Não sei se ouviram o alerta da Protecção Civil, mas andou um Búfalo à solta ontem à noite em Lisboa. Para evitar o alarme social que uma notícia tipo Correio da Manhã poderá causar no público em geral, aviso desde já que esse Búfalo é humano, o que à partida parecerá uma contradição nos termos e desgostará certamente aqueles que já se viam a caminhar para Sete Rios, na expectativa de que entretanto o "animal" fosse direccionado para o Jardim Zoológico e aí pudesse ser domesticado e observado em meio controlado. Não, este Búfalo não só é humano como joga futebol, no Sporting, e a única relação que tem com o Zoo é ser um alvo preferencial da "bicharada" que pulula no futebol português. Pelo que se o quiserem ver em acção têm de se deslocar ao José Alvalade ou, em alternativa, itinerantemente onde o Sporting jogar. Então vê-lo-ão no seu estado selvagem, ainda não contaminado pelo ambiente em seu redor. Indomável na sua natureza, leal no seu carácter, o Gyokeres é a grande atração do Sporting e do circo do futebol português para a temporada 2023/24. E o que eu posso dizer é que desde o Matheus Nunes não desfrutava tanto de ver um jogador em campo! O mesmo não dirão os adversários, esfalfados, estafados, esbugalhados, sem ar, como se expostos 90 minutos a uma sauna sueca (+de 100 ºC). Quem diria que, depois de uma unha encravada de um Eskilsson, a Suécia enconderia um tesouro assim? Ontem, quase sozinho, destruiu o Moreirense. Eu bem dizia que ele me fazia lembrar o Elkjaer...
Das últimas fornadas da Formação, o Sporting foi a jogo com o internacional Inácio, em subida vertiginosa de cotação. O "late bloomer" Geny começou no banco, assim como o Bragança. O Essugo de lá não saiu. Dos afluentes faltaram o Rodrigo Ribeiro, a rodar na B, e o Afonso Moreira de Cónegos(?), provavelmente de fora porque o jogo era com o Moreirense. Ou então porque convocado à porta de casa do St Juste, para o ajudar a rodar a maçaneta, não fosse o holandês torcer um braço (ou mesmo o baço). Dos outros, de África veio um Diomande em bruto e do Uruguai a Vitamina C (Coates) para evitar o escorbuto. No meio, um dueto improvável de guerreiros constituído por um Samurai (Morita) e um Viking (Hjulmand), uma transposição do medieval "For Honor" da Playstation para os relvados onde vamos lutar. Nas alas, o Esgaio e o Nuno Santos, indiferentes ao 1x1, o nazareno mais de comedimento, o "ranhoso" mestre na arte do cruzamento. E para fazer companhia a um motor de explosão (Gyokeres), dois dieseis, um (Pote) mais aditivado do que o outro (Edwards). Na baliza, como habitualmente, o Adán, que cometeu o pecado original de roer a maçã que a Eva lhe deu e assim provar da nova obrigatoriedade dos guarda-redes saberem dar um chuto na bola.
Os primeiros 15 minutos foram de adaptação: ao Moreirense, ousado na pressão, e ao critério do árbitro, exigente com o Inácio e condescendente com o Fabiano. (Já se sabe que a melhor fita do Manuel Oliveira é o Aniki-Bóbó, cuja acção se desenrola no Porto.)
De adaptação em adaptação, de seguida o Sporting começou a adaptar-se aos postes. Primeiro pelo Morita, depois pelo Hjulmand (mais tarde, no travessão, cortesia do Paulinho). Pelo meio o Manuel Oliveira ignorou uma falta na meia-lua (sobre o Pote), o que viria a repetir-se no segundo tempo (com Gyokeres). E outros lances polémicos houve, inclusive na área do Moreirense, ainda que o telescópio Hobby-Eberly habitualmente ao serviço da SportTV desta vez estivesse desligado e assim não podermos ser definitivos. Apesar de tudo, no segundo tempo o Gyokeres levou tudo à frente, isto é, nas canelas, no pé, na cara, em suma em qualquer parte frontal do seu corpo onde fosse possível bater-lhe... Contudo, não se intimidou, estando no primeiro golo, assistindo involuntariamente para um tiro raso de Hjulmand que contou com vários jogadores moreirenses a tapar a visão do seu guarda-redes (quando vi o guarda-redes levantar o braço temi uma interpretação tuga da regra do fora de jogo mais tarde explicada às massas pelo Duarte Gomes), e marcando o segundo, este com um movimento que fez escola em Portugal através do Jardel: um pasito adelante; un, dos, tres pasitos pa' atrás (como cantava o Ricky Martin). O terceiro veio de uma bola de canto de Geny(o), que apanhou a cabeça do Diomande ao segundo poste, um lance repetido de outro (laboratório), no primeiro tempo, em que Morita chutou e a bola esbarrou no poste.
No fim, três golos, três bolas nos ferros, três defesas excepcionais do guarda-redes do Moreirense (Kewin), um golo anulado por 5 cm e uma exibição arrasadora de Gyokeres, um viking de meter medo a qualquer defesa da Primeira Liga. E estamos em primeiro! (Mas, atenção, vi no editorial de A Bola o José Manuel Delgado fazer uma cava com um ponta de lança chamado Chopin - seriam violinos?- , rendas de bilros e um futebol champanhe dos nossos vizinhos da 2ª Circular.)
Tenor "Tudo ao molho...": Viktor Gyokeres, 1 golo, 1 assistência, 4 passes para remate à baliza, 9 faltas sofridas, 3 amarelos arrancados e (uff!!!) 11 km percorridos - "Diz-me como treinas, dir-te-ei como Gyokeres" (adaptação livre do poema célebre de Paulo Bento.)
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