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Ontem atravessei-me aqui ao prognosticar que no final do dia de amanhã o João Almeida figuraria no Top 6 do Tour. Hoje redobrei a crença nesse acontecimento. E acrescento que estará no sexto lugar da classificação geral. Com naturalidade. Tudo o que for acima disso será de sonho, mas é preciso dizer que o João está numa forma fantástica, a melhor da sua ainda relativamente curta carreira. Pelo que foi uma pena que hoje tenha tido que trabalhar intensamente nos últimos Kms para o Pogacar, quando, se tivesse podido poupar-se, teria discutido até ao fim a etapa. Ainda assim, além de Pogacar e de Vingegaard, não vejo ninguém em melhor condição que o João. Por exemplo, o Remco (Evenepoel) e o Jorgenson não aguentaram o seu ritmo e cederam nos metros finais, e o Roglic e o Lipowitz perderam mesmo muito tempo. Ora, isto foi extraordinário sob diferentes pontos de vista. Primeiro, porque o João, uma vez mais mal posicionado no pelotão, precisou de recuperar terreno na sequência de um bloqueio motivado por uma queda à sua frente. Depois, na medida em que não só voltou como ainda conseguiu chegar a tempo de ajudar Pogacar a tentar fazer a diferença sobre Vingegaard na última colina do dia. Finalmente, levando em conta que após ter sido rebocado por Remco, em conjunto com Jorgenson, Onley e van der Poel, de volta para o grupeto composto por Pogacar e Vingegaard, assumiu a liderança e impôs um ritmo forte que inibiu praticamente todos os contendores de o tentarem passar (Jorgenson tentou e "queimou-se", tendo o João rapidamente fechado o espaço) até preparar o sprint de Pogacar. Pelo que, se tivesse ido tranquilamente na roda, outro galo cantaria...
Se a minha previsão para amanhã é a de que o João saltará de oitavo para sexto na geral, ultrapassando Onley, Mas e Vauquelin e sendo ultrapassado por Remco, começo a acreditar que é mais forte candidato ao terceiro lugar final do que o Remco ou o Roglic. Ainda que tenha de trabalhar para o Pogacar, que aliás hoje, no final da etapa, desfez-se em elogios ao português. Se está melhor do que Remco e Roglic e se os outros que o precedem na classificação além de Pogacar e Vingegaard à partida não terão hipóteses (van der Poel, Vauquelin, Onley, Jorgenson), por que não acreditar? É que no confronto entre os dois "domestiques" de UAE e Visma, o João parece estar melhor do que o Jorgenson, embora a este pareça estar reservado um papel de maior liberdade do que aquela que a equipa dos Emirados está a dar ao português, este chamado a trabalhar na frente do pelotão enquanto o americano vai lançando ataques na esperança de isolar Pogacar. Por outro lado, Vauquelin (segundo na Suíça e quinto lugar actual) e Onley (terceito em terras helvéticas e sétimo no momento) foram recentemente batidos por Almeida na Volta à Suíça, o mesmo tendo acontecido com Gall (quarto no Tour de Suisse e actual décimo nono). Ademais, os bons desempenhos destes últimos no Tour só revelam como precipitados foram os comentários de quem desvalorizou a prova suíça em função do Dauphine, o que só enaltece o excelente desempenho que o João ali teve.
Aguardemos então pelo contra-relógio de amanhã, plano e como tal menos apropriado para o João fazer maiores diferenças. Ainda assim os seus dados recentes de potência por kilo são impressionantes, assim como os seus resultados na "Prova da Verdade". E, assim sendo, temos de estar optimistas!
P.S. O ciclismo é tudo menos um "desporto para meninos". É duro, e o Tour é o pináculo dessa dureza, sendo que o termo pináculo (cume) usado aqui não foi nada inocente, ou o Tour não nos reservasse para as próximas semanas ascensões nos Alpes e Pirinéus. De referir ainda que o João Almeida já bateu este ano
o Remco (geral da Volta à Romandia) e o Jonas Vingegaard por duas vezes (Fóia/Volta ao Algarve e numa etapa igualmente de montanha no Paris-Nice). Hoje, o João foi o maestro da "centésima sinfonia" (vitória) de Tadej Pogacar.