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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

31
Dez23

Tudo ao molho e fé em Deus

Da Profundidade e da Altura


Pedro Azevedo

O futebol é um jogo que se disputa sobre, e não sob, um rectângulo. Ora, num rectângulo há comprimento e largura. E existe ainda uma terceira dimensão medida pela altura, porque o futebol joga-se com uma bola e esta circula tanto à flor da relva como pelo ar. Porém, o "futebolês" gosta de complicar e então inventou um novo conceito: a "profundidade". Falar de profundidade é bem, parece até ser erudito e mostrar conhecimento do jogo, especialmente quando acompanhado pela basculação, outra patacoada empregue para comparar o levantamento de uma extremidade e concomitante abaixamento de outra com a mudança de sentido de jogo num campo de futebol onde não há relevo (talvez se justificasse nos campos de treino que Portugal usou em Saltillo). Toca então de a "ensinar" naqueles cursos magníficos de que aquele senhor com nome de gigantone ou cabeçudo das festas e romarias de Portugal tanto se orgulha (o nosso Rúben era o máximo quando não tinha nivel ou só o nível 2). De tal forma que já ninguém se interroga, o que é a reacção típica do povo a qualquer bacorada quando esta é dita com a maior eloquência. Tudo bem, antes tivemos por cá grandes craques do futebol ultramarino, venha então o futebol submarino, que estes "futeboleses" a inventar são dignos do Nemo, do Náutilus e das 20.000 Léguas do Júlio Verne. 

 

Se num campo de futebol não existe essa coisa da profundidade, não deixa de ser relevante a questão da altura. Nos manuais de estratégia militar aprende-se que quando a infantaria não progride, a cavalaria não flanqueia e a artilharia não vislumbra o alvo ao nível do solo, então é preciso bombardear com os meios aéreos disponíveis. Se isso é verdade para as forças armadas, também é real num jogo de futebol: em encontros como o de Portimão, em que o adversário se fecha todo cá atrás e não deixa espaço nas costas para lançar o Gyokeres, é fundamental haver avançados com bom jogo de cabeça. O problema é que esse não é o forte do sueco e Paulinho falha tanto em terra como no ar ou até no mar (só para azucrinar os "gajos" da profundidade e do futebol associativo). [Alejo Véliz seria esse ponta de lança de que precisamos como plano de contingência, mas foi (aos 18 anos) do Rosário Central para o Tottenham por um valor de investimento perfeitamente acessível para nós.] Para agravar o problema, tivemos inúmeros cantos a favor, mas o Inácio e o Coates, os nossos jogadores com mais eficácia nas alturas, não estiveram no relvado por castigo ou lesão. Assim, restava-nos encontrar o espaço por onde entrar, só que Pote ocupou durante imenso tempo esse espaço (arrastando sistematicamente para aí um adversário) que deveria ter sido deixado livre para quem viesse de trás, não sendo à toa que Morita o tenha descoberto apenas quando Bragança entrou e veio jogar ao seu lado (e não mais adiantado, como Pote anteriormente). Antes, havíamos explorado uma vez o espaço mínimo existente entre o autopullman da Eva estacionado por Paulo Sérgio e a paragem do autocarro, com Gyokeres a antecipar-se ao "pica" e a conseguir finalmente encontrar a porta de saída desse espartilho e cumprir com o seu destino (goleador, 1 golo à primeira oportunidade). Só que de uma faltinha à portuguesa - só por causa das tosses, em Portugal qualquer corrente de ar (excepto as tempestades que investem sobre o Gyokeres) é logo motivo para que um árbitro sopre o apito - resultou o fim do descanso de Adán e o golo portimonense. E, completamente contra a corrente de jogo, até poderiam ter vindo mais dois de enxurrada, um salvo por Quaresma (e não Adán, como Rúben erradamente referiu) e outro pelo nosso guarda-redes. Até que houve a tal jogada de Morita que Paulinho assistiu de calcanhar para o calcanhar de um algarvio e por fim até às redes. {Um golo de Paulinho geralmente envolve mais rituais e inuendos que um baile de debutantes.] Antes de tudo isto porém (ainda na primeira parte), o Neto havia mandado uma sarrafada num antigo jogador nosso (Gonçalo Costa) que o deixou com a mesma cara com que eu fiquei quando soube que ele iria a jogo e o Quaresma ficaria no banco. Dois ou três jogos no banco, desde que concentradíssimo (pode ser até que levite), o nosso jovem talvez ganhe a titularidade...

 

Bom Ano de 2024 a todos!!!

 

Tenor "Tudo ao molho...": Hidemasa Morita 

gyokeres portimonense.jpg

30
Dez23

Zaydou


Pedro Azevedo

Youssouf Zaydou é um jogador muito interessante para qualquer Grande português. Com bola é capaz de fintar dois dentro de uma cabine telefónica e de lá sair com graciosidade. Varia bem o centro de jogo, tem potência e remate e sabe aproximar os sectores, tornando o jogo mais redondo e bonito. Nesse particular assemelha-se a um Rabiot, porventura mais aditivado. Dada a sua habilidade com bola, por vezes arrisca demais a sair em posse, quando o passe poderia ser uma solução mais segura, aspecto que deverá corrigir no futuro. E sem bola necessita de melhorar alguns posicionamentos. Mas é um jogador com um toque de bola distintivo no panorama do futebol português. Com a escola do Bordéus e do Saint-Étienne, dois históricos gauleses, Zaydou tem tudo para brilhar num patamar superior ao do Famalicão. Assim haja vontade (e dinheiro) de apostar neste jogador de 24 anos, que pode jogar como médio defensivo ou como médio de transição. 

zaydou-youssouf-famalicao.jpg

26
Dez23

Brian Clough


Pedro Azevedo

Imaginam um treinador pegar numa equipa de uma pequena cidade com pouco mais de 200.000 habitantes, a debater-se para se manter na segunda divisão, e ser capaz de conseguir catapultá-la até ao título máximo do futebol inglês em apenas 3 anos? E ter o engenho e a competência de repeti-lo poucos anos depois, num outro clube de uma outra pequena cidade, com o extra de se tornar campeão europeu não uma, mas duas vezes? Os clubes retratados são o Derby County e o Nottingham Forest e a fada deste conto é na verdade um feiticeiro. O seu nome é Brian Clough, o homem que transformou underdogs em galgos habilitados a ganhar qualquer tipo de corrida. Personalidade "bigger than life", Clough, respaldado pelo seu fiél escudeiro Peter Taylor, venceu o campeonato inglês em 72 (Derby) e 78 (Nottingham, logo no ano em que subiu de divisão), tendo a concorrência do Liverpool de Bill Shankey ou Bob Paisley (campeão em 73,76, 77, 79 e 80 e vencedor da Taça dos Campeões Europeus em 77 e 78), o Leeds de Don Revie (duas vezes campeão) ou o Ipswich de Bobby Robson (5 vezes no pódio entre 75 e 82). [Sem Taylor nunca conseguiu igual sucesso, fosse no Leeds (Taylor optou por ficar em Brughton, onde foi primeiramente adjunto de Clough) ou em Nottingham (onde permaneceu até à reforma em 92, após Taylor se ter primeiro retirado em 82 e depois assumido o cargo de treinador principal do Derby durante pouco mais de 1 ano).] Além da sua faceta de milagreiro enquanto treinador, Clough foi durante anos o melhor amigo dos tablóides britânicos, tantos foram os títulos de imprensa saídos da boca muitas vezes incontinente de Brian. É verdade, muitos anos antes de José Mourinho, houve um treinador em Inglaterra capaz de vocalmente mexer com os poderes instalados. E de ter sucesso. Como um "Special One" (second to no one). The one and Only, Mr Brian Clough!

 

P.S. Para Clough não bastava ganhar, era preciso jogar bem. Por isso teve problemas quando substituiu Don Revie (foi treinar a selecção inglesa) no Leeds, resistindo apenas 44 dias no cargo, depois de anos a criticar os seus jogadores e treinador, que na sua opinião praticavam um jogo duro e sujo. Era esta a personalidade de Brian Clough: sonhador, aventureiro, idealista, fantasioso, sempre a lutar contra os moinhos (por maiores que estes fossem), qual D. Quixote cujos melhores momentos foram passados ao lado de um mais realista Sancho Pança (Peter Taylor). 

brian clough1.jpg

24
Dez23

Tudo ao molho e fé em Deus

Le Duc


Pedro Azevedo

De Bragança a Tondela são 220 km de viagem, mas ao Daniel bastaram 17 minutos para chegar ao seu destino. Foi tudo tão rápido que só poderia ter sido produto de um overlap, com o médio a sobrepor-se aos avançados e assim aparecer isolado em frente à meta. Depois, fez a bola atravessá-la com pompa e circunstância, recorrendo para o efeito a uma acrobacia digna de qualquer um dos 2 Madjers que marcaram o futebol português (consta que o Tozé também tentou, mas ficou marreco no processo). Não ficou por aqui o Daniel: cerca de um quarto de hora depois, lá estava ele, no apoio frontal, com um toque de calcanhar delicioso que abriu caminho para o Paulinho disparar de pé direito para o segundo. Se o Gyokeres é o Rei e o Pote um Príncipe, este Bragança é um Duque, um senhor a jogar à bola! 

 

Enquanto 10 jogadores se envolviam num bonito "association" do qual resultaram dois belos golos, Trincão fazia um jogo à parte, como se com ele em campo houvesse duas bolas, uma só para ele e outra para o resto da equipa. Estaria muito bem, se ele fosse um Maradona ou Messi e lhe desse continuidade até ao fim. Assim não passa de um foção, um glutão que só vê bola e se alheia do contexto (jogo) e do meio envolvente (equipa e adversários).

 

Não gostei que o Quaresma não tivesse sido titular. Se o Rúben Amorim quer ter a certeza de que ele é capaz de fazer 2 ou 3 bons jogos consecutivos, então tem de o pôr a jogar de início e não fazê-lo entrar quando o resto da equipa já está em modo de descompressão, a trocar o jogo pela peladinha. A prová-lo, o Matheus Reis, desconcentrado e com sede a mais ao pote, querendo antecipar aquilo que só o tempo certo dá. Ora, se, pelo contrário, o Quaresma soube esperar pela oportunidade ou momento certo, estreando-se a titular contra o Porto com uma grande exibição, agora seria de dar-lhe continuidade. Ou não? 

 

Com a vitória de ontem, o Sporting apurou-se para a Final Four da Taça da Liga. Segue-se Portimão e o regresso ao Campeonato, onde é ansolutamente necessário segurar a liderança. A Taça da Liga continuará lá para o fim de Janeiro, pelo que só jogo a jogo lá chegaremos mais fortes. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Daniel Bragança, "Le Duc"

 

P.S. No fim do jogo o Tozé Marreco foi ter com o Gyokeres para dizer-lhe que nunca tinha visto um ponta de lança assim em Portugal. Ficou-lhe bem a grandeza da atitude e o desportivismo inerente. Imaginem só o alívio que terá sentido ao não ver o sueco em campo, ao contrário da tristeza nutrida pelos Sportinguistas que se deslocaram a Tondela, mas estes jogos com equipas de escalões secundários parecem destinados para Paulinho encher as estatísticas com golos. Gyokeres voltará em Portimão. 

Boas Festas!!!

daniel bragança.jpg

23
Dez23

A melhor noite de Neemias Queta na NBA


Pedro Azevedo

Novo duplo-duplo para Neemias Queta, o primeiro português a actuar na NBA. Esta noite, na visita a Los Angeles, onde os Celtics esmagaram os Clippers por 145-108, Neemias marcou 14 pontos (57,1% de sucesso em lançamentos de campo e 75% da linha de lance livre), conquistou 12 ressaltos (seis ofensivos e seis defensivos) e ainda deu 3 assistências, tendo apenas cometido 1 turnover. Nas estatísticas globais, foi o jogador em campo que mais ressaltos ganhou(!) e o quinto melhor marcador da equipa de Boston. Esteve em jogo um total de 22:55 minutos (o 7º mais utilizado por Boston). Sem dúvida a melhor noite de Neemias Queta na NBA, ele que há 3 dias atrás, aquando da recepção aos Orlando Magic, já havia obtido o seu primeiro duplo-duplo de carreira, com 10 pontos e 10 ressaltos. Temos homem!

neemias queta.jpg

23
Dez23

O Explorador dos Espaços


Pedro Azevedo

O norueguês Roald Amunsdsen liderou a primeira expedição a atingir o Polo Sul. E muitos séculos antes, ainda no tempo dos Vikings, o seu compatriota Leif Eriksson havia sido o primeiro europeu a chegar à América do Norte (Canadá). Há um gene de aventureirismo e de exploração do desconhecido nos nórdicos, algo que aliás partilham com os intrépidos marinheiros portugueses dos nossos Descobrimentos. Por isso, a chegada de Viktor Gyokeres à pátria de Gama, Cabral ou Magalhães proporcionou o contexto perfeito para uma epopeia à antiga. Porque Gyokeres é também ele um explorador, de espaços. Se o futebol é essencialmente tempo e espaço, então Viktor distingue-se pela quantidade enorme de trabalho que consegue realizar por unidade de tempo. Chama-se a isso potência, que também pode ser definida como o produto da força multiplicada pela velocidade. Ora, essa potência é aplicada maioritariamente na exploração do espaço livre no relvado, em comprimento (aquilo que agora se designa de "profundidade", como se das 20.000 Léguas Submarinas se tratasse) mas também em largura. É com a recorrente procura desse espaço que Gyokeres leva até à exaustão os seus adversários para depois melhor os desequilibrar, nesse transe mais parecendo uma jibóia que, mais do que morder instantaneamente como outras serpentes, vai progressivamente asfixiando a sua presa, sendo esse o seu "veneno". Não é à toa que desses confrontos resultem ressaltos todos eles ganhos pelo sueco. Tal fica a dever-se à sua envergadura e superior condição física, que permitem que o seu corpo consiga suportar inúmeras acelerações e mesmo forças contrárias (choques) durante um jogo de futebol, sem nunca se descompôr. Levando isso ao extremo, o que no futebol significa até à baliza adversária, quando, sem desalinhar um fio do seu cabelo no processo, finaliza com a reconhecida frieza nórdica cada uma das suas intrépidas correrias. Sempre cool, qual James Bond que vem expiar (remir) os nossos pecados do passadoComo o super-herói que efectivamente é. 

Viktor Gyokeres, a Licence to Kill!!!

gyokeres porto2.jpg

22
Dez23

Sem Extremos


Pedro Azevedo

Leio no blogue "Fora-de-Jogo", que faz uma colectânea do que se escreve na imprensa desportiva portuguesa, uma notícia, segundo o blogue atribuída ao jornal Record, em que é referido que o Sporting anda à procura de uma alternativa a Pote. Até aí, tudo bem. O problema surge quando associam o perfil desse jogador ao de um extremo. Sejamos claros, Pote não é um extremo no sistema táctico de Rúben Amorim, é, sim, um interior. Da mesma forma que Albano e Jesus Correia eram extremos e Travassos e Vasques eram interiores, sendo Peyroteo (o melhor goleador mundial de todos os tempos) o Gyokeres desses tempos. No tempo dos 5 Violinos o Sporting adoptou o famoso WM, sistema táctico inventado por Herbert Chapman no Arsenal. Nesse sistema, a equipa dispunha-se no terreno num 3-2-5, com 3 defesas, 2 médios e 5 avançados, sendo a linha atacante composta por 2 extremos, 2 interiores e 1 avançado-centro (ponta de lança). A diferença para o nosso sistema actual, o que Rúben Amorim criou no Sporting e entra em ruptura com os tradicionais 4-3-3 e 4-4-2 do nosso tempo, é que os 2 extremos foram trocados por 2 alas, que tanto podem ser laterais como se desdobrarem como extremos. Assim, convencionou-se que o Sporting de Rúben Amorim joga num 3-4-3, com 3 centrais, uma linha de 4 no meio-campo formada por 2 médios centro e 2 alas e um ataque a 3 constituído por 2 interiores e 1 ponta de lança, pelo que não existem formalmente extremos. Ainda assim, se a eles se quisessem referir, então os extremos/alas seriam Geny e Nuno Santos, considerando-se Esgaio e Matheus Reis mais como laterais/alas. Todavia, os 4 deverão ser teoricamente denominados como alas, capazes de subir e descer constantemente no terreno como se um iô-iô se tratasse, ainda que não tão completos quanto Porro e Nuno Mendes, que permitiam que o 3-4-3 se desdobrasse mais facilmente tanto em 5-4-1 (defensivamente) como principalmente em 3-2-5 (ofensivamente). Evidentemente uma coisa é o sistema, outra as suas dinâmicas: embora conceptualmente aos alas seja pedido que dêem comprimento, na prática pode acontecer estes atacarem por dentro enquanto os interiores procuram a largura. E também podem existir nuances tácticas do género de a Pote ser pedido que desça e forme um triângulo com os dois médios centro, algo do género do que a Hungria adoptou nos anos 50 e surpreendeu a Inglaterra no Jogo do Século, baixando Hidegkuti para o meio campo, o que viria a ser replicado no tempo dos 5 Violinos por Cândido de Oliveira, quando fazia recuar Travassos para o meio campo a fim de organizar o jogo ofensivo dos leões. Ou rodar a linha defensiva para a direita, com o central pela direita e o ala esquerdo a assumirem-se como laterais, permitindo a Geny jogar em linha com Edwards e Pote, desdobrando-se o Sporting num 4-2-3-1.

 

É fácil constatar que o Ruben Amorim não pede a Pote ou Edwards que procurem a linha de fundo a fim de cruzarem para Gyokeres, como se de extremos se tratassem, antes quer que ambos promovam combinações interiores entre eles ou com o ponta de lança (daí jogarem de "pé trocado") que originem no imediato ocasiões de golo ou sirvam como engodo para concentrar o adversário ao meio e libertar os corredores para os alas entrarem.

 

Espero com este esclarecimento ter modestamente contribuido para um melhor entendimento do jogo do Sporting.

pote3.jpeg

20
Dez23

Chicos-espertos


Pedro Azevedo

Eu, se fosse portista, não teria o descaramento de questionar a arbitragem do último Clássico. Por uma questão de honestidade intelectual, vis-a-vis as circunstâncias em que dois golos foram anulados ao Sporting e a entrada de Varela sobre Geny foi punida apenas com um amarelo (já nem falo da cotovelada de Taremi no Inácio). Porém, Miguel Sousa Tavares consegue questionar a expulsão de Pepe, afirmando que o central portista só quis "sacudir" Matheus Reis e argumentando que o lateral Sportinguista escapou impune e foi o prevaricador. Sobre isto tenho a dizer 3 coisas: em primeiro lugar, se o árbitro tivesse agido correctamente e em tempo real, Matheus Reis teria visto o cartão amarelo e Pepe sido expulso. Como se teve de recorrer ao VAR, Matheus Reis escapou ileso porque eventuais acções sujeitas a amostragem de cartão amarelo não fazem parte do Protocolo da vídeo-arbitragem; segundo, Pepe tem a mão aberta quando é empurrado por Matheus Reis, cerrando depois o punho no momento da colisão, pelo que sacudir foi o que Matheus fez, Pepe simplesmente esmurrou; finalmente, não gosto do tipo de chico-espertices preconizadas por jogadores como Matheus, cujo objectivo visa a reacção do adversário e consequente infração disciplinar. Porém, eu vi com os meus olhos ao vivo nas Antas os jogadores do Sporting serem agredidos e no final o santo do Juskowiak, o Peixe e o Vujacic é que foram expulsos, terminando o Sporting com 8 sob a complacência do árbitro Carlos Valente e dizendo assim adeus ao título (93/94). E recordo igualmente muito bem o que ocorreu em 2001/02, em nova visita às Antas, quando a Paulo Bento (58 minutos), o Pedro Barbosa (75 min.) e o Jardel (84 min.) foram expulsos, conseguindo ainda assim o Sporting um empate (2-2) a jogar com menos 3. Uma vergonha! Arbitrou o senhor Martins dos Santos, o mesmo que em 2013 foi condenado a ano e meio de prisão (com pena suspensa) por tráfico de influências visando a não descida de divisão do São Pedro da Cova. 

 

Estratégico ou não, estou em crer que o silêncio de Rúben Amorim sobre a arbitragem retira a desculpabilização e aumenta a exigência ao plantel do Sporting, contribuindo adicionalmente para que se promova e se discuta essencialmente o jogo e não os árbitros. É, como tal, uma atitude duplamente positiva. Mas não sejamos ingénuos: como a natureza tem horror ao vazio, logo a chico-espertice leva a que esse espaço de abordagem à arbitragem seja preenchido. Nesse sentido, Sérgio Conceição, ainda que o pudor não o tenha deixado ir mais longe, disse qualquer coisa sobre um fora de jogo (quando houve outro, assinalado a Gyokeres, em que o jogador estava no nosso meio campo) e Miguel Sousa Tavares logo extravasou para o caso de Pepe. Pelo que mais uns dias e umas intervenções e ainda chegaremos à conclusão que o Porto foi alvo de um roubo de igreja em Alvalade, passando essa versão à história. É este tipo de coisas que me chateia em Portugal, país onde não se é incentivado a ter uma postura correcta e decente porque é-se logo comido de cebolada. Por chicos-espertos, que inteligência é coisa bem diferente e essa não só não é valorizada como não existe em barda neste país. Talvez por isso vivamos da espuma dos dias, do momento e dos truques, e nos falte visão de longo prazo que traga efectiva prosperidade a todos. 

20
Dez23

Gyokeres na senda de Elkjaer


Pedro Azevedo

Há muita gente que manifesta estupefacção por Gyokeres ter andado encoberto na segunda divisão inglesa, aos 25 anos de idade, sem que um grande clube da Premier o contratasse. Tal porém não constitui caso virgem no que concerne a jogadores nórdicos. Tomem o exemplo de Preben Elkjaer Larsen, o craque dinamarquês que na sua forma de jogar mais se assemelharia ao que hoje vejo em Gyokeres: aos 27 anos, Elkjaer ainda jogava no modesto Lokeren, equipa belga que no ano anterior havia defrontado o Benfica na caminhada encarnada (82/83) para a final da Taça UEFA. Não chegou por isso ao Hellas Verona como um jovem, mas logo na sua primeira temporada (84/85) deixou uma marca substantiva na cidade de Romeu e Julieta, ganhando o primeiro e único título (até hoje) de campeão de Itália da história do modesto Hellas, um feito só comparável aos Scudettos vencidos por Diego Armando Maradona em Nápoles. Por isso, nunca é tarde para se causar um impacto profundo: Verona e o Calcio apaixonaram-se por ele e Elkjaer acabou por brilhar no Europeu de 84 e no Mundial de 86 pela Dinamarca, emergindo de surpresa no topo do futebol internacional como um dos melhores jogadores dessa década.  Assim sendo, a minha preocupação não é o Sporting ter visto aquilo que outros olharam mas não viram, nem gastar energias supérfluas a procurar perceber que motivos tão enigmáticos afastaram o jogador dos gigantes da Premier League (o facto de o Man U ter pago uma fortuna por Hojlund e não ter pegado num bem mais em conta Gyokeres não me impressiona, até porque sempre tive presente que uma coisa é o preço de compra, outra o valor intrínseco de um jogador, como os casos de Slimani, Matheus Nunes ou Morita ilustram à abundância). Não, o que me causa ansiedade é tentar entender como poderemos manter o jogador entre nós mais tempo. Porque Gyokeres, tal como Yazalde, tem tudo para marcar a nossa história a letras douradas, assim o consigamos ter mais uma ou outra época. E nós necessitamos de jogadores assim, pela sua valia individual e pelo contágio positivo que transmitem aos colegas e à equipa como um todo.

preben elkjaer.jpg

20
Dez23

Ranking GAP Sporting


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2023/2024, o Sporting disputou até agora 23 jogos - 14 para o Campeonato Nacional, 6 para a Liga Europa, 2 para a Taça de Portugal e 1 para a Taça da Liga -, obtendo 17 vitórias (73,92%), 3 empates (13,04%) e 3 derrotas (13,04%), com 55 golos marcados (média de 2,39 golos/jogo) e 24 golos sofridos (1,04 golos/jogo).

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas de golo):

 

1) Ranking GAP (medalheiro): Gyokeres (17,6,6), Paulinho (9,1,1), Pote (6,5,5);

2) MVP: Gyokeres (69 pontos), Pote (33), Paulinho (30); 

3) Influência: Gyokeres (29 contribuições), Pote (16) e Edwards (15);

4) Goleador: Gyokeres (17 golos), Paulinho (9), Pote (6);

5) Assistências: Gyokeres (6), Pote e Nuno Santos (5).

 

Fazendo uma análise por sectores em termos de pontos MVP (golo=3; assistência=2; participação=1), teremos:

 

Pontas de Lança (total=99): Gyokeres (69) e Paulinho (30);

Interiores (total=69): Pote (33), Edwards (27) e Trincão (9)

Médios (total=25): Hjulmand (9), Bragança e Morita (8);

Alas/laterais (total=46): Nuno Santos (22), Geny (11), Matheus Reis (9) e Esgaio (4);

Centrais (total=34): Coates (11), Inácio (10), Diomande (9), Neto (3) e St Juste (1).

Conclusões:

  • A posição de Ponta de Lança esta época destaca-se da de Interior em termos de pontos MVP, ao contrário de anos anteriores. A diferença é marcada claramente por Gyokeres;
  • Ordem de importância no golo: Pontas de Lança, Interiores, Alas, Centrais e Médios;
  • Um total de 18 jogadores contribuiu para os golos leoninos;
  • Gyokeres lidera todas as classificações de estatísticas ofensivas: GAP, MVP, Influência, Goleador, Assistências;
  • Intervalos (minutos/golos): 0-15 (8), 16-30 (6), 31-45 (9), 46-60 (13), 61-75 (8), 76-90 (11) - O Sporting marca claramente mais golos no segundo tempo (32) do que na primeira parte (23). O intervalo predominante é o primeiro primeiro quarto de hora do segundo tempo (23,6% dos golos);
  • Influência de Gyokeres: 52,72% dos golos totais do Sporting (de fora em 3 jogos). Influência de Gyokeres nos jogos que disputou (20): 60,41% dos golos marcados pelo Sporting nesses jogos;
  • Nuno Santos tem uma influência importante (11 contribuições nos golos contra 2 de Esgaio) para uma utilização relativamente escassa (1185 minutos face, p.e., a 1630 minutos de Pote).

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

ranking gap 24 2024.png

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