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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

28
Nov23

Tudo ao molho e fé em Deus

Relembrar o passado em Alvalade


Pedro Azevedo

De tão raro nos dias de hoje, um jogo de Domingo à tarde em Alvalade traz-nos inevitavelmente à memória aquele tempo em que os glúteos se acondicionavam na "almofadinha para a bola", o estômago se acomodava entre um rajá e um nougat - havia também quem, corajosamente, deglutisse o mítico courato e sobrevivesse para relatar a experiência - e a moleirinha se protegia do sol com um chapéu em tricórnio feito de papel de jornal. Nos muitos carros, estacionados em redor do estádio, as senhoras também improvisavam, recorendo ao tricô ou ao crochê como forma de matarem o tempo de espera dos maridos. Como se vê, não era perfeito: a pedra da bancada chegava a ser muito inóspita no Inverno, fria e bastas vezes molhada, e as adeptas do sexo feminino dispunham-se pelo estádio em quantidade muito reduzida. Mas havia um grande número de jovens sempre presente, um castiço apoio organizado ao som de batuque&pandeireta e traje de chapéu de palha (Vapores do Rêgo) e um ambiente geral onde o civismo e o genuíno entusiasmo popular coexistiam em sã camaradagem, ocasionalmente entrecortado com momentos de pancadaria um-para-um rapidamente resolvidos, quase sempre causados pela escassez de sangue no álcool que resultava da ingestão importante para a produção nacional de 5l de vinho de um garrafãozinho ali à mão de tinto a martelo. [Sim, este tipo de objectos potencialmente contundentes (para o fígado) eram permitidos no interior dos estádios.] Lembrei-me disso tudo a propósito da visita do Dumiense...

 

O Dumiense, epíteto de São Martinho de Dume, conversor dos suevos que reinaram no território mais tarde português, no século VI, milita no quarto escalão do futebol português. Em último lugar. Pelo que a tarefa do Sporting nestes dezasseis-avos-de-final da Taça de Portugal não se afigurava difícil. Talvez por isso, os leões entraram a passo, subiram para trote no início do segundo tempo e só mudaram para galope quando Gyokeres entrou para instantaneamente deixar a sua marca na partida. Marcámos cedo, por Neto. Um golo prematuro do ancião Neto não constitui só uma antítese, é também toda uma efeméride. Porque o Neto, que na verdade é avô de todos os outros, não marcava desde o zénite da sua carreira. (De São Petersburgo para São Martinho foram 10 anos de viagem em sobressalto da bola, com esta a chorar a todos os santos.) Todavia, um prémio justo para alguém que joga melhor discursivamente do que com os pés, é muito profissional e tem uma influência bem positiva no balneário. Depois, o Nuno Santos, que já assistira de canto para o primeiro golo, marcou um outro que foi desviado pelo Matheus Reis para a entrada da pequena área onde apareceu o Coates a chutar contra o poste. Na recarga, o Paulinho voltou a mostrar a sua boa relação com o golo... nas Taças. 

 

No segundo tempo, o Sporting entrou com outro ritmo e logo marcou por Trincão. Na assistência, de calcanhar, o Paulinho. De seguida, mais um canto do Nuno Santos e o Coates, que igualava Polga como o jogador estrangeiro com mais presenças em jogos pelo Sporting (e, possivelmente, mais auto-golos, também), a elevar-se e a marcar de cabeça. Depois, cruzamento do Hjulmand e o nosso avançado centro a cabecear para golo. Entrou então o Gyokeres, e com ele a Cavalgada das Valquírias começou: assistência para o hat-trick de Paulinho, recepção de um passe de Nuno Santos (outra vez!!!) e finta ao guarda-redes que terminou em penálti e iniciativa a solo que acabou em golo. Tudo num intervalo de 12 minutos que já contempla os festejos intercalares dos golos. 

 

Foi um Domingo de Taça, com muita gente de Dume (distrito de Braga) a colorir as bancadas e a transmitir a nostalgia dos tempos em que o futebol era encarado como uma festa e não uma batalha. E houve goleada, das antigas também, tónico que se espera inspirador aquando da deslocação a Bérgamo para defrontar a Atalanta, equipa que nos traz à memória o início da nossa única gesta gloriosa nas competições europeias. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Paulinho. Nuno Santos seria uma excelente alternativa e Gyokeres fez muito em muito pouco tempo.

dumiense.jpg

28
Nov23

Ranking GAP Sporting


Pedro Azevedo

Nesta temporada de 2023/2024, o Sporting disputou até agora 18 jogos - 11 para o Campeonato Nacional, 4 para a Liga Europa, 2 para a Taça de Portugal e 1 para a Taça da Liga -, obtendo 14 vitórias (77,78%), 2 empates (11,11%) e 2 derrotas (11,11%), com 44 golos marcados (média de 2,44 golos/jogo) e 19 golos sofridos (1,06 golos/jogo).

 

A nível individual, eis os resultados (estatísticas de golo):

 

1) Ranking GAP (medalheiro): Gyokeres (13,4,6), Paulinho (9,1,1), Pote (5,3,4);

2) MVP: Gyokeres (53 pontos), Paulinho (30), Pote (25); 

3) Influência: Gyokeres (23 contribuições), Pote (12) e Edwards e Paulinho (11);

4) Goleador: Gyokeres (13 golos), Paulinho (9), Pote (5);

5) Assistências: Gyokeres e Nuno Santos (4), Pote e Edwards (3).

 

Fazendo uma análise por sectores em termos de pontos MVP (golo=3; assistência=2; participação=1), teremos:

 

Pontas de Lança (total=83): Gyokeres (53) e Paulinho (30);

Interiores (total=54): Pote (25), Edwards (20) e Trincão (9)

Médios (total=21): Bragança (8), Hjulmand (7) e Morita (6);

Alas/laterais (total=36): Nuno Santos (17), Geny (10), Matheus Reis (5) e Esgaio (4);

Centrais (total=24): Coates (10), Diomande (9), Neto (3), Inácio e St Juste (1).

Conclusões:

  • A posição de Ponta de Lança esta época destaca-se da de Interior em termos de pontos MVP, ao contrário de anos anteriores.A diferença é marcada claramente por Gyokeres, pois Paulinho tem números globais (MVP) inferiores a Pote e Edwards;
  • Ordem de importância no golo: Pontas de Lança, Interiores, Alas, Centrais e Médios;
  • Um total de 17 jogadores contribuiu para os golos leoninos;
  • Gyokeres lidera todas as classificações;
  • Intervalos (minutos/golos): 0-15 (7), 16-30 (6), 31-45 (6), 46-60 (8), 61-75 (7), 76-90 (10) - o Sporting é especialmente letal no último quarto de hora (22,7% dos golos);
  • Influência de Gyokeres: 52,27% dos golos do Sporting. 

 

Ranking GAP (Golos, Assistências, Participação decisiva em golo):

ranking gap 2023 18.png

25
Nov23

Maradona


Pedro Azevedo

Cumprem-se hoje 3 anos desde a morte de Diego Armando Maradona, para mim o mais sobredotado jogador que o mundo viu. Do homem, de Diego, já muito se falou e sinceramente o tema pouco ou nada me interessa. Eu não vejo jogadores de futebol, actores, músicos ou quaisquer outros mitos pop tomando o lugar dos pais como educadores, pelo que dispenso tê-los como exemplo para os meus filhos, o que quer dizer que por mim bem poderiam deixar de ser escravos de uma imagem criada pela máquina de propaganda do marketing e sua rotativa de dólares. Sim, aqui o que me importa é Maradona, o jogador, o craque que aos 16/17 anos já era melhor do que todos os outros da liga argentina, ao serviço do Argentinos Juniors. O Pibe inconsolável, que chorou a desfeita de Menotti de deixá-lo fora do Mundial de 78 e se redimiu com uma prestação memorável no Mundial de júniores do ano seguinte. O Barrilete Cósmico que marcou o golo do século à Inglaterra, como se nesse transe o Tango se tivesse vingado do Quickstep britânico nas Malvinas. O Maradona de Nápoles, um caso raro de identificação de uma cidade com um jogador, popularizada em murais um pouco por todo o lado. 

 

O que sempre me fascinou em Maradona foi a forma como ele adestrava a bola e ela lhe obedecia, como se só de um corpo se tratasse. Aí foi o melhor de sempre, indubitavelmente. Com a bola ou uma tangerina. Classe pura. Mesmo parado, só com um esbracejar os seu adversários caíam aos seus pés. Não era só a recepção imaculada, mas também a ginga com que escondia a bola em progressão, o passe preciso e o remate mais colocado do que forte. Maradona não chutava, passava a bola à baliza como se tivesse um GPS instalado na sua bota canhota, bastas vezes a apontar uns milímetros abaixo de onde os postes intersectam a barra. Sim, porque Maradona fazia tangentes, mas nunca era secante. Todos estes condimentos permitiam-lhe fazer constantemente a diferença, mesmo quando em condição física débil. Como no Mundial de 90, incapacitado por uma lesão no tornozelo, em que fintou o Brasil inteiro até dar a bola de presente a Caniggia para este finalizar. O mesmo engodo gingão com que ludibriara os ingleses 4 anos antes. 

 

O Santos de Pelé tinha Gilmar, Zito, Coutinho, Dorval, Mengálvio e Pepe, no Barcelona de Messi coexistiam Deco e Ronaldinho, mais tarde Xavi, Iniesta, Puyol ou Piqué, Cruijff no Ajax contava com Rep. Haan, Krol, Suurbier, Keizer ou Neeskens e Ronaldo no Real tinha a companhia de Modric, Benzema, Ozil, Bale, Pepe ou Sergio Ramos, o Nápoles de Maradona era ele, Careca e mais 9. Ademais, a equipa do sul de Itália tinha de se haver com os gigantes do norte, que atravessavam um dos melhores períodos da sua história: a Juventus era a base da selecção de Itália que havia ganho o Mundial de 82, reforçada com o astro Platini e Boniek, o AC Milan tinha Baresi, Costacurta, Maldini e os 3 holandeses (Van Basten, Rijkaard e Gullit), o Inter contava com Zenga, Bergomi, Altobelli, Berti, Serena e os 3 alemães (Klinsmann, Brehme e Matthaus). Ainda assim, Maradona venceria 2 Scudettos pelo Nápoles, os primeiros e únicos da sua história até Spalletti ter levado o clube de volta ao título italiano na temporada transacta. No Mexico 86 a história foi semelhante: dos outros, só de Valdano reza a história. Maradona marcou 5 golos, produziu igual número de assistências e foi a musa inspiradora que extraiu um pouco mais de cada um até à vitória final. Tal como no Nápoles, essa Argentina foi a Argentina de Maradona, a de 82 ainda era a de Kempes, Fillol, Tarantini e Passarella. 

 

Homem controverso, misturando momentos de rara humanidade com uma fatal adição a drogas, e jogador mais genial que o mundo viu, Diego Armando Maradona morreu há 3 anos. Paz à sua alma. E saúde ao vídeo, para que o possamos renovadamente admirar. Agradecidos por nos mostrar aquilo que nem em sonhos de criança ousámos pensar ser possível fazer com uma bola de futebol. 

maradona sporting.png

23
Nov23

Ousar ser feliz


Pedro Azevedo

O Sporting necessita de trocar a angústia do fado pela ousadia de ser feliz. O medo cénico que se apodera de jogadores, treinadores e adeptos nos últimos minutos de um jogo importante em que o Sporting está a vencer não é mais do que repositório de traumas do passado que ensombram o nosso presente. O passado não pode ser mudado, o presente sim. O que necessitamos é de energia positiva nesses momentos, de uma mentalidade ganhadora assente em jogadores e treinadores com espírito de missão, fome de vitórias e que saibam liderar pelo exemplo. É preciso sonhar! Mais do que sonhar, que é gratuito, é necessário acreditar. Acreditar exige mais do que sonhar, na medida em que carece da percepção de que um objectivo é possível de ser concretizado. Como tal, há que eliminar as dúvidas do nosso cognitivo e substitui-lo por certezas. Só assim, projectando coisas boas no nosso consciente, teremos a determinação que nos guindará à glória. Ora, é aqui que somos frágeis. Temos de substituir o cinzentismo pela inspiração, perceber o que andamos aqui a fazer. O porquê das coisas é sempre mais importante que "o que" ou "como", e se não nos entendermos sobre o porquê de todos os dias nos levantarmos de manhã, teremos sempre um problema identitario na nossa cultura. O Sporting nasceu para ganhar, ponto. Tudo o que seja menos do que isso não é bom, será sofrível ou mau. Ninguém vai ao Marquês festejar Relatórios e Contas, ainda mais quando os resultados dependem da venda dos nossos melhores jogadores. Já tivemos um presidente que disse preferir dois segundos lugares no campeonato a um primeiro e um terceiro, sem pensar no que tal contrariava a cultura Sportinguista. Esse tipo de coisas é mais nefasta do que parece. Enraiza-se no balneário e nas bancadas. Tira-nos foco. Cria indefinição de objectivos. Afasta-nos da nossa natureza e da origem de tudo. Não podemos andar a culpar os jogadores se estes são vítimas de um equívoco não criado por eles. O que é preciso, portanto, é ser claro nos objectivos. Voltando atrás, ter a consciência de que tudo o que não seja ganhar será uma derrota. E isso transmitir-se a todos, Estrutura incluída. Bem sei, pode não interessar a uma Direcção, seja ela qual for, a ideia de que uma época foi completamente perdida, que o instinto de sobrevivência e a tentação de perpetuação no cargo quase sempre se sobrepõem ao genuíno interesse de um diagnóstico sem mistificações, mas qualquer Conselho Directivo do clube e respectiva administração da SAD precisam de ter a consciência de que "estão", não "são". Tudo é transitório, menos o Sporting que se pretende perene. Por isso vejo com muito bons olhos a afirmação de Ruben Amorim de que, se não ganhar, pensa em abandonar o projecto. Não há como não admirar quem é consequente com os objectivos propostos. Não é tão radical como "Pátria ou morte", mas anda lá perto. Ou ganha, ou sai e dá lugar a outro. Embora seja difícil imaginar um cenário sem Amorim, que apesar dos erros tem um rumo e uma liderança indiscutíveis, o Sporting necessita de um discurso assim. De quem está disposto a se colocar na linha de fogo pela afirmação de uma ideia. Mais do que de uma ideia, de uma mentalidade. Porque no fim do dia a missão de quem dirige deve ser fazer as pessoas em seu redor felizes. Que outro objectivo deveria haver? Por isso, obrigado, Ruben, pela lucidez. E que essa tentativa de mexer com a nossa mentalidade acabe em sucesso. Corrijo, que acabe em sucesso no fim da época e que tal seja o início de um ciclo virtuoso assente na ambição e na ousadia de procurar a felicidade. Sem tibiezas. 

20
Nov23

Tudo ao molho e fé em Deus

A desconfiar se vai ao longe


Pedro Azevedo

O português é um ser desconfiado por natureza. Duvida um pouco de si próprio e muito dos seus compatriotas. E desconfia de bons arranques, temendo que isso despolete futuramente a ira de Deus (para os monoteístas), dos deuses (para os politeístas) ou da Autoridade Tributária (para os ateus e os agnósticos, estes mais flexíveis, que é coisa que a AT não gosta). Por isso, quando lhe perguntam como se sente, a resposta é quase sempre um "mais ou menos", não vá o "mais" apanhar São Pedro em horas extraordinárias antes do tempo previsto para a abertura das portas do Céu a cada um (ou provoque uma convocatória para a repartição de Finanças mais próxima). No futebol, essa desconfiança portuguesa traduz-se no uso compulsivo da máquina de calcular. Creio até que a máquina de calcular foi inventada por um senhor (Pascal) tão à frente do seu tempo que no Século XVII previu as dificuldades que Portugal teria nas fases de qualificação dos grandes torneios internacionais e pressentiu que o frágil ábaco nas mãos dos portugueses não iria resistir aos múltiplos cálculos diferenciais (de golos). Resolveu assim o (nosso) vácuo e deu-nos um instrumento para lidarmos com a pressão (não é à toa que esta se mede em Pascal, que por acaso até rima com Portugal).

 

Ora, na antecâmara deste jogo já sabíamos que estávamos qualificados para o Europeu. Se isto não é para desconfiar... Mais, se ganhássemos à Islândia terminaríamos com 100% de vitórias, sucesso só comparável na história de Portugal aos Descobrimentos. A ver pelo que foi a descolonização, a menção aos Descobrimentos aqui foi tudo menos inocente, pelo que está visto que será entre rezas, mas também figas, alhos, macumbas e outros rituais do género, que tentaremos enfrentar o que aí virá. É que ainda me lembro de uma outra fase de qualificação muito boa, em que eliminámos irlandeses e holandeses, que terminou em tragédia na Coreia. Lá está, eu sou português. E desconfio.  

 

Depois deste intrólito que apenas serviu o propósito de encher a crónica a toda a sela, retomemos então o que era a actualidade, que consistia na recepção de Portugal à Islândia, tendo como palco o nosso José Alvalade. Estive para ir ao estádio. Um amigo meu, que tinha os bilhetes, convidou-me. Mas, por fim, acabou retido num "monte" em Évora que por acaso fica num vale e a ideia de ida ao estádio resultou em semelhante antítese. Conformei-me assim em ver pela televisão. A primeira coisa que me chamou a atenção foi o nome dos islandeses: os 11 acabavam em "son". Consultada uma homóloga da Drª Edite Estrela que mora no Google, concluí que os apelidos islandeses correspondem ao nome próprio do pai acrescido de "son" (filho de). Por exemplo, o Cristiano Ronaldo, se fosse islandês, chamar-se-ia Dinisson. (Apercebendo-se disto, há esperança de que os nossos árbitros emigrem e se naturalizem islandeses para evitar que a mãe seja tão mencionada nas bancadas.)

 

A táctica islandesa consistia em ter 11 Retrancasons atrás da bola. Portugal respondeu com 4(+1) Joões, coisa que não seria inesperada para o Mané Garrincha que dá o rosto por este blogue. Cumpriam-se 10 anos desde o célebre hat-trick de Cristiano Ronaldo a outros nórdicos (Suécia) numa qualificação para um Mundial (Brasil) de má memória (lá está...) e cedo o GOAT procurou comemorar a efeméride com um golo. Só que não era o dia, nesta altura do ano na Islândia é quase sempre noite, e a coisa ficou adiada para a janela de Março ou mesmo para o Europeu. Pelo que viria a ser Bruno Fernandes, o melhor português nesta fase de qualificação, a abrir as portas da vitória com um remate forte e colocado, após um toque abrasileirado de Bernardo Silva. Bruno e Bernardo que fazem uma dupla BB como a gasosa, ou não sejam eles quem dá gás a esta Selecção do meio campo para a frente. Atrás, o Palhinha espraiava os tentáculos por todo o lado e o Otávio deliciava a jogar de primeira a toda a extensão do relvado. O Cancelo, que desta vez começou na esquerda, vinha para o meio como um interior, reforçando a nossa superioridade no meio-campo. Pelo que a primeira parte viria a ser de sentido único, apenas não fazendo qualquer sentido a escassa vantagem que se registava ao intervalo.

 

Os islandeses surgiram mais afoitos na etapa complementar. Mas o Inácio não lhes deu qualquer hipótese. De forma que Portugal continuou a ser mais perigoso e marcou. Foi o recém-entrado Horta o autor da proeza, recargando uma recarga de Ronaldo, em lance em que as carambolas começaram em Félix. Até ao fim, pouco houve a registar. O Guerreiro, que entrou para fazer o mesmo papel do Cancelo, ainda teve um momento à João Pinto (Porto), evitando conceder um pontapé de canto ao cabecear contra o travessão da sua baliza, mas o jogo terminou quase ali.

 

E não é que chegámos ao fim da fase de qualificação com 10 em 10? Dá para desconfiar, não é? Estou certo porém que arranjaremos qualquer coisa para reforçar o providencial pessimismo que nos guindou a campeões da Europa. Já não temos Fernando Santos e com ele aquela alegria dos cemitérios que seria sempre uma garantia nesse sentido - os polacos, muito mais confiantes que nós, talvez por isso permanentemente invadidos por alemães e russos, nunca o conseguiram entender -, pelo que temos de nos concentrar no menos bom registo de Roberto Martinez pela Bélgica nas fases finais das grandes competições. De forma a chegarmos à Alemanha como "outsiders". Depois, de empate a empate, prolongamentos e penáltis, criaremos a desconfiança nos outros (que não estão habituados e não sabem lidar com a desconfiança), nesse transe trazendo o caneco para Portugal.  Dá para acreditar?

 

Tenor "Tudo ao molho...": João Palhinha

joao palhinha portugal.jpg

19
Nov23

Ser-veja-ria


Pedro Azevedo

A imprensa desportiva dá hoje conta do interesse do FC Porto em Ezequiel ("Equi") Fernandez, médio do Boca Juniors, referenciado por este blogue na rubrica Craque da Semana(5), de 19 de Julho de 2023. Será que há dois ezequiéis ("Dos Equis") por aí, um ainda a tempo de vir para o Sporting? É que os portistas já tiveram o Corona e, como este não engana, no fim da época arriscam-se a ver o Sol. (Uma piada cervejeira é o que nos resta em tempo de paragem dos campeonatos para dar lugar às selecções.) 

18
Nov23

O respeito é muito bonito


Pedro Azevedo

Um presidente aponta a um presidente, nunca a um subordinado. Se em relação ao Porto, Varandas dirigiu o seu discurso a Pinto da Costa. quando o tema foi o Benfica o dedo acusatório incidiu sobre umas declarações de Roger Schmidt a propósito do jogo do pretérito Domingo. Já nem se trata da costumeira falta de eficácia no discurso, mas sim de falta de noção. Ou de subserviência, o que ainda é pior. Rugidos? Não, foram só uns "miaus". 

17
Nov23

Perspectiva


Pedro Azevedo

Uma pessoa hoje em dia passa os olhos e ouvidos por canais de desporto, ou generalistas com suplementos desportivos, e não há programa onde não se fale de "profundidade". Já tinha escutado a expressão "jogar sob pressão", alternativa subterrânea a "jogar sobre brasas", e aqui de facto o sub prevalece, como se de repente uma cratera se abrisse no relvado, provavelmente resultando da activação de um qualquer vulcão, e se passasse a jogar numa espécie de 20.000 léguas submarinas. Enfim, mais vale um Júlio Verne do que encarar um qualquer verme que se liberte com a lava do vulcão à superfície (o que justificaria o "sobre brasas"). O meu problema é que começo a caminhar para cota e isso dá-me um certo afastamento da geometria descritiva que é preciso ter em mente ao ver um jogo de futebol. Temo porém o pior. Como, por exemplo, a baliza passar a chamar-se Alçado Principal e a análise do jogo deixar de ser um ponto de vista para passarem a ser vistas: frontal, superior e lateral, ainda que isso resolvesse a necessidade daqueles senhores que comentam um jogo consoante o seu resultado, pois teriam uma vista para cada resultado possível. Menos mau, portanto. O importante é que no final tudo fique dentro do plano. E que o público esteja num plano concorrente, o que garantiria a sua intercepção. Então o Euclides Freitas Lobo que há dentro de cada comentador sorrirá como projecção de um prazer geometricamente indescritível. 

geometria.jpg

17
Nov23

Pote, por António Gedeão


Pedro Azevedo

"As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivos serão belas?
E belas, para quê?

Põe-se o Sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos veem.
Mas por que será belo o pôr do sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?" - "Poema das Coisas Belas", de António Gedeão

P.S. Com um abraço ao Rui Monteiro, cuja ausência de novas crónicas é sentida por aqui. 

pote gedeão.jpeg

17
Nov23

Atacar pior com mais


Pedro Azevedo

Portugal ontem apareceu num 3-3-4 ofensivo (3-3-2-2), com uma espécie de Táctica do Quadrado na frente que na prática não foi mais do que uma homenagem ao nome da humilde crónica que Vos trago aqui periodicamente. Defrontando o fraco Liechtenstein, o 200º do ranking FIFA, Portugal cedeu à tentação de tentar matar uma mosca com tiros de canhão. Nesse tudo ao molho e fé em Deus, Félix várias vezes tropeçou em Diogo Jota, confundindo-se a cavalaria da Ala dos Namorados com os ataques de infantaria pelo eixo. Do jogo tirámos a lição de que não é com avançados a mais que se marcam mais golos. Desde logo porque faltaram os espaços por onde entrar, ocupados que estavam por demasiados jogadores de ambas as equipas, não havendo ninguém para vir de trás explorar um hipotético espaço livre (Bruno Fernandes tinha a bola, logo não se podia desmarcar sem ela, e o resto eram centrais). Salvou-nos ainda assim o do costume, aquele que só em Portugal podia ser contestado, o rei artilheiro Ronaldo, que primeiro venceu o combate corpo-a-corpo com 2 adversários e depois fuzilou para desbloquear o impasse. Foi o seu centésimo vigésimo oitavo golo pela "Equipa de Todos Nós", a que se somam setecentos e trinta e sete golos por clubes enquanto sénior, o que totaliza 865 golos de carreira profissional. São números impressionantes, excepto para alguns seres tão pouco impressionáveis que paradoxalmente ocupam o seu tempo nas redes sociais só para disseminarem o ódio, no caso ao capitão da nossa Selecção.

ronaldo liechtenstein.jpg

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