Tudo ao molho e fé em Deus
Da Profundidade e da Altura
Pedro Azevedo
O futebol é um jogo que se disputa sobre, e não sob, um rectângulo. Ora, num rectângulo há comprimento e largura. E existe ainda uma terceira dimensão medida pela altura, porque o futebol joga-se com uma bola e esta circula tanto à flor da relva como pelo ar. Porém, o "futebolês" gosta de complicar e então inventou um novo conceito: a "profundidade". Falar de profundidade é bem, parece até ser erudito e mostrar conhecimento do jogo, especialmente quando acompanhado pela basculação, outra patacoada empregue para comparar o levantamento de uma extremidade e concomitante abaixamento de outra com a mudança de sentido de jogo num campo de futebol onde não há relevo (talvez se justificasse nos campos de treino que Portugal usou em Saltillo). Toca então de a "ensinar" naqueles cursos magníficos de que aquele senhor com nome de gigantone ou cabeçudo das festas e romarias de Portugal tanto se orgulha (o nosso Rúben era o máximo quando não tinha nivel ou só o nível 2). De tal forma que já ninguém se interroga, o que é a reacção típica do povo a qualquer bacorada quando esta é dita com a maior eloquência. Tudo bem, antes tivemos por cá grandes craques do futebol ultramarino, venha então o futebol submarino, que estes "futeboleses" a inventar são dignos do Nemo, do Náutilus e das 20.000 Léguas do Júlio Verne.
Se num campo de futebol não existe essa coisa da profundidade, não deixa de ser relevante a questão da altura. Nos manuais de estratégia militar aprende-se que quando a infantaria não progride, a cavalaria não flanqueia e a artilharia não vislumbra o alvo ao nível do solo, então é preciso bombardear com os meios aéreos disponíveis. Se isso é verdade para as forças armadas, também é real num jogo de futebol: em encontros como o de Portimão, em que o adversário se fecha todo cá atrás e não deixa espaço nas costas para lançar o Gyokeres, é fundamental haver avançados com bom jogo de cabeça. O problema é que esse não é o forte do sueco e Paulinho falha tanto em terra como no ar ou até no mar (só para azucrinar os "gajos" da profundidade e do futebol associativo). [Alejo Véliz seria esse ponta de lança de que precisamos como plano de contingência, mas foi (aos 18 anos) do Rosário Central para o Tottenham por um valor de investimento perfeitamente acessível para nós.] Para agravar o problema, tivemos inúmeros cantos a favor, mas o Inácio e o Coates, os nossos jogadores com mais eficácia nas alturas, não estiveram no relvado por castigo ou lesão. Assim, restava-nos encontrar o espaço por onde entrar, só que Pote ocupou durante imenso tempo esse espaço (arrastando sistematicamente para aí um adversário) que deveria ter sido deixado livre para quem viesse de trás, não sendo à toa que Morita o tenha descoberto apenas quando Bragança entrou e veio jogar ao seu lado (e não mais adiantado, como Pote anteriormente). Antes, havíamos explorado uma vez o espaço mínimo existente entre o autopullman da Eva estacionado por Paulo Sérgio e a paragem do autocarro, com Gyokeres a antecipar-se ao "pica" e a conseguir finalmente encontrar a porta de saída desse espartilho e cumprir com o seu destino (goleador, 1 golo à primeira oportunidade). Só que de uma faltinha à portuguesa - só por causa das tosses, em Portugal qualquer corrente de ar (excepto as tempestades que investem sobre o Gyokeres) é logo motivo para que um árbitro sopre o apito - resultou o fim do descanso de Adán e o golo portimonense. E, completamente contra a corrente de jogo, até poderiam ter vindo mais dois de enxurrada, um salvo por Quaresma (e não Adán, como Rúben erradamente referiu) e outro pelo nosso guarda-redes. Até que houve a tal jogada de Morita que Paulinho assistiu de calcanhar para o calcanhar de um algarvio e por fim até às redes. {Um golo de Paulinho geralmente envolve mais rituais e inuendos que um baile de debutantes.] Antes de tudo isto porém (ainda na primeira parte), o Neto havia mandado uma sarrafada num antigo jogador nosso (Gonçalo Costa) que o deixou com a mesma cara com que eu fiquei quando soube que ele iria a jogo e o Quaresma ficaria no banco. Dois ou três jogos no banco, desde que concentradíssimo (pode ser até que levite), o nosso jovem talvez ganhe a titularidade...
Bom Ano de 2024 a todos!!!
Tenor "Tudo ao molho...": Hidemasa Morita