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A Poesia do Drible

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

"Um pouco mais de sol - eu era brasa, Um pouco mais de azul - eu era além. Para atingir, faltou-me um golpe d'asa... Se ao menos eu permanecesse aquém..." - excerto de "Quasi", de Mário de Sá Carneiro

A Poesia do Drible

11
Nov25

Rui Costa e o julgamento da história


Pedro Azevedo

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Já com o troféu do Guinness de votação nas urnas (parabéns aos militantes benfiquistas) e a caminho de se celebrar como campeão intergaláctico dos comunicados de imprensa, o Benfica está mais para um partido político do que para um clube de futebol. Fazendo-se passar por uma força anti-sistema, permanentemente desafiando o sector de arbitragem e pontualmente hostilizando a própria Federação (os jogos caseiros da Selecção não voltaram a ser disputados na Luz, na sequência das ameaças contidas num comunicado do clube), o Benfica é o mais demagogo dos clubes de futebol: o seu presente lider (Rui Costa), pese a falta de memória recente, veio alegadamente do sistema dos sistemas (vouchers, mala ciao, e-mails, facturas...), mas vende a ideia de ser um reformista e renovador, embora à sua volta se tenham amontoado as demissões numa primeira fase. Julgou-se ser tudo produto da conjuntura eleitoral, mas os hábitos antigos emergiram mesmo com uma nova equipa e assim que reeleito partiu para novos ataques ao poder instituído que ele próprio ajudou a eleger, em nome da melhoria do futebol português (diz ele). Discriminando as minorias no caso dos DireitosTV, o presidente do Benfica não aliviará o tom populista até ter a maioria absoluta... de títulos, a tal sonhada hegemonia que em si própria tem laivos de um tique fascista ("Benfica uber alles") de um grande clube que se julga ungido à nascença e não se conforma com a realidade: a incompetência e erros próprios dos seus dirigentes do futebol que o afastam do sucesso em condições ideias de concorrência leal. Grande jogador de futebol do passado e indiscutível benfiquista, ninguém duvida que Rui Costa sente o clube como poucos. Mas a sua emergência como líder do clube, tal como a de outros, está cada vez mais longe de constituir a lufada de ar fresco que um novo estilo de dirigismo, de gente ligada quase umbilicalmente ao futebol, prometia. O detonador terá sido o Jamor, um (J)amor de perdição para o presidente dos encarnados que a partir daí cresceu em crispação na inversa proporcionalidade das prestações pobres da sua equipa de futebol. Porque é aí que reside o problema do Benfica, problema esse que é agudizado por quem acredita que a solução está em confrontar e condicionar os árbitros. Optando pelo ruído desenfreado, Rui Costa procura nessa estratégia desviar as atenções da indignação dos "índios", gerando assim uma mole de "idiotas úteis" de ocasião potenciadores de violência verbal e física, da qual, no fim, Rui Costa, presumivelmente, lavará as mãos como Pôncio Pilatos. À semelhança do que já ocorre recorrentemente no Pavilhão da Luz, quando entoa o ignóbil silvo do very-light. Conseguirá Rui Costa arrepiar caminho a tempo? Assim vai o futebol português...

09
Nov25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Faixa de Ga(n)za


Pedro Azevedo

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Santa Clara, ou Clara de Assis (originalmente Chiara d'Offreducci, uma nobre da cidade de Assis), foi uma santa milagreira que seguiu São Francisco e dedicou a sua vida aos pobres. Ontem, durante larga parte do encontro, pareceu que João Gonçalves quis muito juntar-se à causa de Santa Clara, pelo menos a avaliar pelo ar amarelado de João Simões e de Ivan Fresneda, que a esta hora ainda estarão a interrogar-se da razão para esse súbito ataque de icterícia que foi uma cortesia do árbitro da AF do Porto. Em especial, o amarelo ao médio leonino condicionou muito o nosso jogo, principalmente a partir do momento em que Rui Borges o retirou ao intervalo, com medo que a inexperiência do jovem o levasse a cometer uma imprudência que o fizesse expulsar. Com isso, o Sporting, depois de uma exibição avassaladora no primeiro tempo, perdeu chegada à área, facto reforçado após a saída, por lesão, do infortunado Pote. Antes, na primeira parte, o Sporting dominou mas não conseguiu mais do que repor o empate no marcador após um passe de cabeça à baliza executado por (quem mais?) Pote. Isto porque, cedo no jogo, Diomande aliviou mal uma bola à entrada da área e Fresneda mostrou que provavelmente Quaresma teria sido uma melhor opção para lateral direito e deixou Vinicius marcar o seu já habitual golo ao Sporting. 

Na etapa complementar, o futebol foi trocado pela pastorícia. [Um "back to basics", no sentido em que o futebol indústria voltou a ser (sector) primário.] O prado era abundante e com o tempo foi curiosamente ganhando altura (teriam sido as condições ideais para Cristiano Ronaldo, mas o GOAT já não mora cá). O "pastor" também não ajudou, apitando a qualquer mínimo desencontro entre o rebanho, assim causando um desnecessário alvoroço. Em compensação, Ioannidis sofreu trinta e uma faltas para amarelo na mesma jogada, mas João Gonçalves só tirou do bolso um. Até que Quenda acertou simultaneamente na bola e num tufo de relva e árbitro e auxiliar deram um canto ao Sporting. Foi o escândalo no parque de estacionamento do Seixal, até porque obviamente se tratou de um jogo de hóquei em campo onde já se sabe que um canto curto é meio golo. O mesmo ocorreu no parque de campismo e caravanismo (duas linhas de caravanas estacionadas a obstruir os caminhos para a baliza) de São Miguel, como se a cabeça de Hjulmand estivesse a prémio (e não a desconto... de tempo). 

Nas lendas e narrativas associadas aos "Herculanos" que elaboram cartilhas com que os adeptos são comidos de cebolada, a actividade é frenética. É sempre assim, nomeadamente quando o desempenho da actividade das equipas desses cartilheiros em campo é inversamente proporcional ao frenesim que invade os gabinetes onde se produzem os comunicados. Nesse particular, Benfica e Porto são hoje mais clubes de comunicados do que clubes de futebol. O Porto ganha com "vaca" ao Braga e logo alguém rumina um comunicado (estranhamente, pós-Utrecht nem um traque, que o respeitinho uefeiro é muito bonito e aquela expulsão do guarda-redes neerlandês até deu algum jeito), o Benfica produz comunicados sobre o comunicado e um comunicado sobre comunicados. Já não é um clube, mas sim uma empresa de seguros e resseguros (procurando que o prémio fique sempre em casa). Perante isto, o que deve o Sporting fazer? Sendo o Sporting composto por Sportinguistas, não haverá um leão no universo global de sócios e adeptos do nosso clube com sanidade comprovada que acredite que em algum momento na história do futebol português o Sporting tenha beneficiado, esteja a beneficiar ou venha a beneficiar de alguns favores de árbitros. Dá até imensa vontade de rir. Pelo que, perante tanto ruído, o silêncio será de ouro. O Benfica que continue a ganhar só os jogos em que a arbitragem o brinda com um penalty para abrir o marcador, que é para o lado em que dormimos melhor (a dormir não se elaboram comunicados). E o Porto que continue a impressionar na Europa com a sua "fisicalidade", perdendo e empatando com gigantes continentais como o Forest ou o Utrecht (sobre este último jogo, na SportTV, perguntaram ao Carvalhal o que lhe cheirava ir acontecer e ele respondeu que lhe "cheirava a haxixe", "a ganza"). No fundo, o Carvalhal teve parcialmente razão porque, se nos Países Baixos cheira muito a haxixe, em Portugal anda tudo "pedrado" e por isso estão a querer transformar o futebol doméstico numa Faixa de Ga(n)za. E a verdade é que, ao pé deles, o João Gonçalves, hoje com muitos erros, é um menino de coro, não se acreditando que dele venha desonestidade intelectual ou vontade de fazer mal ao futebol 

Benfica e Porto são hoje agências de comunicados ou de Comunicação com clubes lá dentro. No caso portista, alegadamente, as televisões também estão lá dentro... na cabine do árbitro. No que concerne ao Benfica, o recorde (impressionante) do Guinness dos 93 081 votantes não é nada quando comparado com o número de comunicados que se aguarda até ao final da temporada. Não se dê porém uma conotação negativa: estou em crer que se trata do embrião de uma ideia tão democrática que é até pouco comum num clube de futebol: atribuir 1 Comunicado a cada sócio pagante (e nas próximas eleições, os sócios poderão votar por comunicado). 

Tenor "Tudo ao molho...": Hjulmand 

05
Nov25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Parábola da Cena Animal


Pedro Azevedo

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Um clube com o oximoro de denominar-se Juventus (juventude) e apelidar-se de "Vecchia Signora" (Velha Senhora) só por si já é de desconfiar, indicando que vem aí matreirice. Deviam por isso talvez chamar-se "Raposas", mas o único outro apodo deles conhecido é "Zebras", um animal da classe dos equídeos que ao contrário do cavalo ou do burro nunca foi domesticado e é conhecido pela velocidade e coice que desenvolveu para fugir do grande predador do seu habitat natural, o leão. Pelo que o desafio entre o Sporting e a Juventus foi uma parábola do ambiente da savana africana, com uma Juve mais veloz e agressiva nos duelos individuais e um Sporting a procurar atacar e ser letal pela certa.

 

Na antecâmara do jogo, não deixei de ficar intrigado ao observar um certo menosprezo da imprensa portuguesa por um adversário que já foi 36 vezes campeão de Itália (recordista da competição, com mais 16 títulos do que o Inter e mais 17 do que o Milão) e duas vezes vencedor da Champions. Pareceu-me uma falta de noção, como aliás o jogo viria a demonstrar. 

Se a Juve já não tem o génio de Platini e mais de meia equipa campeã do mundo em 82 (Zoff, Gentile, Scirea, Cabrini, Tardelli, Rossi), não deixa ainda assim de ter jogadores distintivos como o sérvio Vlahovic, o canadiano Jonathan David, o americano McKennie, o francês Thuram, o neerlandês Koopmeiners ou os internacionais italianos Locatelli, Cambiasso, Gatti ou Rugani. Além do português Conceição, claro. Mas, se valores individuais não faltam, é naquela matreirice táctica tão típica do futebol transalpino que estava o grande obstáculo do Sporting, frequentemente infeliz nas visitas a Itália. 

O jogo nem começou mal para os leões: Pote conseguiu encontrar Ioannidis numa diagonal longa, este amorteceu sumptuosamente de calcanhar para Trincão e a bola seguiu até Maxi que desferiu um remate colocado e inaugurou o marcador. Com o ânimo reforçado, logo Trincão enviou a bola à barra, falhando por pouco o segundo golo. Só que, na primeira parte, o Sporting ficou por aqui. Uma série de perdas de bola colocou os leões em perigo. Com a bola descoberta (sem pressão), um italiano centrou para Vlahovic, de cabeça, proporcionar a Rui Silva a defesa da noite. Seguiu-se novo duelo entre o sérvio e o nosso guarda-redes, agora num remate com o pé. O destino foi o mesmo: bola desviada para canto. Até que a Juve empatou, no aproveitamento de uma série de erros individuais dos jogadores do Sporting: Quenda foi atraído por fora pelo lateral de Turim e deixou Vagiannidis desprotegido, este não leu bem o lance e não fez falta, Hjulmand largou o seu adversário directo e deixou-o galgar metros sozinho e Inácio não encurtou o espaço para Vlahovic e permitiu que este desviasse o centro de Thuram. Com o empate, as equipas foram para intervalo. 

No segundo tempo, as constantes perdas de bola de Quenda e o pouco rendimento de Vagiannidis tornaram-se gritantes e deram um quarto de hora de avanço à Juventus. Valeram-nos Diomande e Maxi, agressivos sobre a bola e sempre bem posicionados. Subitamente, o lateral grego foi descoberto por Inácio sozinho na área da Juventus, mas na hora da definição não ajudou ter um pé chato (ou foi chato não ter um melhor pé). Rui Borges leu bem o que o jogo precisava e lançou Geny e Quaresma, mudando todo o lado direito da sua equipa. Se o moçambicano foi mais associativo e assim melhorou um pouco o nosso desempenho atacante, o português foi um "upgrade" enorme face ao grego, mostrando-se imperial nos duelos e saindo com outra fluidez para o ataque. Assim, o Sporting conseguiu finalmente estabilizar o seu jogo defensivo e com a ajuda das abelhinhas Simões e Hjulmand voltar ao meio campo dos italianos. Suarez entrou para o lugar de Ioannidis e assim reforçar o controlo de bola no meio campo adversário. Faltava ainda uma cartada e Rui Borges jogou-a bem. Em teoria, procurando em Alisson uma profundidade que este na prática ameaçou mas acabou por não dar, fugindo prematuramente da linha lateral e não procurando a linha de fundo, antes indo para zonas interiores congestionadas de tráfego e onde invariavelmente encontrou um sinal vermelho. Morita entrou também para o lugar do exausto Simões, que com um pequeno toque esteve em dúvida até à hora do jogo, mas o japonês, mesmo fresco, está sem explosão e ritmo, pelo que não faz a diferença. Nos últimos minutos, a Juventus surgiu de novo ameaçadora. Era o último assalto, mas Rui Silva não deu hipóteses aos piemonteses. Guardado ainda estava porém um susto: um exausto Maxi provou os danos que a falta de oxigénio pode provocar no cérebro ao intentar fintar três italianos sem ninguém nas costas. Perdeu a bola, houve cruzamento para área, remate, mas a bola deflectiu num jogador do Sporting e acabou por sair por cima. Não havia mais tempo e o jogo praticamente terminou ali. 

Com quatro jogos e sete pontos, o Sporting se vencer o Club Brugge fica com um pé e meio na próxima fase da Champions. Falta-nos uma vitória para cumprir o lema do nosso fundador e não deixa de ser apreciável que o timoneiro desse possível desiderato europeu seja um homem desdenhado por ser originalmente um rural, como diria o presidente Marcelo, se tivesse ao almoço os correspondentes dos jornais estrangeiros a fazerem perguntas sobre o futebol português. Já dizia o Einstein que é mais fácil desintegrar um átomo do que destruir um preconceito, mas a exportação da "Taberna Mecânica" ou "Tiki-Taska" como triunfo da regionalização lusa na Europa ainda é capaz de vir a fazer corar de inveja o muito mais cosmopolita "Special One". Aguardemos então as cenas dos próximos capítulos. 

 

Tenor "Tudo ao molho...": Rui Silva 

03
Nov25

A estrelinha do Porto


Pedro Azevedo

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O resultado de um jogo de futebol é inquestionável, assim não se verifiquem forças estranhas ao mesmo como o enviezamento flagrante das regras do jogo causado por uma equipa de arbitragem ou um golo marcado, por exemplo, por um apanha-bolas. Nesse sentido, há que dizer que a vitória do Porto sobre o Braga foi justa, na medida em que marcou mais 1 golo do que o adversário. A matemática é uma ciência exacta, os números não podem ser questionados. Todavia, quem viu o jogo não pôde deixar de sentir que o Porto teve sorte. Se foi circunstancial ou já estrelinha de campeão será prematuro dizer, mas que a vitória portista pareceu obedecer a um plano superior escrito nas estrelas disso poucos terão dúvidas. Não me recordo nesta temporada de uma equipa ter manietado tanto o Porto como o Braga o fez. É certo que o Forest ganhou ao Porto, mas não dominou com tanta expressividade como o Braga. E no Dragão, o que realça ainda mais o que ocorreu. Com as linhas de passe bloqueadas, os portistas perderam inúmeras bolas e estiveram quase sempre a ver o Braga jogar. Com uma posse de bola avassaladora (69%), os minhotos não se limitaram a trocá-la em zonas recuadas. Não, foram-na circulando de fora para dentro e de dentro para fora do bloco portista, com os seus jogadores sempre em circulação, ameaçando constantemente o último reduto dos comandados por Farioli, manietando por completo as zonas de pressão do seu adversário. O Porto chegava sempre tarde à bola e com o tempo foi baixando o seu bloco até procurar defender o melhor possível a sua baliza, naquele espírito de que é melhor perder os anéis do que os dedos. Estávamos a chegar ao final do primeiro tempo quando um remate de longe e condenado ao fracasso de Samu defiectiu no jovem Rodrigo Mota e traiu Hornicek. Aconteceu futebol, talvez o desporto mais democrático e mais atreito a sortilégios capazes de desafiar a lógica. Pensou-se que um golo sofrido na compensação da primeira parte iria destruir o moral dos bracarenses e reforçar o dos portistas, mas não foi isso que ocorreu na etapa complementar. Bem pelo contrário, o Braga intensificou ainda mais a pressão e sufocou o Porto. Empatou o jogo e teve uma soberana oportunidade de passar para a frente quando Fran Navarro falhou um remate na pequena área. Mérito porém seja dado ao Porto que foi sempre resiliente, não se desorganizou por ser obrigado a correr constantemente atrás da bola, procurou e conseguiu fechar espaços na sua área e assim evitar males maiores. Foi realista e a substituição operada por Farioli, ao retirar William por Rosário, disso foi ilustrativa. Não podendo ganhar, o treinador portista afirmou assim que pelo menos queria garantir 1 ponto. Até que um erro defensivo bracarense - Victor Gomez não atacou um bola chutada na sua direcção , ficou expectante e deixou-se antecipar por Borja Sanz - permitiu ao Porto vencer um jogo que já ficaria satisfeito por empatar. 

Não sei se a história final deste campeonato ficará escrita pelo que foram os jogos dos grandes contra o Braga. Sei, isso sim, que o Sporting perdeu dois pontos com os bracarenses nos descontos e que o Porto obteve contra eles pelo menos mais 2 pontos do que deveria, o que produz uma diferença de 4 pontos entre os dois que é superior ao actual "gap" verificado no campeonato. Sem querer tirar mérito ao Porto, que é uma equipa organizada e difícil de bater, os campeonatos não se vencem sem estrelinha de campeão. Evidentemente, não há estrelinha se não houver uma boa preparação que permita aproveitar uma oportunidade concreta, e este Porto está bem preparado. Perante este tipo de sortilégio que parece levar o Porto ao colo deve o Sporting baixar os braços? Não, de todo, bem pelo contrário. A máquina portista não parece tão bem oleada nesta fase da época e o facto de tanto necessitar do elemento sorte neste período ainda prematuro da temporada deve ser visto como um sinal de esperança de que a qualquer momento os ventos da fortuna poderão mudar e a ordem estabelecida inverter-se. Assim continuemos o nosso percurso sem vacilar, acreditando no processo e não perdendo de vista a competência em tudo o que dependa exclusivamente de nós. Há que não perder o ânimo e acreditar sempre. Se o fizermos, tarde ou cedo o momento de darmos o xeque-mate neste campeonato chegará, estou certo disso. 

01
Nov25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

Ioannidis contra a Manobra de Heimlich


Pedro Azevedo

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Esta semana, a Reserva Federal americana (FED) baixou as taxas de juro em 25 pontos base e logo as cotações subiram nas principais bolsas internacionais. Curiosamente, na bolsa de valores de Alvalade,  as condições mais relaxadas inerentes à política monetária (e à visita a Turim) não evitaram que a cotação do Alverca descesse dos cinco golos (mercado de terça-feira) para os dois golos (sexta-feira), uma queda de 60% em apenas 3 dias. 

A explicação para o ocorrido é simples: se por um lado os juros ficaram mais acomodatívos, no fim prevaleceu a primeira lei da economia que estipula que os recursos são escassos e como tal há que geri-los de forma eficiente, no caso recorrendo à poupança. Tal foi o paradigma do primeiro tempo, período em que tanto se valorizou a procrastinação e o relax que o Trincão até exagerou no brushing. 

No segundo tempo a atitude foi outra. Suarez cedo marcou, mas o VAR interveio para aplicar a já costumeira Manobra de Heimlich a árbitros que incautamente engolem o apito. Recuperado o fôlego, António Nobre lá soprou no sentido de anular o golo. Em processo acelerado de adaptação a Portugal, Vagiannidis continuou a "não partir um prato", contrariando assim a cultura do seu país natal. Quem não esteve pelos ajustes foi o seu compatriota Ioannidis, que mal entrou quebrou a resistência do Alverca, usando tão somente a cabeça. Por falar em ter cabeça, pouco tardou até que o inteligente Pote marcasse um golo Dolly, clone de um outro que fizera ao Nacional. Pouco mais houve a registar. 

Terminado o jogo, "vade Metro, Satanás!": com milhares de pessoas em fila, sete dos onze pórticos de acesso às carruagens do Metro encontravam-se fechados, parábola perfeita do que foi a noite em Alvalade, onde só Rui Silva, Diomande, Suarez e Ioannidis cumpriram os serviços mínimos. 

 

Venha a Juventus. A dinastia Tudor acabou, mas consta que o clube de Turim já foi à Norauto pedir a substituição. Não se esperem por isso facilidades. 

Tenor "Tudo ao molho...": Ioannidis. 

30
Out25

Neemias voa na NBA


Pedro Azevedo

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Titular pela quinta vez consecutiva neste início de temporada (cinco jogos), o poste português Neemias Queta obteve o seu primeiro duplo-duplo da temporada (10 pontos e 13 ressaltos) na vitória folgada dos Boston Celtics sobre os Cleveland Cavaliers (125-105). Com esta exibição, a que não faltaram também 3 assistências, 3 roubos de bola (contra apenas 1 turnover e uma falta pessoal) e uma contribuição de +25 pontos de diferença para a sua equipa nos minutos (25:39) em que esteve em campo (melhor desempenho individual de todos os jogadores na quadra),  Neemias tem agora um acumulado de 45 pontos e 45 ressaltos na época, números que o aproximam de uma média de duplo-duplo (9 pontos e 9 ressaltos, por jogo). 

29
Out25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

A Quinta do Blopa


Pedro Azevedo

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Há poucos dias morreu Francisco Pinto Balsemão, um arauto da democracia e da liberdade da imprensa (e de expressão), valores que hoje permitem a um blogue como "A Poesia do Drible" criticar uma Taça da Liga anti-democrática, um paradoxo tuga do pós-25 de Abril que só podia ter nascido na cabeça brilhante (com brilhantina) de Pedro Proença e que consiste no absurdo de ter em excesso na Primeira Liga um conjunto de clubes que depois está em (enorme) défice na Taça da Liga (que é uma associação composta por 34 clubes e 36 equipas profissionais). Haja quem entenda isto...

 

A noite em Alvalade provou mais uma vez que Rui Borges é um treinador subvalorizado por imprensa e adeptos. Tacticamente, a variabilidade do jogo do Sporting é por demais evidente. Hoje, por exemplo, tivemos os laterais por dentro e os interiores por fora, daí resultando duas assistências de Vagiannidis e dois golos de Salvador Blopa, um miúdo de 18 anos em estreia absoluta no onze principal do Sporting. Deu também para silenciar as vozes que aqui e ali iam criticando o Ioannidis, que não só foi de um labor extraordinário como marcou um golo fabuloso. Para continuar a ser de grande utilidade, basta que a equipa mude o "chip" e o sirva em profundidade quando ele render o Suarez. Como hoje aliás fez. E depois foi muito bonito ver o Flávio, um estagiário no escritório dos Gonçalves que eu tenho como um sucedâneo de Pote em tirocínio em Alcochete, o Rodrigo Ribeiro (nova oportunidade na A), o Rayan, o Grombahi e o Muniz em acção, num jogo onde Quenda (2 golos) e Quaresma (imperial na defesa) merecem também destaque. 

Venha a Final Four desta singular competição a 8 em que nada é deixado ao acaso e tudo é feito ao detalhe para que não falhem os 4 finalistas que antecipadamente se quer ver em compita. Fosse assim tão fácil acertar nos números do Euromilhões...

 

Tenor "Tudo ao molho...": Salvador Blopa (2 golos na estreia oficial pelo Sporting). 


P.S. A Quinta do Blopa: Salvador, Flávio, Rayan, Chris e João. 

27
Out25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O Colosso de Rodes no nosso museu


Pedro Azevedo

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Caro Leitor, um grupo de arqueólogos ontem reunidos em Tondela revelou ter encontrado numa primeira fase vestígios que indicam a existência de uma réplica do Colosso de Rodes na cidade,  evidências essas mais tarde confirmadas numa peritagem observada no estádio João Cardoso. Um Colosso que afinal não foi um tributo ao deus sol (Hélios) mas sim uma homenagem a Bernardo Fontes, um gigante com 33 metros de altura e uns braços tão longos quanto os tentáculos de um polvo. Alertado para o facto, há rumores de que o Sporting prepara-se para o transferir para a capital a troco de 225 milhões ou assim, emitindo para tal um conjunto de obrigações proporcional aos pedaços de bronze (resquícios de um Verão mais largo do que o habitual) que o nosso terramoto de futebol atacante foi capaz de finalmente desmembrar. Esses fragmentos em bronze serão entregues em Alvalade através de um "private placement" do JP Morgan a fim de que o puzzle (de Fornecedores) possa ser montado e o Colosso reconstruído e apresentado como principal atração no futuro museu do clube, justificando-se assim o forte investimento. 

Com João Simões como dínamo de um futebol de grande fluidez atacante, "comendo" espaços outrora só cobertos através do passe, o Sporting cedo encostou o Tondela às cordas. Durante a maior parte do tempo, o jogo pôde resumir-se a um duelo particular entre o colombiano Suarez e o brasileiro Fontes, uma batalha sul-americana que o guarda-redes foi vencendo aos pontos. Não obstante, Suarez logrou desferir um golpe que deixou Fontes à beira do K.O.,  porém a rede abanou mais do que o guarda-redes e este acabou por chegar ao fim dos 15 assaltos (à sua baliza), um número equivalente ao dos antigos combates profissionais de boxe (entretanto reduzido para 12), ou não fosse o Colosso de uma outra era. E se o Colosso bem pode ser considerado uma das 7 maravilhas do mundo, o que dizer da Art-Deco do nosso Pote? O Pote foi tantas vezes à Fonte(s) até que a partiu, uma subtil mudança de desfecho de enredo que se ficou a dever ao génio do jogador português, primeiro tirando dois adversários do caminho através de um misto de simulação e finta, depois finalizando com um remate indefensável até para um Colosso. Vencida a resistência tondelense, tempo ainda houve para que 4 dos 5 jogadores com que Rui Borges refrescou a equipa combinassem para o terceiro golo, num lance pensado por Alisson, Kocho e Matheus e concluído por Quenda, com o treinador do Sporting a mostrar pelo segundo jogo consecutivo o seu toque de Midas nas substituições. 

Tenor "Tudo ao molho...": Suarez

24
Out25

Filhos e Enteados


Pedro Azevedo

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Da segunda vez em que uma equipa equiparou-se-lhe (a primeira foi o Red Bull Salzburgo) em fisicalidade, o Porto mostrou zero soluções, não teve génio ou pelo menos criatividade para criar um lance de perigo durante todo o jogo, com os fantasistas Mora e William a verem a maior parte da partida a partir do banco. E perdeu, bem. Mas Farioli é o treinador da moda em Portugal e assim a crítica será leve. Ainda que, ontem, com esse Far(I)ol(I) de ideias, não houvesse navio que não se afundasse. No Benfica, Mourinho queixou-se da falta de soluções, após ter sido copiosamente batido em St James Park. Afinal, Bruno Lage não era um privilegiado, com um plantel riquíssimo, como Mourinho afirmara quando ao serviço do Fenerbahçe. Era para motivar os turcos, diz agora o "Special One", negando a convicção do que afirmou anteriormente. E por conseguinte, (hoje) deve ser para destruir o moral dos seus (actuais) jogadores. Mas Mourinho tem fama (e proveito, mesmo quando "mete água", ainda que esteja longe do seu pico) de bom comunicador e irá passar entre os pingos da chuva. Quem não escapa à crítica é o Rui Borges, faça ele o que fizer. Mesmo ganhando, numa ronda europeia onde o Sporting foi aliás o único grande a vencer. Algumas das críticas são justas, mas a maioria não. Partem de uns "nouveaux-riches" (e outros,  remediados) que por vestirem uma camisinha da Ralph Lauren logo acham que podem olhar os humildes de cima para baixo e esquecer as suas próprias origens (já um verdadeiro senhor sabe estar em qualquer ambiente e fazer sentir bem qualquer pessoa), as mesmas que o Rui Borges, e muito bem, nunca renega. Eu estou com ele, a crítica construtiva é sempre bem-vinda (na minha opinião, que não a dispenso e nunca gostei de "yes men"), mas a recorrência de histórias de alheiras e quejandos para o minorar já cheira a refogado, o que não combina nada bem com o produto (frito) de Mirandela. É um tique português, esse de preferirmos os pantomineiros que nos enganam com a pose com que disfarçam o seu ser em detrimento dos homens genuínos. E fica-nos mal. Muito mal. Força, mister! 

23
Out25

Tudo ao molho e fé em Gyokeres

O dia de Rui Borges (La Vie en Rose)


Pedro Azevedo

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O Bertrand Russell dizia que muitos homens cometem o erro de substituir o conhecimento pela afirmação de que é verdade aquilo que eles desejam. Depois de ouvir Rui Borges após a recepção ao Braga, cheguei a temer que isso se estivesse a passar com o nosso treinador. Mas hoje, no pré-jogo, numa mini-entrevista à SportTV, vi Rui Borges reconhecer que deveria ter utilizado o João Simões nesse jogo e percebi que ele retirou ensinamentos do erro. Fiquei aliviado, mais ainda quando vi o miúdo Simões a subir ao relvado como titular. Costuma dizer-se que Deus protege os audazes e o nosso treinador teve hoje um dia de afirmação. Um dia inteiramente merecido, porque uma coisa é a crítica construtiva e outra é o enxovalho. O amor afirma, o ódio nega. Mas por cada afirmação há milhares de negações. Assim o amor é pequeno em face do que se odeia (Vergílio Ferreira). Hoje, Rui Borges conseguiu que isso fosse mentira. E assim chegou à verdade. Com conhecimento. Fazendo substituições decisivas para a vitória, que Geny e Alisson marcaram os golos do triunfo e Ioannidis deu imenso trabalho ao Marselha, a atacar e a defender. Ainda sobre a verdade, a nota de que Simões teve dois raids com bola na primeira parte que fizeram jus ao que muitos comentadores vêm escrevendo por aqui, além de um passe para Suarez que ia dando golo e uma espectacular rotação sobre um defesa que o argentino que guarda as redes do Marselha evitou que só parasse dentro da baliza francesa. E por último, mas não menos importante ("last but not the least"), mais uma verdade, ou melhor, a VARDADE: o árbitro e os seus auxiliares cometeram 3 erros, todos em prejuízo do Sporting (penalty contra nós, golo anulado e expulsão de Maxi) que o VAR inverteu. Com o "plus" de com a anulação do penalty contra ter vindo também o segundo amarelo e concomitante expulsão de um jogador do Marselha, permitindo-nos jogar toda o segundo tempo contra dez (estranhamente, ganhámos, o que deve ter deixado a fazer contas de cabeça o "filósofo" JJ). Foi bom para o Sporting e veio na altura ideal para calar quem parece querer substituir a verdade sujeita a erros ou omissões pela mentira que criou tanta escola que chegou até a ser vista como verdadeira. 


Os jogadores e a equipa não estiveram perfeitos, a noite sim. E esperançosa, também. devido à forma como Rui Borges preparou o jogo e agiu durante o mesmo. Adensou-se porém uma dúvida: no lance do golo do Marselha, Fresneda não só deu muito espaço à recepção de Paixão como depois lhe ofereceu o lado de dentro para rematar, dois erros na mesma jogada que me fizeram questionar se ganhámos alguma coisa ao trocar um terceiro central por um lateral direito convencional. 


Há 50 anos atrás, o Marselha levou-nos o nosso imortal Yazalde. A vingança serviu-se não fria, mas como naqueles congelados da Iglo. Tanto assim foi, que teve de ir ao micro-ondas (do VAR) para se fazer justiça. Três jogos, seis pontos na Champions. Segue-se uma viagem a Turim, capital da região do Piemonte que curiosamente tem uma bandeira muito semelhante à da Dinamarca. Depois da afirmação de Rui Borges, será esse o sinal da reafirmação de Hjulmand (algo alheado esta temporada) no panorama do futebol europeu? Ou será que estou a ver "La Vie en Rose", única consequência positiva que se pode retirar da observação daquele leão (tra)vestido de pantera cor de rosa que mais parece saído de uma comédia do Blake Edwards? (Quem sabe se subliminarmente não nos estão a oferecer a parábola de um Rui Borges como uma espécie de Inspector Clouseau, algo desajeitado e errático no discurso e na acção, mas que no fim leva sempre a sua avante e sai ganhador?)


PS: Estamos a precisar do melhor de Trincão e Pote.

 

Tenor "Tudo ao molho...": Geny Catamo

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