Encontro de duas ideias
Pedro Azevedo
O Sporting passou da aposta na profundidade e transição rápida (época do título) para um tipo de futebol que privilegiava a posse e construção desde trás (últimas duas temporadas). Apesar da filosofia diferente, os resultados foram semelhantes nos dois primeiros anos. Na minha opinião, tal deveu-se ao futebol heavy-metal de Matheus Nunes, que garantia algumas transições que na primeira época estavam exclusivamente entregues a dianteiros como Sporar ou Tiago Tomás (João Mário temperava isso pondo gelo nos jogos), criando assim uma cambiante a um jogo mais organizado e porventura mais previsível. Com a saída de Matheus, aliada às características específicas de Paulinho (ponta de lança associativo, com pouco golo e que não explora a profundidade), o nosso jogo tornou-se monocórdico, razão que justifica em parte a queda nos resultados verificada na última época. Agora, com Gyokeres, o Sporting é muito mais imprevisível, pois o sueco é um 2 em 1, isto é, não só tem a capacidade de segurar a bola e dar apoios (ou, dada a sua força, virar-se na direcção da baliza) a jogar de costas como também é sôfrego na procura da profundidade. Com esta adição ao plantel, Ruben Amorim consegue de uma só pázada compatibilizar a fórmula vencedora de 20/21 com aquilo que entende ser a forma preferencial (mandona) de jogar de uma equipa grande. Se o clube conseguir ir buscar um "6" estilo Palhinha (essencial num sistema que só contempla 2 médios centro) e um "8" de transição (mais de levar a bola) que contraste com as características de Morita (apesar de se lhe notar uma evolução já não tão fácil de estereotipar, essencialmente passe e aproximação, tal como Bragança), o que me parece essencial numa temporada longa que não pode ser preenchida por um único médio que dê garantias (Daniel vem de lesão e Pote não tem a agressividade requerida em certos jogos e é imprescindível como interior), então acredito que lutará pelo título até ao fim com Benfica, que parte à frente, e Porto, que é sempre um osso duro de roer. Mesmo sem investir num lateral/ala direito, até porque Geny Catamo (ala de pé trocado não me agrada tanto, mas confesso que o jogador me impressionou contra o Villareal) e Afonso Moreira (explosivo, gostava de o ver testado aí) poderão ser reforços interessantes encontrados dentro de casa. (Se só houver dinheiro para duas inclusões no plantel, de caras preferiria a solução de 2 médios a uma outra de 1 médio e um lateral/ala.)