiosamente a mesma que Yazalde tem no nosso Campeonato (104g em 104j).

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19
Mar24

TOP 5 Europa

Participação directa em golo


Pedro Azevedo

Gyokeres lidera o ranking europeu de jogadores com maior participação directa em golo (golos+assistências). Atrás vêm "só" Kane, Mbappé e Haaland (sim, é deste nível que falamos).

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19
Mar24

Ranking GAP Sporting


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2023/2024, o Sporting disputou até agora 43 jogos - 25 para o Campeonato Nacional, 10 para a Liga Europa, 5 para a Taça de Portugal e 3 para a Taça da Liga -, obtendo 32 vitórias (74,4%), 6 empates (14%) e 5 derrotas (11,6%), com 117 golos marcados (média de 2,72 golos/jogo) e 42 golos sofridos (0,98 golos/jogo).

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas de golo):

 

1) Ranking GAP (medalheiro): Gyokeres (36,14,9), Pote (16,12,9), Paulinho (16,4,3);

2) MVP: Gyokeres (145 pontos), Pote (81), Paulinho (59); 

3) Influência: Gyokeres (59 contribuições), Pote (37), Nuno Santos (26);

4) Goleador: Gyokeres (36 golos), Pote e Paulinho (16);

5) Assistências: Gyokeres (14), Nuno Santos e Pote (12).

 

Conclusões:

  • Gyokeres lidera todas as classificações de estatísticas ofensivas: GAP, MVP, Influência, Goleador, Assistências;
  • Intervalos (minutos/golos): 0-15 (16), 16-30 (16), 31-45 (23), 46-60 (24), 61-75 (16), 76-90 (22); 
  • Influência de Gyokeres: 50,4% dos golos totais do Sporting (de fora em 4 jogos)

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

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