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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

12
Jul25

Todos na roda e fé em João Almeida

Levantado do chão


Pedro Azevedo

IMG_5476.jpegCaro Leitor, o João caiu e nessa queda deitou por terra as expectativas de toda uma nação, que há quedas que são colectivas e esta foi tanto dele como nossa. Sentimos assim as suas dores, até porque todos nós temos uma costela de João Almeida. Mas o João prontamente levantou-se, parábola que nos cumpre mimétizar, ou não fossemos nós, portugueses, um povo habituado a recomeços. O presente não é assim aquilo que o passado augurava para o futuro, não haverá pódio em Paris nem escaparates na imprensa escrita. A vida por vezes é cruel e cria-nos desafios inesperados como este de fazer um Homem tocar no sol somente para depois se despencar como Ícaro (a Red Bull é que te dá asas e ele está na UAE). Voltará, e nós também, até porque a sua vida (literalmente), e nossa (metaforicamente), é andar às voltas, qual hamster numa roda. Até que esta rebente ou fure. 

10
Jul25

Bandemónio Vermelho


Pedro Azevedo

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Antes eram os Diabos Vermelhos, agora, Rui Costa, no seu anúncio de candidatura à presidência do Benfica, referiu que é preciso "fazer o que ainda não foi feito", recuperando assim o tema (e lema) de uma velha canção de Pedro Abrunhosa e dos Bandemónio. Pelo andar da carruagem, temo que com o ardor típico das campanhas eleitorais se siga o "não posso mais viver assim, olhar para ti sem te ter perto de mim" (dedicado ao João Félix), até que alguém se lembre do "talvez...". 

09
Jul25

Todos na roda e fé em João Almeida

Pogacar no topo e o João a subir


Pedro Azevedo

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Auguste Comte, fundador da corrente (tem tudo a ver com bicicletas) do Positivismo, disse um dia que tudo na vida é relativo, sendo esse o único valor absoluto. Percebo a ideia: um colaborador de uma empresa fica satisfeito com o bónus que recebeu no final do ano, mas após tomar conhecimento de que um colega auferiu um prémio maior logo o sentimento muda radicalmente. Mas há excepções: por exemplo, os princípios e valores comportamentais são absolutos. Adicionalmente, os mercados financeiros ensinam-nos que o relativo pode ser uma serpente envenenada se não cuidarmos de saber o valor absoluto dos activos. E depois surge o ciclismo enquanto parábola desportiva do equilíbrio entre o relativo e o absoluto. Quer dizer, na maioria das vezes os ciclistas estão a pedalar uns contra os outros, mas depois chega aquele dia em que pedalam sozinhos contra o asfalto e o tempo e têm de impor um ritmo de acordo com as suas capacidades e não em função de outrem. A essa prova, dita da Verdade (existe algo de metafísico, no sentido do conhecimento do ser e da sua essência e capacidade de sacrifício, no conceito de pôr o Homem em cima de uma bicicleta durante horas, dia sim, dia sim, subindo e descendo montanhas), chama-se contra-relógio.  Hoje foi dia de contra-relógio no Tour de France. 

À partida, o grande favorito era Remco Evenepoel, com capacete de Hermes e bicicleta dourados e camisola arco-íris, símbolos de campeão olímpico e mundial na especialidade. Depois surgiam Pogacar e Vingegaard, os outros grandes candidatos à camisola amarela em Paris. E, de seguida, os especialistas e os "wanna be" à geral, estes últimos representados à cabeça pelo nosso João Almeida. No fim, não houve grandes surpresas: Evenepoel ganhou, Pogacar foi segundo e Almeida não esteve bem nem mal, esteve ao seu nível (oitavo no c/r e quarto entre os pretendentes à geral). Surpresas, pela positiva, foram Vauquelin (quinto) e Lipowitz (sexto), e pela negativa o Vingegaard (apenas décimo terceiro). O perfil plano não ajudou os ciclistas mais leves, ainda por cima estando o vento pela frente, o que justifica em parte a má prestação do dinamarquês. Na geral, Pogacar é agora o camisola amarela e Evenepoel é o segundo. A sensação Vauquelin completa o pódio, à frente dos Vismas Vingegaard e Jorgenson, e o João subiu para sétimo, uma posição abaixo do que eu aqui prognosticara, à frente do candidato Roglic e dos competentes Lipowitz, Skjelmose, Onley e Mas, candidatos ao Top 10 final. Seguem-se mais umas etapas estilo Clássica, um novo c/r (décima terceira etapa) com um perfil diferente (escalada) e depois o pináculo da coisa, Alpes e Pirinéus, a prova dos 9 que tudo clarificará.

 

Vai bom o Tour, emocionante. E o João continua lá, entre os melhores, sempre vindo de menos a mais (no c/r foi vigésimo no primeiro ponto intermédio, décimo quinto no segundo, décimo segundo no terceiro e oitavo no fim), que no final, em Paris, pode significar um pódio. Aguardemos...

08
Jul25

Todos na roda e fé em João Almeida

O João bem em semana de Clássicas


Pedro Azevedo

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Ontem atravessei-me aqui ao prognosticar que no final do dia de amanhã o João Almeida figuraria no Top 6 do Tour. Hoje redobrei a crença nesse acontecimento. E acrescento que estará no sexto lugar da classificação geral. Com naturalidade. Tudo o que for acima disso será de sonho, mas é preciso dizer que o João está numa forma fantástica, a melhor da sua ainda relativamente curta carreira. Pelo que foi uma pena que hoje tenha tido que trabalhar intensamente nos últimos Kms para o Pogacar, quando, se tivesse podido poupar-se, teria discutido até ao fim a etapa. Ainda assim, além de Pogacar e de Vingegaard, não vejo ninguém em melhor condição que o João. Por exemplo, o Remco (Evenepoel) e o Jorgenson não aguentaram o seu ritmo e cederam nos metros finais, e o Roglic e o Lipowitz perderam mesmo muito tempo. Ora, isto foi extraordinário sob diferentes pontos de vista. Primeiro, porque o João, uma vez mais mal posicionado no pelotão, precisou de recuperar terreno na sequência de um bloqueio motivado por uma queda à sua frente. Depois, na medida em que não só voltou como ainda conseguiu chegar a tempo de ajudar Pogacar a tentar fazer a diferença sobre Vingegaard na última colina do dia. Finalmente, levando em conta que após ter sido rebocado por Remco, em conjunto com Jorgenson, Onley e van der Poel, de volta para o grupeto composto por Pogacar e Vingegaard, assumiu a liderança e impôs um ritmo forte que inibiu praticamente todos os contendores de o tentarem passar (Jorgenson tentou e "queimou-se", tendo o João rapidamente fechado o espaço) até preparar o sprint de Pogacar. Pelo que, se tivesse ido tranquilamente na roda, outro galo cantaria...

 

Se a minha previsão para amanhã é a de que o João saltará de oitavo para sexto na geral, ultrapassando Onley, Mas e Vauquelin e sendo ultrapassado por Remco, começo a acreditar que é mais forte candidato ao terceiro lugar final do que o Remco ou o Roglic. Ainda que tenha de trabalhar para o Pogacar, que aliás hoje, no final da etapa, desfez-se em elogios ao português. Se está melhor do que Remco e Roglic e se os outros que o precedem na classificação além de Pogacar e Vingegaard à partida não terão hipóteses (van der Poel, Vauquelin, Onley, Jorgenson), por que não acreditar? É que no confronto entre os dois "domestiques" de UAE e Visma, o João parece estar melhor do que o Jorgenson, embora a este pareça estar reservado um papel de maior liberdade do que aquela que a equipa dos Emirados está a dar ao português, este chamado a trabalhar na frente do pelotão enquanto o americano vai lançando ataques na esperança de isolar Pogacar. Por outro lado, Vauquelin (segundo na Suíça e quinto lugar actual) e Onley (terceito em terras helvéticas e sétimo no momento) foram recentemente batidos por Almeida na Volta à Suíça, o mesmo tendo acontecido com Gall (quarto no Tour de Suisse e actual décimo nono). Ademais, os bons desempenhos destes últimos no Tour só revelam como precipitados foram os comentários de quem desvalorizou a prova suíça em função do Dauphine, o que só enaltece o excelente desempenho que o João ali teve. 

Aguardemos então pelo contra-relógio de amanhã, plano e como tal menos apropriado para o João fazer maiores diferenças. Ainda assim os seus dados recentes de potência por kilo são impressionantes, assim como os seus resultados na "Prova da Verdade". E, assim sendo, temos de estar optimistas! 

P.S. O ciclismo é tudo menos um "desporto para meninos". É duro, e o Tour é o pináculo dessa dureza, sendo que o termo pináculo (cume) usado aqui não foi nada inocente, ou o Tour não nos reservasse para as próximas semanas ascensões nos Alpes e Pirinéus. De referir ainda que o João Almeida já bateu este ano 
o Remco (geral da Volta à Romandia) e o Jonas Vingegaard por duas vezes (Fóia/Volta ao Algarve e numa etapa igualmente de montanha no Paris-Nice). Hoje, o João foi o maestro da "centésima sinfonia" (vitória) de Tadej Pogacar. 

07
Jul25

João Almeida no Tour (1)


Pedro Azevedo

Não sendo chefe de fila no Tour, as hipóteses de João Almeida chegar ao pódio na melhor corrida por etapas do mundo são reduzidas. Muitas vezes é-lhe apontada a lacuna da má colocação no pelotão, mas é exactamente aí que mais se nota a falta de estatuto na equipa nesta prova específica. Porque Pogacar tem toda uma equipa a guiá-lo por entre o pelotão e a assegurar que a sua colocação é sempre a melhor, o que Almeida não tem. Tal como Lipowitz, na Red Bull, que teve de, sozinho, regressar a um pelotão que rodava a grande velocidade, após uma avaria ou furo que o obrigou a recorrer ao carro de apoio durante a primeira tirada. Por isso, para mim, Pogacar, Vingegaard (Visma), Evenepoel (Soudal) e Roglic (Ref Bull) são os grandes candidatos ao pódio final do Tour, sendo os dois primeiros aqueles que lutarão pela camisola amarela até ao fim. Quer isto dizer que João Almeida não terá as suas hipóteses? Não, o corredor português está em grande forma e disso deu ontem mostra ao recuperar de uma má colocação no início de uma subida íngreme e curta, bloqueado numa estrada bastante estreita, para depois ser ele próprio a fazer a junção com o grupo de 8 ciclistas que se isolara, fechando mais tarde o espaço quando o segundo ciclista da Visma (Jorgenson) atacou Pogacar, tendo ainda forças para no fim lançar o sprint do corredor esloveno. Almeida que recuperou assim inúmeras posições na geral, ocupando agora a décimo terceiro lugar. Acredito assim que, após Quarta-feira (Contra-relogio individual plano), João Almeida figurará entre os 6 primeiros da geral. Depois, uma maior progressão dependerá de vários factores, nem todos dependentes da sua condição física. Por exemplo, a má forma de Adam Yates poderá implicar que Almeida entre ao trabalho de apoio ao seu líder mais cedo do que o previsto nas etapas de alta montanha, o que reduzirá significativamente as suas hipóteses na geral. Seria uma pena porque além de Pogacar e de Vingegaard não se vislumbra ninguém que se encontre em melhor condição que o corredor português. Nem mesmo Enric Mas, Jorgenson ou Vauquelin (a quem bateu na Volta à Suíça), os únicos ciclistas além de Pogacar, Vingegaard e Mathieu van der Poel (corredor de Clássicas) que ainda não perderam tempo (Almeida, tal como Evenepoel, Roglic ou Lipowitz, ficou atrasado num corte motivado pelo vento que o fez perder 39 segundos na primeira etapa). 

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06
Jul25

MV(d)P


Pedro Azevedo

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Com iniciais de MVP, Mathieu van der Poel (Alpecin) é o novo camisola amarela do Tour de France após a realização da segunda etapa, sucedendo ao belga Philipsen, seu colega de equipa. O neerlandês aliás fez o pleno, pois também venceu na chegada a Boulogne-Sur-Mer, batendo os super favoritos Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard (Visma) sobre a meta, todos integrantes de um grupo de 25 unidades que aproveitou duas contagens de montanha (terceira e quarta categoria) para se isolar do pelotão. Desse lote também constou o português João Almeida, que esteve em particular destaque nos derradeiros quilómetros: primeiro ao recuperar de uma má colocação no início das duas subidas quasi-consecutivas, depois ao lançar o sprint do seu chefe de fila da UAE, o esloveno Pogacar. Na geral, Pogacar é agora segundo e o dinamarquês Vingegaard é terceiro classificado. Almeida está agora em décimo terceiro lugar, a 49 segundos do líder, diferença que se deve a bonificações e ao corte que se verificou no pelotão na fase final da primeira tirada, consequência do forte vento cruzado que se fez sentir e da concomitante aceleração cirúrgica das equipas da Alpecin e Visma. Não foi, todavia, o único a perder tempo, chegando num grupo que integrava Evenepoel e Roglic, outros candidatos ao pódio da "Grande Boucle".

03
Jul25

RIP, Diogo Jota


Pedro Azevedo

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A notícia sacudiu-me da semi-letargia das primeiras horas da manhã: "O Diogo Jota morreu" - escreveu um amigo no Whatsapp, uma frase que em mim produziu o efeito de um murro em cheio no estômago. 

Todos os Leitores que seguem este blogue foram percebendo ao longo dos anos que eu tinha uma predileção pelo Diogo Jota, cujo "hype" era, na minha opinião, muito inferior ao seu real valor. Esse valor ancorava-se na objectividade das suas acções: era um jogador muito perpendicular, rectilíneo, que fazia da recepção orientada uma das suas grandes armas. Também rápido, vertiginoso até, qual filho do vento. E depois "tinha golo", não se assustava na área, era combativo, forte nos duelos, resiliente e tinha uma impulsão que compensava a sua falta de altura e lhe garantia um bom jogo de cabeça. No plano pessoal, era humilde, avesso ao protagonismo, dedicado aos seus, consciente de que o essencial do que tinha para falar deveria ser dito em campo. Com golos, assistências e desarmes que comprovavam o seu compromisso com a(s) equipa(s).

Independentemente do seu falecimento ser uma grande perda para o Liverpool e a Selecção Nacional, as minhas últimas palavras destinam-se a quem mais sentirá a sua falta, a sua família, país (perderam um outro filho no mesmo acidente que vitimou o Diogo), mulher e 3 filhos: que Deus vos abençoe e que a solidariedade de amigos e conhecidos vos ajude a mitigar um pouco a dor que acredito irá estar sempre presente. 

02
Jul25

A Arte do Futebol


Pedro Azevedo

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A diferença entre o futebol e outras artes performativas como o teatro ou o bailado é que, embora também tenha um guião, este é ténue e dá muita margem para o improviso. Nesse sentido, ao contrário das outras artes mencionadas, o futebol é impreciso na medida em que desde o primeiro minuto depende de um conjunto de árvores de decisão que pode afastar muitíssimo o resultado final daquilo que é treinado. Desde logo porque, ao contrário do teatro ou bailado, há um adversário a contracenar em cima do palco apostado em que não se cumpra o guião escolhido por um elenco de pessoas e determinado em que se adopte o seu. Assim, o futebol aproxima-se muito mais de um Reality Show do que do teatro ou bailado, ainda que tenha uma carga coreográfica que emule estes. Mas não é suposto que Nureyev falhe tão flagrantemente um movimento quanto o Bryan Ruiz desperdice um golo em cima da baliza, e essa porção de inesperado é algo que tem de se levar sempre em conta num jogo de futebol, que, embora não pretenda representar a vida como o teatro e o bailado, tem o condão de nos confrontar muito mais com a mortalidade, ou não implique um conjunto predominante de acções condenadas ao fracasso.

30
Jun25

Sobre Gyokeres (2)


Pedro Azevedo

Usando o pretexto da novela de mercado que envolve o Gyokeres, na semana passada falei-vos aqui da diferença existente entre o valor intrínseco e o preço de um activo. Hoje, oporei o conceito de valor absoluto ao de valor relativo. 

Para Auguste Comte, o pai do Humanismo, tudo na vida é relativo, e esse é o único valor absoluto. Frederico Varandas, presidente do Sporting, primeiro definiu o preço que o clube pede para vender os direitos económicos de Gyokeres, com base numa avaliação interna que terá levado em conta o seu valor intrínseco. Agora, mostrando que essa avaliação não foi despropositada, recorreu a comparativos de mercado, ou seja, ao valor relativo. Para isso, definiu um benchmark, ou seja, o preço que o Manchester United aceitou pagar ao Wolverhampton por um avançado da mesma idade (Matheus Cunha), cerca de 75 milhões de euros. Porque uma coisa é a nossa avaliação de um activo com base na estimativa presente de proveitos vindouros (discounted cash-flow method), outra são os comparáveis de mercado, ambos sendo métodos aceitáveis de estimativa de valorização de activos (e de formação de um preço). 

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